sexta-feira, 18 de março de 2016

FORTUNA

Triunfalismos sempre nos conduzem a derrotas.
Pois não há vitória que não se reverta.
Alternamos posições na roda da fortuna
e o dia depois do outro
é nossa  única certeza .
Não recomendo, portanto,
o engodo da felicidade.
Não estamos destinados ao sucesso,
mas a arte de reinventar
constantemente o possível
sem grandes expectativas.


terça-feira, 15 de março de 2016

ANOTAÇÕES SOBRE WATCHMEN

Watchmen representa para mim uma das mais ousadas experiências já realizadas no campo das Histórias em Quadrinhos. Mas seria redundante falar sobre a originalidade da trama que  revela os aspectos sombrios do mundo dos super- heróis.  Nenhum dos personagens de Allan Moore e David Gibbons são exemplos morais, todos demonstram fragilidades, fraquezas, contradições e dilemas. Embora, de um modo geral, se considerem de alguma maneira acima dos simples mortais e imponham a sociedade seus próprios  paradigmas.

O cenário de guerra fria que serve de pano de fundo a história, ambientada nos anos 70/80, associada à iminência de uma terceira guerra mundial, sugere um mundo amoral e decadente onde os super- heróis, que tomam para si o papel de seus salvadores,  acabam se revelando como agentes de suas  contradições. Assim, os heróis de Moore não são virtuosos ou dignos de admiração, são perturbadores por sua radical e conturbada humanidade.

Os dilemas filosóficos do Dr. Manhattan, o singelo e ingênuo romance entre Espectral e o Homem Coruja, tal como a insanidade de Rorschach, quando contrastadas, compõem um mosaico de situações  realmente caóticas, diante do qual, nos questionamos se o conjunto das coisas vividas ainda fazem qualquer sentido. O jogo entre fantasia e realidade dar-se ainda através dos Contos do Cargueiro Negro, uma história em quadrinhos lida por um rapaz em uma banca de revistas. A história dentro da história é mais do que um exercício metalinguístico , mas expressão do lugar dos quadrinhos em um mundo onde os super heróis são reais.

São muitas as chaves de leitura e detalhes que poderia explorar aqui, mas me limitarei a uma passagem fascinante do Dr. Manhattan,

O tempo é simultâneo, uma joia intricada que os humanos insistem em ver apenas por um ângulo, quando o desenho completo é visível em todas as suas facetas.”

A transcendência de todas as questões, a indiferença que caracteriza O DR. Manhattan e o conduz ao exílio, representa uma postura niilista com relação à condição humana, com a própria vida.




AS AGONIAS DO TEXTO

Texto é sinônimo de tessitura, é um a trama  que envolve contextos, uma ocorrência linguística  e semântica   que se fecha sobre si mesma.

O adversário do texto são as interpretações , as reconstruções de seu significado. Não é raro que as interpretações substituam o próprio texto e passam a falar por ele.

O texto tenta salvar-se através de notas de roda-pé...

sexta-feira, 11 de março de 2016

VIDA

Viver é brincar de realidade enquanto o tempo passa e a gente aprende o relativo da vida em sociedade. No fundo, o existir coletivo é um desencontro de todo mundo, um caos do eu e dos outros domesticado pelo senso comum. Cada um de nós é menos do que isso...




DEFINIÇÃO DE SOCIEDADE

Sociedade é o modo como os indivíduos se associam em nome da sobrevivência da espécie inspirados por um conjunto de representação de mundo e fantasias coletivas. A capacidade de comunicação entre os seres humanos é a premissa do existir social, aquilo que nos torna o que somos no intercâmbio de consciências individuadas pelas representações culturais. Cada um de nós é objeto de símbolos e imagens impessoais que configuram nossa singularidade e experiência diferenciada de mundo.

quinta-feira, 10 de março de 2016

TÉDIO E REPETIÇÃO

Concentre-se no possível,
no pouco do agora
contra as vontades urgentes.
Esqueça todas as soluções,
os inquéritos, dilemas e impasses
sobre a realidade das coisas.
Tudo é ilegível e perecível.
Não vale qualquer reflexão.
No fundo existir  é feito de tédio

e repetição.

quarta-feira, 9 de março de 2016

OBJETIVIDADE

Sou em meus delírios
um provisório objeto dos outros,
apenas um assessório qualquer
que nem decora a paisagem.
Quase não sou notado.
As pessoas seguem suas vidas
indiferentes ao cenário.
Eu, ao contrário,
permaneço estático
enterrado no inanimado
a espera de qualquer coisa
que jamais será
algum dia

um acontecimento.

terça-feira, 8 de março de 2016

O ILEGÍVEL E A REALIDADE

Me surpreendo mais lucido na exata medida em que a realidade me parece cada vez menos legível.  A precariedade das estratégias ainda vigentes de  codificações de mundo revela-se assim uma virtude para a possibilidade do conhecimento. Perdidos entre os objetos aprendemos  a flertar com o absurdo e tecer considerações extremas. Tudo existe como  símbolo e o signo... o resto é simples estranhamento da existência.   


segunda-feira, 7 de março de 2016

ESTRATÉGIAS DE SUBJETIVIDADE

Enquanto a vida passa
de um dia ao outro
vou me relendo ao longo do tempo.
Não me reconheço hoje
naquilo que acreditava ontem.
Não quero mais ser  na ilusão
de qualquer outro.
Prefiro viver livre
dos pressupostos,
dos cálculos e objetivos
de um futuro que nunca será.
a vida está apenas passando
e o tempo já não me diz
coisa alguma.
Preciso respirar em espaços abertos,
provar o  vento
e reinventar distâncias.


AS ESTRATÉGIAS DA INDIVIDUALIDADE

Existe um paradoxal dialogo entre o improvável e o inevitável que obscurece o alcance de nossas opções subjetivas.  Nossas escolhas estão condicionadas a representações coletivas e jogos intersubjetivos. Não somos livres das convenções e circunstancias interpessoais. No exercício de nossa autoconsciência e posicionamentos mais irracionais e circunscritos em nossas configurações privadas de mundo e realidade, apenas em nossa desfuncionalidade podemos nos considerar relativamente autônomos diante da existência coletiva.

O exercício da individualidade, suas  estratégias de construção, a operacionalidade privada inspirada em alguma não muito clara noção de interioridade, não é um problema muito simples. Mas precisa ser enfrentado.

Na sociedade ocidental /contemporânea cada individuo  tende a apostar no improvável contra o inevitável do curso de uma trama de acontecimentos. Somos  inspirados pelo desejável de um arranjo feliz das coisas vividas. Mas isso nos conduz normalmente a decepção e a frustração.