terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

MUITO ALÉM DO MUNDO VERDADE


“...pode-se com efeito falar de processos de subjetivação quando se considera as diversas maneiras pelas quais os indivíduos ou as coletividades se constituem como sujeitos: tais processos só valem na medida em que, quando acontecem, escapam tanto aos saberes  constituídos como aos poderes dominantes. Mesmo se na sequência eles engendram novos poderes  ou tornam a integrar novos saberes. Mas naquele preciso momento eles tem efetivamente uma espontaneidade rebelde. Não há nenhum retorno ao “sujeito”, isto é, a uma instância dotada de deveres, de poder e de saber. Mais do que processos de subjetivação, se poderia falar principalmente de  novos tipos de acontecimentos que não se explicam pelos estados de coisa que os suscitam, ou nos quais eles tornam a cair. Eles se elevam por um instante, e é este momento que é importante, é a oportunidade que é preciso agarrar.”

Gilles Deleuze in CONVERSAÇÕES

Nossas representações da vida não devem ser inspiradas por idealizações normativas, pela ditadura da verdade. Nossos enunciados não transformam o mundo e muito menos o esclarecem. É o acontecer imediato da existência, em sua ilegibilidade, que engendra a vida como co- habitar o mundo através da linguagem. Tal espontaneidade é o que nos torna acontecimento além do jogo entre significante e significado, mas ela é perecível, descontinua. Apenas pode proporcionar a embriaguez de um instante singular.  


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