Lançado originalmente em 1973 e atualmente esgotada, a obra Rock: O grito e o Mito de Renato Muggiati, apesar de datada em alguns aspectos, permanece sendo uma referência importante para aqueles que se interessam pela história do rock. Cronologicamente ele cobre um período que vai dos primórdios nos anos 50 a inicio dos anos 80 do último século, o que lhe circunscreve a evolução do chamado rock clássico.
A analogia entre Rock e grito feita pelo autor, uma das chaves de leitura de sua pesquisa, é particularmente interessante. Remete, antes de tudo ao significado do rock, enquanto fenômeno cultural surgido em determinado contexto de crise de valores dos EUA no pós II Grande Guerra. Pensando esse momento vinculado ao progresso das mídias eletrônicas, não é surpreendente a possibilidade de paralelos com a relação contemporânea dos jovens e as mídias e linguagens digitais.
Nas palavras do autor:
“... Se a canção popular americana já por volta de 1950 havia perdido sua função social, é preciso lembrar que o blues, concreto e vital, tinha sobrevivido a todas essas mudanças.Ganhando corpo depois da Primeira Guerra Mundial quando a canção popular ou era marcadamente triste, ou alegre e buliçosa, a mistura doce amarga do blues abria uma nova frente musical, que seria trazida até nossos dias pelo rock e pelas modernas formas de blues e soul. O blues olhava o mundo sem ilusões como a coisa complexa que é. Cultivava, por exemplo, uma certa ironia ( “Eu antes te amava,mas,ora, vá para o raio que te parta!”). Segundo LeRoi Jones ( Blues People), o grito e o blues eram acima de tudo afirmações da individualidade do negro. Manifestavam sua consciência de separação do restop da sociedade americana. Também como os negros arrancados bruscamente do seu solo natal, os jovens de metade do século XX se viram de repente sem raízes, jogados numa terra incógnita, cenário novo e ameaçador. Até o começo do século, a tradicional família praticava impunimente a lavagem cerebral dos filhos: o mesmo repertório de informações e valores era transmitido quase intacto de geração a geração. Com o dilúvio de dados provocado pelos novos media- sobretudo os eletrônicos- esses compartimentos estanques de classes e hierarquias foram invadidos e todo mundo se viu bruscamente na situação de naufrago: nadar para sobreviver. Nadar, no caso, equivalia a digerir e manipular convenientemente a massa de informação despejada diariamente pela industria das comunicações. Foi dentro dessas condições que os jovens, para se defender, criaram um campo de informação próprio. Na realidade, o movimento que uns definem como “contracultura”, outros como “revolução cultural”, é formado por muitas dessa nova ideologia e sua colocação em prática será a luta das próximas décadas.”
(Roberto Muggiati. Rock, o Grito e oi Mito: A musica pop como forma de comunicação e contracultura. Petrópolis: Vozes,3° edição, 1981, p.11-12)
A analogia entre Rock e grito feita pelo autor, uma das chaves de leitura de sua pesquisa, é particularmente interessante. Remete, antes de tudo ao significado do rock, enquanto fenômeno cultural surgido em determinado contexto de crise de valores dos EUA no pós II Grande Guerra. Pensando esse momento vinculado ao progresso das mídias eletrônicas, não é surpreendente a possibilidade de paralelos com a relação contemporânea dos jovens e as mídias e linguagens digitais.
Nas palavras do autor:
“... Se a canção popular americana já por volta de 1950 havia perdido sua função social, é preciso lembrar que o blues, concreto e vital, tinha sobrevivido a todas essas mudanças.Ganhando corpo depois da Primeira Guerra Mundial quando a canção popular ou era marcadamente triste, ou alegre e buliçosa, a mistura doce amarga do blues abria uma nova frente musical, que seria trazida até nossos dias pelo rock e pelas modernas formas de blues e soul. O blues olhava o mundo sem ilusões como a coisa complexa que é. Cultivava, por exemplo, uma certa ironia ( “Eu antes te amava,mas,ora, vá para o raio que te parta!”). Segundo LeRoi Jones ( Blues People), o grito e o blues eram acima de tudo afirmações da individualidade do negro. Manifestavam sua consciência de separação do restop da sociedade americana. Também como os negros arrancados bruscamente do seu solo natal, os jovens de metade do século XX se viram de repente sem raízes, jogados numa terra incógnita, cenário novo e ameaçador. Até o começo do século, a tradicional família praticava impunimente a lavagem cerebral dos filhos: o mesmo repertório de informações e valores era transmitido quase intacto de geração a geração. Com o dilúvio de dados provocado pelos novos media- sobretudo os eletrônicos- esses compartimentos estanques de classes e hierarquias foram invadidos e todo mundo se viu bruscamente na situação de naufrago: nadar para sobreviver. Nadar, no caso, equivalia a digerir e manipular convenientemente a massa de informação despejada diariamente pela industria das comunicações. Foi dentro dessas condições que os jovens, para se defender, criaram um campo de informação próprio. Na realidade, o movimento que uns definem como “contracultura”, outros como “revolução cultural”, é formado por muitas dessa nova ideologia e sua colocação em prática será a luta das próximas décadas.”
(Roberto Muggiati. Rock, o Grito e oi Mito: A musica pop como forma de comunicação e contracultura. Petrópolis: Vozes,3° edição, 1981, p.11-12)