quinta-feira, 4 de junho de 2009

COTIDIANA UTOPIA


Seduzido
Por um perfume distante
De dia novo
Deixo para trás
Posses perdidas,
Paisagens e dores
Para explorar horizontes virgens.

Dou adeus a antiga casa,
A roupa rota
E aos silêncios da vida.

Mendigo de risos
Acompanho uma esperança
Com a inocência de crianças.

Mas tudo,
Eu sei,
Não é mais que um sonho
Do qual em, segundos
Despertarei.

quarta-feira, 3 de junho de 2009

MULTIDÃO

Toda emoção se fez
De repente
Vaga percepção
Das coisas em profusão,
Parcial realização
Do entremecimento da vida
Diante do mundo.

O tempo sustenta a existência
Precariamente.
Quase me vejo em silêncio
Inerte no fluxo da multidão.

Tudo é puro e difuso
Sentimento
Sem objetos, objetivos
Ou futuro...

CRONICA RELÂMPAGO LV


As mudanças e pormenores dos dias passados invadem o momento apagando o presente. Considero todas as possibilidades perdidas em minhas irrefletidas escolhas de ocasião. Percebo que me tornei o incômodo silêncio de apagadas oportunidades somadas.
Assombra-me o fantasma do outro sepultado em meus atos. Mas sei que sou quem deveria ser na virtual paisagem de infinitas alternativas. Sei que me tornei em cada passo de tempo o que de alguma forma sempre fui...

terça-feira, 2 de junho de 2009

CRÔNICA RELÂMPAGO LIV

Respiro uma manhã corriqueira sem grandes planos ou projetos de dia. Tudo corre em rotinas, vãs expectativas e incertezas de futuros que talvez jamais existam como o melhor presente possível de mim mesmo.
Apenas me perderei daqui a pouco na paisagem urbana cumprindo ritos banais de existência indiferente a mim mesmo e diluído entre os outros.
Ao fim do dia voltarei ao ponto de partida, mergulharei no privado da existência comum sem perceber em minha face o consolo de um rosto. Surpreenderei em mim apenas minha auto imagem de fantasia a dizer o ínfimo ponto de oceano humano que involuntariamente sou.

segunda-feira, 1 de junho de 2009

MINUTE

Vejo vazios
Correndo sob o céu estrelado
No corpo do vento,
Transmutando espaços
Na falsa melancolia
Dos silêncios.

Um deserto rebelado
Percorre o frio da noite
Dentro de mim.

Ofereço ao nada
Palavras de sono
Sondando os sentimentos
Vivos
Da madrugada aberta

In a minute...

domingo, 31 de maio de 2009

CONSCIÊNCIA INDIVIDUAL E INDIVIDUAÇÃO


A consciência individual é uma conquista recente no longo e tortuoso percurso da espécie humana. Em que pese antecedentes no séc. XII e a partir do chamado Renascimento da cultura ocidental dos séc. XIV e XV, sua maturação deu-se plenamente apenas na época moderna, quando a civilização industrial de fins do séc. XIX e inicio do séc. XX estabeleceu as condições propícias ao seu pleno florescimento. Ou seja, o relativo deslocamento das tradições e costumes nas vertigens do novo e complexo cenário urbano, evidenciado principalmente através das artes e novas estéticas, a diluição da consciência coletiva com o advento da sociedade de massa e conseqüente atomização do indivíduo e, principalmente, o questionamento radical da metafísica idéia de verdade como principio cognitivo assentado na ilusão de uma correspondência natural entre as palavras e as coisas. Sem isso não seria possível imaginar a autonomia da consciência individual como um paradoxo entre o singular e o universal da espécie humana.
Nietzsche foi um dos primeiros pensadores a deparar-se com o problema vislumbrando na fantasia do super-homem o caminho de uma possivel individuação futura mediante a reviravolta de todos os valores. Devemos a ele a superação da equivocada associação simples entre consciência individual e individuação, entre a necessidade de comunicação sob a qual se assenta a consciência e a individualidade/singularidade propriamente dita como expressão mais radical do fenômeno humano inconsciente.
Recorrendo a um de seus aforismas em A GAIA CIÊNCIA, intitulado “Do ‘gênio da espécie’ ” ofereço algumas fragmentárias provocações sobre o tema que curiosamente remetem a noção de inconsciente enquanto “psique objetiva” para usar uma terminologia utilizada algumas vezes por C G Jung:

“... Para que então consciência, quando no essencial é supérflua?Bem, se querem dar ouvidos à minha resposta a essa pergunta e a sua conjectura talvez extravagante, parece-me que a sua sutileza e a força da consciência estão sempre relacionadas à capacidade de comunicação de uma pessoa ou animal ( ou animal), e a capacidade de comunicação, por sua vez, a necessidade de comunicação: mas não, entenda-se, que precisamente o indivíduo mesmo, que é mestre justamente em comunicar e tornar compreensíveis suas necessidades, também seja aquele em que suas necessidades mais tivesse de recorrer aos outros.
(...)
O ser humano, como toda criatura viva, pensa continuamente, mas não o sabe; o pensar que se torna consciente é apenas a parte menor, a mais superficial, a pior, digamos:- pois apenas esse pensar consciente ocorre em palavras, ou seja, em signos de comunicação, com o que se revela a origem da própria consciência. Em suma, o desenvolvimento da linguagem e o desenvolvimento da consciência ( não da razão, mas apenas do tomar- consciência- de-si da razão) andam lado a lado. Acrescente-se que não só a linguagem serve de ponte entre um ser humano e outro, mas também o olhar, o toque, o gesto; o tomar-consciência das impressões de nossos sentidos em nós, a capacidade de fixá-las e como que situa-las fora de nós, cresceu na medida em que aumentou a necessidade de transmiti-las a outros por meio de signos. O homem inventor de signos é, ao mesmo tempo, o homem cada vez mais consciente de si; apenas como animal social o homem aprendeu a tomar consciência de si- ele o faz ainda, ele o faz cada vez mais- Meu pensamento, como se vê, é que a consciência não faz parte realmente da existência individual do ser humano, mas antes daquilo que nele é natureza comunitária e gregária; que, em conseqüência, apenas em ligação com a utilidade comunitária e gregária ela se desenvolveu sutilmente, e que, portanto, cada um de nós, com toda a vontade que tenha de entender a si próprio da maneira mais individual possível, de “conhecer a si mesmo”, sempre trás a consciência justamente o que não possui de individual, o que nele é “ médio”- que nosso pensamento mesmo é continuamente suplantado, digamos, pelo caráter da consciência- pelo “gênio da espécie” que nela domina- e traduzido de volta para perspectiva gregária.”

(Friedrich Nietzsche. A Gaia Ciência/ tradução, notas e posfácio de Paulo Cezar de Souza. SP: Companhia das Letras,2001,p. 249-250)

150 ANOS DE BIG BEN


O big ben, o fabuloso sino fundido por George Mears em 1858, medindo quase 3 metros de diâmetro e pesando 13, 5 toneladas, instalado na Tower Clock do Palácio de Westminster, na sede do parlamento britânico, completa hoje 150 anos. Seu apelido deve-se a uma referência a Benjamin Hall, ministro de Obras Públicas da Inglaterra na ocasião de sua instalação e sarcasticamente apelidado por big ben por sua grande estatura.
Superando as criticas iniciais associadas a reconstrução do palácio de Westminster original, destruído por um incêndio em 1834, tornou-se o sino um monumento e simbolo do novo mundo inaugurado pela revolução industrial, e um dos mais simpáticos icones da civilização ocidental e dos esteriotipos construidos em torno da cultura britânica.
Dedicar-lhe algumas palavras pode parecer pueril, mas não quando consideramos que, 150 anos depois de sua instalação, ele ainda provoca o imaginário coletivo. Pessoalmente o considero quase um fetiche associado a incômoda consciência do tempo que passa. É como se suas solenes badaladas remetessem a finitude e fragilidade da vida em contraste com as permanencias das coisas inanimadas por uma quase eternidade...
Sobre o assunto, uma visita ao site do parlamento britânico pode ser bastante interessante:
http://www.bigben.parliament.uk/,

TEMPORALIDADE

Vejo o mundo
Pelos olhos do tempo.
Nada é permanente.
Tudo é incerto.

Neste exato segundo
Parte de mim cai no passado
Enquanto outra
Desaparece futura
Sem saber o presente.

Estou entre
Meu eu e o outro
Que se desfaz no tempo...

Não tenho origem ou destinos...
Apenas respiro...

sábado, 30 de maio de 2009

CONDIÇÂO PÓS MODERNA E TEMPO PRESENTE

A condição pós moderna, expressão pela qual podemos definir nossa contemporaneidade, pressupõe a existência como um eterno presente assentado no deslocamento do passado e na desconstrução do “culto do novo ou do futuro” estabelecido pela chamada modernidade.
Podemos considerá-la uma espécie de “filosofia da imanência” voltada parta o tempo neutro e permanente de um presente em desconstruções e reconstruções contínuas.
A condição pós moderna pressupõe o mundo como um espaço simbólico de intercâmbios, de redes sem centros ou pontos estáveis e articuladas pela meta ou hiper realidade do virtual.
Em nossos textos/mundos cotidianos, tudo agora existe em superfície sem a ilusão de essências ou meta narrativas...

sexta-feira, 29 de maio de 2009

ILEGIVEL


Exploro um ponto vazio
Perdido no horizonte
Como um nada
A desafiar certezas
E planos.

Ele me sonda
Com seu silêncio
Buscando intercâmbios.
Enquanto corro
Contra o tempo
Inventando respostas
Que não se sustentam.

Minha vida
Já não é mais
Em qualquer sentido
Dizível...