Cabe acrescentar que PEIRCE, em todos os sentidos, pensou e viveu como um homem do século XIX, afinal ele faleceu em 1914 sem ter sido impactado por todas as mudanças da conturbada e revolucionária primeira metade do século XX que, no plano da cultura e da ciência, produziria novas modalidades de percepção e linguagem sem precedentes.
Não se deve estranhar, portanto, seu otimismo cientificista, até porque a segunda metade do século XIX, período em que produziu intensamente, também foi um momento de franca afirmação da cultura e identidade norte-americana.
Mesmo assim, não deixa de chamar atenção um aspecto de sua obra: O não lugar do individuo, o que absolutamente não se justifica inteiramente pela desconstrução do sujeito cartesiano inerente a formulação pragmática.
Em poucas palavras, se para o autor o homem define-se, poder-se-ia dizer, como um animal simbólico através da linguagem, seu desenvolvimento é condicionado a sociedade, a experiência da coletividade, e o individuo diferenciado não seria capaz de contribuir para o seu aperfeiçoamento. Pessoalmente diria quer essa é uma premissa bastante relativa dado que o progresso da cultura humana geralmente depende da inovação de indivíduos contra a inércia das convenções. Isso vale também para o desenvolvimento do conhecimento, da linguagem e seus usos que invariavelmente são invenções, construções condicionadas a um dado momento histórico. De um modo ou de outro, deixo aqui um fragmento do autor sobre o tema:
“ 314- ... basta dizer que não há elemento na consciência que não possua algo correspondente na palavra: a razão é obvia. É que a palavra ou signo usado pelo homem é o próprio homem. Se cada pensamento é um signo e a vida é uma corrente de pensamento, o homem é um signo; o fato de cada pensamento sert um signo exterior prova que o homem é um signo exterior. Quer dizer, o homem e o signo exterior são idênticos, no mesmo sentido que a palavra homo e homem são idênticas. A minha linguagem, assim, é a soma de mim próprio; porque o homem é o pensamento.
315- É difícil o homem entender isso, pois persiste em identificar-se com a vontade, como o seu poder sobre o organismo animal, com força bruta. Ora, o organismo é tão somente um instrumento do pensamento. E a identidade do homem consiste daquilo que faz e pensa, e esta é o caráter intelectual de uma coisa, o expressar algo.
316- O conhecimento real de uma coisa só ocorrerá num estágio ideal de informação completa, de modo que a realidade depende da decisão derradeira da comunidade; o pensamento constituiu-se caminhando na direção de um pensamento futuro, que tem como pensamento o mesmo valor que ele, só que mais desenvolvido; desta forma, a existência do pensamento de agora depende do que virá; tem apenas existência potencial, depende do pensamento futuro da comunidade.
317- O homem individual, cuja existência separada se manifesta apenas através do erro e da ignorância, separado de seus companheiros e daquilo que ele e eles hão de vir a ser, é apenas uma negação. Este é o homem.
... proud man,
Most ignorant of he’s most assured,
His glassy essence.”
(ESCRITOS PUBLICADOS, in Charles Sanders Pirce : seleção de Armando Mora D’Oliveira; tradução de Armando Mora D’ Oliveira e Sergio Pomerangblum. 2 ed. Coleção Os Pensadores. SP: Abril cultural, 1980, p.. 82-83 )
Não se deve estranhar, portanto, seu otimismo cientificista, até porque a segunda metade do século XIX, período em que produziu intensamente, também foi um momento de franca afirmação da cultura e identidade norte-americana.
Mesmo assim, não deixa de chamar atenção um aspecto de sua obra: O não lugar do individuo, o que absolutamente não se justifica inteiramente pela desconstrução do sujeito cartesiano inerente a formulação pragmática.
Em poucas palavras, se para o autor o homem define-se, poder-se-ia dizer, como um animal simbólico através da linguagem, seu desenvolvimento é condicionado a sociedade, a experiência da coletividade, e o individuo diferenciado não seria capaz de contribuir para o seu aperfeiçoamento. Pessoalmente diria quer essa é uma premissa bastante relativa dado que o progresso da cultura humana geralmente depende da inovação de indivíduos contra a inércia das convenções. Isso vale também para o desenvolvimento do conhecimento, da linguagem e seus usos que invariavelmente são invenções, construções condicionadas a um dado momento histórico. De um modo ou de outro, deixo aqui um fragmento do autor sobre o tema:
“ 314- ... basta dizer que não há elemento na consciência que não possua algo correspondente na palavra: a razão é obvia. É que a palavra ou signo usado pelo homem é o próprio homem. Se cada pensamento é um signo e a vida é uma corrente de pensamento, o homem é um signo; o fato de cada pensamento sert um signo exterior prova que o homem é um signo exterior. Quer dizer, o homem e o signo exterior são idênticos, no mesmo sentido que a palavra homo e homem são idênticas. A minha linguagem, assim, é a soma de mim próprio; porque o homem é o pensamento.
315- É difícil o homem entender isso, pois persiste em identificar-se com a vontade, como o seu poder sobre o organismo animal, com força bruta. Ora, o organismo é tão somente um instrumento do pensamento. E a identidade do homem consiste daquilo que faz e pensa, e esta é o caráter intelectual de uma coisa, o expressar algo.
316- O conhecimento real de uma coisa só ocorrerá num estágio ideal de informação completa, de modo que a realidade depende da decisão derradeira da comunidade; o pensamento constituiu-se caminhando na direção de um pensamento futuro, que tem como pensamento o mesmo valor que ele, só que mais desenvolvido; desta forma, a existência do pensamento de agora depende do que virá; tem apenas existência potencial, depende do pensamento futuro da comunidade.
317- O homem individual, cuja existência separada se manifesta apenas através do erro e da ignorância, separado de seus companheiros e daquilo que ele e eles hão de vir a ser, é apenas uma negação. Este é o homem.
... proud man,
Most ignorant of he’s most assured,
His glassy essence.”
(ESCRITOS PUBLICADOS, in Charles Sanders Pirce : seleção de Armando Mora D’Oliveira; tradução de Armando Mora D’ Oliveira e Sergio Pomerangblum. 2 ed. Coleção Os Pensadores. SP: Abril cultural, 1980, p.. 82-83 )
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