Este Blog é destinado ao exercicio ludico de construção da minima moralia da individualidade humana; é expressão da individuação como meta e finalidade ontológica que se faz no dialogo entre o complexo outro que é o mundo e a multiplicidade de eus que nos define no micro cosmos de cada individualidade. Em poucas palavras, ele é um esforço de consciência e alma em movimento...entre o virtual, o real, o simbolo e o sonho.
Em outro momento já tive a oportunidade de comentar um ensaio do físico Alan Lightman publicado na coletânea O FUTURO DO ESPAÇOTEMPO ( THE FUTURE OF SPACETIME) do físico Alan Lightman intitulado O FISICO COMO ROMANCISTA. Desta vez, gostaria de, retornando a mesma coletânea, remeter a um outro ensaio de autoria do jornalista norte americano Timothy Ferris sobre a popularidade do saber científico, questão que considero crucial para consolidação do fecundo e complexo universo simbólico que define a contemporaneidade, apesar de todas as resistências modernas e de substratos tradicionais ainda influentes.
Em poucas palavras limitar-me-ei aqui ao conceito de analfabeto cientifico tal como apresentado pelo autor recorrendo as suas próprias palavras . Por sua evidente relevância, o fragmento seguinte fala por si:
“ Todos os anos lemos notícias nos jornais sobre o que se denomina “analfabeto político”. Elas nos dizem, por exemplo, que quase a metade de todos os norte-americanos não acredita que os seres humanos tenham evoluído a partir de outras espécies animais, que a maioria desconhece que o sistema solar está localizado na galáxia que se chama Via Láctea e que apenas a quarta parte ouviu falar que o universo está em expansão. Essas notícias são lamentáveis, e mais lamentável ainda é o fato de serem muito poucos os que entendem a ciência como um processo.
Não faz muita diferença para mim que um estudante saiba ou não quantos são os planetas do nosso sistema solar. Em primeiro lugar, porque os próprios astrônomos continuam a discutir se Plutão merece ou não o nome de planeta. Em segundo lugar, porque os estudantes podem receber a resposta “certa” da maneira errada. Podem aprender em um livro que o Sol tem nove planetas, ou ouvir que um cientista, na televisão, divulga essa informação com voz autoritária. Aprender fatos científicos dessa maneira tem a mesma profundidade com que um cortesão fica repetindo, como um papagaio, as palavras do rei, ou com que um professor prega que o processo não existe porque outros, como Nietzsche e Schopenhauer, assim o disseram. O analfabetismo cientifico denunciado pelos jornais- como no casoem que a televisão entrevistou universitários no dia de sua formatura e descobriu que muitos deles não sabiam o que causa as estações do ano- é preocupante como sintoma de um problema maior, que é eles não terem aprendido como é que se investigam as coisas. Em última análise, o que você pensa é menos importante do que como você pensa.”
( Timothy Ferris. Da popularidade do saber cientifico. In O futuro do Espaço Tempo. Stephen W Hawking... Et all: introdução Richard Price; tradução de Jose Viegas Filho, SP: Companhia das letras, 2005, p. 164-165)
Não sei o que condiciona a vitalidade de uma dada formula de pensamento, o que determina que ela prevaleça ou pereça no acumulo das épocas, seja vestida de sagrado ou estética. A corriqueira resposta que remete a uma suposta universalidade que transcende o tempo, parece-me ingênua e insuficiente. Pois toda reflexão abstrata tem suas raízes em seu particular presente vivido como abstração e reflexão. Sua longivitude temporal não está, definitivamente, na suposta universalidade de sua construção e conteúdo, mais na fantasia de realidade que lhe sustenta e nutre em desdobramentos fecundos.
É pelos caminhos do irracional e do acaso das abstrações coletivas que formulas de pensamento convertem-se em cânones culturais e civilizacionais. É através do simbolismo e doa codificação simbólica , vivenciada como enigma que qualquer obra de construído passado converte-se em objeto de projeção da simbologia e codificação de nosso tempo de agora...