segunda-feira, 12 de julho de 2010

O CORPO COMO PRINCIPIO


Em cada vazio
De instante e ato
Busco-me
No aleatório acontecer
De mero cotidiano,
Povoando  com sabores
O acaso de cada momento.
Mas pouco sei
De mim mesmo
No acontecer das coisas
Inventando sonhos
No se fazer do corpo
No qual existo em tempo,
Espaço, desejo
Enterrado nas múltiplas fantasias
De mim mesmo e dos outros...

domingo, 11 de julho de 2010

house para historiadores



Em seu clássico ensaio “SINAIS: RAÍZES DE UM PARADIGMA INDICIÁRIO”, o historiador Carlo Ginszburg, a partir da trípice analogia entre a critica de arte desenvolvida por Morelli, a psicanálise  freudiana e a técnica investigativa utilizada pela personagem de Sherlock Holmes, traça um original esboço do novo paradigma que, segundo ele,  afirmou-se no século XIX, mais precisamente na década de 1870-80.
Trata-se do método indiciário inspirado pelo modelo cognitivo fornecido pela semiótica medica, mas cujas raízes são demasiadamente arcaicas e remetem aquele que, segundo o autor,  talvez seja o mais antigo gesto da história intelectual do gênero humano: “o caçador agachado na lama, que escruta as pistas da presa”.
Em suas próprias palavras,
 “Por milênios o homem foi caçador. Durante inúmeras perseguições, ele aprendeu a reconstruir as formas e movimentos das presas invisíveis pelas pegadas na lama, ramos quebrados, bolotas de esterco, tufos de pêlos, plumas emaranhadas, odores estagnados. Aprendeu a farejar, registrar, interpretar e classificar pistas infinitesimais como fios de barba. Aprendeu a fazer operações mentais complexas com rapidez fulminante, no interior de um denso bosque ou numa clareira de ciladas.
Gerações e gerações de caçadores enriqueceram e transmitiram esse patrimônio cognitivo. Na falta de uma documentação verbal para se pôr ao lado das pinturas rupestres e dos artefatos, podemos recorrer às narrativas de fábulas, que do saber daqueles remotos caçadores transmite-nos às vezes um eco, mesmo que tardio e deformado.”
( Carlo Ginszburg. Sinais: Raízes de um paradigma Indiciário in Mitos, Emblemas e Sinais. SP: Companhia das Letras, p. 151)
Esta verdadeira gramática dos pormenores construída por gerações e gerações de caçadores, encontra-se  difundida em todo o mundo como uma forma milenar de conhecimento que, parafraseando o autor, une estreitamente o animal homem às outras espécies animais.
Seguindo os passos de Ginsburg, ouso afirmar que na época moderna tal modalidade de conhecimento ganhou um novo alento e significado com a decadência do pensamento sistêmico a partir do sec. XVIII, na medida em que se tornou possível, no plano do saber erudito, formular juízos sobre o homem e a sociedade a partir de sintomas e indícios.
Cabe  observar que o paradigma indiciário ou semiótico, tal como afirma  nosso autor, “penetrou nos mais variados âmbitos cognoscitivos, modelando profundamente as ciências humanas”, tanto quanto foi amplamente utilizado ao longo do séc. XIX para elaboração de “formas de controle social sempre mais sutis e minuciosas”.
 Em ambos os casos trata-se de uma redefinição do status do conhecimento na época moderna a partir do desenvolvimento de novas formas de saber “tendencialmente mudas”, no sentido de que suas regras não se prestam a formalização ou a transmissão de procedimentos pré determinados,  já que utiliza em sua essência o imponderável da intuição.
Se o historiador encontra-se familiarizado com tal paradigma indiciário através da chamada micro- história, o grande publico não raramente depara-se com ele através da ficção, seja personificada pelo clássico universo de historias de detetive, que nos remete mais do que qualquer outro aos casos  e aventuras do oitocentista  Sherlock Holmes, criado por  Sir  Arthur Conan Doyle,  ou, mais recentemente,  através de  séries de TV como CSI ou House MD.
O médico Gregory House, uma espécie de Sherlock Holmes da medicina, representa, ao meu ver, a mais complexa tradução do arquétipo do homem de ciências orientado por uma racionalidade indiciária. Sua vida resume-se ao seu oficio, ao ethos definido pela cotidiana instrumentalização do seu saber, que é também uma codificação da realidade e do mundo.
 A suposta falta de ética de House, sua aversão a autoridade e aos protocolos sociais, bem como sua inadequação á convencional persona do medico, são estratégias de distinção e  individuação em uma sociedade de massas, onde os vestígios individuais tendem a ser  empalidecidos ou apagados pelo existir coletivo, onde o micro universo do efêmero e do particular é mais revelador sobre a realidade do humano do que os discursos  e conceitos articulados pelos lugares comuns do trato social, dos diagnósticos convencionais da medicina mais ortodoxa, opções morais, valores ou sistemas de pensamento.

sábado, 10 de julho de 2010

ESCAPISMO E IMAGINAÇÃO


Escapo
Ao futuro e ao passado
Nas urgências do mero presente
Escrevendo o momento
No definitivo acontecer das coisas
Em mera existência...
Pouco me importa o amanhã,
O vazio lugar dos desejos
Que desenham o mais profundo
Do mundo
Como imaginação redentora...

quinta-feira, 8 de julho de 2010

free and up


Não pertenço
A parte alguma
Do mundo.
Sou o livre acontecer
De mim mesmo
Na aleatória sucessão
Dos rostos
Que o tempo desenha ao acaso
No vazio de seus propósitos
Contra e através
Da pluralidade de meus eus...
O fato,
É que lugar algum me contem  no mundo
E só me esclareço no caos do  inatingível infinito....

TRUE STORY



A verdade, enquanto “codificação forte” da realidade, é uma 
necessidade instintiva, algo que não definimos, mas nos define 
como espécie e individuo.
Acreditar em alguma coisa, no sentido mais autentico que pode 
ter o verbo crer, é transformar uma abstrata codificação simbólica 
em um rito diário, em um modo de ser entre as coisas. 
Procedimento cada vez mais inverossímil a quem encara de 
frente nossos imprecisos e múltiplos ethos contemporâneos cuja 
essência é a transfiguração de todos os valores...

domingo, 4 de julho de 2010

O ANALFABETO CIENTÍFICO by TIMOTHY FERRIS



Em outro momento já tive a oportunidade de comentar um ensaio do
físico Alan Lightman publicado na coletânea O FUTURO DO ESPAÇOTEMPO ( THE FUTURE OF SPACETIME)  do físico  Alan Lightman  intitulado  O FISICO COMO ROMANCISTA.  Desta vez, gostaria de, retornando a mesma coletânea, remeter a um outro ensaio de autoria do jornalista norte americano Timothy Ferris sobre a popularidade do saber científico, questão que considero crucial para consolidação do fecundo e complexo universo simbólico que define a contemporaneidade, apesar de todas as resistências modernas e  de substratos tradicionais ainda influentes.
Em poucas palavras limitar-me-ei aqui ao conceito de analfabeto cientifico tal como apresentado pelo autor recorrendo as suas próprias palavras . Por sua evidente relevância, o fragmento seguinte fala por si:
“ Todos os anos lemos notícias nos jornais sobre o que  se denomina “analfabeto político”. Elas nos dizem, por exemplo, que quase a metade de todos os norte-americanos não acredita que os seres humanos tenham evoluído a partir de outras espécies animais, que a maioria desconhece que o sistema solar está localizado na galáxia que se chama Via Láctea e que apenas a quarta parte ouviu falar que o universo está em expansão. Essas notícias são lamentáveis, e mais lamentável ainda é o fato de serem muito poucos os que entendem a ciência como um processo.
Não faz muita diferença para mim que um estudante saiba ou não quantos são os planetas do nosso sistema  solar. Em primeiro lugar, porque os próprios astrônomos  continuam a discutir se Plutão merece ou não o nome de planeta. Em segundo lugar, porque os estudantes podem receber a resposta “certa” da maneira errada. Podem aprender em um livro que o Sol tem nove planetas, ou ouvir que um cientista, na televisão, divulga essa informação com voz autoritária. Aprender fatos científicos dessa maneira tem a mesma profundidade com que um cortesão fica repetindo, como um papagaio, as palavras do rei, ou com que um professor prega que o processo não existe porque outros, como Nietzsche e Schopenhauer, assim o disseram. O analfabetismo cientifico denunciado pelos jornais- como no casoem que a televisão entrevistou universitários no dia de sua formatura e descobriu que muitos deles não sabiam  o que causa as estações do ano- é preocupante como sintoma de um problema maior, que é eles não terem aprendido como é que se investigam as coisas. Em última análise, o que você pensa é menos importante do que como você pensa.”  
( Timothy Ferris. Da popularidade do saber cientifico. In  O futuro do Espaço Tempo. Stephen W Hawking...  Et all: introdução Richard Price; tradução de Jose Viegas Filho, SP: Companhia das letras, 2005, p. 164-165)   

NOTA SOBRE IMANENCIA E FORMA


Na natureza, tudo é curvo, ondulado ou esférico. Pouco existe 
espaço para pureza de linhas retas nas variações e combinações
infinitas de formas que definem o imanente.


 A existência não se prende as leis e princípios que povoam como 
doenças a imaginação humana no acontecer do aleatório e do 
indeterminado que cabe na particularidade de tudo que se 
apresenta a cognição humana...  

BLACK TIME



O tempo, ás vezes,
Falta  aos acontecimentos
Nas minúcias do agora
E se perde nas reentrâncias
Dos fatos.   

É quando imaginações
Inventam realidades
Esculpindo memórias
Que de tão falsas
Alimentam inúmeras
Verdades...
But for how long?

sábado, 3 de julho de 2010

PASSADO ABERTO



Quebrado o mágico espelho
Do passado,
Não me vejo enterrado
Entre antigos lugares
De mera existência
E eus desbotados.
Vejo apenas
A imensidão do presente
Escrevendo
Em todas as direções do agora,
Inaugurando os vazios
Onde tropeça bêbada
A imaginação rebelde...