quinta-feira, 1 de setembro de 2016

CONTRA O DETERMINISMO DA EXISTÊNCIA

Antes a vida humana era determinada pelos astros  ou pela providencia. Hoje é determinado pela realidade social e econômica, segundo os atuais portadores da verdade objetiva de plantão. Sempre alguma forma de determinismo impõe ao mundo uma ordem e soluções.

Mas, pessoalmente, prefiro acreditar que há mais acasos condicionando minha existência do que causalidades, sejam metafisicas ou materialistas. Nunca terei a vida que espero, mas aquela que me será possível através da soma absurda de variáveis que não cabem em qualquer planejamento. O futuro sempre fica pelo caminho e é ingênuo acreditar unilateralmente no imperativo das  circunstancias.


Não  determino todos os fatos da minha vida, mas sei que sou uma  combinação complexa de fenômenos  internos e externos diversos, cuja totalidade escapa a qualquer racionalidade estreita.  

quarta-feira, 31 de agosto de 2016

SOBRE O POUCO DIZER DAS COISAS

Dentre todas as possibilidades da minha cotidiana gramática da existência, escolhi os vácuos entre os silêncios para dizer quase nada. Melhor ser econômico com os pensamentos e não carrega-los com conceitos, teses, premissas ou conclusões fáceis e sistemáticas. Melhor passear a deriva entre uma e outra incerteza. Nenhuma verdade há de mudar o mundo. Então, por que me preocupar com o rigor do texto e o poder das minhas formulações? Pensar dever ser antes de tudo uma recreação, um esquecer de si mesmo. Não uma prisão ou o pathos de um intelecto que já não se reconhece nas pequenas e gratuitas coisas do mundo. 


A realidade não faz sentido. É puro entrelaçamento de acasos e erros que contrariam toda intencionalidade possível. Por isso não devemos ser escravos de nossas convicções. Tenho muito pouco a dizer que vale realmente a pena  ser ouvido.

segunda-feira, 29 de agosto de 2016

ALÉM DA DICOTOMIA SOCIEDADE/INDIVÍDUO

O eu é hoje um principio social tão decisivo que  não mais reconhecermos fronteiras muito nítidas entre nossa condição privada (pessoal) e pública (impessoal). 

Enquanto indivíduos não somos capazes de estabelecer uma relação com nós mesmos sem tender ao outro, ao que esta fora de nós. Assim, seria possível falar de uma zona irracional de interseção entre o individual e o coletivo. Simplesmente não podemos nos situar em relação ao primeiro sem nos inscrever no segundo.

Neste sentido, é saudável romper com a dicotomia construida pela modernidade entre o individual e o coletivo, pois existimos em individuação, em um cuidado de si que é também um saber e ser no mundo.

A intersubjetividade e as sociabilidades não se limitam a um pertencimento mecânico do individuo singular a uma comunidade ou sociedade. As paixões coletivas são geradas no plano dos sentimentos individuais. Já na micro-física de nossa intimidade,  ainda estamos longe de racionalizações que esgotem aquilo que cotidianamente nos faz humanos,  o retraimento e a futilidade que nos é imposto pelo nosso mais imediato "agir privado". Cabe hoje redefinir o campo da intimidade e seus protocolos irracionais. Quem somos quando não estamos em público revela o tipo de mascaras sociais que precisamos.


A IMAGINAÇÃO OCEÂNICA

Uma das minhas fantasias mais inspiradoras é a de descobrir uma “imaginação oceânica”, ampla, que nos inscreva no sentimento contraditório de existir como uma gota no oceano. Tal percepção subjetiva da nossa insignificância objetiva poderia conduzir a uma codificação menos confiante e mais realista de nossa condição humana. Aprenderíamos  a não nos levar demasiadamente a serio, a não proporcionar as situações cotidianas mais importância do que aquela que elas de fato possuem.


Não nos sentiríamos obrigados a viver e a pensar como deuses e muito menos a contar com qualquer forma de providencia na administração cotidiana da existência. Apenas não saberiamos que não somos especiais e o único sentido das coisas é sua assombrosa falta de sentido.

 A  imaginação oceânica nos minaria a vaidade e o excesso de confiança. Mas nos daria em troca uma certa n serenidade descrente, uma espécie de “descaso ontológico”. Não se trata de um caminho para a felicidade, mas para uma intensidade da experiência banal. Pois aprenderíamos, finalmente, que tudo o que pode ser vivido é superficial e transitório.

O CONCEITO DE BEM ESTAR

O sentimento de bem estar, ou seja, o estado de satisfação com a vida, carece de uma definição objetiva. Atualmente é muito comum vincular bem estar à qualidade de vida e, portanto, reduzi-lo a um determinado padrão de consumo ou ethos fundado em praticas endossadas pelos profissionais de saúde.


 Mas bem estar é algo muito mais sutil que podemos vincular a um determinado estado psíquico que não se vincula a ausência de problemas. Em outros termos, bem estar não é um sinônimo de felicidade e não se define exatamente como satisfação pessoal. Poder-se-ia, neste caso, falar de uma capacidade de manter a integridade psíquica frente aos fatos da existência sem deixar-se dominar por eles. Viver uma vida plena de sentido, estar plenamente no mundo, em sua imediaticidade e perenidade. Isso é aqui o que se entende por bem estar: A plena experiência de finitude.

quinta-feira, 25 de agosto de 2016

FANTASIA


Sinto falta do brilho que as coisas tinham
quando  vivia das minhas infâncias.
Cada simples momento era intenso
Na experiência do pleno sentido da realidade.

Sabia a simplicidade dos acontecimentos,
O sentimento sereno de perceber dentro de mim mesmo
O mundo inteiro.

Tudo era seguro, possível e razoável no correr da vida.
Não sabia grandes duvidas ou angustias
Em meus dias.
A felicidade estava sempre ao alcance da mão.
Mesmo quando me sentia triste.

Sinto falta do brilho que não se via
Mas reinventava meu sentimento das coisas.



quarta-feira, 24 de agosto de 2016

UM BOM LIVRO

Um leitor passivo se apropria de um livro apenas para confirmar aquilo que pensa e sente e que jamais foi capaz de materializar como narrativa. Todo texto é refém de interpretações, mas não se deixa escravizar por elas. Pode-se dizer que nenhuma leitura esgota um bom livro. Ele transcende o real como acontecimento para abstrai-lo como uma rede de imagens e significados que extrapolam o imediato da vivencia cotidiana. O sentido de um bom livro é, portanto, propiciar através da imaginação, uma experiência de evasão e degredo de tudo aquilo que vivemos como imediato.

terça-feira, 23 de agosto de 2016

SOBRE O SILÊNCIO QUE HABITA AS PALAVRAS

O mundo existe na palavra compartilhada,
Mas é essencialmente silencio.
No fundo escutamos pouco uns aos outros.
O entendimento é aquela vivencia comum
Compartilhada por todos
Que ofusca o dizer  privado dos dias.
Mas o sentir não cabe em palavras,
É essencialmente corpo.
Corpo onde a voz se revela
Escondendo a experiência incomum
Onde inventamos a gramatica de nossa individualidade.
Não me julguem pelo que digo.

Tentem escutar meus silêncios.

FABULAÇÃO LITERÁRIA HOJE: ESCREVER PARA NÃO ENLOUQUECER

A capacidade de narrar, de inventar imagens literárias, tornou-se um inadequado exercício a existência  comum. Quando mais absurda a natureza de uma história, mais profundamente ela nos inspira o desconforto com a realidade e  assim revela-se fiel  a contemporaneidade do dizer literário.

O que é literatura hoje? Apenas vertigem e mau estar...O desconforto é tudo que nos resta buscar em um texto ficcional. Logo, ele não nos ensina nada, não  pretende nada... É um entretenimento gratuito e banal como um filme B.

Cada livro deve ser o colapso de alguma certeza, de algum sentimento ou sonho. Nem mesmo a forma romance me parece ainda uma estratégia narrativa valida por sua tendência natural à teleologia de um eu racional.


A fabulação literária, como Bukowiski afirmava,  deve ser apenas uma compulsão, um modo de salvar o próprio rabo ou, simplesmente, uma forma de terapia contra o peso da realidade vivida e pensada.

quarta-feira, 17 de agosto de 2016

NADA ESTÁ SOB CONTROLE

A margem dos acontecimentos existe todo um micro universo de fatos  que afetam o mais imediato do  nosso acontecer como  indivíduos. Falo daqueles acidentes  que em um  milésimo de segundo redefinem o rumo das coisas. Pode ser um desvio na estrada, um esquecimento, ou qualquer imprevisto que nos leve a situações  que contrariam todas as expectativas e planejamentos. Não são raras as pessoas que guardam boas histórias  sobre  acidentes e situações inesperadas.

A verdade é que nem sempre nossas vidas fazem sentido, nem tudo pode ser codificado de modo racional ou objetivado  mediante um encadeamento de causalidades. O aleatório e o não sentido  fazem parte de nossas biografias,deforma surpreendentemente decisiva quando pensamos no modo como certas coisas acontecem.Esta ausência de significado, este  silencio teleológico, é o que torna no fundo a existência interessante. Nada está sob controle...