É estranho como nosso desapontamento com a vida social pode ser medido pelas derrotas em nossa vida privada ou pessoal. Não há mais uma clara fronteira entre o público e o privado em tempos de massificação e espetáculo. Estar em casa se tornou impossível em qualquer lugar virtual ou real. Nos sentimos em todos os sentidos desabrigados e obrigados ao outro para fugir do mais profundo imediato de nós mesmos através dos simulacros do coletivo.Deveria ser o contrário. Mas perdemos a realidade de nosso rosto em mutação através das agonias do sempre igual de todos.
Este Blog é destinado ao exercicio ludico de construção da minima moralia da individualidade humana; é expressão da individuação como meta e finalidade ontológica que se faz no dialogo entre o complexo outro que é o mundo e a multiplicidade de eus que nos define no micro cosmos de cada individualidade. Em poucas palavras, ele é um esforço de consciência e alma em movimento...entre o virtual, o real, o simbolo e o sonho.
sábado, 22 de abril de 2017
O MAR
O mar sempre se repete
sem fim ou começo.
É sempre movimento
na naturalidade do seu estar ali.
Fechado em seu corpo de abismo
conversa com o céu e com o vento
e, as vezes, afunda navios.
O mar é como o intimo caos
que contem tudo aquilo que existe.
sem fim ou começo.
É sempre movimento
na naturalidade do seu estar ali.
Fechado em seu corpo de abismo
conversa com o céu e com o vento
e, as vezes, afunda navios.
O mar é como o intimo caos
que contem tudo aquilo que existe.
sexta-feira, 21 de abril de 2017
COMO ACONTECE A NARRATIVA
A unidade verbal das palavras é dada pelo significado. Mas o significado de um enunciado transcende a gramática e sua função de signo. Todo texto literário ou filosófico possui um sentido aberto, orientado pela teleologia autoral e a hermenêutica do leitor. Nesta dialética ele acontece e se apresenta em situação de linguagem, afirmando-se como narrativa , como encadeamento de imagens de pensamento e consciência.
Escrever é dialogar com um outro de si mesmo que entre a intuição e o conceito, inventa o leitor.
quinta-feira, 20 de abril de 2017
RAZÃO, MITO E PENSAMENTO NA CONTEMPORÂNEIDADE
A oposição entre o método dialético ( de inspiração sociológica) e o método lógico ( de inspiração neo positivista) torna-se uma falsa questão quando estabelecemos a imaginação e o símbolo como uma premissa elementar de toda codificação da realidade.O pensamento não é uma questão de método, mas de fantasia criativa.
Pressuponho aqui, todo acontecer humano como um ato mental e uma experiência imagética e irracional do qual a própria racionalidade não passa de um produto, de uma fantasia, assim como qualquer representação ou elaboração possível de uma realidade. Ouso, portanto, dizer que nossas racionalizações possuem um fundamento compulsivo e irracional.
MITO E PENSAMENTO
A arte do pensamento não se confunde com o exercício da razão.
Pensar é quase um encantamento,
é a aventura de se inventar através de enunciados
contra o silêncio de palavras antigas
que perderam a vida.
Pode ser descrito como um exercício
de desconstrução criadora
através da da máscara de um texto
onde se reinventam significados, gramáticas e símbolos,
que buscam dizer a existência
através dos mitos.
Pensar é quase um encantamento,
é a aventura de se inventar através de enunciados
contra o silêncio de palavras antigas
que perderam a vida.
Pode ser descrito como um exercício
de desconstrução criadora
através da da máscara de um texto
onde se reinventam significados, gramáticas e símbolos,
que buscam dizer a existência
através dos mitos.
quarta-feira, 19 de abril de 2017
DESCONSTRUÇÕES CONTEMPORÂNEAS
Estamos cada vez mais distantes do encanto descuidado por qualquer utopia social ou ideal moral de humanidade ou futuro. Coletivamente, em tempos de incertezas, duvidas e vertigens de pós verdades, somos como dejetos das velhas apostas nas possibilidades da razão e da civilização. Aprendemos a rir dos manuais historiográficos e de todo o patrimônio da Humanidade. Somos indiferentes ao passado e ao presente e pouco nos importamos com o futuro. Vivemos em um mundo onde as grandes ambições humanistas se revelaram pueris.
As incertezas contemporâneas nos obrigam ao trivial do imediatismo epocal e a desconfiança das convicções e meta verdades ideológicas. Afinal, a própria condição humana não é grande coisa e se realiza contra suas melhores expectativas e representações morais.
Não somos se quer aquele rosto que nos surpreende no espelho. O eu é cada vez mais um outro contra a mimese da invenção vazia de identidades.
sábado, 15 de abril de 2017
NIETZSCHE E OS MALES DA HISTÓRIA
Originalmente publicada em 1874,
a II Consideração Intempestiva: Sobre a utilidade e os Inconvenientes da
História para Vida, é um ensaio crítico ao historicismo e, especialmente a
filosofia da História de Hegel, tanto quanto um surpreendente elogio ao
esquecimento diante da compulsão a historicidade absoluta.
Para Nietzsche, a historicidade
pode ser nociva e o elemento a-histórico e trans-histórico são tão necessários
a saúde de um indivíduo, de um povo e de
uma cultura, quanto o próprio elemento histórico. Esta é uma das premissas mais
interessantes de seu texto. Para ele, em excesso, o conhecimento histórico pode
ser desastroso. Diferente do proposto pelo Historicismo, o sentido da existência
humana não se revela progressivamente através do tempo como realização de um propósito,
de uma meta racional ou sentido universal. A vida humana não é definida pelos
supostos imperativos de um processo histórico, mas por um imediatismo
pragmático e por representações transpessoais de mundo de natureza a-histórica
e simbolicamente voltadas para todas as formas de representação da existência
que transcendem o devir.
Para Nietzsche, neste breve
ensaio em referência, existiram em sua época três modos de codificar o conhecimento
histórico: o monumental ( do culto aos heróis) o tradicionalista ( da
identidade coletiva ou memória social) e o modo crítico ( que condena o passado
em nome do tempo presente e do progresso) Os três modos são limitados pelo
abismo que ele identifica, em sua época, entre o conhecimento histórico e a
vida criado pela pretensão megalomaníaca de reduzir a história a formula
positiva de uma ciência do devir universal.
Segundo Nietzsche, tal tipo de narrativa
historiográfica não passaria de uma interioridade à qual não corresponderia
nenhuma exterioridade. Por isso, para ele, a historiografia de seu tempo
recusava a sua contemporaneidade qualquer singularidade, impregnando-se de
épocas, costumes, filosofias, religiões e saberes de outros tempos e civilizações. A
historiografia moderna teria, então, inventado os historiadores como manuais ambulantes, em abstrações concretas de uma
cultura de simulacros. Parafraseando o autor, o excesso de história destruiu,
assim, a força plástica da vida, nos privando de utilizar o passado como um
alimento substancial.
Os antídotos para os males da
História são as forças a-históricas e supra históricas. A primeira remete a
facilidade de esquecer e se fechar em um horizonte limitado e pragmático,
enquanto a segunda nos desvia o olhar do
devir, ocupando-se do que proporciona ao existir durabilidade trans pessoal, ou
seja, as artes e a religião. Segundo sua
argumentação, deve a vida dominar o conhecimento ( ciência) e o conhecimento
reinar sobre a vida, no que diz respeito a cultura de um povo ou de um indivíduo.
Nietzsche faz clara referência ao que considera
a concepção grega de cultura que,
contrariando a concepção latina, vê em si mesma uma nova e melhor physis ( “natureza” ou arché , principio interno e
estruturador). Desta forma, a cultura realiza o acordo entre vida e pensamento,
entre a aparência e o querer, permitindo a cada indivíduo organizar seu caos
interior, refletindo sobre as suas verdadeiras necessidades, eu diria, arquetípicas.
O fato é que cabe as codificações simbólicas e culturais a organização do caos
ontologicamente vivido, utilizando o passado como um alimento substancial, mas
sem os excessos da metafisica de uma história universal erudita e oca.
A critica de Nietzsche aos
eruditos de seu tempo, especialmente aos partidários da teleologia hegeliana,
ainda goza de certa atualidade em nossos tempos pós modernos. Pois, de modo
mais geral, é uma recusa radical do tipo de intelectualismo racionalista,
livresco, que divorcia pensamento e vida, privilegiando dogmas e ideologias.
Lembrando aqui Baudrillard,
precisamos buscar aquilo que no sujeito
é irredutível a ele mesmo e ao objeto.
Precisamos reinventar nossos esquecimentos contra os males da história.
SOBRE OS INCONVENIENTES DA CONSCIÊNCIA HISTÓRICA
A ideia de continuidade, de processo, de acumulação, que caracteriza a consciência histórica, é uma fantasia desastrosa legada pelo imaginário dogmático e cientificista dos oitocentos. Pois o existir humano é feito de descontinuidades, singularidades e ilegíveis silêncios de significação.
Uma dada época não se comunica com suas sucessoras, assim como uma configuração cultural circunscrita a uma sociedade e tempo não se relaciona com suas próprias mutações em termos de causalidade, mas toma a si mesma como um parâmetro absoluto.
A história humana é um verdadeiro caos onde o passado não informa o tempo presente, nem mesmo em termos pedagógicos, mas o contradiz na exata medida em que é domesticado pela consciência histórica do momento e suas urgências e parcialidades.
quarta-feira, 12 de abril de 2017
SOBRE LER E ESCREVER
"Os eruditos são aqueles que que leram coisas nos livros, mas os pensadores, os gênios, os fachos de luz e promotores da espécie humana são aqueles que leram diretamente no livro da vida."
A. Schopenhauer in A arte de Escrever.
Nunca acreditei na erudição e na compulsão de ler dos consumidores de livros adeptos do artificio do conhecimento enciclopédico. O único sentido da boa leitura é o cultivo da arte de escrever , de criar e inventar. Ler, pura e simplesmente por ler é uma habito infecundo.
Os verdadeiros leitores vomitam, escrevem e se rendem a loucura e a convulsão do dizer....
Através do escrito pessoal e próprio, inventamos aquele outro da palavra que nos faz ser onde quase não existimos de tão intensa experiencia de existir
EU ESTATISTICA
O documento de identidade
é onde não posso ser reconhecido
ou decifrado.
Mas é o simulacro
através do qual me apresento
como parte do jogo
de existir de fachada,
de ser através de um emprego
e de uma casa,
que já não dizem nada
sobre todos aqueles que fui,
sou e serei
além dos números,
senhas e cadastros.
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