quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

KISS-ME

Meus lábios vazios
Aprenderam a sonhar
A meta realidade
Do acontecimento de um beijo,
Ao vislumbrar o labirinto
Do segredo vivo das sensações
Simples,
Até o limite hibrido
Entre a verdade e o sonho
Alem de toda fantasia.

Nas profundezas do saber o corpo
Saboreio pensamentos soltos
Que atualizam a falsa crença
Na criança que fui um dia.

WONDERLAND


Sei que não sou eu
Aquela pálida face
Que me observa
Sem saber sequer que existo
Ou existe.

Surpreendo,
Na superfície do espelho,
Um rosto quase meu,
Provisório,
Completamente em silêncio
No traço duro, sem expressão,
Talhado por algum nada,
Quase absoluto.

Visitante, talvez,
De alguma outra
Paralela e simétrica
Realidade
Onde,
Vazio de mim mesmo,
Eu viva a vida unicamente
Na objetividade precária
Do mundo.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

METALLICA E A FILOSOFIA...


Uma obra realmente indispensável à estante de qualquer amante do rock e, especialmente, a dos fãs ns do Metallica, é a original e fascinante coletânea organizada por William Irwin, Metallica e a Filosofia: Um curso intensivo de cirurgia cerebral. O organizador, professor associado de filosofia em King’s College, Pensilvana, notabilizou-se pela edição de trabalhos coletivos que, tais como este, aproximam os temas e questões clássicas do pensamento filosófico do vasto e complexo universo de nosso imaginário contemporâneo. O melhor exemplo talvez seja a também coletânea Matrix: Bem vindo ao Deserto do Real ou Seinfeld e a Filosofia.
Falando especificamente desta coletânea, dedicada aquela que pode ser considerada a maior banda de Heavy Metal ainda em atividade nos Estados Unidos, a primeira coisa que chama atenção é que pelo rigor e espontaneidade dos textos e a coerência com que os autores aproximam as letras do Metallica de questões filosóficas complexas como a falta de sentido da existência e sua resposta existencialista, ou a complexa filosofia moral de Kant, pode chamar atenção até mesmo de potenciais leitores que não tenham diretamente qualquer afinidade ou interesse pela musica do Metallica.
O livro é dividido em cinco "discos": O primeiro, “Seguindo através do Nunca” reúne ensaios dedicados a uma quase apresentação da banda e sua mensagem, abordando temas como a rejeição positiva e necessária das virtudes cristãs, alcoolismo, loucura, mas acima de tudo, auto afirmação. Já o segundo "disco" Existensica: o encontro do Metallica com o Existencialismo, dispensa qualquer apresentação. O considero o melhor de todo o livro, especialmente pelos brilhantes ensaios de Jemery Wisnewski “A Milícia do Metal e o Clube Existencialista” e o de Philip Lindholm “ A Luta Interior: Hetfield, Kierkegaard e a busca pela autenticidade”. O terceiro "disco", “ Viver e morrer, rir e chorar”, nos conduz a questões espinhosas como suicídio, eutanásia e pena de morte, enquanto o quarto “ Metafísica, epistemologia e Metallica” nos confronta com temas como o da relação mente corpo, percepção da realidade e identidade. Por fim, o quinto "disco", Fãs e a banda, é dedicado mais diretamente a relação da banda com seus fãs sem entretanto cair na mera apologia gratuita e passional.
O maior valor dessa desafiadora brochura negra é o de nos induzir ainda hoje a explorar o vinculo vital ao rock clássico dos anos 60, entre algo que poderíamos chamar de Contra Cultura, a filosofia formal e o Rock enquanto uma matriz cultural permanente associada as inquietudes e questionamentos do individuo frente as convenções e conformismos que em maior ou menor medida condicionam a existência de cada um nas tantas redes de sociabilidades que definem as pós sociedades do mundo contemporâneo.

PERSONAL POEM

Vejo em seus olhos
Todas as coisas do mundo.
Pois o amor
É pródigo em enganos
Quando a razão
Se rende a emoção.
Mesmo assim,
Queria eterno esse
Momento,
Onde
Pela certeza dos corpos
Percorremos
Incertezas de pensamento
Até o ponto
De saber o mundo
Lá fora
Como mera ilusão...

GREEN POEM

A Lua
Ainda espia florestas
Enquanto o sol
Supera o horizonte.

O verde dança
Entrelaçado com o vento
A suave melodia das pequenas coisas.

Pedras contemplam a eternidade
Em estranhos e silenciosos diálogos.

O mundo parece tão simples
Quanto o ar que respiro
Na linguagem viva
Das sensações do corpo
Sem qualquer pensamento
Ou rosto.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

O CORPO COMO MEDIDA DE TODAS AS COISAS HUMANAS


“Desse mundo físico, em si mesmo desinteressante o homem é parte. Seu corpo, como qualquer outro tipo de matéria, é composto por elétrons e prótons, que, até onde sabemos, obedecem às mesmas leis a que se submetem os elétrons e prótons que não constituem animais e plantas. Alguns sustentam que a fisiologia jamais poderá ser reduzida à física, mas seus argumentos não são muito convincentes, de sorte que parece prudente supor que estejam errados. Aquilo que chamamos de nossos “pensamentos” Prece depender da disposição de trilhos em nosso celebro, do mesmo modo que as jornadas dependem de rodovias e das estradas de ferro. A energia utilizada no ato de pensar parece ter uma origem química; por exemplo, uma deficiência de iodo fará de um homem inteligente um idiota. Os fenômenos mentais parecem estar intimamente vinculados a uma estrutura material. Se assim é, não podemos supor que um elétron ou um próton solitário seja capaz de “pensar”, seria como esperar que um indivíduo sozinho pudesse jogar uma partida de futebol. Tampouco podemos supor que o pensamento individual possa sobreviver à morte corporal, uma vez que ela destrói a organização do cérebro e dissipa a energia por ele utilizada.”

(Bertrand Russell No que Acredito/ tradução de André de Godoy Vieira. Porto Alegre: L & PM, 2007, p. 31)




Raramente nos damos conta do quanto a vida é essencialmente determinada pela carne e pelo sangue, o quanto somos essencialmente nosso corpo físico, que não é apenas cede do desejo, do prazer, da necessidade e da dor, mas a medida de todas as coisas humanas, a começar por aquilo que concebemos como realidade.
A tradição judaico cristã, uma das matrizes do imaginário ocidental, fundamenta-se, entretanto, justamente sob a recusa do corpo e do mundo material em beneficio de um ideal vago e abstrato de espiritualidade. Mas tal tradição hoje em dia foi de muitas maneiras ultrapassada pelos novos saberes constituídos pelas ciências medicas/biológicas cuja aplicabilidade no cotidiano complexibilizou consideravelmente nossas representações e experiências do corpo e suas dinâmicas. Nosso corpo já não é mais uma silenciosa sombra opaca, como se manteve na cultura ocidental até, pode-se dizer, o séc. XIX. Tornou-se, ao contrário, objeto de atenções e cuidados, de uma estética e disciplina, que pouco a pouco promovem a superação de suas representações como um mero objeto, como algo externo ao nosso “eu”, para transformá-lo em sujeito, como aquilo que essencialmente somos.
A importância de tal reconfiguração cultural mostra-se decisiva para redefinição do locus do indivíduo, especialmente no caso da afirmação dos direitos das mulheres, quando pensamos na descriminalização do aborto como condição da conquista do livre arbítrio e dominio sobre o próprio corpo em exercicio de subjetividades, escolhas e vivências.

TEMPO E INSTANTE

No cotidiano rito
De vestir rotinas
Bebo as horas,
Escrevo-me em devaneios
Até o limite do mero estar aqui e agora.


Sinto que em tudo
Passo,
Que me faço passado
Em cada ato de certeza e futuro.

Quanto maior
O tempo
Acumulado no corpo
Menor se torna
A certeza no rosto.

Que importa?
Em meu presente
Sei todos os tempos vividos
No eterno sabor de um instante
magico e infinito.

A ROTINA PELO AVESSO

Respiro um descartável céu azul
Na gratuita manhã
Que me impõe a vida.

Sei de antemão
o dia que terei...

Mas pequenos fatos visitam-me
Como uma brisa fresca
No calor da rua
Sussurrando o imprevisível....

Apreendo o nada
Que será
Amanhã

domingo, 30 de novembro de 2008

RELIGIÃO PESSOAL: A EXPERIÊNCIA ARCAICA DO SAGRADO E O INDIVIDUO CONTEMPORÂNEO


A experiência subjetiva do sagrado é de fato uma das formas como a psique objetiva se revela na experiência singular de um indivíduo. Como já havia percebido WILLIAM JAMES, o sentimento religioso é uma entidade mental multifacetada que se revela de modo autêntico e profundo enquanto assimilação pessoal e singular de pensamentos e sentimentos.
Em suas próprias palavras

“Num sentido, pelo menos, a religião pessoal se revelará mais fundamental do que a teologia ou o eclesiasticismo. Depois de estabelecidas, as igrejas passam a viver de uma tradição de segunda mão; mas os fundadores de cada igreja deveram o poder, originalmente, à sua comunhão direta e pessoal com o divino. Não somente os fundadores sobre- humanos, o Cristo, o Buda, Maomé, mas todos os instituidores de seitas cristãs estão nesse caso; de modo que a religião pessoal deve ainda parecer primordial até aos que continuam a julga-la incompleta.
(...)
A religião, por conseguinte, como agora lhes peço arbitrariamente que aceitem, significará para nós os sentimentos, atos e experiências de indivíduos em sua solidão, na medida em que se sintam relacionados com o que quer que possam considerar o divino. Uma vez que a relação tanto pode ser moral quanto física ou ritual, é evidente que da religião, no sentido em que a aceitamos, podem brotar secundariamente teologias, filosofias e organizações eclesiásticas
.”[1]

A “religião pessoal” caracterizada pelo autor, da qual a alquimia medieval, com as devidas reservas pode ser interpretada como um dos seus mais relevantes exemplos, pressupõe um estado de espirito onde a “ilha egóica” é transcendida pelo “continente inconsciente”. O arrebatamento pela intuição do infinito conduz a realidade psicológica do invisível, a experiência “redentora” do self que, devo dizer, vai muito além da cristalização de qualquer dogma ou da adesão mecânica a uma “comunidade do espirito”. Trata-se obviamente de uma gnose ou de uma opus.
Inspirando-me em JUNG, diria que a aventura espiritual do nosso tempo consiste na entrega da consciência ao indeterminado e indeterminável da psique. Esta é por natureza uma experiência pessoal na qual o indivíduo confronta-se involuntariamente com as representações primordiais da alma coletiva. Ela compreende, em outras palavras, a busca e realização em cada pessoa de uma individualidade psicológica, a uma auto descoberta de si mesmo como totalidade e unicidade.
Assim como através do corpo introjetamos psicologicamente o mundo exterior e físico, através de nossas fantasias religiosas, sejam laicas ou sacras, apreendemos o mundo interior da psique. Como conclui WILLIAM JAMES:

“ Segundo a minha maneira de ver, o modo pragmático de considerar a religião é o mais profundo. Dá-lhe corpo assim como lhe dá alma, fá-lo reivindicar para si, como tudo o que é real precisa reivindicar, algum reino característico de fatos. O que são os fatos mais caracteristicamente divinos, independentemente do influxo real de energia no estado de fé e no coração, não sei. Mas a super crença à qual estou pronto para aventurar-me pessoalmente é que eles existem. Toda a corrente da minha educação tende a persuadir-me de que o mundo da nossa consciência presente é apenas um dentre os inúmeros mundos de consciência que existem, e que esses outros mundos devem conter experiências providas também de um significado para a nossa vida; e que embora tais experiências e as experiências deste mundo sejam discretas, em certos pontos se tornam contínuas, e energias mais elevadas filtram-se até nós.”[2]

O mundo da consciência demarcado pelo pensamento religioso, desde a decadência da influência da Igreja Católica de Roma sobre a cultura ocidental, pode-se dizer, iniciada com as heresias do século XII, consolidada com a Reforma Protestante e recentemente complementada pelo refluxo de todas as religiões institucionais frente ao desafio do deslocamento da identidade do indivíduo, tema corrente entre os autores ditos “pós-modernos”, parece apontar para afirmação crescente da religiosidade como uma experiência cada vez mais pessoal e subjetiva. O protestantismo e posteriormente o esoterismo do século XIX, cujas marcas são claras na poesia de um Baudelaire, de um Gerald de Nerval ou de um Willian Blake, anunciam inequivocamente uma profunda transformação do relacionamento existente entre o indivíduo e o sagrado cujas proporções não podem ser esgotadas neste breve ensaio. Não seria, entretanto, precipitado toma-la como uma possível redescoberta do indivíduo e redimensionamento da consciência do coletivo. Falar sobre isso significaria, entretanto, extrapolar os limites da ciência e mergulhar no pântano escuro das especulações subjetivas, caminho que aproximaria as ciências humanas da categoria de arte, de criação.

[1] William James. As variações da experiência religiosa. Um estudo sobre a natureza humana. SP: Cultrix, 1991, p32.
[2] Ibidem , p. 320.

LOVE


“Tudo me gira em torno.
A expectativa me faz sentir
Vertigens.
O deleite imaginário é de tal modo
Doce
Que me encanta os sentidos”

Shakespeare. Tróilo e Cressida.
III : ii


O amor se faz em sangue
E carne
No buscar ingrato do desejo
Pelo outro de si mesmo.

É um jogo estranho
Entre presença,
Ausência
E eternidade
Em aprendizados de alteridades.

O amor é um encontro
De duas bélicas vontades
Na intensidade da vida
E encanto de naturezas.