Nossas habilidades cognitivas não são inatas, mas uma consequência do
domínio da linguagem e da capacidade de abstrações simbólicas. O que é o mesmo
que dizer que o que torna o pensamento possível é a linguagem. Pois ele
acontece através de seu exercício.
Mesmo considerando que cada ser humano nasce com uma capacidade minima
para interpretar e interagir com os estímulos do mundo exterior a partir de
certa intencionalidade rudimentar, cabe ponderar que sem a base logica
conceitual do pensar intencional mais sofisticado, não é possível estabelecer
uma imagem de mundo que torne a realidade inteligível a partir de alguma crença
instrumental.
A possibilidade da ação, a racionalização ou direcionamento objetivo da
vontade através de escolhas, pressupõe a interiorização de uma imagem
consensual de realidade no plano linguístico.
Mas isso não significa que somos
formatados por simulacros racionais em nossa relação com a realidade. O
componente subjetivo, a fantasia, insere-se em nosso aparato cognitivo de modo
privilegiado. Caso fizéssemos a diversas pessoas provenientes de lugares
diferentes, e com variados graus de instrução e histórico vivencial, diversas sobre perguntas abstratas como o
sentido e o significado da vida , obteríamos respostas provavelmente peculiares
a cada um.
A forma como estabelecemos uma leitura pessoal da
realidade, mesmo compartilhando um só instrumental linguístico cognitivo, aponta
para o fato de que cada personalidade é um arranjo único de consciência.
Somos corpo, voz e palavra. Isso define nossa singularidade enquanto
indivíduos, nosso modo próprio de acontecer no mundo. Mas, ao mesmo tempo, por
si só, não é isso que nos proporciona distinção ou assegura a singularidade.
Pois esta se estabelece na relação com os outros na medida em que
compartilhamos um arranjo singular de realidade e de mundo, uma forma própria
de codificar o real.