Nas faixas do album A LEX do Sepultura encontramos uma expressão singular e violentamente lírica da sensibilidade pós moderna ou contemporânea de uma confusão de linguagens... Dizendo de outra forma, musica e literatura encontram-se aqui em um caos criativo e agressivo que beneficia a arte como não lugar cotidiano da linguagem, como deslocamento existencial e estranhamento da própria realidade... Neste álbum o rock se faz meta linguagem, extra-territorialidade, realizando o profundo e feliz desconforto sombrio que o texto original de Anthony Burgess nos provoca... Trata-se de uma tradução... talvez a altura daquela realizada por Stanley Kubrick para o cinema, que não contou, infelizmente, com a aprovação do autor...
Este Blog é destinado ao exercicio ludico de construção da minima moralia da individualidade humana; é expressão da individuação como meta e finalidade ontológica que se faz no dialogo entre o complexo outro que é o mundo e a multiplicidade de eus que nos define no micro cosmos de cada individualidade. Em poucas palavras, ele é um esforço de consciência e alma em movimento...entre o virtual, o real, o simbolo e o sonho.
domingo, 26 de julho de 2009
TÉDIO...
Um vento rasga
O rosto de um sonho
Revelando a paisagem
De um eterno outono
Dentro da viva de cada dia.
Tudo acontece
Opaca e provisoriamente
Ao sabor dos tédios
Que animam as horas.
Tudo é tão banal
Que quase
Não me percebo
Nos fatos abertos
Em mera mesmice...
O rosto de um sonho
Revelando a paisagem
De um eterno outono
Dentro da viva de cada dia.
Tudo acontece
Opaca e provisoriamente
Ao sabor dos tédios
Que animam as horas.
Tudo é tão banal
Que quase
Não me percebo
Nos fatos abertos
Em mera mesmice...
POP POEM
sábado, 25 de julho de 2009
LITERATURA INGLÊSA XLVII
Dentre todas as literaturas do mundo, a de língua inglesa é a mais prodigiosa em vozes femininas, fato que constitui uma de suas mais atraentes peculiaridades. Um bom exemplo disso é a obra da britânica neo-zelandesa Katherine Manfield ( 1888-1923) que pode ser considerada uma das maiores ficicionistas do séc. XX.
Sua matéria são histórias curtas; contos, ou short stories and long short stores, em que explora com singular sensibilidade e simplicidade o pouco do dia a dia, a profundidade inerente a experiência do banal através de personagens comuns através dos quais nos defrontamos com o mais profundo da condição humana nas pequenas coisas... Justamente por isso sua narrativa é econômica, direta, desconcertadamente coloquial no dizer do mais profundo da vida.
Katherine viveu no inicio do século passado uma vida bastante atribulada. Seja do ponto de vista afetivo,sexual ou social. Casou-se e divorciou-se em um único dia, sofreu um aborto e experimentou diversas relações homo e hetero sexuais em um tempo em que a condição feminina ainda era prisioneira de uma caprichosa cultura falocrática. Com apenas 34 anos encontrou a morte através da tuberculose deixando para traz uma experiência de intensidade da vida que se traduziu magistralmente em seu universo literário.
Não por acaso, a publicação póstuma de seus diários, álbuns de recortes e epistolas, gerou uma vasta bibliografia.
A festa ( The garden party) é um de seus contos mais famosos e lidos e, diga-se de passagem, um de meus favoritos. Neste, a simultaneidade da vida e da morte, da alegria e da tristeza na paisagem do se fazer humano, nos surge sem filosofias através da sensibilidade e lirismo da pequena Laurie... Em poucas palavras, o que Katherine nos oferece em sua simplicidade é uma reflexão sobre a complexidade do banal de cada dia... Devo-lhe pessoalmente muito por isso, como leitor e admirador inconteste.
Sua matéria são histórias curtas; contos, ou short stories and long short stores, em que explora com singular sensibilidade e simplicidade o pouco do dia a dia, a profundidade inerente a experiência do banal através de personagens comuns através dos quais nos defrontamos com o mais profundo da condição humana nas pequenas coisas... Justamente por isso sua narrativa é econômica, direta, desconcertadamente coloquial no dizer do mais profundo da vida.
Katherine viveu no inicio do século passado uma vida bastante atribulada. Seja do ponto de vista afetivo,sexual ou social. Casou-se e divorciou-se em um único dia, sofreu um aborto e experimentou diversas relações homo e hetero sexuais em um tempo em que a condição feminina ainda era prisioneira de uma caprichosa cultura falocrática. Com apenas 34 anos encontrou a morte através da tuberculose deixando para traz uma experiência de intensidade da vida que se traduziu magistralmente em seu universo literário.
Não por acaso, a publicação póstuma de seus diários, álbuns de recortes e epistolas, gerou uma vasta bibliografia.
A festa ( The garden party) é um de seus contos mais famosos e lidos e, diga-se de passagem, um de meus favoritos. Neste, a simultaneidade da vida e da morte, da alegria e da tristeza na paisagem do se fazer humano, nos surge sem filosofias através da sensibilidade e lirismo da pequena Laurie... Em poucas palavras, o que Katherine nos oferece em sua simplicidade é uma reflexão sobre a complexidade do banal de cada dia... Devo-lhe pessoalmente muito por isso, como leitor e admirador inconteste.
sexta-feira, 24 de julho de 2009
PALAVRA ENIGMA
Não sei onde me leva o esforço de cada palavra em verso e prosa. Sinto, apenas, que o discurso, a letra,me ultrapassa na construção de um pensamento que me desconstrói, que se impõe como experiência do ilegível abstrato da condição humana.
Procuro sondar a sombra dos textos, buscar-me em seus vazios na contramão de enunciados e sentidos.
Procuro sondar a sombra dos textos, buscar-me em seus vazios na contramão de enunciados e sentidos.
Talvez, se o conseguir, compreenda plenamente o universo que se expande caótica e aleatoriamente em meus castelos de textos inúteis...
ACROSS THE UNIVERSE...
DARE TO DREAM YOUR LIFE....
A condição humana
espalha-se ao infinito
no múltiplo de cada indivíduo
espalha-se ao infinito
no múltiplo de cada indivíduo
Mas nada que digo
Explica meu mundo
Nas contradições das circunstâncias...
A cada segundo
Qualquer outra possibilidade
De mim mesmo
Surge ao acaso
De cada momento,
Qualquer novo sentimento
Ou leitura de realidade...
Qualquer novo sentimento
Ou leitura de realidade...
É como se a matéria da vida
Fosse um tipo estranho de sonho...
DARE TO DREAM YOUR LIFE...
IMAGINE IS REALITY.
quarta-feira, 22 de julho de 2009
SOBRE O MAGO WIZ E O REINO DE ID
As tiras de quadrinhos do Mago Wiz, ambientadas em uma anacrônica Idade Media, são um divertido exemplo da apreensão contemporânea do passado como alegoria, tendência cada vez mais influente sob nossa percepção e consciência do tempo presente.
Criado em New York no distante ano de 1964 por Brant Parker e Johnny Hort, o Reino de Id e suas cotidianas situações bizarras, nos fala essencialmente sobre adaptação e sobrevivência em um mundo sutilmente disfuncional, mergulhado em um obscurantismo, temperado por certo cinismo, que nos parece estranhamente familiar. Afinal, trata-se na verdade do obscurantismo do nosso próprio tempo...
Criado em New York no distante ano de 1964 por Brant Parker e Johnny Hort, o Reino de Id e suas cotidianas situações bizarras, nos fala essencialmente sobre adaptação e sobrevivência em um mundo sutilmente disfuncional, mergulhado em um obscurantismo, temperado por certo cinismo, que nos parece estranhamente familiar. Afinal, trata-se na verdade do obscurantismo do nosso próprio tempo...
ENTRE OS ATOS
Há um espaço vazio
Entre os atos,
Um lapso existencial
Que não se diz,
Que não se explica
E cala no pensamento
Como intimo segredo...
Mas trata-se apenas
De um nada,
Do banal indizível
Que assombra a existência
No frágil de todo
Possível cotidiano significado
Das coisas ...
Entre os atos,
Um lapso existencial
Que não se diz,
Que não se explica
E cala no pensamento
Como intimo segredo...
Mas trata-se apenas
De um nada,
Do banal indizível
Que assombra a existência
No frágil de todo
Possível cotidiano significado
Das coisas ...
terça-feira, 21 de julho de 2009
LITERATURA INGLESA XLVI
Anthony Burgess (1917-1993) iniciou-se tardiamente na carreira literária ao publicar, já com 38 anos, seu romance de estréia: Time for a tiger ( 1956), primeiro volume de uma triologia conhecida como o ciclo The Malayan Trilogy, complementada por The Enemy in the Blanket e Beds in the East.
Apesar de no inicio dos anos 60 ter sofrido o diagnóstico de um complicado tumor cerebral acompanhado pela triste estimativa de um ano de vida, Burgess faleceu apenas aos 76 anos, em 1993, deixando uma obra extensa e significativa no cenário da literatura inglesa do séc. XX.
Embora não seja, segundo o próprio autor, seu livro mais importante, A Clockwork Orange ( Laranja Mecânica) é certamente a mais polêmica, em parte devido a sua adaptação heterodoxa para o cinema pelo celebre e imortal diretor Stanlery Kubrik.
Normalmente comparado a 1984 de George Orweel e ao Admirável Mundo Novo de Aldows Huxley, Laranja Mecânica é uma anti utopia, uma pessimista leitura do mundo contemporâneo através de um imaginário futuro totalitário e sombrio erigido sob o signo da violência.
Curioso observar que o titulo inspira-se em uma expressão anglo-saxã "As queer as a clockwork orange", ou, em uma tradução livre, "Tão bizarro quanto uma laranja mecânica". Sua concreta inspiração, entretanto, é o universo dos então corriqueiros conflitos, ocorridos em inicio dos anos 60, nas urbanas paisagens londrinas entre as gangues dos Mods e dos Rockers, duas “tribos juvenis” de origem operária inspiradas por diferentes estilos musicais. Os primeiros se vestiam com roupas de grife e cultuavam um rock agressivo de bandas semelhantes ao Who, enquanto os Rockers, com seus casacos de couro, preferiam o rock dos anos 50, principalmente Elvis, e filmes como “O selvagem da Motocicleta”.
Marcado por esta peculiaridade de época, Burgess imaginou um mundo futuro não muito distante onde a violência destas gangues e juvenis teria se radicalizado ao ponto de gerar não só um cotidiano violento, como também um aparato estatal repressivo sem limites.
De alguma maneira tal questão, aparentemente datada, nos é muito familiar uma vez que a violência é uma linguagem, de muitas maneiras e formas, dependendo do país e lugar, cada vez mais marcante e condicionadora do cotidiano contemporâneo.
Apesar disso, esta perturbadora narrativa literária deve ser compreendida como um romance de iniciação juvenil nas paisagens deste alegórico e cruel futuro imaginário. Isso pode parecer bem evidente caso consideremos a estruturação da obra em três partes, cada qual composta por sete sub- divisões totalizando 21 capítulos, numero que corresponde a maioridade etária na cultura anglo-saxã.
Através da trajetória de sua principal personagem, o jovem Alex, também narrador e ex líder de uma gangue extremamente violenta e transgressora, que acaba se transformando em uma vitima de um mundo tão violento e perverso quanto ele, nos deparamos com os paradoxos e absurdos da condição humana, nos defrontamos com os limites da moralidade vigente, na mesma medida que nos surpreendemos com a maturidade conquistada pelo narrador/personagem após um tortuoso e bizarro caminho...
Uma peculiaridade da narrativa que nos provoca um certo desconforto ou estranhamento na leitura é o uso do “natsat” dialeto das gangues utilizado por Alex que mistura inglês popular, russo e gíria cigana.
Poupo o leitor de importantes detalhes da narrativa optando por uma apresentação superficial e não muito analítica no intuito de apenas despertar interesse pela leitura da obra que, vale a pena insistir, não oferece um panorama significativo do universo ficcional do autor ora comentado...
Apesar de no inicio dos anos 60 ter sofrido o diagnóstico de um complicado tumor cerebral acompanhado pela triste estimativa de um ano de vida, Burgess faleceu apenas aos 76 anos, em 1993, deixando uma obra extensa e significativa no cenário da literatura inglesa do séc. XX.
Embora não seja, segundo o próprio autor, seu livro mais importante, A Clockwork Orange ( Laranja Mecânica) é certamente a mais polêmica, em parte devido a sua adaptação heterodoxa para o cinema pelo celebre e imortal diretor Stanlery Kubrik.
Normalmente comparado a 1984 de George Orweel e ao Admirável Mundo Novo de Aldows Huxley, Laranja Mecânica é uma anti utopia, uma pessimista leitura do mundo contemporâneo através de um imaginário futuro totalitário e sombrio erigido sob o signo da violência.
Curioso observar que o titulo inspira-se em uma expressão anglo-saxã "As queer as a clockwork orange", ou, em uma tradução livre, "Tão bizarro quanto uma laranja mecânica". Sua concreta inspiração, entretanto, é o universo dos então corriqueiros conflitos, ocorridos em inicio dos anos 60, nas urbanas paisagens londrinas entre as gangues dos Mods e dos Rockers, duas “tribos juvenis” de origem operária inspiradas por diferentes estilos musicais. Os primeiros se vestiam com roupas de grife e cultuavam um rock agressivo de bandas semelhantes ao Who, enquanto os Rockers, com seus casacos de couro, preferiam o rock dos anos 50, principalmente Elvis, e filmes como “O selvagem da Motocicleta”.
Marcado por esta peculiaridade de época, Burgess imaginou um mundo futuro não muito distante onde a violência destas gangues e juvenis teria se radicalizado ao ponto de gerar não só um cotidiano violento, como também um aparato estatal repressivo sem limites.
De alguma maneira tal questão, aparentemente datada, nos é muito familiar uma vez que a violência é uma linguagem, de muitas maneiras e formas, dependendo do país e lugar, cada vez mais marcante e condicionadora do cotidiano contemporâneo.
Apesar disso, esta perturbadora narrativa literária deve ser compreendida como um romance de iniciação juvenil nas paisagens deste alegórico e cruel futuro imaginário. Isso pode parecer bem evidente caso consideremos a estruturação da obra em três partes, cada qual composta por sete sub- divisões totalizando 21 capítulos, numero que corresponde a maioridade etária na cultura anglo-saxã.
Através da trajetória de sua principal personagem, o jovem Alex, também narrador e ex líder de uma gangue extremamente violenta e transgressora, que acaba se transformando em uma vitima de um mundo tão violento e perverso quanto ele, nos deparamos com os paradoxos e absurdos da condição humana, nos defrontamos com os limites da moralidade vigente, na mesma medida que nos surpreendemos com a maturidade conquistada pelo narrador/personagem após um tortuoso e bizarro caminho...
Uma peculiaridade da narrativa que nos provoca um certo desconforto ou estranhamento na leitura é o uso do “natsat” dialeto das gangues utilizado por Alex que mistura inglês popular, russo e gíria cigana.
Poupo o leitor de importantes detalhes da narrativa optando por uma apresentação superficial e não muito analítica no intuito de apenas despertar interesse pela leitura da obra que, vale a pena insistir, não oferece um panorama significativo do universo ficcional do autor ora comentado...
CRÔNICA RELÂMPAGO LVIX
Pode parecer mera retórica boba, mas não pensar em nada, entregar-se ao ócio, é um modo de refletir através de silêncios e vazios sobre tudo que nos define nos dias de mundo.
Quando estamos de férias nunca descansamos, apenas administramos o tempo livre que temos sem a ditadura do relógio e da agenda para meramente nos ocuparmos de contextos privados/ familiares que nos prendem. Apenas substituímos obrigações e compromissos ignorando, como de costume, os muitos “eus” dos quais nos perdemos ao longo da realização do destino, estes restos de personalidades alternativas e possibilidades que nos acompanham como silenciosas ansiedades. ..
O que sei é que nunca é suficiente estar-se de férias sem previamente traçar um roteiro de labirinto que nos leve a uma relação provisoriamente nova entre o eu e o tempo, entre o ser e estar da vida...
Quando estamos de férias nunca descansamos, apenas administramos o tempo livre que temos sem a ditadura do relógio e da agenda para meramente nos ocuparmos de contextos privados/ familiares que nos prendem. Apenas substituímos obrigações e compromissos ignorando, como de costume, os muitos “eus” dos quais nos perdemos ao longo da realização do destino, estes restos de personalidades alternativas e possibilidades que nos acompanham como silenciosas ansiedades. ..
O que sei é que nunca é suficiente estar-se de férias sem previamente traçar um roteiro de labirinto que nos leve a uma relação provisoriamente nova entre o eu e o tempo, entre o ser e estar da vida...
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