terça-feira, 10 de abril de 2018

PARA UMA ÉTICA DA EXISTENCIA


Escrevo fugindo de mim,
Sendo o outro da palavra
Que me faz impessoalidade,
Linguagem que se duplica,
Em um dizer novamente
Sempre o mesmo do mundo,
Sempre o tédio da significação
No grande simulacro da representação.

Mas o que ainda pode ser dito?
O que ainda faz sentido?
Todos os livros somados
Não dizem nada que nos traduza
Além do dizer da representação das coisas.

Viva o Dadaísmo contra os adornos da civilização!
Queremos palavras que tenham cheiro, que tenham sabor,
Que nos acordem o corpo e os sentimentos.

Palavras que brilhem nos olhos,
Que sejam um exercício ético de vida e imaginação.






PENSAR POEMA



O pensar poema é um modo de tensionar significante e significado, tornar o dizer um saber incerto e labiríntico. Uma busca, mais do que uma resposta ou, simplesmente, uma fuga de qualquer ideal de verdade.

Ele é um dizer noturno que invoca afetos e imagens, fazendo do objeto sujeito no jogo discursivo.

O pensar poema é uma forma de construir imagens conceitos no inacabamento de um  dizer menor.

segunda-feira, 9 de abril de 2018

FILOSOFIA DO REPOUSO


Meu repouso é movimento.
Não se confunde com inatividade.
Escapa ao conceito.
É um modo de estar desfeito,
De deixar-se no acontecer das coisas
Contrariando ausências.

Repouso é um acontecimento.
A suspensão de qualquer verdade,
Um fora da linguagem,
Que acorda o corpo
E inventa silêncios.

É nele que existimos
Além do Ser.


terça-feira, 27 de março de 2018

INDETERMINAÇÃO


RESPOSTA A NIETZSCHE

Meu caro Frederich Nietzsche,
Quando o abismo te olhar de volta,
Mergulhe nos olhos dele
E seja o cisco que incomoda.
Toda visão entorpece
Contra a confusão dos fatos.
Humanize o olhar do abismo,
Na queda do pensamento
a vertigem é pura lucidez.
Torna-se absurdo e cego,
Encante o abismo....

quinta-feira, 22 de março de 2018

OFUSCAÇÃO


A verdade é uma espécie de luminosidade que privilegia enunciados e cristaliza significados. Ela é o dizer das coisas como se fossem e não como são em sua multiplicidade, em seus labirintos. Apenas uma consciência ingênua se deixa ofuscar pela luz da verdade.

terça-feira, 20 de março de 2018

PLATONISMO


Não confunda Pitágoras com Protágoras,
Dizia a Platônico tagarela que brincava com a verdade.
Delirava o belo e a felicidade
Movido por sua enorme vaidade.





TEATRO DO EU


Este eu que afirma a existência alimenta-se da sua própria ausência. É puro simulacro, lugar de linguagem e símbolos.

Este eu que se afirma continuo é feito de exterioridades e pluralidades. Mas pensa que existe, pensa que pensa, em estratégias de subjetivação que quase não se sustentam.

terça-feira, 13 de março de 2018

A VERDADE COMO ILUSÃO


Um conceito extremamente difícil de definir é o de ilusão. Trata-se de uma espécie de derivado do conceito de verdade e somente em função dele tem significado. A ilusão é o equivoco, a falsa verdade. O que pode ser considerado diferente de falso. A ilusão é um engano induzido pelos sentidos, pelo corpo. O que lhe confere um sabor cartesiano. A ilusão é a razão vitimada por um equivoco mental provocado pelo envolvimento bruto entre o corpo e o mundo exterior.

O racionalismo obtuso de tal conceito chega a ser risível. Pressupõe um absoluto racional praticamente metafisico, um intelecto totalmente dissociado do corpo, que estabelece no plano etéreo a unidade entre significante e significado em termos puramente lógico/formal.


Por outro lado, ilusão deriva do verbo latino Iludo que tanto significa brincar, quanto iludir ou enganar. Ilusão, portanto, também remete ao lúdico, a jogo. Mas não se costuma associar ilusão à convicção, sentimento irracional tão caro a experiência de verdade, já que o conceito de verdade, tal como convencionalmente entendido, exclui em si mesmo o conceito de falso. O falso é pura ausência de verdade. Já uma verdade provisória só pode ser uma ilusão. Mas o que se questiona aqui é justamente isso: até que ponto verdade e ilusão não passam de conceitos opostos paradoxalmente complementares, já que atualmente admitimos a verdade como um conceito não absoluto, mas como construção?