A objetivação da realidade
através do conhecimento cientifico apenas nos faz prisioneiros de conceitos abstratos e
pragmáticos. Ela formatou a realidade de tal maneira que nos fez subestimar a dimensão irracional de nossas representações
do mundo. Somos movidos pela
vontade e ela, em ultima instância, molda
o modo como percebemos objetivamente a realidade. Pensar é também um modo de
perceber e ter consciência das coisas, é
o que define a vontade como um continuo impulso para além de si mesmo. Pensar e
querer equivalem na apreensão do mundo. Pois tudo que concebemos como realidade
objetiva é representação, parte de nosso
próprio acontecer no mundo enquanto ente. Assim, a realidade é uma configuração
subjetiva e pouco faz sentido a clássica dicotomia entre sujeito e objeto, pois
ambos coincidem enquanto gramatica de mundo e no ato cognitivo na medida em que
o sujeito define o objeto e ambos existem como ato linguístico.
Este Blog é destinado ao exercicio ludico de construção da minima moralia da individualidade humana; é expressão da individuação como meta e finalidade ontológica que se faz no dialogo entre o complexo outro que é o mundo e a multiplicidade de eus que nos define no micro cosmos de cada individualidade. Em poucas palavras, ele é um esforço de consciência e alma em movimento...entre o virtual, o real, o simbolo e o sonho.
segunda-feira, 19 de setembro de 2016
terça-feira, 13 de setembro de 2016
SOBRE O PENSAR FILOSÓFICO
É um equivoco buscar no pensar filosófico
algum tipo de normatização para a vida
prática. Tudo que ele nos oferece é um estranhamento do cotidiano e do senso
comum. Tomando como referencia Hannah Arendt em
A VIDA DO ESPIRITO: O PENSAR, O JULGAR, O QUERER, ouso afirmar que a
existência humana não pode ser explicada ou entendida a partir do encadeamento
causal ou dialético dos fenômenos que lhe definem. Sua essência é a liberdade,
a constante possibilidade do novo, do inédito, como ato desinteressado, como
devir do discernimento.
terça-feira, 6 de setembro de 2016
PÓS CONCEITO
A realidade é um desacordo entre a verdade e os fatos.
Estou tão certo disso que me engano afirmando positivamente
Qualquer enunciado vazio sobre o assunto.
Já estou farto de dizer o mundo,
De saber qualquer coisa além
Do simples e imediato acontecer da minha existência.
Tenho urgências que não cabem em qualquer conceito,
Em nenhuma premissa,
Geralmente penso contra mim mesmo.
segunda-feira, 5 de setembro de 2016
O CORPO COMO REFLEXÃO
Enquanto buscava a tranquilidade
desapaixonada dos essenciais silêncios fui, aos poucos, escorrendo de mim,
escapando as ansiedades e vontades, as certezas e convicções, para me saber
apenas no sentimento do corpo. Respirar, olhar, tocar, era o mesmo que pensar.
Não havia distinção entre o fisiológico e o filosófico na consciência precária dos
fenômenos externos. Tudo era para mim auto consciência e a contingencia era
tudo que fazia sentido. A vontade é o ponto onde o dentro e o
fora coincidem como vida em movimento.
sexta-feira, 2 de setembro de 2016
CO-AGENCIAMENTO, COLETIVO E LINGUAGEM
O
coletivo é um hibrido de homens e coisas, uma infinitude de matérias heterogêneas
entrelaçadas em uma rede de relações, compromissos e dissensos simbólicos que nos levam a superação da logica dicotômica
estabelecida entre individuo e sociedade.
Pois o coletivo é essencialmente linguagem,
lugar onde não há uma clara distinção entre as varias dimensões do real,
na medida que é através delas que toda experiência possível torna-se inteligível
enquanto tal. A premissa da linguagem, por sua vez, é o agenciamento, que como
define Deleuze,
(...) É uma multiplicidade que comporta muitos
termos heterogêneos e que estabelece ligações, relações entre eles, através das
idades, sexos, reinos - de naturezas diferentes. Assim, a única unidade do
agenciamento é o co-funcionamento: é a simbiose, uma "simpatia".
[p.84]- Gilles
Deleuze e Claire Parnet: Diálogos, 1996.
O agenciamento é o principio de
ligação das palavras, aquilo que estrutura o coletivo enquanto fenômeno
totalizante, em outros termos,
....A unidade real
mínima não é a palavra, a idéia ou o conceito; nem o significante, mas o
agenciamento. É sempre um agenciamento que produz os enunciados. Os enunciados
não têm por causa um sujeito que agiria como sujeito da enunciação,
principalmente porque eles não se referem aos sujeitos como sujeitos do
enunciado. O enunciado é o produto de um agenciamento, sempre coletivo, que põe
em jogo, em nós e fora de nós, as populações, as multiplicidades, os
territórios, os devires, os afetos, os acontecimentos. O nome próprio não
designa um sujeito mas qualquer coisa que se passa, pelo menos entre dois
termos que não são sujeitos, mas agentes, elementos. Os nomes próprios não são
nomes de pessoas, mas de povos e tribos, de faunas e de floras, de operações
militares e tufões, de coletivos, de sociedades anônimas e escritórios de
produção. O autor é um sujeito da enunciação, mas não o escritor, que não é um
autor. O escritor inventa os agenciamentos a partir de agenciamentos que se
inventaram, ele faz passar uma multiplicidade na outra. O difícil é fazer
conspirar todos os elementos de um conjunto não homogêneo, os fazer funcionar
juntos. As estruturas estão ligadas às condições de homogeneidade mas não os
agenciamentos. O agenciamento é o co-funcionamento, é a "simpatia", a
simbiose. [p.65]
idem.
idem.
O
que aqui se apresenta é a recusa de qualquer logica dicotômica na construção e
vivencia dos conceitos; uma concepção de relação entre as coisas que pressupõe
o “lugar meio” do processo do dizer. Neste processo fluido, o coletivo,
enquanto experiência ontológica, é um co-agendramento. Não há, assim, uma
distinção entre individual e coletivo, já que o individual esta contido em um
determinado ponto e, ao mesmo tempo, distribuído por toda uma rede de relações
de fenômenos que compõem a totalidade do real.
Afinal,
o que é um acontecimento?
UM TOQUE DE NARCISISMO
Deixo meus delírios a vontade.
Gosto da companhia das minhas antipatias,
Afetos, caprichos, humores e defeitos.
Nunca estou sozinho quando recolhido
Em meus mais íntimos recantos de rasa existência.
Sou acompanhado por pomposas fantasias,
Sonhos e imaginações errantes,
Contra o deserto e o mau gosto da realidade.
Por isso evito pessoas e gosto da superfície dos espelhos.
Em que outro lugar, afinal, poderia inventar bons diálogos?
quinta-feira, 1 de setembro de 2016
CONTRA O DETERMINISMO DA EXISTÊNCIA
Antes a vida humana era
determinada pelos astros ou pela
providencia. Hoje é determinado pela realidade social e econômica, segundo os
atuais portadores da verdade objetiva de plantão. Sempre alguma forma de
determinismo impõe ao mundo uma ordem e soluções.
Mas, pessoalmente, prefiro
acreditar que há mais acasos condicionando minha existência do que causalidades,
sejam metafisicas ou materialistas. Nunca terei a vida que espero, mas aquela
que me será possível através da soma absurda de variáveis que não cabem em
qualquer planejamento. O futuro sempre fica pelo caminho e é ingênuo acreditar
unilateralmente no imperativo das circunstancias.
Não determino todos os fatos da minha vida, mas
sei que sou uma combinação complexa de fenômenos internos e externos diversos, cuja totalidade
escapa a qualquer racionalidade estreita.
quarta-feira, 31 de agosto de 2016
SOBRE O POUCO DIZER DAS COISAS
Dentre todas as possibilidades da minha cotidiana gramática da
existência, escolhi os vácuos entre os silêncios para dizer quase nada. Melhor
ser econômico com os pensamentos e não carrega-los com conceitos, teses,
premissas ou conclusões fáceis e sistemáticas. Melhor passear a deriva entre
uma e outra incerteza. Nenhuma verdade há de mudar o mundo. Então, por que me
preocupar com o rigor do texto e o poder das minhas formulações? Pensar dever
ser antes de tudo uma recreação, um esquecer de si mesmo. Não uma prisão ou o
pathos de um intelecto que já não se reconhece nas pequenas e gratuitas coisas
do mundo.
A realidade não faz sentido. É puro entrelaçamento de acasos e erros
que contrariam toda intencionalidade possível. Por isso não devemos ser
escravos de nossas convicções. Tenho muito pouco a dizer que vale realmente a pena
ser ouvido.
segunda-feira, 29 de agosto de 2016
ALÉM DA DICOTOMIA SOCIEDADE/INDIVÍDUO
O eu é hoje um principio social tão decisivo que não mais reconhecermos fronteiras muito nítidas
entre nossa condição privada (pessoal) e pública (impessoal).
Enquanto indivíduos não somos capazes de estabelecer uma relação com nós mesmos sem tender ao outro, ao que esta fora de nós. Assim, seria possível falar de uma zona irracional de interseção entre o individual e o coletivo. Simplesmente não podemos nos situar em relação ao primeiro sem nos inscrever no segundo.
Enquanto indivíduos não somos capazes de estabelecer uma relação com nós mesmos sem tender ao outro, ao que esta fora de nós. Assim, seria possível falar de uma zona irracional de interseção entre o individual e o coletivo. Simplesmente não podemos nos situar em relação ao primeiro sem nos inscrever no segundo.
Neste sentido, é saudável romper com a dicotomia construida pela
modernidade entre o individual e o coletivo, pois existimos em individuação, em
um cuidado de si que é também um saber e ser no mundo.
A intersubjetividade e
as sociabilidades não se limitam a um pertencimento mecânico do individuo
singular a uma comunidade ou sociedade. As paixões coletivas são geradas no
plano dos sentimentos individuais. Já na micro-física de nossa intimidade, ainda estamos longe de racionalizações que
esgotem aquilo que cotidianamente nos faz humanos, o retraimento e a futilidade que nos é imposto
pelo nosso mais imediato "agir privado". Cabe hoje redefinir o campo da
intimidade e seus protocolos irracionais. Quem somos quando não estamos em
público revela o tipo de mascaras sociais que precisamos.
A IMAGINAÇÃO OCEÂNICA
Uma das minhas fantasias mais inspiradoras é a de descobrir uma “imaginação oceânica”,
ampla, que nos inscreva no sentimento contraditório de existir como uma gota no
oceano. Tal percepção subjetiva da nossa insignificância objetiva poderia conduzir a uma codificação
menos confiante e mais realista de nossa condição humana. Aprenderíamos a não nos
levar demasiadamente a serio, a não proporcionar as situações cotidianas mais
importância do que aquela que elas de fato possuem.
Não nos sentiríamos obrigados a viver e a pensar como deuses e muito menos
a contar com qualquer forma de providencia na administração cotidiana da
existência. Apenas não saberiamos que não somos especiais e o único sentido das coisas é sua
assombrosa falta de sentido.
A imaginação oceânica nos minaria a vaidade e o excesso de confiança. Mas nos daria em troca uma certa n serenidade descrente, uma espécie de “descaso ontológico”. Não se trata de um caminho para a felicidade, mas para uma intensidade da experiência banal. Pois aprenderíamos, finalmente, que tudo o que pode ser vivido é superficial e transitório.
A imaginação oceânica nos minaria a vaidade e o excesso de confiança. Mas nos daria em troca uma certa n serenidade descrente, uma espécie de “descaso ontológico”. Não se trata de um caminho para a felicidade, mas para uma intensidade da experiência banal. Pois aprenderíamos, finalmente, que tudo o que pode ser vivido é superficial e transitório.
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