terça-feira, 18 de outubro de 2016

URGENTE

Enquanto a vida segue quebrada,
Sem grandes  verdades
Invento mundos de ponta cabeça,
Brinco com o cisco no olho
Enquanto o tempo rasga
Todas as minhas expectativas.
Verdade alguma  não me serve mais.
Prefiro minhas incertezas.
O dia demora demais...

Enquanto noites me chamam urgentes. 

quinta-feira, 13 de outubro de 2016

A DERROTA DO PENSAMENTO

“Há livros escritos para evitar espaços vazios na estante.”
Carlos Drummond de Andrade

O pensamento é contemplativo e pressupõe inercias, silêncios e ausências. Por isso poucos se ocupam sistematicamente de sua prática. As pessoas preferem viver a pensar. Normalmente apenas buscam boa informação ou qualquer texto inútil que lhes distraia as ideias.


Pessoalmente prefiro ficar aqui, diante de uma folha em branco, esperando alguma coisa abstratamente ocorrer para abstrair todos os acontecimentos que me perseguem. Sei que enquanto isso as livrarias estão cheias de pessoas que leem como quem come um hambúrguer. 

EU E A ESCOLA




"A função da escola é ensinar às crianças como o 


mundo é, e não instrui-las na arte de viver."


Hannah Harendt




Qual o meu  lugar na escola?
 Nela sou sujeito ou objeto?
O que aprendo de fato é conhecimento
Ou simples adestramento vazio
Para  me conformar com o mundo?
Afinal,  quem serei eu
Apesar da escola?

O que a vida irá me ensinar?

segunda-feira, 10 de outubro de 2016

LEMBRANDO ALÉM DA MEMÓRIA

Estamos a um passo do passado absoluto,
Do império da nostalgia onipresente
Onde o tempo presente sintetizará todas as épocas.
Assim tem sido desde que perdemos
A capacidade de acreditar no futuro.
O próprio presentismo sucumbiu diante do passadismo.
Reinventaremos todas as memorias perdidas e inventadas
Para que, definitivamente,
Nos tornemos incapazes de lembrar.


SOBRE A PLURALIDADE DO DIZER

O  poder dizer a vida através de um texto se tornou uma arte duvidosa depois de que todos os discursos, por convenção,  se fizeram possíveis. Diante da polifonia dos significados, a verdade se perdeu da palavra. Tornou-se um fantasma dos tempos antigos onde se acreditava que elas correspondiam as coisas.


Estamos agora restritos ao incerto domínio das interpretações e opiniões. O próprio real converteu-se em uma construção complexa  formatada pela linguagem e estratégias discursivas  que adotamos. Já não é mais possível nos atermos aos fatos, na medida  em que somos inventados, enquanto sujeitos cognoscentes, pelo próprio objeto que construímos.

MEMÓRIA E FANTASIA

O passado é sempre mais agradável do que o tempo presente. Temos a impressão de que, em épocas anteriores, os códigos sociais de vida e existência, por sua maior simplicidade, proporcionavam mais facilmente um viver mais intenso. Colorido pelas lentes de nossas idealizações nostálgicas, o passado exibe cores intensas em contraste com o desbotado do tempo presente. Lembrar o passado é sempre mais interessante do que viver ou sofrer as circunstâncias de nossa própria época, que sofrer seus impasses e incertezas. 

sexta-feira, 7 de outubro de 2016

IMEDIATISMO

Neste exato momento
Nada acontece na minha vida.
As horas passam mansamente
Enquanto administro o ócio
Simplesmente existindo.
Nenhuma finalidade,
Reflexão, saudade ou angustia...
Apenas o aqui e agora
Despido de qualquer sentido.


segunda-feira, 3 de outubro de 2016

O NÃO SENTIDO DA HISTORIA

Como diziam os antigos, a História é como um grande teatro onde a Sorte (Fortuna) se diverte em atrapalhar nossos planos, nossas teleologias cotidianas ou sublimes idealizações éticas e intencionais. Dai a importância do não factual, pois a construção da realidade é um desafio diário ao qual cada indivíduo em sua privacidade ou no espaço publico da coexistência  responde com as possibilidades oferecidas por sua imaginação. No plano social nossas codificações e imagéticas cognitivas estão sempre em processo de construção e reconstrução ou, simplesmente, adaptação e readaptação as circunstancias.

Em termos históricos o social não está condicionado ao horizonte da previsibilidade, pois os desdobramentos de determinado evento não é prefigurado por suas supostas causas, como erroneamente pode sugerir a visão retrospectiva, mas pelas variáveis que interferem em seus desdobramentos produzindo novos contextos e conjunturas que contrariam sua natural tendência a inercia a permanência simples de uma situação ou condição anterior de dado estado de coisas.
O que se diz aqui é que a História não faz sentido, não é dotada de um proposito, como , por exemplo, o progresso da humanidade ou qualquer coisa que o valha. Não existe um processo histórico dotado de uma racionalidade intrínseca ou um “fim da história”.


A aleatoriedade dos acontecimentos e as sincronicidades estabelecidas entre diversos eventos em um determinado contexto é o que nos leva  socialmente a situações novas e mais imprevisíveis do que gostaríamos que fossem.

sexta-feira, 30 de setembro de 2016

PENSAMENTO NÔMADE






Vivemos o desafio de uma filosofia antiteoretica onde o conhecimento revela-se um jogo, um envolvimento cada vez mais profundo com a ilusão de verdade. As palavras precisam trair ao seu próprio significado, ser transfiguradas em cada frase. O intelecto mascara-se, inventa disfarces, na busca pela afirmação de seu dizer o mundo. Tudo por mera vaidade ou simples necessidade de “saber”. Mas já não há mais  verossimilhança que nos atraia para o dizer da razão ou ao conformismo da estreiteza dos dogmas científicos. Somos cotidianamente confrontados com o nonsense, com os limites de todos os discursos.

Isso é o mesmo que dizer que a existência já não é passível de leituras serenas, que já não podemos nos abrigar a sombra de nenhuma verdade gnosiológica e nos conformar as interdições das convenções. Temos fome de novidades, justamente agora que todas as possibilidades de mudança parecem diluídas pelas metamorfoses do sempre igual epstemológico.
   
O pensamento tornou-se nômade...


terça-feira, 27 de setembro de 2016

SOBRE LEMBRAR E ESQUECER

Atualmente o viver coletivo ou compartilhado entre outros indivíduos é feito mais de esquecimentos do que de lembranças. A informação ultrapassa nossa capacidade de fixar memórias de longo prazo. Precisamos de uma arqueologia das coisas perdidas. Não para resgata-las, mas para compreender o esquecimento como modalidade de significação. Por outro lado, nem sempre o mais importante é o que foi lembrado. Não escolhemos nossas memorias. Ela nos serve como um filtro que seleciona arbitrariamente aquilo que se perpetua.