quinta-feira, 20 de abril de 2017

MITO E PENSAMENTO

A arte do pensamento não se confunde com o exercício da razão.
Pensar é quase um encantamento,
é a aventura de se inventar através de enunciados
contra o silêncio de palavras antigas
que perderam a vida.
Pode ser descrito como um exercício 
de desconstrução criadora
através da da máscara de um texto
onde se reinventam significados, gramáticas e símbolos,
que buscam dizer a existência
através dos mitos.

quarta-feira, 19 de abril de 2017

DESCONSTRUÇÕES CONTEMPORÂNEAS

Estamos cada vez mais distantes  do encanto descuidado por qualquer utopia social ou ideal moral de humanidade ou futuro. Coletivamente, em tempos de incertezas, duvidas e vertigens de pós verdades,  somos como dejetos das velhas apostas nas possibilidades da razão e da civilização. Aprendemos a rir dos manuais historiográficos e de todo o patrimônio da Humanidade. Somos indiferentes ao passado  e ao presente e pouco nos importamos com o futuro. Vivemos em um mundo onde as grandes ambições humanistas se revelaram pueris. 

As incertezas contemporâneas nos obrigam ao trivial do imediatismo epocal e a desconfiança das convicções e meta verdades  ideológicas. Afinal, a própria condição humana não é grande coisa e se realiza contra suas melhores expectativas e representações morais.

Não somos se quer aquele rosto que nos surpreende no espelho. O eu é cada vez mais um outro contra a mimese da invenção vazia de identidades.



sábado, 15 de abril de 2017

NIETZSCHE E OS MALES DA HISTÓRIA

Originalmente publicada em 1874, a II Consideração Intempestiva: Sobre a utilidade e os Inconvenientes da História para Vida, é um ensaio crítico ao historicismo e, especialmente a filosofia da História de Hegel, tanto quanto um surpreendente elogio ao esquecimento diante da compulsão a historicidade absoluta.

Para Nietzsche, a historicidade pode ser nociva e o elemento a-histórico e trans-histórico são tão necessários a  saúde de um indivíduo, de um povo e de uma cultura, quanto o próprio elemento histórico. Esta é uma das premissas mais interessantes de seu texto. Para ele, em excesso, o conhecimento histórico pode ser desastroso. Diferente do proposto pelo Historicismo, o sentido da existência humana não se revela progressivamente através do tempo como realização de um propósito, de uma meta racional ou sentido universal. A vida humana não é definida pelos supostos imperativos de um processo histórico, mas por um imediatismo pragmático e por representações transpessoais de mundo de natureza a-histórica e simbolicamente voltadas para todas as formas de representação da existência que transcendem o devir.

Para Nietzsche, neste breve ensaio em referência, existiram em sua época  três modos de codificar o conhecimento histórico: o monumental ( do culto aos heróis) o tradicionalista ( da identidade coletiva ou memória social) e o modo crítico ( que condena o passado em nome do tempo presente e do progresso) Os três modos são limitados pelo abismo que ele identifica, em sua época, entre o conhecimento histórico e a vida criado pela pretensão megalomaníaca de reduzir a história a formula positiva de uma ciência do devir universal.

Segundo Nietzsche, tal tipo de narrativa historiográfica não passaria de uma interioridade à qual não corresponderia nenhuma exterioridade. Por isso, para ele, a historiografia de seu tempo recusava a sua contemporaneidade qualquer singularidade, impregnando-se de épocas, costumes, filosofias, religiões e saberes  de outros tempos e civilizações. A historiografia moderna teria, então, inventado os historiadores como  manuais  ambulantes, em abstrações concretas de uma cultura de simulacros. Parafraseando o autor, o excesso de história destruiu, assim, a força plástica da vida, nos privando de utilizar o passado como um alimento substancial.

Os antídotos para os males da História são as forças a-históricas e supra históricas. A primeira remete a facilidade de esquecer e se fechar em um horizonte limitado e pragmático, enquanto a segunda  nos desvia o olhar do devir, ocupando-se do que proporciona ao existir durabilidade trans pessoal, ou seja, as artes e a religião.  Segundo sua argumentação, deve a vida dominar o conhecimento ( ciência) e o conhecimento reinar sobre a vida, no que diz respeito a cultura de um povo ou de  um indivíduo.

 Nietzsche faz clara referência ao que considera a  concepção grega de cultura que, contrariando a concepção latina, vê em si mesma uma nova e melhor physis ( “natureza” ou arché , principio interno e estruturador). Desta forma, a cultura realiza o acordo entre vida e pensamento, entre a aparência e o querer, permitindo a cada indivíduo organizar seu caos interior, refletindo sobre as suas verdadeiras necessidades, eu diria, arquetípicas. O fato é que cabe as codificações simbólicas e culturais a organização do caos ontologicamente vivido, utilizando o passado como um alimento substancial, mas sem os excessos da metafisica de uma história universal erudita e oca.
A critica de Nietzsche aos eruditos de seu tempo, especialmente aos partidários da teleologia hegeliana, ainda goza de certa atualidade em nossos tempos pós modernos. Pois, de modo mais geral, é uma recusa radical do tipo de intelectualismo racionalista, livresco, que divorcia pensamento e vida, privilegiando dogmas e ideologias.

Lembrando aqui Baudrillard, precisamos  buscar aquilo que no sujeito é  irredutível a ele mesmo e ao objeto. Precisamos reinventar nossos esquecimentos contra os males da história.


SOBRE OS INCONVENIENTES DA CONSCIÊNCIA HISTÓRICA

A ideia de continuidade, de processo, de acumulação, que caracteriza a consciência histórica, é uma fantasia desastrosa legada pelo imaginário dogmático e cientificista dos oitocentos. Pois o existir humano é feito de descontinuidades, singularidades e ilegíveis silêncios de significação.

Uma dada época não se comunica com suas sucessoras, assim como uma configuração cultural circunscrita a uma sociedade e tempo não se relaciona com suas próprias mutações em termos de causalidade, mas toma a si mesma  como um parâmetro absoluto.

A história humana é um verdadeiro caos onde o passado não informa o tempo presente, nem mesmo em termos pedagógicos, mas o contradiz na exata medida em que é domesticado pela consciência histórica do momento e suas urgências e parcialidades.

quarta-feira, 12 de abril de 2017

SOBRE LER E ESCREVER

"Os eruditos  são aqueles que que leram coisas nos livros, mas os pensadores, os gênios, os fachos de luz e promotores  da espécie humana  são  aqueles que leram diretamente no livro da vida."
A. Schopenhauer in  A  arte de Escrever.

Nunca acreditei na erudição e na compulsão de ler dos consumidores de livros adeptos do artificio do conhecimento enciclopédico. O único sentido da boa leitura é o cultivo da arte de escrever , de criar e inventar. Ler, pura e simplesmente por ler é uma habito infecundo. 
Os verdadeiros leitores vomitam, escrevem e se rendem a loucura e a convulsão do dizer....

Através do escrito pessoal e próprio, inventamos aquele outro da palavra que nos faz ser onde quase não existimos de tão intensa experiencia de existir

EU ESTATISTICA

O documento de identidade
é onde não posso ser reconhecido
ou decifrado.
Mas é o simulacro
através do qual me apresento
como parte do jogo
de existir de fachada,
de ser através de um emprego
e de uma casa,
que já não dizem nada
sobre todos aqueles que fui,

sou e serei
  além dos  números,

senhas e cadastros.

DECONSTRUINDO O PASSADO

"Do que sofre o´passado? Não há, mais proporção entre as coisas: um achará isto importante, outro achará aquilo. O passado se decompõe: este elemento parecerá simpático a alguém, que se manterá frio e indiferente diante de outro. As coisas insignificantes se encontrarão, além disso, perpetuadas."
F. Nietzsche in Fragmentos Póstumos e Aforismas

O passado foi reduzido a um apêndice do tempo presente e relegado as sombras do esquecimento. Aquilo que já está morto não faz mais diferença. Serve apenas como distração ou como uma forma de evasão lúdica para os momentos de lazer. As paginas da historia não dizem o futuro. Portanto, não oferecem qualquer suo prático. 

O fato é que já não somos mais oprimidos pelos "classicismos" e nem pela fantasia teleológica do processo histórico. O tempo presente e suas urgências é tudo que nos interessa em meio ao despropósito de todas as épocas.  O passado é como uma vitrine onde escolhemos com o que nos entreter  de acordo com o momento e com nosso temperamento. 

terça-feira, 11 de abril de 2017

SOBRE O MISERAVEL DO HUMANO

Na medida em que o conceito de humano substituiu a idéia de sagrado em nossas codificações de mundo e realidade, nos tornamos prisioneiros daquilo que não somos... os senhores deste mundo, o ponto mais alto da evolução biológica, quando não passamos do mais estupido dentre os animais. Como apontado por F. Nietzsche, a morte de "Deus"  também representa a superação de nossa humanidade... Não somos a medida do mundo. É preciso partir do mundo para chegar ao próprio mundo e não deste sonho que é o Homem.

O MUNDO COMO SIGNIFICADO

O mundo não passa do inventar de significados e sentidos , uma exigencia da existencia  humana que nos impoem  o desafio da inventar de uma realidade  plena de representacoes e propositos. Mesmo que isso não seja um dado objetivo, um atributo da realidade. Projetamos em todos os fenomenos  que experimentamos  nossa compulsão natural  por significacoes , nossa necessidade irracional  por propositos que , paradoxalmente, explica  a Razao  como instrumento da consciencia , como artificio do corpo fisico para adaptar-se a experiencia do mundo.

O MUNDO COMO PARADOXO

O mundo é o outro
que me inventa e transcende.
É o objeto que se revela sujeito
no inventar-se da realidade.
Ele é o falso absoluto
que me define efêmero,
irrelevante e incerto.

O mundo é essencialmente
tudo aquilo que não sou
quando só posso ser
através dele.