sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

FRAGMENTO SOBRE PIRATARIA E AMBIGUIDADE

Embora somente entre os sec.XVI e XVII tenha adquirido uma significação mais complexa ao converter-se em um dos mais populares mitos literários da modernidade, uma das mais antigas imagens de “marginalidade”, de subversão das codificações sociais que informam qualquer cultura ou sociedade, é, definitivamente, a da pirataria marítima, cujos primeiros registros remontam a antiguidade.

O que me parece pertinente observar sobre o tema é que, já na antiguidade, ou mais especificamente por volta do sec. III, o combate a pirataria proporcionou, por exemplo, uma progressiva extensão das conquistas romanas através de uma política de pacificação dos mares que pressupôs não só a criação de alfândegas para garantir “a liberdade de navegar” , mas também a normatização do comercio marítimo mediterrâneo e asiático sob hegemonia de Roma.

Há neste exemplo uma paradoxal relação entre marginalidade e poder que poderíamos identificar em inúmeros outros casos.

Em outras palavras, a marginalidade inspira um lugar de poder que lhe é complementar e oposto, que se nutre dela para criar ou manter uma determinada representação de ordem e codificação de autoridade...
Toda imagem de ordem esta fadada ao peso do seu especifico oposto...





terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

O NÃO LUGAR DO QUERER

Sei eu agora



O quanto


Tua face ofusca o mundo,


O tanto que vejo


No invisível do teu rosto ateu


Que por enquanto


Não passa


De um sonho


A inspirar-me vazias realidades...

NÃO MEMÓRIA



A sala em branco
Guarda de si mesma
Poucas lembranças;
Quase não  vejo
Minhas marcas
Escritas nas paredes
Ou o rastro dos meus olhos
Na janela em silêncio...

Todo o passado
Desapareceu,
Toda memória é agora
Bruto silencio
E indeterminada ausência...

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

SALVADOR DALI E O CAPRICHO ELEVADO A CATEGORIA DE SISTEMA



Salvador Domingo Felipe Jacinto Dalí i Domènech, 1º Marquês de Dalí de Púbol, ou, simplesmente,  Salvador Dali,  em suas "Confissões Inconfessáveis" nos ensina  “Como elevar o capricho a categoria de sistema” em uma bem humorada combinação entre alquimia e megalomania com toda a irreverência que lhe era própria:

“ O IRRACIONAL jorra constantemente do nosso espírito e do impacto do real,  porém não o percebemos, de tal modo estamos condicionados a não reconhecer senão o bom senso, a razão, a experiência adquirida. Contudo, o milagre está sempre presente e possuímos todas as chaves para viver no segredo da alma do mundo.Mas esquecemos os caminhos da verdade. Temos olhos  e não enxergamos, temos ouvidos  e não escutamos.
Eu, Dali, descobri os caminhos da revelação e da alegria, o deslumbramento da felicidade reservada aos olhos lúcidos. Participo com todo o meu ser da grande pulsação cósmica. Faço da minha razão um simples instrumento para decifrar a natureza das coisas e entender o meu delírio para melhor aprecia-lo.”

BRANDA ESPERANÇA


Procuro estar



A altura das urgências da vida


 E do correr do tempo...


Conduzir as vontades


Que buscam loucas


O coração do mundo...


Pois ainda espero


Aquela manhã


Límpida e clara


Onde o futuro pode


Contradizer o provável...

domingo, 23 de janeiro de 2011

HOMENAGEM A SALVADOR DALI



SALVADOR DALI
ESTA MORTO,
ESTA VIVO,
COMO O GRANDE MASTURBADOR
QUE IMPONENTE EXISTE
DENTRO DE CADA UM DE NÓS
COMO IMAGEM E PALAVRA QUEBRADA
EM  METODOLOGIA CRITICO-PARANOICA...

SALVADOR DALI
ESCREVE-SE EM JANELAS ABERTAS
POR PINCEIS E TINTAS
COMO UM GRANDE BUFÃO
A DESAFIAR O REAL
EM ABSTRATA CERTEZA DE QUE TUDO
NÃO PASSA DE FANTASIA E PIADA
INERTE NO AMOR LOUCO...  

sábado, 22 de janeiro de 2011

LITERATURA E DUVIDA



Qualquer espaço  literário digno de tal rótulo hoje em dia deve estar focado no desafio de reconstruir, recodificar, a realidade através de inovadoras estratégias  de construção de significados vividos através da linguagem...
Tudo o que importa, é dizer o mundo de um modo incompreensível, avesso aos cotidianamente exercidos usos gramaticais... na cada vez mais abstrata materialização de nossa “evasão lingüística” como critica  do cotidianamente dito em regras de normal existência..    

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

NOTA SOBRE OS SENTIMENTOS


O conceito de sentimento remete a certas disposições mentais do individuo, a sua percepção subjetiva das coisas a partir do binário atração/repulsa.

Desta forma, aquilo que chamamos sentimento é em certa medida uma escolha, uma eleição, condicionada a diversas variáveis. Diferente da emoção, portanto, o sentimento não é um cego impulso neural, não cognitivo, que se impõe a consciência.

Segundo C G Jung, por exemplo, o sentimento é uma das quatro funções básicas da consciência, uma disposição mental inata que remete a nossas opções ou eleições racionais, as valorações ou qualidades que imaginamos intrínsecas a determinado objeto .

É curioso que normalmente costumemos confundir emoções e sentimentos, abandonando-os ao lugar comum da passionalidade.