quinta-feira, 10 de março de 2016

TÉDIO E REPETIÇÃO

Concentre-se no possível,
no pouco do agora
contra as vontades urgentes.
Esqueça todas as soluções,
os inquéritos, dilemas e impasses
sobre a realidade das coisas.
Tudo é ilegível e perecível.
Não vale qualquer reflexão.
No fundo existir  é feito de tédio

e repetição.

quarta-feira, 9 de março de 2016

OBJETIVIDADE

Sou em meus delírios
um provisório objeto dos outros,
apenas um assessório qualquer
que nem decora a paisagem.
Quase não sou notado.
As pessoas seguem suas vidas
indiferentes ao cenário.
Eu, ao contrário,
permaneço estático
enterrado no inanimado
a espera de qualquer coisa
que jamais será
algum dia

um acontecimento.

terça-feira, 8 de março de 2016

O ILEGÍVEL E A REALIDADE

Me surpreendo mais lucido na exata medida em que a realidade me parece cada vez menos legível.  A precariedade das estratégias ainda vigentes de  codificações de mundo revela-se assim uma virtude para a possibilidade do conhecimento. Perdidos entre os objetos aprendemos  a flertar com o absurdo e tecer considerações extremas. Tudo existe como  símbolo e o signo... o resto é simples estranhamento da existência.   


segunda-feira, 7 de março de 2016

ESTRATÉGIAS DE SUBJETIVIDADE

Enquanto a vida passa
de um dia ao outro
vou me relendo ao longo do tempo.
Não me reconheço hoje
naquilo que acreditava ontem.
Não quero mais ser  na ilusão
de qualquer outro.
Prefiro viver livre
dos pressupostos,
dos cálculos e objetivos
de um futuro que nunca será.
a vida está apenas passando
e o tempo já não me diz
coisa alguma.
Preciso respirar em espaços abertos,
provar o  vento
e reinventar distâncias.


AS ESTRATÉGIAS DA INDIVIDUALIDADE

Existe um paradoxal dialogo entre o improvável e o inevitável que obscurece o alcance de nossas opções subjetivas.  Nossas escolhas estão condicionadas a representações coletivas e jogos intersubjetivos. Não somos livres das convenções e circunstancias interpessoais. No exercício de nossa autoconsciência e posicionamentos mais irracionais e circunscritos em nossas configurações privadas de mundo e realidade, apenas em nossa desfuncionalidade podemos nos considerar relativamente autônomos diante da existência coletiva.

O exercício da individualidade, suas  estratégias de construção, a operacionalidade privada inspirada em alguma não muito clara noção de interioridade, não é um problema muito simples. Mas precisa ser enfrentado.

Na sociedade ocidental /contemporânea cada individuo  tende a apostar no improvável contra o inevitável do curso de uma trama de acontecimentos. Somos  inspirados pelo desejável de um arranjo feliz das coisas vividas. Mas isso nos conduz normalmente a decepção e a frustração.


sexta-feira, 4 de março de 2016

ELOGIO A JEAN BAUDRILLARD

Enxergamos o mundo através dos objetos, da sua sedução e capacidade de formatar a realidade.  Movidos pela necessidade que se produz e se reproduz continuamente através dos nossos corpos, vivemos no fluxo das coisas, no intimo acontecer dos signos e símbolos que estruturam abstratamente a própria vida.

Em grande medida, viver é apenas um ato de imaginação.  Inventamos o mundo através das coisas que criamos e, cada vez mais, as coisas se justapõem ao humano na orgia dos objetos.


quinta-feira, 3 de março de 2016

TRANSVALORAÇÃO

Falta a palavra agora
a possibilidade da novidade,
a capacidade de redizer o mundo
através de uma única frase
antes que o cotidiano
definitivamente nos mate.
Talvez seja tarde
para dizer o que transcende
a verdade.


terça-feira, 1 de março de 2016

EU E OS OUTROS

Não importa o que eu faça,
minha existência apenas acontece
sob o olhar dos outros.
Os outros tem sempre a palavra,
a realidade na ponta da língua
enquanto o  mundo me aperta a cabeça
no dizer do meu próprio pensamento.
Preciso ir embora,
fechar a porta e abrir a janela.
Nada será diferente depois de amanhã.
Só preciso dormir um pouco

na contramão dos outros.

REALIDADE ILEGIVEL

Todos os discursos me parecem vazios e limitados
no opaco de todo significado e possibilidades de enunciados.
Estamos saturados de palavras,
afogados em frases feitas, conceitos, valores
e filosofias.
Já estamos fartos de  verdades.
O que ainda pode ser escrito,
fazer sentido e não ser banal?
As palavras não mudam o mundo,
não transformam a vida.

Nada esta acontecendo agora...

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

VIVER PARA SI MESMO

A personalidade consciente é uma espécie de satélite da consciência coletiva personificado pelo arquetípico da persona. O ego, entretanto, pode romper a tendência a identificar-se com ela na medida em que se conecta a conteúdos de fantasia que sob certas circunstancias emergem do inconsciente e, contrariando as formatações culturais e sociais em que se inscreve determinado indivíduo,  joga luz sobre possibilidades novas  e afetivas que transformam a consciência que ele tem de si mesmo. Assim, individuar-se é um viver  “para- si” diante de todas as imposições do gênero humano.