Busco a palavra que me faça
Um devir água,
Um devir folha,
Um devir animal ou inseto,
Que me ponha novamente
Em movimento
contra as inercias deste vazio
de ser gente.
Este Blog é destinado ao exercicio ludico de construção da minima moralia da individualidade humana; é expressão da individuação como meta e finalidade ontológica que se faz no dialogo entre o complexo outro que é o mundo e a multiplicidade de eus que nos define no micro cosmos de cada individualidade. Em poucas palavras, ele é um esforço de consciência e alma em movimento...entre o virtual, o real, o simbolo e o sonho.
segunda-feira, 6 de novembro de 2017
DO TEMPO AO TEMPO
Tudo que precisava era de tempo.
Tempo para trabalhar,
Para viver, viajar,
Amar, sofrer e gritar.
Precisava de tempo
Para dormir mais um pouco
E até para esquecer o tempo.
Tempo para trabalhar,
Para viver, viajar,
Amar, sofrer e gritar.
Precisava de tempo
Para dormir mais um pouco
E até para esquecer o tempo.
O tempo nunca era suficiente.
E, apesar de toda perda de tempo,
Sempre reclamava da falta de tempo.
E, apesar de toda perda de tempo,
Sempre reclamava da falta de tempo.
SOBRE ESCREVER
Escrever depende da nossa capacidade de escutar silêncios no âmago do cotidiano. Não se trata de usar as palavras para dizer qualquer coisa da qual a fala não dá conta entre o signo e o simbolo.
É preciso calar a si mesmo para escrever, contemplar imprudente vazios e absurdos dentro da gente até que as palavras alcancem o limite do significado.
Escrever é uma situação extrema, uma vertigem que ameaça nossa própria existência. São muito raras as pessoas que sabem escrever.
terça-feira, 31 de outubro de 2017
O PARADOXO DE UMA AUSÊNCIA
A existência nos ultrapassa como indivíduos
Tudo que pensamos, sentimos ou dizemos
é um ato impessoal de imaginação.
Só podemos ser compreendidos
Na medida em que nos apagamos
No falar mais íntimo e profundo
Das representações.
O eu é o paradoxo de uma ausência.
Tudo que pensamos, sentimos ou dizemos
é um ato impessoal de imaginação.
Só podemos ser compreendidos
Na medida em que nos apagamos
No falar mais íntimo e profundo
Das representações.
O eu é o paradoxo de uma ausência.
SER E ENUNCIAÇÃO
O Ser da linguagem é o vazio do homem como significante. Somos para nossos enunciados como receptáculos descartáveis de sentido. Pois o lugar do humano é o não sentido. Somos pensados pelas palavras e existimos de modo humano apenas onde ela existe. Aquilo que eu digo é onde eu existo.
segunda-feira, 30 de outubro de 2017
CORPO E REALIDADE
A realidade é uma condição fisiológica e não uma objetividade, algo que independentemente de nós existe como exterioridade. Por isso o mundo é sempre como tal nos parece possível.
Mesmo o "eu" que percebe e pensa é tão virtual quanto as linguagens que o configuram. Em outras palavras, o corpo é a medida da realidade.
domingo, 29 de outubro de 2017
O TEATRO DO VERBO
Quando alguém acorda a vida das palavras, escreve sempre algo mais do que quer dizer. As palavras inventam o autor como um ator do grande teatro dos significados. Tudo que importa é a encenação dos enunciados inventando um enredo mais verdadeiro do que a própria existência. Mas raramente nos danos conta do quanto habitamos um mundo que a palavra inventa.
quarta-feira, 25 de outubro de 2017
A INUTILIDADE DA TAGARELICE
“...do mesmo modo que vinho, que
foi inventado para o prazer e para a boa convivência, é transformado por
aqueles que são forçados a bebê-lo muito e sem mistura num veneno intragável,
assim também a linguagem, o mais agradável
e o mais humano dos símbolos, torna-se, por aqueles que o empregam mal e
negligentemente, inumana e insociável: julgando-se encantadores, eles são
enfadonhos; admiráveis, eles são ridículos; amáveis, eles são desagradáveis. Do
mesmo modo que aquele que, pela insígnia mágica, repelindo e afastando seus
companheiros, é privado de encanto, assim também aquele que, pela palavra,
mostra-se enfadonho e odioso é verdadeiramente sem estilo e sem arte.”
Plutarco in Sobre a Tagarelice
Ninguém nunca tem a palavra final
em uma discussão. As boas discussões, aliais, nunca terminam. Pode-se chegar ao
silencio sobre a polêmica, mas nunca a sua conclusão. Afinal, ninguém é
convencido de um ponto de vista contrário. Estamos inclinados a cultivar
desentendimentos, seja por vaidade ou por mera teimosia. Sempre há um
componente irracional na adesão a um ponto de vista ou convicção. Por isso é
conveniente evitar discussões, muito embora isso não elimine as diferenças ou
antipatias. O grande mal é sempre a tagarelice, o dizer sem escutar. A
compulsão em falar e opinar é mais forte do que a faculdade de pensar. É por
isso que nos distanciamos uns dos outros quando nos engalfinhamos em polêmicas
que nos transcendem e que jamais conduziremos individualmente a bom termo sem
um pouco de renuncia a nossas certezas. É sempre oportuna a capacidade de
escutar os silêncios que povoam todo dialogo.
Um texto realmente divertido e
ainda útil de Plutarco, filosofo e prosador grego que viveu entre os anos 45 e 120 da chamada era
cristã, é seu pequeno tratado Sobre a Tagarelice. Trata-se de um elogio ao
silêncio que nos oferece uma arte de bem conversar. Segundo ele, diante de
qualquer pergunta, há sempre três tipos de resposta: o necessário, o amável e o
supérfluo. Que a medida daquele que responde seja a intenção daquele que
perguntou. Pois é saudável evitar a vaidade
e a futilidade tanto nas palavras quanto nos atos. Por isso é
prudente cultivar o hábito de calar em
uma conversa até que todos tenham renunciado a responde. Só assim é possível
interrogar as pessoas sem requerer respostas.
Afinal, o que é a tagarelice além
de uma surdez voluntária? A incapacidade de se calar também é uma incapacidade
de ouvir.
O TEMPO A CONTRAPELO
As experiências estendidas
Sobre o espaço desmembrado
Na extensão do tempo
Inventam o passado.
Hoje é tarde,
Quase agora.
Não confie no seu relógio.
Ele mente mais do que o
calendário.
O futuro apenas nos conduz ao
passado.
segunda-feira, 23 de outubro de 2017
A ESCRITA COMO LABIRINTO
"...Se fosse um escritor, só falaria a partir da minha própria linguagem e no encantamento de sua existência hoje. Não sou nem uma coisa nem outra, estou nessa distância entre o discurso dos outros e o meu. E meu discurso nada mais é do que a distância que tomo, que meço, que acolho entre o discurso dos outros e o meu. Nesse sentido, meu discurso não existe, e é por isso que não tenho de modo algum a intenção nem a pretensão de fazer uma obra. Sou o agrimensor dessas distâncias, e meu discurso não é mais que o metro absolutamente relativo e precário por meio do qual meço todo esse sistema de afastamento e de diferença. Medir a diferença com aquilo que não somos, é nisso que exerço minha linguagem e é por isso que lhe dizia agora há pouco que escrever é perder seu próprio rosto, perder sua própria existência. Não escrevo para dar à minha existência a solidez de monumento. Tento antes reabsorver minha própria existência na distância que a separa da morte e, provavelmente, por isso mesmo, a guia para morte."
Michel Foucault in O Belo Perigo. Conversas com Claude Bonnefoy
Escrever sempre foi para mim uma
forma de me perder através da abstrata geografia deste estranho artifício
humano chamado linguagem. Aprendi desde cedo a viver um desencontro sempre
renovado entre o dizer e o ser lidando com o tempo e a morte no acontecer de
mim mesmo.
O ser da linguagem nos absorve
quando nos rendemos a escrita, torna-se extra territoriedade onde a imaginação
inventa seus próprios fatos futucando a nervura do real. Escrever é uma
estratégia de estranhamento do cotidianamente dado, do ordinário dos signos e
símbolos.
Não posso ser naquilo que escrevo
ou penso, pois todo meu discurso reinventa velhas leituras na transpessoalidade
da existência onde as coisas transfiguradas em linguagem se dobram sobre si
mesmas.
Ninguém inventa seus próprios
discursos, apenas se perde em um labirinto de significados e enunciados se
tornando instancia de significação ao vestir a persona autoral. Mas aquilo que
´é próprio da linguagem sempre nos escapa através dos significados....
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