sexta-feira, 29 de abril de 2016

ALÉM DA VERDADE

"A verdade não  representa mais uma solução. Mas talvez possamos almejar uma resolução poética do mundo, do tipo prometido pela História ou pela linguagem."
Jean Baudrillard in A Ilusão  Virtual


O desaparecimento da verdade é  a consequência natural da morte de deus e do colapso de toda razão  em seus fundamentos metafísicos. A consciência é  a medida de tudo que é  humano.

Mas tudo que é  humano  existe como inconsciente. Levar as últimas consequências nossa singular capacidade de imaginar o mundo ainda é  uma tarefa futura.

IDENTIDADE E ENUNCIADO

A realidade é construída através de nossa capacidade de representação e codificação linguística da existência. A performática linguística estabelece o dizer como um fazer constante da consciência. O que me permite associar o habitar de um discurso a construção da identidade do sujeito. Daquilo que digo deduzo quem eu sou. È assim que o discurso se torna significante através daquele que o enuncia, que encadeia enunciados e é ultrapassado por sua própria narrativa. Somos de certa forma pensados pelo que pensamos. Esta autonomia dos discursos me parece ser o pressuposto do acontecer humano.  



quarta-feira, 27 de abril de 2016

INDIVIDUO E SOCIEDADE

A objetivação de nossa subjetividade norteia a relação da sociedade com o individuo na contemporaneidade. A racionalização do comportamento singular através dos imperativos de conduta coletivamente estabelecidos, ainda desempenha algum papel sobre o destino de cada um de nós. Somos induzidos a consumir determinados símbolos, objetos e , até mesmo, necessidades artificialmente estabelecidas. Inscritos no imaginário social como objetos de ideias comuns somos induzidos a mesmice, a ausência de reflexão e criatividade.

Mas se a sociedade é um poder soberano, isso não impede que cada indivíduo, em alguma medida, se reinvente como desvio do mimetismo mecânico do dia a dia. Mas, é importante observar que  a afirmação da própria individualidade é também afirmação de um desinteresse pela individualidade do outro. Peculiaridade que estabelece o exercício da individualidade, muito frequentemente, como uma experiência de marginalidade ou, simplesmente, isolamento. A afirmação do individuo, afinal, tem por essência sua diferenciação dos demais indivíduos.  Logo, é uma constante luta contra a igualdade.


A mais eficiente estratégia de construção da subjetividade é justamente a experiência estética  ou artística. Através dela transbordamos o mundo e nossa própria persona através da experiência simbólica  do real. Subjetividade e evasão andam juntas no esforço individual de invenção de si mesmo. Assim, a grande questão não é de forma alguma o conhecimento de si mesmo, mas o exercício constante de desconstrução de nossas ilusões coletivas.

ENTRE O SIGNO E O SENTIDO

Há um grande desespero em meus escritos,
Uma necessidade profunda de escrever
A própria existência
Como se na palavra coubesse
Qualquer coisa mais profunda
Do que o  signo.
As ideias possuem vida própria
Enquanto imagens
Que transbordam o pensamento
E inventam o mundo.
Talvez meu dizer não caiba
Na letra morta  presa a folha

E eu nunca transcenda o desespero.

terça-feira, 26 de abril de 2016

SOBRE A SUBJETIVIDADE

O mundo não  começa  quando nascemos. Ele nos antecede e supera. Ele  independe do indivíduo isolado e se apresenta para ele como contingência e como  um conjunto de fenômenos  autônomos. Assim, o mundo é  para cada indivíduo como  um enigma. Exige respostas, interpretações, que só  se tornam possíveis  na exata medida em que nos tornamos parte dele, em que nos confundimos com o problema.

A qualidade de nossa consciência do mundo, nossa capacidade de codifica-lo de modo complexo, é  o que faz diferença  em nossas vidas isoladas. A maioria das pessoas apenas reproduz as convenções  sociais sem produzir uma crítica do existente do ponto de vista de si mesmo. Mas é  justamente esta possibilidade que faz cada um de nós  únicos.

sábado, 23 de abril de 2016

NOTA AUTOBIOGRAFICA DE UM ESCREVINHADOR

Desde  muito jovem cultivo o hábito de escrever . Sempre foi uma necessidade para mim e  a ideia de me definir como um escritor me agrada a muito tempo . Mas acho que sou apenas alguém  que aprendeu a habitar mais nas palavras do que no mundo cotidianamente vivido. Escrever  é para mim uma forma de evasão;  mais do que um referencial de identidade; uma  compulsão  antes de um ofício  ou expressão  artística. Por isso a palavra é  um exercício cotidiano, algo tão  necessário quanto respirar. Assim, leitores são  secundários ou um apêndice. Eu escrevo , sequencialmente,  porque não  tenho escolha.

sexta-feira, 22 de abril de 2016

SENTIMENTO E CODIFICAÇÃO DE MUNDO

Esclarecer como os sentimentos  e emoções  se expressam através  das configurações  específicas  de uma dada codificação  cultural, é  a elementar premissa da  compreensão do acontecer humano em seu devir individual e coletivo.
Um modo de existir é  também  um modo de sentir; o sentir das coisas,  sua valoração,  é  também  uma forma de auto consciência. 
Assim, é  preciso levar sempre em consideração como dado imaginário constelado define o querer viver frente a inadaptação da consciência  a uma realidade objetivamente dada .

quarta-feira, 20 de abril de 2016

SOBRE IMAGÉTICA E DECADÊNCIA DA LINGUAGEM

Uma imagem só é capaz de dizer mais que a palavra quando o pensar extrapola certezas e se dissipa na ambiguidade e fluidez de um devaneio. É preciso que o pensar se cale,  que o corpo se renda a uma impressão estética e a fantasia irracional de uma significação precária.  Mas nunca um quadro será capaz de nos atingir com a mesma intensidade de um bom romance. Assim me parece enquanto a existência exigir uma boa dose de reflexão. Entretanto, uma boa leitura pode ser substituída por um bom filme.

terça-feira, 19 de abril de 2016

UM DIA QUALQUER

Hoje é apenas um dia
Depois de ontem.
Provisório e pre definido
Como as linhas de um romance ruim.

Hoje é apenas mais um dia
Escrito na televisão e jornais.
Quem sabe amanhã

Não tenhamos melhor sorte?

sexta-feira, 15 de abril de 2016

AUTONOMIA E SUBJETIVIDADE

É a carência de autonomia, a inversão entre os meios e os fins, a dissociação da unidade do sujeito e a implosão da subjetividade, que nos lança agora ao desvairado exercício de uma metacrítica da existência ordinária.


Quando a vida se torna refém de ficções coletivas e nos reduzimos a unidades de consumo impessoal, a própria ideia de sociedade perde substância e a reflexão não passa de mitificação vazia.