“...pode-se com efeito falar de
processos de subjetivação quando se considera as diversas maneiras pelas quais
os indivíduos ou as coletividades se constituem como sujeitos: tais processos só
valem na medida em que, quando acontecem, escapam tanto aos saberes constituídos como aos poderes dominantes. Mesmo
se na sequência eles engendram novos poderes
ou tornam a integrar novos saberes. Mas naquele preciso momento eles tem
efetivamente uma espontaneidade rebelde. Não há nenhum retorno ao “sujeito”,
isto é, a uma instância dotada de deveres, de poder e de saber. Mais do que
processos de subjetivação, se poderia falar principalmente de novos tipos de acontecimentos que não se
explicam pelos estados de coisa que os suscitam, ou nos quais eles tornam a
cair. Eles se elevam por um instante, e é este momento que é importante, é a
oportunidade que é preciso agarrar.”
Gilles Deleuze in CONVERSAÇÕES
Nossas representações da vida não
devem ser inspiradas por idealizações normativas, pela ditadura da verdade. Nossos
enunciados não transformam o mundo e muito menos o esclarecem. É o acontecer
imediato da existência, em sua ilegibilidade, que engendra a vida como co-
habitar o mundo através da linguagem. Tal espontaneidade é o que nos torna
acontecimento além do jogo entre significante e significado, mas ela é perecível,
descontinua. Apenas pode proporcionar a embriaguez de um instante singular.