sábado, 28 de fevereiro de 2009

A ARTE DE OLHAR


Certas fotografias
São mais belas
Do que os lugares
Que dizem,
Ensinam a diferença
Entre ver e olhar,
O quanto os olhos
Guardam em segredo
Sutis filosofias.

Mas quem se importa
Se os olhos transcendem
A objetividade da visão?

CRÔNICA RELÂMPAGO XLVI


Sob determinadas circunstâncias, o passado pode afigurar-se em nossas trajetórias individuais como um confuso somatório de erros e situações que limitam nossas possibilidades de futuro. Diante disso o presente perde substância e não passa de um momento opaco e indefinido condicionado a fatalidades. É como se o tempo nos roubasse toda a iniciativa nos convertendo em involuntários atores de seu teatro. Quando isso acontece nos rendemos as inércias do inevitável e esperamos impacientes o alívio de qualquer imprevisível novidade...

PIERCE , O PRAGMATISO( E O SEGREDO DA LINGUAGEM II

Cabe acrescentar que PEIRCE, em todos os sentidos, pensou e viveu como um homem do século XIX, afinal ele faleceu em 1914 sem ter sido impactado por todas as mudanças da conturbada e revolucionária primeira metade do século XX que, no plano da cultura e da ciência, produziria novas modalidades de percepção e linguagem sem precedentes.
Não se deve estranhar, portanto, seu otimismo cientificista, até porque a segunda metade do século XIX, período em que produziu intensamente, também foi um momento de franca afirmação da cultura e identidade norte-americana.
Mesmo assim, não deixa de chamar atenção um aspecto de sua obra: O não lugar do individuo, o que absolutamente não se justifica inteiramente pela desconstrução do sujeito cartesiano inerente a formulação pragmática.
Em poucas palavras, se para o autor o homem define-se, poder-se-ia dizer, como um animal simbólico através da linguagem, seu desenvolvimento é condicionado a sociedade, a experiência da coletividade, e o individuo diferenciado não seria capaz de contribuir para o seu aperfeiçoamento. Pessoalmente diria quer essa é uma premissa bastante relativa dado que o progresso da cultura humana geralmente depende da inovação de indivíduos contra a inércia das convenções. Isso vale também para o desenvolvimento do conhecimento, da linguagem e seus usos que invariavelmente são invenções, construções condicionadas a um dado momento histórico. De um modo ou de outro, deixo aqui um fragmento do autor sobre o tema:

“ 314- ... basta dizer que não há elemento na consciência que não possua algo correspondente na palavra: a razão é obvia. É que a palavra ou signo usado pelo homem é o próprio homem. Se cada pensamento é um signo e a vida é uma corrente de pensamento, o homem é um signo; o fato de cada pensamento sert um signo exterior prova que o homem é um signo exterior. Quer dizer, o homem e o signo exterior são idênticos, no mesmo sentido que a palavra homo e homem são idênticas. A minha linguagem, assim, é a soma de mim próprio; porque o homem é o pensamento.
315- É difícil o homem entender isso, pois persiste em identificar-se com a vontade, como o seu poder sobre o organismo animal, com força bruta. Ora, o organismo é tão somente um instrumento do pensamento. E a identidade do homem consiste daquilo que faz e pensa, e esta é o caráter intelectual de uma coisa, o expressar algo.
316- O conhecimento real de uma coisa só ocorrerá num estágio ideal de informação completa, de modo que a realidade depende da decisão derradeira da comunidade; o pensamento constituiu-se caminhando na direção de um pensamento futuro, que tem como pensamento o mesmo valor que ele, só que mais desenvolvido; desta forma, a existência do pensamento de agora depende do que virá; tem apenas existência potencial, depende do pensamento futuro da comunidade.
317- O homem individual, cuja existência separada se manifesta apenas através do erro e da ignorância, separado de seus companheiros e daquilo que ele e eles hão de vir a ser, é apenas uma negação. Este é o homem.

... proud man,
Most ignorant of he’s most assured,
His glassy essence.”




(ESCRITOS PUBLICADOS, in Charles Sanders Pirce : seleção de Armando Mora D’Oliveira; tradução de Armando Mora D’ Oliveira e Sergio Pomerangblum. 2 ed. Coleção Os Pensadores. SP: Abril cultural, 1980, p.. 82-83 )

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

PEIRCE E O PRAGMATISTO OU OS SEGREDOS DA LINGUAGEM


CHARLES SANDERS PEIRCE ( 1839- 1931) ainda hoje é considerado por muitos como o mais original e importante pensador norte americano. Fundador e sistematizador do Pragmatismo, alem de criador de uma complexa teoria dos signos, o autor e sua obra constituem uma das mais influentes matrizes do pensamento contemporâneo ocidental.
Através do Pragmatismo Peirce nos propõe uma ruptura com a tradição filosófica que conduz a filosofia moderna a uma aproximação radical com o método cientifico experimental superando a um só tempo qualquer resquício de metafísica e cartesianismo. Nesse sentido ele é um filosofo contemporâneo por excelência.
Apesar da complexidade de sua obra, sua total estranheza ao senso comum, visitá-la para um não especialista em lingüística é um convite a desconstrução de nossos lugares comuns de mundo através de uma profunda reflexão sobre o lugar da linguagem e do pensamento em nossas vidas ou sobre a polêmica em torno de uma ciência positiva que não se propõe a afirmar que algo é positiva e categoricamente verdadeiro... que Peirce absolutamente não resolve; fornece apenas o ponto de partida que as desconstruções da pos modernidade levariam as últimas consequências.

Fragmento de Conferencias sobre o pragmatismo

§ 2. A Construção Arquitetônica do Pragmatismo (1905)

5. ... O pragmatismo não foi uma doutrina circunstancialmente adotada por seus autores. Foi riscado e construído. Para usar a expressão de Kant, arquitetônicamente. Como o engenheiro que antes de erguer uma ponte, navio ou casa, leva em conta as diferentes propriedades dos materiais; e não sua aço, pedra ou cimento que não tenham sido testados antes e os dispõe segundo processos minutados, assim também, ao construir a doutrina do pragmatismo, são analisadas as propriedades de todos os conceitos indecomponíveis e seus processos de composição possíveis. (...)
6. Mas qual é o objetivo do pragmatismo? Que é que se espera dele? Espera-se que ponha um termo às disputas filosóficas que a mera observaçãode fatos não pode decidir, e na qual cada parte afirma que a outra é que está errada. O pragmatismo sustenta que ambos os adversários lavram no equivoco. Atribuem sentidos diferentes as palavras, ou usam-nas sem qualquer sentido definido. O que se deseja, então, é um método capaz de determinar o verdadeiro sentido de qualquer conceito, doutrina, proposição, palavra, ou outro tipo de signo. O objeto de um signo é uma coisa; o sentido outra. O objeto é a coisa ou ocasião, mesmo indefinida, à qual o signo se há de aplicar; o sentido é a idéia que ele liga ao objeto, tanto por via de mera suposição, ou ordem, ou asserção.”


(Charles Sanders Pirce : seleção de Armando Mora D’Oliveira; tradução de Armando Mora D’ Oliveira e Sergio Pomerangblum. 2 ed. Coleção Os Pensadores. SP: Abril cultural, 1980, p.. 6 )

MODO DE VIDA

Gosto de viver
No meu imperfeito
Sentido de vida,
Buscar modos
Para moldar o cotidiano
Mais intimo.
Não importa os sacrifícios,
As janelas de outras vidas,
Perdidas nas possibilidades
De outros destinos.
O fundamental de tudo
É o particular significado
Que me abraça
Em qualquer particular versão
Do meu próprio mundo,
De minha particular busca de vida.
Afinal,
Tudo é uma questão
De subjetivo sentido e significante....

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

ANOITECER

A tarde definha
Entre incertezas
Apagando pegadas
De idéias.

Sigo mudo
Ao encontro
De um intimo infinito
Guardado na noite
Que se aproxima.

Mas o futuro
Rasgou o tempo
Espalhando retalhos
De possibilidades
Nas direções do destino.

Proliferam-se caminhos...

CRÔNICA RELÂMPAGO XLV

O pensamento, enquanto uma das manifestações da consciência humana, pode ser experimentada como uma ferida aberta em vez de um instrumento de razão. Carregamos sempre algum tipo de ânsia que nos guia pelos dias e ocasionalmente projetamos em pequenos objetos de consumo, viagens ou qualquer prazerosa e pueril vontade de momento.
Na maior parte do tempo, essas ânsias permanecem latentes, enterradas em nossos devaneios mais profundos como tesouros obscuros e perdidos de nosso mais convencional sentimento de mundo. Ironicamente, são essas misteriosas inquietações imprecisas que nos levam a viver e buscar futuros.

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

IMPERFEIÇÃO...


Sei que não sou perfeito,
Que minha vida
É imperfeita...

Mas só posso me fazer
No rude esboço
De tudo aquilo
Que poderia ser.

Minhas escolhas,
Entretanto,
Dizem o mundo
Que inventei
Ou que me inventou
Como biografia
E geografia de significados
Diante dos olhos dos outros...

sábado, 21 de fevereiro de 2009

UM POUCO DE HUMOR: HOMENAGEM AO MONTY PHYTON



Vc sabia que no ano de 1589, sob o reinado de sua majestade Elizabeth I, a grande rainha virgem, um dos mais poderosos símbolos do renascimento inglês, o poeta Sir John Harrington inventou um dos mais importantes utensílios domésticos de todos os tempos de civilização ocidental ?! Refiro-me ao nosso intimo e fiel amigo VASO SANITÁRIO, cuja gloriosa história já foi objeto de exposição no museu Gladstone Pottery, na cidade britânica de Stoke-on-Trent em 2001.

Desde o panfleto divulgador da invenção, intitulado “as metamorfoses de Ajax”, publicado pelo próprio inventor, passando pelo inconveniente fedor típico dos banheiros da era vitoriana, até os atuais tempos de pós modernidade e desconstruções, a velha e amiga privada jamais foi questionada ou superada por qualquer outro invento! Ao contrário! Ela permanece como um dos mais importantes símbolos da civilização ocidental e da contribuição britânica a civilidade. Cabe observar que o sistema de descarga e a tampa dobrável também foram inventadas no século XIX por um britânico: Thomas Crapper.

GOD SAVE THE QUEEN!!!!!

O PASSEIO DAS ALEGRIAS


As alegrias adivinham
O rosto do dia,
Passeiam sem destino
Pelas horas a fora.

Posso ouvir
Perfeitamente
A voz distante
De algum ato abandonado
Sobre a mesa do escritório.

Importa-me apenas,
Entretanto,
O impreciso destino
Dessas espontâneas
E gratuitas alegrias
Que se perdem
por ai agora
inspiradas pelas
Três graças...