quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

PEIRCE E O PRAGMATISTO OU OS SEGREDOS DA LINGUAGEM


CHARLES SANDERS PEIRCE ( 1839- 1931) ainda hoje é considerado por muitos como o mais original e importante pensador norte americano. Fundador e sistematizador do Pragmatismo, alem de criador de uma complexa teoria dos signos, o autor e sua obra constituem uma das mais influentes matrizes do pensamento contemporâneo ocidental.
Através do Pragmatismo Peirce nos propõe uma ruptura com a tradição filosófica que conduz a filosofia moderna a uma aproximação radical com o método cientifico experimental superando a um só tempo qualquer resquício de metafísica e cartesianismo. Nesse sentido ele é um filosofo contemporâneo por excelência.
Apesar da complexidade de sua obra, sua total estranheza ao senso comum, visitá-la para um não especialista em lingüística é um convite a desconstrução de nossos lugares comuns de mundo através de uma profunda reflexão sobre o lugar da linguagem e do pensamento em nossas vidas ou sobre a polêmica em torno de uma ciência positiva que não se propõe a afirmar que algo é positiva e categoricamente verdadeiro... que Peirce absolutamente não resolve; fornece apenas o ponto de partida que as desconstruções da pos modernidade levariam as últimas consequências.

Fragmento de Conferencias sobre o pragmatismo

§ 2. A Construção Arquitetônica do Pragmatismo (1905)

5. ... O pragmatismo não foi uma doutrina circunstancialmente adotada por seus autores. Foi riscado e construído. Para usar a expressão de Kant, arquitetônicamente. Como o engenheiro que antes de erguer uma ponte, navio ou casa, leva em conta as diferentes propriedades dos materiais; e não sua aço, pedra ou cimento que não tenham sido testados antes e os dispõe segundo processos minutados, assim também, ao construir a doutrina do pragmatismo, são analisadas as propriedades de todos os conceitos indecomponíveis e seus processos de composição possíveis. (...)
6. Mas qual é o objetivo do pragmatismo? Que é que se espera dele? Espera-se que ponha um termo às disputas filosóficas que a mera observaçãode fatos não pode decidir, e na qual cada parte afirma que a outra é que está errada. O pragmatismo sustenta que ambos os adversários lavram no equivoco. Atribuem sentidos diferentes as palavras, ou usam-nas sem qualquer sentido definido. O que se deseja, então, é um método capaz de determinar o verdadeiro sentido de qualquer conceito, doutrina, proposição, palavra, ou outro tipo de signo. O objeto de um signo é uma coisa; o sentido outra. O objeto é a coisa ou ocasião, mesmo indefinida, à qual o signo se há de aplicar; o sentido é a idéia que ele liga ao objeto, tanto por via de mera suposição, ou ordem, ou asserção.”


(Charles Sanders Pirce : seleção de Armando Mora D’Oliveira; tradução de Armando Mora D’ Oliveira e Sergio Pomerangblum. 2 ed. Coleção Os Pensadores. SP: Abril cultural, 1980, p.. 6 )

MODO DE VIDA

Gosto de viver
No meu imperfeito
Sentido de vida,
Buscar modos
Para moldar o cotidiano
Mais intimo.
Não importa os sacrifícios,
As janelas de outras vidas,
Perdidas nas possibilidades
De outros destinos.
O fundamental de tudo
É o particular significado
Que me abraça
Em qualquer particular versão
Do meu próprio mundo,
De minha particular busca de vida.
Afinal,
Tudo é uma questão
De subjetivo sentido e significante....

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

ANOITECER

A tarde definha
Entre incertezas
Apagando pegadas
De idéias.

Sigo mudo
Ao encontro
De um intimo infinito
Guardado na noite
Que se aproxima.

Mas o futuro
Rasgou o tempo
Espalhando retalhos
De possibilidades
Nas direções do destino.

Proliferam-se caminhos...

CRÔNICA RELÂMPAGO XLV

O pensamento, enquanto uma das manifestações da consciência humana, pode ser experimentada como uma ferida aberta em vez de um instrumento de razão. Carregamos sempre algum tipo de ânsia que nos guia pelos dias e ocasionalmente projetamos em pequenos objetos de consumo, viagens ou qualquer prazerosa e pueril vontade de momento.
Na maior parte do tempo, essas ânsias permanecem latentes, enterradas em nossos devaneios mais profundos como tesouros obscuros e perdidos de nosso mais convencional sentimento de mundo. Ironicamente, são essas misteriosas inquietações imprecisas que nos levam a viver e buscar futuros.

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

IMPERFEIÇÃO...


Sei que não sou perfeito,
Que minha vida
É imperfeita...

Mas só posso me fazer
No rude esboço
De tudo aquilo
Que poderia ser.

Minhas escolhas,
Entretanto,
Dizem o mundo
Que inventei
Ou que me inventou
Como biografia
E geografia de significados
Diante dos olhos dos outros...

sábado, 21 de fevereiro de 2009

UM POUCO DE HUMOR: HOMENAGEM AO MONTY PHYTON



Vc sabia que no ano de 1589, sob o reinado de sua majestade Elizabeth I, a grande rainha virgem, um dos mais poderosos símbolos do renascimento inglês, o poeta Sir John Harrington inventou um dos mais importantes utensílios domésticos de todos os tempos de civilização ocidental ?! Refiro-me ao nosso intimo e fiel amigo VASO SANITÁRIO, cuja gloriosa história já foi objeto de exposição no museu Gladstone Pottery, na cidade britânica de Stoke-on-Trent em 2001.

Desde o panfleto divulgador da invenção, intitulado “as metamorfoses de Ajax”, publicado pelo próprio inventor, passando pelo inconveniente fedor típico dos banheiros da era vitoriana, até os atuais tempos de pós modernidade e desconstruções, a velha e amiga privada jamais foi questionada ou superada por qualquer outro invento! Ao contrário! Ela permanece como um dos mais importantes símbolos da civilização ocidental e da contribuição britânica a civilidade. Cabe observar que o sistema de descarga e a tampa dobrável também foram inventadas no século XIX por um britânico: Thomas Crapper.

GOD SAVE THE QUEEN!!!!!

O PASSEIO DAS ALEGRIAS


As alegrias adivinham
O rosto do dia,
Passeiam sem destino
Pelas horas a fora.

Posso ouvir
Perfeitamente
A voz distante
De algum ato abandonado
Sobre a mesa do escritório.

Importa-me apenas,
Entretanto,
O impreciso destino
Dessas espontâneas
E gratuitas alegrias
Que se perdem
por ai agora
inspiradas pelas
Três graças...

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

AS ORIGENS DA POS MODERNIDADE SEGUNDO PERRY ANDERSON


AS ORIGES DA POS MODERNIDADE...Este livro do historiador britânico Perry Anderson, como o próprio título sugere, é indiscutivelmente uma referência importante para a compreensão das origens da Pos moderno enquanto ideia e conceito, mas em contra partida é questionável para uma definição e real compreensão da pos modernidade, suas implicações e diversos significados culturais e epstemológicos. Neste ensaio, o autor baseia-se unicamente nos textos de Frederic Jamenson sob o tema, nada mais natural já que fora escrito originalmente como introdução para uma coletãnea de textos do autor sobre o tema. O problema é que em sua leitura do pos moderno Anderson, apesar da erudição, é lamentavelmente metodologicamente inspirado por um marxismo estreitro produzindo uma narrativa pouco convincente em sua insistencia em reduzir a pos modernidade em uma “ideologia” apologetica do capitalismo tardio mediante reducionismos economicistas e politicos.
Mas, como já disse, seu ensaio é importante para discursão das origens da pos modernidade que, segundo ele, em uma tese muito original, tem seus primordios ou proto-história na America Espanica e na Inglaterra. Vale apena ilustrar essa tese através do fragmento seguinte que tambem procura lançar luzes sobre a origem do modernismo, embora eu discorde totalmente dessa leitura...:

“Pos- modernismo”, como o termo e idéia, supõe o uso corrente de “modernismo”. Ao contrário da expectativa convencional, ambos nasceram numa periferia distante e não no centro do sistema cultural da época: não vem da Europa ou dos Estados Unidos, mas da América Hispânica. Devemos a criação do termo “modernismo” para designar um movimento estético a um poeta nicaragüense que escrevia num periódico guatatemalteco sobre um embate literário no Peru. O inicio por Rubén Dario, em 1890, de uma tímida corrente que levou o nome de modernismo inspirou-se em várias escolas francesas-românica, parnasiana, simbolista- para fazer uma “declaração de independência cultural” face a Espanha, que desencadeou naquela década um movimento de emancipação das próprias letras espanholas em relação ao passado. Enquanto em inglês a noção de “modernismo” só passou ao uso geral meio século depois, em espanhol já integrava o cânone da geração anterior. Nisso os retardatários ditaram os termos do desenvolvimento metropolitano- assim como no século XIX “liberalismo” foi uma invenção do levante espanhol contra a ocupação francesa na época de Napoleão, uma exótica expressão de Cádiz que só muito depois se tornaria corrente nos salões de Paris ou Londres.
Assim, também a idéia de um “pós modernismo” surgiu pela primeira vez no mundo hispânico, na década de 1930, uma geração antes de seu aparecimento na Inglaterra ou nos Estados Unidos. Foi um amigo de Unamuno e Ortega, Frederico de Onís, quem imprimiu o termo posmodernismo. Usou-o para descrever um refluxo conservador dentro do próprio modernismo: a busca de refúgio contra o seu formidável desfio lírico num perfeccionismo don detalhe e do humor irônico, em surdina, cuja principal característica foi a nova expressão autêntica que concedeu às mulheres. Onís contrastava esse modelo- de vida curta, pensava, com sua seqüela-, um ultramodernismo que levou os impulsos radicais do modernismo a uma nova intensidade numa série de vanguardas que criaram então uma “poesia rigorosamente contemporânea” de alcance universal. A famosa antologia de poetas de língua espanhola organizada por Onís segundo esse esquema foi publicada em Madri em 1934, quando a esquerda assumiu o comando da república na contagem regressiva para a Guerra Civil. Dedicada a Antônio Machado, seu panorama do “ultramodrnismo” terminava em Llorca, Vallejo, Borges e Neruda.”

( Perry Anderson. As origens da pós-modernidade/tradução de Marcus Prenchel. RJ: Jorge Zahar ed., 1999, p. 9-10 )

FUTURO AMANHÃ

Aguardo uma manhã
De sol e chuva,
Um dia de paz
E liberdade,
De jornais em branco
E ruas vazias.

Preciso urgentemente
Esquecer um pouco do mundo,
Escrever meu nome na areia
E explorar os mares
Contando as estrelas do ceu
Testemunhando
As travessuras da lua.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

CRÔNICA RELÂMPAGO XLIV

A busca pela realização individual ou pessoal ocupa um lugar privilegiado no imaginário contemporâneo, o que pode parecer a primeira vista um traço de continuidade entre o ultimo século e o atual. Mas hoje em dia isso acontece para alguns de modo bastante peculiar. Não mais como uma mera afirmação egoica socialmente imposta e pouco original, mas como uma meta biográfica cada vez mais subjetiva e imprecisa, uma afirmação daquilo que irracionalmente escolhemos ou nos escolhe pelos labirintos da existência como expressão radical da singularidade.
Deste ponto de vista, tal busca não mais se associa exclusiva e unilateralmente a adesão a essa ou aquela persona profissional,religiosa ou opção sexual. Não se cristaliza em torno de qualquer forma de identidade convencional, mas aparece associada a assimilação da diversidade como um dado ontológico, um referencial que nos permite reunir em nossas próprias vidas a diversidade que define hoje o próprio mundo.
De muitos modos somos hoje saudavelmente incoerentes e confusos, capazes de articular coisas diversas e disparatadas em uma unidade definida pela diversidade como principio. Afinal, transitamos diariamente entre várias “tribos” ou realidades culturais em um mesmo espaço urbano ou através da Web sem que isso nos incomode ou espante.
A versatibilidade parece ser uma das mais marcantes características das pioneiras gerações desse novo milênio. Talvez isso lhes permita ir mais longe do que qualquer uma foi até agora na continua invenção e reinvenção daquilo que conhecemos como realidade.