quarta-feira, 12 de abril de 2017

DECONSTRUINDO O PASSADO

"Do que sofre o´passado? Não há, mais proporção entre as coisas: um achará isto importante, outro achará aquilo. O passado se decompõe: este elemento parecerá simpático a alguém, que se manterá frio e indiferente diante de outro. As coisas insignificantes se encontrarão, além disso, perpetuadas."
F. Nietzsche in Fragmentos Póstumos e Aforismas

O passado foi reduzido a um apêndice do tempo presente e relegado as sombras do esquecimento. Aquilo que já está morto não faz mais diferença. Serve apenas como distração ou como uma forma de evasão lúdica para os momentos de lazer. As paginas da historia não dizem o futuro. Portanto, não oferecem qualquer suo prático. 

O fato é que já não somos mais oprimidos pelos "classicismos" e nem pela fantasia teleológica do processo histórico. O tempo presente e suas urgências é tudo que nos interessa em meio ao despropósito de todas as épocas.  O passado é como uma vitrine onde escolhemos com o que nos entreter  de acordo com o momento e com nosso temperamento. 

terça-feira, 11 de abril de 2017

SOBRE O MISERAVEL DO HUMANO

Na medida em que o conceito de humano substituiu a idéia de sagrado em nossas codificações de mundo e realidade, nos tornamos prisioneiros daquilo que não somos... os senhores deste mundo, o ponto mais alto da evolução biológica, quando não passamos do mais estupido dentre os animais. Como apontado por F. Nietzsche, a morte de "Deus"  também representa a superação de nossa humanidade... Não somos a medida do mundo. É preciso partir do mundo para chegar ao próprio mundo e não deste sonho que é o Homem.

O MUNDO COMO SIGNIFICADO

O mundo não passa do inventar de significados e sentidos , uma exigencia da existencia  humana que nos impoem  o desafio da inventar de uma realidade  plena de representacoes e propositos. Mesmo que isso não seja um dado objetivo, um atributo da realidade. Projetamos em todos os fenomenos  que experimentamos  nossa compulsão natural  por significacoes , nossa necessidade irracional  por propositos que , paradoxalmente, explica  a Razao  como instrumento da consciencia , como artificio do corpo fisico para adaptar-se a experiencia do mundo.

O MUNDO COMO PARADOXO

O mundo é o outro
que me inventa e transcende.
É o objeto que se revela sujeito
no inventar-se da realidade.
Ele é o falso absoluto
que me define efêmero,
irrelevante e incerto.

O mundo é essencialmente
tudo aquilo que não sou
quando só posso ser
através dele.

sábado, 8 de abril de 2017

A MÁSCARA DO AUTOR

"No ato de escrever, o momento mais cativante é o da condensação, da elipse, da rarefação. Recriar núcleos cada vez mais densos, em torno dos quais a luz fica desorientada, e o pensamento também, já que perde o sentido da sua origem. "
Jean Baudrillard in COOL MEMORIES II  Crônicas 1987-1990

Um texto transcende seus enunciados.
É pouco evidente naquilo que diz
na construção de imagens 
que extrapolam meta linguagens.
Quem escreve não domina o texto,
é seu escravo,
que através da máscara autoral
inventa significados
que não cabem em qualquer palavra.
O dito é a superfície do escrito,
o quase invisível através do indisíivel
do que foi pensado.

sexta-feira, 7 de abril de 2017

O SENTIMENTO DA PAISAGEM

Embora a paisagem  seja composta pelo somatório de uma diversidade de objetos individualizados, seus detalhes me escapam. Apenas posso apreende-la como totalidade aberta, em movimento, onde cada detalhe se relaciona ao outro como peças de um quebra cabeça.

Percebo ritmos e movimentos que fazem do espaço povoado de coisas  uma especie de atmosfera que me envolve e reduz a mais um objeto entre tantos outros. O que vejo é parte de mim mesmo através da consciência do que me circunda. Sou um ponto dentro da paisagem e, portanto, a própria paisagem. 

O tempo e espaço ofusca o devir... Mas a paisagem é atemporal como um quadro em seu estático movimento de acontecer.

segunda-feira, 3 de abril de 2017

SOBRE LER E ESCREVER

"O hábito de escrever é mais importante do que a prática da leitura. O que já foi dito por Schopenhauer em Parerga e Paraliponema (1951) . Em dado momento de seus aforismos ele nos remete nesta obra a um epigrama  curioso de A.W. Schelegel:

"Leiam com afinco os antigos, os verdadeiros
e autênticos antigos: O que os modernos dizem
sobre eles não significa muito."

Aquilo que se escreve ao sabor  das tendencias contemporâneas  esta normalmente fadado ao efêmero ou a prisão de sua época. É preciso buscar no atemporal as referências para o bem escrever e, assim, apreender o "espirito humano" sem se deixar contaminar pelas urgências do simples agora. Desta forma, nos qualificamos a pensar e escrever por nossa própria conta, dizendo o mundo e as coisas, segundo nossa mais intima e autentica sensibilidade. Não há maior contradição do que ler em demasia  sem cultivar o habito de inventar suas próprias linhas. Todo bom leitor é também um escrevinhador, uma vez que a leitura não é um ato passivo.

sexta-feira, 31 de março de 2017

A REALIDADE AINDA FAZ SENTIDO?

Caminhar em um solo cognitivo minimamente seguro é um objetivo ingenuo na contemporaneidade. Vivemos em tempos de incertezas existenciais, sociais, politicas e epistemológicas. Substituímos o bem estar das metanarrativas e a pretensão a grandes verdades totalizantes pelo franco reconhecimento dos limites de nossas praticas discursivas.
O antídoto para a metafisica das palavras-verdades, sustentáculo dos enunciados de um sujeito cogniscente introspectivo que se impõe como medida do próprio conhecimento, tão característico da modernidade desde Descartes, foi substituído pela pluralidade de discursos e de perspectivas cognitivas, que se voltam para uma reflexão sobre a possibilidade do próprio conhecimento positivo da realidade. Em muitos casos, sem constituir um discurso com pretensões à Verdade.
Já não é o sentido da História ou um desvelamento da natureza que buscamos significar ou representar, mas a própria experiencia de domesticar o real através de codificações e símbolos, o próprio entendimento das coisas, é que parece questionável. O que hoje nos perguntamos é se o mundo que socialmente inventamos todos os dias ainda precisa fazer algum sentido.
Talvez os outros animais sejam mais felizes do que nós humanos. 



quinta-feira, 30 de março de 2017

EM TEMPOS DE INCERTEZAS

Não adianta buscar uma estruturação pragmática do real quando nossas representações de mundo e significações da existência ignoram o desenraizamento ontológico que nos define a contemporaneidade.

A vida anda cada vez mais opaca e indiferente às teleologias totalizantes e a existência torna-se nômade em meio a vastidão de nossas incertezas.

INDIVIDUALIDADE E VIDA PRIVADA

Em grande medida participamos de atitudes mentais que transcendem e contem nossas configurações individuais,que  nos confrontam o tempo todo com conteúdos impessoais. Mas é justamente a constante tendência a transgressão destas atitudes, nossa inadequação aos papéis sociais que nos são impostos, seja pela época ou pela cultura, que condiciona a grau de singularidade e autenticidade que cada um é capaz de alcançar.

Nossa auto imagem  depende de certa recusa dos códigos sociais em nome de nossos impulsos e tendencias mais pessoais. Estamos condenados a nossa vontade. É isso que basicamente nos define como indivíduos , o instável relacionamento que mantemos com a realidade social e coletiva. Tendemos a diferenciação, mesmo em sociedades massificadas  onde a padronização comportamental, mediante a universalização de um padrão de consumo minimo de bens simbólicos, condicionam a reprodução de nossa existência.

Aqueles que tendem a individuação percebem de modo mais intenso as fronteiras entre as ações inerentes ao espaço público da vida social e aqueles destinados  a vida privada. Considera-se aqui o espaço privado, não como aquele domínio da existência consagrado a família ou a administração domestica, mas como o campo existencial definido por nossas inquietações, angustias, sonhos, fantasias, medos   e desejos.

O cultivo de si mesmo é o que define o hedonismo  do viver privado. O que lhe proporciona um caráter irracional, não planejado e não pragmático, mas essencialmente lúdico, confessional e deliberado.