terça-feira, 13 de outubro de 2009

SOBRE O NÃO SENTIDO DA VIDA E A IMANÊCIA COMO PRINCÍPIO

Vivemos todos abandonados ao passar do tempo, entregues ao aleatório acontecer das coisas, administrando emoções e pensamentos diversificados e conflitantes.

Tudo faz pouco sentido... Mas a vida, pura e simplesmente, parece-me suficiente em meio ao acumulo do efêmero e das imanências cotidianas.
Tudo é aparência... Não há qualquer profundidade a explorar ou nos iludir como meta. Apesar de nossas intuições de transcendências, o tempo sempre nos ultrapassa na simplicidade tosca do dia a dia e nada há alem disso...

RED DAY

Preciso

de uma gota de silêncio
para olhar a vida
nos olhos
e explorar nervoso
todas as cores
da existência. ,
esquecer-me
Tão completamente
A ponto de perceber
A beleza de um dia aberto
Em riscos e possibilidades...

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

ALLEGORIES OF READING

Sob o apagamento

Constante do tempo,
Procuro-me em restos
De infância,
Em desfeitos momentos
E metafísicas ruínas
De familiares lugares perdidos...

Em parte alguma me encontro
Ou surpreendo em encanto
De estar simplesmente
No mundo...




Todas as coisas
Passam mudas
Em progressivo infinito
Para o absoluto vazio
Que constantemente
Nos transforma em realidades...



ESPECULAÇÕES PÓS MODERNAS SOBRE O CONCEITO DE REALIDADE E INDIVIDUALIDADE



O conceito moderno de subjetividade, fundado na premissa de que o homem é dotado de uma consciência autônoma e de uma racionalidade cognitiva pré-figuradora de um “eu” funcional, já não nos parece convincente no tempo presente. O velho conceito de “eu” é cada vez mais deslocado pelo revisionismo do conceito de simulacro, diante do qual o “eu” só pode ser um principio de incerteza, algo múltiplo e discontínuo condicionado a eficácia de nossas sempre provisórias codificações do mundo e da “realidade”. Em outras palavras, tudo é linguagem e, ao mesmo tempo, condicionado a uma variável incerta sem lugar no tempo e no espaço que nos corresponde aos instintos nos animais. C G Jung procurou dar conta dessa dinâmica que define a condição humana através do conceito de arquetipico e de individuação.

Mas ainda estamos longe de qualquer conclusão... ou de uma satisfatória fantasia ou codificação do abstrato de nós mesmos e do real...

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

UM FRAGMENTO DE LUDWIG WITTGENSTEIN II


Se considerarmos óbvio que um homem aufira prazer de suas próprias fantasias, lembreme-nos que a fantasia não corresponde a uma imagem pintada, a uma escultura ou a um filme, mas a uma formação complicada, de componentes heterogêneos- palavras, imagens, etc. Então, não contrastaremos o operar com signos escritos e falados com o operar com “imagens da imaginação” de eventos.


(A feiúra de um ser humano pode ser repelente num quadro, numa pintura, como na realidade, mas pode também ser repelente numa descrição, em palavras.)

A postura para com uma imagem ( para com um pensamento). A maneira como experimentamos uma imagem torna-a real para nós, isto é, liga-a com a realidade, estabelece uma continuidade com a realidade.


( O medo liga uma imagem aos terrores da realidade.)

( Ludwig Witgenstein. Gramática Filosófica/ organizada por Rush Rhees/tradução de Luis Carlos Borges. Edições Loyola, 2003, p. 137 )

NOTA SOBRE O DÂNDI E O ARTISTA NA OBRA DE BAUDELAIRE


Um dos mais significativos fenômenos sócio-culturais do século XIX, o dandismo, de certa maneira, formatou o estereotipo do artista oitocentista. Pode-se dizer que, ao apresentá-lo em uma versão bastante heterodoxa e pessoal, a obra de Baudelaire foi uma das principais fontes para tal simbiose que posteriormente seria cristalizada por Oscar Wilde e seus seguidores.
Em linhas gerais, o dandismo foi uma nova e derradeira categoria aristocrática definida pela estetização irrestrita da vida no jogo das aparências e das excentricidades; jogo regido pela ilimitada busca de distinção em uma sociedade em que, com o triunfo da revolução industrial e do liberalismo político, tornava-se cada vez mais impessoal e massificada.
Em Baudelaire, extrapolando essa imagem, o dandismo é a teorização estética e moral de uma revolta absoluta e “satânica”. Ele é essencialmente um transgressor e anti-social que leva as últimas conseqüências sua inglória luta contra a multidão e a sociedade...





O AMOR COMO MONOLOGO...

“O amor é o estado em que o homem vê mais as coisas como não são”.

F. Nietszche in O Anticristo

Pode-se falar do amor como uma espécie de princípio de ligação, ou atração, observável na natureza que, como metáfora para dizer relacionamentos humanos, procura dar conta desta irracional pré-disposição inata ao individuo para buscar intimidade com “o outro”. Mas do que uma banal fatalidade, trata-se aqui de uma inesgotável fonte de fantasias, imagens impessoais e desencontros pessoais.
Afinal, contrariando os pareceres mais ingênuos, o amor é um monologo intimo onde nos buscamos em um rosto estranho e oposto, é uma desesperada e dramática invenção do outro como parte de nós mesmos e de nossas mais obscuras carências...

THE END IS HERE...




A biografia de um indivíduo não encontra um fim com seu falecimento. Ela apenas se interrompe sob o signo de um “antológico” inacabamento...
O que talvez mais nos incomode na morte é a dura constatação de que nunca alcançaremos qualquer objetivo ou meta teleologicamente definida que permita rotular como “esgotada” a experiência cotidiana de viver... Somos assim dolorosamente um trágico esboço de nós mesmos....Não importa a vida que realizamos....

terça-feira, 6 de outubro de 2009

CONDIÇÃO HUMANA, SIMBOLO E LINGUAGEM

O uso de signos e símbolos é inerente a condição humana... Através deles inventamos coletivamente aquilo que conhecemos como realidade na exata medida em que nos comunicamos uns com os outros. Pois, a maneira como experimentamos uma imagem psíquica através da linguagem tornamos real determinada coisa cognoscível.




A realidade existe na medida em que codificamos nossas experiências. Mas, ao fazê-lo, somos aprisionados ou configurados por tais experiências, em que nos projetamos nelas. Nos tornamos, assim, prisioneiros de nossas próprias discussões através daquela tonalidade afetiva definida por um sentimento de “verdade”. Não nos damos conta que o mundo só é verdadeiro quando o inventamos como tal...

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

ILUISION OF LOVE



Vejo teus olhos
Dentro dos meus
Na mudez do momento
Que nos apaga
No sonho de um futuro
Que se perdeu em nossos rostos.


Talvez não valha a pena
A imaginação...
Minha aposta cega nos atos
Que se escrevem na imensidão
Do encontro de nossos lábios...


Talvez,
Nada disso
Faça algum sentido
Dentro de ti
Ou em muitos dos eus
Que me definem
Em buscas de imperfeito amor
em suas intimas diversidades...