domingo, 14 de novembro de 2010

BERTRAND RUSSELL: SOBRE FELICIDADE E INTERESSES



"Toda a desilusão é para mim uma doença que certas circunstâncias podem tornar inevitável, é verdade, mas que, quando se produz, nem por isso deve deixar de ser tratada o mais rápidamente possível, em vez de ser olhada como uma forma superior de sabedoria. Um homem, suponhamos, gosta de morangos e um outro não gosta; em que é que o último é superior ao primeiro? Não há nenhuma prova impessoal e abstracta de que os morangos sejam bons ou maus. Para quem gosta são bons, para quem não gosta são maus. Mas o homem que gosta tem um prazer que o outro não conhece; sobre este ponto, a sua vida é mais agradável e está melhor adaptado ao mundo onde ambos têm de viver.
O que é verdadeiro neste exemplo trivial é igualmente verdade nas questões mais importantes. O homem que gosta de assistir a desafios de futebol é sob esse aspecto supeior ao homem que não gosta. O que aprecia a leitura é ainda mais superior do que aquele que não a aprecia, pois as oportunidade de ler são mais frequentes do que as de ver desafios de futebol. Quanto mais objectos de interesse um homem tem, mais ocasiões tem também de ser feliz e menos está á mercê do destino, pois se perder um pode recorrer a outro. A vida é demasiado curta para nos permitir interessar-nos por todas as coisas, mas é bom que nos interessemos por tantas quantas forem necessárias para preencher os nossos dias. Somos todos propensos à doença do introvertido que, perante o multiforme espectáculo que o mundo lhe oferece, desvia a vista para contemplar somente o vazio dentro de si. "
Bertrand Russell, in 'A Conquista da Felicidade'

AFORISMAS SOBRE A FINITUDE E O DEVIR


Na vida, o particular, o detalhe, o aleatório e o absurdo são mais importante do que qualquer ilusória imagem de totalidade ou universalidade....
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Quanto menos  me prendo as paisagens do mundo mais me descubro como uma mera abstração de mundo...
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Aprendi a estar menos nos outros e mais em mim mesmo como princípio de qualquer sociabilidade possível...
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Sou menos do que suponho em movimento ou devir do meu rosto como vaga abstração do tempo vivido e sonhado...
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Quem disse que me importo?...

sábado, 6 de novembro de 2010

ALLEN GINSBERG: O UIVO, A CONTRA CULTURA E O AVESSO DO MUNDO



Lançado explosivamente em 1965, “Uivo” by Allen Ginsberg pode ser considerada um dos marcos fundadores da literatura Beat e da contra cultura que definiria a década seguinte no conturbado cenário da cultura americana de então, ao lado do igualmente polêmico e revolucionário  “On the Road” ( 1957) by Jack  Kerouac.
Trata-se aqui de uma obra que rompendo com a abstração formal da literatura até então, inaugura com um texto alucinante escrito na crueza delirante da primeira pessoa do singular leva as ultimas conseqüências a liberdade de criação redefinindo a relação entre poesia e vida ou, ainda, poesia e realidade, principiando uma rebelião que abalaria definitivamente toda cultura convencional e influenciaria profundamente a cultura social do rock and roll que então também dava os primeiros passos.
Contra o clima ainda vitoriano dos anos 50, afirmar-se-ia e  gradativamente na década seguinte uma cultura anti-autoritária e libertária cujo eco perpetua-se até os dias de hoje e cujos desdobramentos ainda não foram devidamente avaliados.   
Segue um fragmento desta inebriante obra prima desafiadora da literatura ocidental:   

Uivo para Carl Solomon (Howl)

“Eu vi os expoentes da minha geração destruídos pela loucura, morrendo de fome, histéricos, nus,
arrastando-se pelas ruas do bairro negro de madrugada em busca uma dose violenta de qualquer coisa
"hipsters" com cabeça de anjo ansiando pelo antigo contato celestial com o dínamo estrelado da
maquinaria da noite, que pobres, esfarrapados e olheiras fundas, viajaram
fumando sentados na sobrenatural escuridão dos miseráveis apartamentos sem água quente, flutuando
sobre os tetos das cidades contemplando jazz, que desnudaram seus Cérebros ao céu sob o
Elevados e viram anjos maometanos cambaleando iluminados nos telhados das casas de
cômodos, que passaram por universidades com olhos frios e radiantes alucinando Arkansas e tragédias à luz de William Blake entre os estudiosos da guerra, que foram expulsos das universidades por serem loucos
& publicarem odes obscenas nas janelas do crânio, que se refugiaram em quartos de paredes de pintura
descascada em roupa de baixo queimando seu dinheiro em cestas de papel, escutando o Terror
através da parede. 

Que foram detidos em suas barbas púbicas voltando por Laredo com um cinturão de marijuana para Nova York, que comeram fogo em hotéis mal-pintados ou beberam
terebentina em Paradise Alley, morreram
ou flagelaram seus torsos noite após noite
com sonhos, com drogas, com pesadelos na vigília,
álcool e caralhos e intermináveis orgias,
incomparáveis ruas cegas sem saída de nuvem trêmula e
clarão na mente pulando nos postes dos
pólos de Canadá & Paterson, iluminando completamente o
mundo imóvel do Tempo intermediário,
solidez de Peiote dos corredores, aurora de fundo de
quintal com verdes árvores de cemitério, porre
de vinho nos telhados, fachadas de lojas de subúrbio
na luz cintilante de neon do tráfego na corrida
de cabeça feita do prazer, vibrações de sol e lua e
árvore no ronco de crepúsculo de inverno de
Brooklyn, declamações entre latas de lixo e a suave
soberana luz da mente, 


que se acorrentaram aos vagões do metrô para o
infindável percurso do Battery ao sagrado Bronx
de benzedrina até que o barulho das rodas e crianças
os trouxesse de volta, trêmulos, a boca
arrebentada e o despovoado deserto do cérebro
esvaziado de qualquer brilho na lúgubre luz do
zoológico,
que afundaram a noite toda na luz submarina de
Bickford's, voltaram à tona e passaram a tarde de
cerveja choca no desolado Fuggazi's escutando o
matraquear da catástrofe na vitrola automática de
hidrogênio,
que falaram setenta e duas horas sem parar do parque
ao apê ao bar ao Hospital Bellevue ao Museu
à Ponte de Brooklyn,
batalhão perdido de debatedores platônicos saltando
dos gradis das escadas de emergência dos
parapeitos das janelas do Empire State da Lua,
tagarelando, berrando, vomitando, sussurrando fatos e
lembranças e anedotas e viagens visuais e
choques nos hospitais e prisões e guerras,
intelectos inteiros regurgitados em recordação total
com os olhos brilhando por sete dias e noites,
carne para a sinagoga jogada na rua,
que desapareceram no Zen de Nova Jersey de lugar algum
deixando um rastro de cartões postais
ambíguos do Centro Cívico de Atlantic City,
sofrendo suores orientais, pulverizações tangerianas
nos ossos e enxaquecas da China por causa da
falta da droga no quarto pobremente mobiliado de
Newark,
que deram voltas e voltas à meia-noite no pátio da
estação ferroviária perguntando-se onde ir e
foram, sem deixar corações partidos,
que acenderam cigarros em vagões de carga, vagões de
carga, vagões de carga que rumavam
ruidosamente pela neve até solitárias fazendas dentro
da noite do avô,
que estudaram Plotino, Poe, São João da Cruz,
telepatia e bop-cabala pois o Cosmos
instintivamente vibrava a seus pés em Kansas,
que passaram solitários pelas ruas de Idaho procurando
anjos índios e visionários que eram anjos
índios e visionários, que só acharam que estavam
loucos quando Baltimore apareceu em êxtase
sobrenatural,
que pularam em limusines com o chinês de Oklahoma no
impulso da chuva de inverno na luz das
ruas de cidade pequena à meia-noite,
que vaguearam famintos e sós por Houston procurando
jazz ou sexo ou rango e seguiram o espanhol
brilhante para conversar sobre América e Eternidade,
inútil tarefa, e assim embarcaram num navio
para a África,
que desapareceram nos vulcões do México nada deixando
além da sombra das suas calças
rancheiras e a lava e a cinza da poesia espalhadas na
lareira Chicago,
que reapareceram na Costa Oeste investigando o FBI de
barba e bermudas com grandes olhos
pacifistas e sensuais nas suas peles morenas,
distribuindo folhetos ininteligíveis,
que apagaram cigarros acesos nos seus braços
protestando contra o nevoeiro narcótico de tabaco
do Capitalismo, 


que distribuíram panfletos supercomunistas em Union
Square, chorando e despindo-se enquanto as
sirenes de Los Alamos os afugentavam gemendo mais alto
que eles e gemiam pela Wall Street e
também gemia a balsa de Staten Island,
que caíram em prantos em brancos ginásios desportivos,
nus e trêmulos diante da maquinaria de
outros esqueletos,
que morderam policiais no pescoço e berraram de prazer
nos carros de presos por não terem
cometido outro crime a não ser sua transação
pederástica e tóxica,
que uivaram de joelhos no Metrô e foram arrancados do
telhado sacudindo genitais e manuscritos,
que se deixaram foder no rabo por motociclistas
santificados e urraram de prazer,
que enrabaram e foram enrabados por esses serafins
humanos, os marinheiros, carícias de amor
atlântico e caribeano,
que transaram pela manhã e ao cair da tarde em
roseirais, na grama de jardins públicos e
cemitérios, espalhando livremente seu sêmem para quem
quisesse vir,
que soluçaram interminavelmente tentando gargalhar mas
acabaram choramingando atrás de um
tabique de banho turco onde o anjo loiro e nu veio
atravessá-los com sua espada,
que perderam seus garotos amados para as três megeras
do destino, a megera caolha do dólar
heterossexual, a megera caolha que pisca de dentro do
ventre e a megera caolha que só sabe ficar
plantada sobre sua bunda retalhando os dourados fios
intelectuais do tear do artesão,
que copularam em êxtase insaciável com uma garrafa de
cerveja, uma namorada, um maço de
cigarros, uma vela, e caíram da cama e continuaram
pelo assoalho e pelo corredor e terminaram
desmaiando contra a parede com uma visão da buceta
final e acabaram sufocando um derradeiro
lampejo de consciência,
que adoçaram as trepadas de um milhão de garotas
trêmulas ao anoitecer, acordaram de olhos
vermelhos no dia seguinte mesmo assim prontos para
adoçar trepadas na aurora, bundas luminosas
nos celeiros e nus no lago,
que foram transar em Colorado numa miriade de carros
roubados à noite, N.C. herói secreto destes
poemas, garanhão e Adonis de Denver — prazer ao
lembrar das suas incontáveis trepadas com
garotas em terrenos baldios & pátios dos fundos de
restaurantes de beira de estrada, raquíticas
fileiras de poltronas de cinema, picos de montanha,
cavernas ou com esquálidas garçonetes no
familiar levantar de saias solitário à beira da
estrada & especialmente secretos solipsismos de
mictórios de postos de gasolina & becos da cidade
natal também,
que se apagaram em longos filmes sórdidos, foram
transportados em sonho, acordaram num
Manhattan súbito e conseguiram voltar com uma
impiedosa ressaca de adegas de Tokay e o horror
dos sonhos de ferro da Terceira Avenida & cambalearam
até as agências de emprego,
que caminharam a noite toda com os sapatos cheios de
sangue pelo cais coberto por montões de
neve, esperando que se abrisse uma porta no Bast River
dando num quarto cheio de vapor e ópio,
que criaram grandes dramas suicidas nos penhascos de
apartamentos do Hudson à luz de holofote
anti-aéreo da lua & suas cabeças receberão coroas de
louro no esquecimento,
que comeram o ensopado de cordeiro da imaginação ou
digeriram o caranguejo do fundo lodoso dos
rios de Bovery,
que choraram diante do romance das ruas com seus
carrinhos de mão cheios de cebola e péssima
música, 


que ficaram sentados em caixotes respirando a
escuridão sob a ponte e ergueram-se para construir
clavicêmbalos nos seus sótãos,
que tossiram num sexto andar do Harlem coroado de
chamas sob um céu tuberculoso rodeados
pelos caixotes de laranja da teologia,
que rabiscaram a noite toda deitando e rolando sobre
invocações sublimes que ao amanhecer
amarelado revelaram-se versos de tagarelice sem
sentido,
que cozinharam animais apodrecidos, pulmão coração pé
rabo borsht & tortillas sonhando com o
puro reino vegetal,
que se atiraram sob caminhões de carne em busca de um
ovo,
que jogaram seus relógios do telhado fazendo seu lance
de aposta pela Eternidade fora do Tempo &
despertadores caíram nas suas cabeças por todos os
dias da década seguinte,
que cortaram seus pulsos sem resultado por três vezes
seguidas, desistiram e foram obrigados a
abrir lojas de antigüidades onde acharam que estavam
ficando velhos e choraram,
que foram queimados vivos em seus inocentes ternos de
flanela em Madison Avenue no meio das
rajadas de versos de chumbo & o contido estrondo dos
batalhões de ferro da moda & os guinchos de
nitroglicerina das bichas da propaganda & o gás
mostarda de sinistros editores inteligentes ou foram
atropelados pelos táxis bêbados da Realidade Absoluta,
que se jogaram da Ponte de Brooklyn, isto realmente
aconteceu e partiram esquecidos e
desconhecidos para dentro da espectral confusão das
ruelas de sopa & carros de bombeiros de
Chinatown, nem mesmo uma cerveja de graça,
que cantaram desesperados nas janelas, jogaram-se pela
janela do metrô, saltaram no imundo rio
Passaic, pularam nos braços dos negros, choraram pela
rua afora, dançaram sobre garrafas
quebradas de vinho descalços arrebentando nostálgicos
discos de jazz europeu dos anos 30 na
Alemanha, terminaram o whisky e vomitaram gemendo no
toalete sangrento, lamentações nos
ouvidos e o sopro de colossais apitos a vapor,
que mandaram brasa pelas rodovias do passado viajando
pela solidão da vigília de cadeia do
Golgota de carro envenenado de cada um ou então a
encarnação do Jazz de Birmingham,
que guiaram atravessando o país durante setenta e duas
horas para saber se eu tinha tido uma visão
ou se você tinha tido uma visão ou se ele tinha tido
uma visão para descobrir a Eternidade,
que viajaram para Denver, que morreram em Denver, que
retornaram a Denver & esperaram em
vão, que espreitaram Denver & ficaram parados pensando
& solitários em Denver e finalmente
partiram para descobrir o Tempo & agora Denver está
saudosa dos seus heróis,
que caíram de joelhos em catedrais sem esperança
rezando por sua salvação e luz e peito até que a
alma iluminasse seu cabelo por um segundo,

que se arrebentaram nas suas mentes na prisão
aguardando impossíveis criminosos de cabeça
dourada e o encanto da realidade nos seus corações que
entoavam suaves blues de Alcatraz,
que se recolheram ao México para cultivar um vício ou
as Montanhas Rochosas para o suave Buda
ou Tanger para os garotos ou Pacifico Sul para a
locomotiva negra ou Harvard para Narciso para o
cemitério de Woodlawn para a coroa de flores para o
túmulo,

que exigiram exames de sanidade mental acusando o
rádio de hipnotismo & foram deixados com
sua loucura & suas mãos & um júri suspeito,
que jogaram salada de batata em conferencistas da
Universidade de Nova York sobre Dadaísmo e
em seguida se apresentaram nos degraus de granito do
manicômio com cabeças raspadas e fala de
arlequim sobre suicídio, exigindo lobotomia imediata,
e que em lugar disso receberam o vazio concreto da
insulina metrasol choque elétrico hidroterapia
psicoterapia terapia ocupacional pingue-pongue &
amnésia,
que num protesto sem humor viraram apenas uma mesa
simbólica de pingue-pongue, mergulhando
logo a seguir na catatonia,
voltando anos depois, realmente calvos exceto uma
peruca de sangue e lágrimas e dedos para a
visível condenação de louco nas celas das
cidades-manicômio do Leste,
Pilgrim State, Rockland, Greystone, seus corredores
fétidos, brigando com os ecos da alma,
agitando-se e rolando e balançando no banco de solidão
à meia-noite dos domínios de mausoléu
druídico do amor, o sonho da vida um pesadelo, corpos
transformados em pedras tão pesadas
quanto a lua, com a mãe finalmente ****** e o último
livro fantástico atirado pela janela do cortiço e
a última porta fechada às 4 da madrugada e o último
telefone arremessado contra a parede em
resposta e o último quarto mobiliado esvaziado até a
última peça de mobília mental, uma rosa de
papel amarelo retorcida num cabide de arame do armário
e até mesmo isso imaginário, nada mais
que um bocadinho esperançoso de alucinação —
ah, Carl, enquanto você não estiver a salvo eu não
estarei a salvo e agora você está inteiramente
mergulhado no caldo animal total do tempo —
e que por isso correram pelas ruas geladas obcecados
por um súbito clarão da alquimia do uso da
elipse do catálogo do metro & do plano vibratório
que sonharam e abriram brechas encamadas no Tempo &
Espaço através de imagens justapostas e
capturaram o arranjo da alma entre 2 imagens visuais e
reuniram os verbos elementares e juntaram
o substantivo e o choque de consciência saltando numa
sensação de Pater Omnipotens Aeterni
Deus,
para recriar a sintaxe e a medida da pobre prosa
humana e ficaram parados à sua frente, mudos e
inteligentes e trêmulos de vergonha, rejeitados
todavia expondo a alma para conformar-se ao ritmo
do pensamento na sua cabeça nua e infinita,
o vagabundo louco e Beat angelical no Tempo,
desconhecido mas mesmo assim deixando aqui o que
houver para ser dito no tempo após a morte,
e se reergueram reencarnados na roupagem
fantasmagórica do jazz no espectro de trompa dourada
da banda musical e fizeram soar o sofrimento da mente
nua da América pelo amor num grito de
saxofone de eli eli lama lama sabactani que fez com
que as cidades tremessem até seu último rádio,
com o coração absoluto do poema da vida arrancado para
fora dos seus corpos bom para comer por
mais mil anos.”


( Allen Ginsberg. Uivo, Kadddish e outros poemas/ tradução de Claudio Willer- Porto Alegre: L&PM, 2010, p. 25- 34)

VESTIDO DE CORES


As horas vestidas
De cores
Desaparecem
No tempo,
Inconstantes
E sem espaço.
Ou talvez,
Apenas se apaguem
No outro de si mesmas
Definido pelo vazio
Dito em technicolor....

COTIDIANA SUPERFICIALIDADE


Nossas personas são, de um modo geral, o resultado do modo como os indivíduos nos codificam e rotulam nas múltiplas redes de sociabilidades que cotidianamente freqüentamos.
Dito de outra forma, somos aquilo que as pessoas pensam da gente, o que nos faz múltiplos e provisórios entre os outros a ponto de, escapando a pseudo identidade de um “eu”, através do qual nos encontramos no mundo, nos dissolvemos na própria fantasia coletiva que é o mundo em meio às superficialidades de nossos hábitos culturais. 

domingo, 31 de outubro de 2010

wittgenstein: trecho final do prefácio de "Investigações Filosóficas"



“O que publico aqui vai ao encontro, por mais de um motivo, do que hoje outros escrevem. – As minhas observações não têm em si nenhuma marca que as caracteriza como minhas, – assim não as reivindico também como minha propriedade.
É com sentimentos duvidosos que as entrego ao público. Não é impossível que seja dado a este trabalho em sua indigência, e nas trevas deste tempo, lançar luz numa ou noutra cabeça; mas, naturalmente, não é provável.
Com meu escrito não pretendo poupar aos outros o pensar. Porém, se for possível, incitar alguém aos próprios pensamentos.
Eu gostaria de ter produzido um bom livro. Não resultou assim; mas já se foi o tempo em que eu poderia melhorá-lo.”

Trecho final do prefácio de Investigações Filosóficas, by Ludwig wittgenstein

NOTA SOBRE A CULTURA CONTEMPORÂNEA


No somatório de suas tantas facetas, a cultura contemporânea pode ser definida como um dramático aprendizado do inesperado e da incerteza. Qualquer representação forte de realidade tem acento na descontinuidade, na diversidade, como elementar premissa do devir de coisas diversas e desarticuladas que se confunde com toda humana codificação ainda possível da existência...