terça-feira, 11 de novembro de 2008

A PRIMEIRA GRANDE GUERRA MUNDIAL: 90 ANOS DEPOIS...


11 de novembro de 2008 marca 90 anos do fim da Primeira Grande Guerra Mundial. Mas cabe dizer que em agosto de 1914 muitos europeus marcharam para os campos de batalha entre jubilosas manifestações e festas entoando ridículos cantos patrióticos.
As multidões nacionalistas que então agrediam, discriminavam e desconfiavam dos poucos pacifistas da época, não tinham a menor idéia de que nos anos que se seguiriam o ocidente seria palco de horrores nunca antes concebidos. A ciência da guerra unia-se triunfante as políticas nacionais sob o signo do sacrifício, da “Sagração da Primavera”.. .
Noventa anos depois é insólito constatarmos impotentes e perplexos o quanto a guerra e a violência tornaram-se atividades capazes de comprometer o futuro da própria espécie humana pela mera e subjetiva decisão política de Estados... De que outro modo podemos, por exemplo, pensar a ocupação norte americana do bizarro Iraque e as pretenções a conquista da bomba atômica no Irã, na India, Paquistão, etc. sob o fantasma de uma nova "querra fria" multilateral e escalada armamentista?

INDIVIDUALISMO, ALTERIDADE E POS MODERNIDADE

A aceitação do heterogêneo e do marginal, o reconhecimento e integração da diversidade, do hibrido e a conseqüente rejeição das totalidades e totalitarismos morais, dos meta discursos identidários, constituem um dos aspectos mais decisivos do tempo presente, diga-se de passagem, formatado por uma pauta que podemos tomar como “pós- moderna”.
O conseqüente relativismo axiológico, a perda de um parâmetro universal que estabeleça princípios comuns as performances das sociabilidades e intercâmbios humanos, a eleição da alteridade como referencial e premissa de uma Ética contemporânea, simboliza a recusa e contra-posição ao “neo conservadorismo” dos defensores do retorno a uma moral e valores tradicionais como desesperada busca de segurança e certeza frente uma realidade cada vez mais ilegível.
O mundo em que vivemos já não é mais o mesmo que o dos nossos pais ou avós, se quer podemos chamá-lo de “nosso” sem ariscar a autenticidade de uma pluralidade de possibilidades de mundos dentro de mundos. Afinal, a grande a maravilhosa mudança é que não é mais a sociedade que molda e condiciona o individuo, mas o individuo que molda e relativamente transcende a própria idéia de sociedade...

domingo, 9 de novembro de 2008

POEMA SENSUALISTA

O tempo não passa
De uma convincente ilusão
Na opaca fantasia
Do corpo e da alma
Entre as coisas...

Pois todos os acontecimentos
De uma vida inteira,
Não cabem em um único segundo
De pura eternidade.

Mas quantas eternidades valem
Um mero segundo de absoluto prazer?

Viver é mais importante que eternidades
Quando um único segundo
Dentro da gente
Nunca tem fim...

sábado, 8 de novembro de 2008

VIOLÊNCIA E CONTEMPORÂNEIDADE


Um dos mais curiosos fenômenos que caracterizam a contemporaneidade é o da liberdade da violência enquanto linguagem e modo de expressão de indivíduos, nações e bizarras organizações terroristas. Atualmente, a violência já não é um fenômeno instintivo condicionado a ritualista simbólica, como foi durante as guerras religiosas da Europa no inicio da modernidade, e muito menos uma prática de Estados através da guerra limitada por um rígido código ético como no séc. XIX.
A violência do nosso tempo tornou-se impessoal e incondicionada refletindo assim uma imagem de realidade onde a vida individual revela-se de muitas e ingratas formas um valor relativo frente aos interesses e práticas coletivos.
Quando grupos, sociedades, códigos morais falam mais forte do que o reconhecimento da diversidade e do outro, o uso ilimitado da força é um recurso legitimo tanto para um psicopata quanto um chefe de Estado.
Tudo isso significa que nossas representações da morte estão se modificando ou, para ser mais preciso, se laicizando de um modo que não considerávamos possível.
O celebre historiador britânico Eric Hobsbawn nos ajuda a pensar este espinhoso tema no fragmento abaixo:

“Gostaria de ilustrar a amplitude do abismo entre o período anterior a 1914 e o nosso. Não me apoiarei no fato de que nós, que passamos por desumanidade maior, tendemos hoje a ficar menos chocados com as moderadas injustiças que envergonharam o século XIX. Um erro isolado da justiça na França ( o caso Dreyfus), por exemplo, ou vinte manifestantes presos por uma noite pelo exercito alemão em uma cidade da Alsácia ( o incidente de Zabern em 1913). O que desejo lembrar a vocês são normas de conduta. Clausewitz, escrevendo após as Guerras Napoleônicas, pressupunha que as forças armadas dos Estados civilizados não executariam seus prisioneiros de guerra ou não devastariam países. As guerras mais recentes em que a Grã-Bretânha se envolveu, ou seja, a Guerra das Malvinas e a Guerra do Golfo, sugerem que isso não é mais pressuposto. Além disso, para citar a 11º edição da Enciclopédia Britânica, “a guerra civilizada, dizem-nos os manuais, confina-se, na medida do possível, à incapacitação das forças armadas do inimigo; caso contrário, a guerra continuaria até que uma das partes fosse exterminada. ‘É por um bom motivo”’- e aqui a Britânica cita Vattel, um advogado internacional do nobre Iluminismo do século XVIII- “‘que essa prática passou a ser um costume nas nações da Europa’”. Não é mais um costume das nações da Europa ou de nenhum outro lugar. Antes de 1914, a concepção de que a guerra devia se dar contra combatentes e não contra não-combatentes era uma concepção comum a rebeldes e revolucionários. O programa do Narodnaya Volya, o grupo russo que assassinou o czar Alexandre II, afirmava explicitamente que “indivíduos e grupos alheios a sua luta contra o governo seriam tratados como neutros, sendo suas pessoas e propriedades invioláveis”. Aproximadamente na mesma época, Frederick Engels condenava os fenianos irlandeses ( com quem estavam todas as suas simpatias) por colocarem uma bomba em Westminster Hall, arriscando assim as vidas de inocentes ali presentes. Como um velho revolucionário com experiência em conflito armado, ele achava que a guerra deveria ser movida contra combatentes e não contra civis. Hoje, esse limite não é mais reconhecido por revolucionários e terroristas, como também não o é pelos governos que promovem guerras.
Sugiro então uma breve cronologia dessa escorregada pelo declive de barbarização. São quatro os seus estágios principais: a primeira Guerra Mundial, o período da crise mundial desde o colapso de 1917-20 até o de 1944-7, as quatro décadas da era da Guerra Fria e, por ultimo, o colapso geral da civilização conforme conhecemos sobre sobre extensas áreas do mundo a partir dos anos 80. Há uma óbvia continuidade entre os três primeiros estágios. Em cada uma das lições anteriores de desumanidade do homem para com o homem foram aprendidas e se tornaram a base de novos avanços de barbárie. A mesma conexão linear não existe entre o terceiro e quarto estágios. O colapso dos anos 80 e 90 não se deu graças as ações de agentes humanos de decisão que poderiam ser reconhecidas como bárbaras, como o os projetos de Hitler e o terror de Stalin, lunáticas, como os argumentos justificando a corrida rumo a guerra nuclear, ou ambas, como a Revolução Cultural de Mão. O colapso ocorreu porque os agentes de decisão não sabem mais o que fazer quanto a um mundo qu escapa ao seu ou ao nosso controle, e porque a transformação explosiva da sociedade e da economia a partir de 1950 produziu um colapso e ruptura sem precedentes nas regras que governam o comportamento em sociedades humanas. O terceiro e quarto estágios, portanto, superpõe-se e interagem. Hoje as sociedades humanas estão falindo, mas sob condições em que o padrão de conduta pública permanecem ao nível a que foram reduzidos nos períodos anteriores de barbarização. Até agora não deram nenhum indício significativo de estarem novamente se elevando.”

(Eric Hobsbawn. Sobre História/ tradução de Cid Knipel. Companhia das letras, 1998, p. 270)

MATURIDADE E AFIRMAÇÂO DO INDIVIDUO NO TEMPO DE UM PONTO DE VISTA TOTALMENTE SUBJETIVO

Subjetivamente, considero a maturidade, enquanto meta ideal do desenvolvimento da personalidade humana, como um estado de consciência onde já não somos movidos por grandes paixões, em que não cultivamos grandes fantasias de futuro e ambições maiores do que a permitida pela realidade etérea de todos os dias.
A maturidade é, em suma, um modo de olhar o mundo vivenciar os fatos cotidianos, que pressupõe certo despreendimento e relativa indiferença a todas as coisas.
A maturidade é essencialmente aristocrática... um modo peculiar e impreciso, através do qual aprendemos a lidar com a fatalidade do acaso de nossas diversas e múltiplas individualidades e finitudes...

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

PRESENT...

Ignoro o anonimato do outro,
O universal filosófico,
As paixões de momento,
Em nome de um segredo em movimento,
Da minha individualidade
Em metafísicas laicas em sonhos de liberdade.


O presente
É um eterno estar por vir,
Um constante avançar de futuros
Que se perdem,
Que nascem
Ou não percebemos
Em apoteoses de ansiedades e desejos.

No acontecer do rosto
Nos transformamos neles
Apesar de presos ao tudo igual diário.


Mas a vida é imprevisível
Em cada lance de dados do acaso
E diárias cotas de fantasia.

FREE...

Sou, de algum modo,
Meu próprio lugar no mundo.
Ignoro as caladas paisagens
Da cidade em volta,
Os noticiários nacionais e internacionais
Que pouco me dizem aos sentidos d’alma.

Ignoro o anonimato do outro,
O universal filosófico,
As paixões de momento,
Em nome de um segredo em movimento...
minha individualidade
Ou laica metafísica
De sonhos de liberdade.

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

HALLOWEEN E SAMHAIN


O “Halloween” associas-se na tradição celta irlandesa ao fim do verão, ao dialogo entre o mundo dos vivos e dos mortos, imagem distante da carnavalesca versão popularizada nos Estados Unidos e cada vez mais difundida globalmente.
Podemos tomar a data, apropriada pela cristandade medieval através de sua degeneração em dia de todos os santos ou finados (2 de novembro), como um momento, alem do cristianismo e suas representações negativas “da carne”, para pensar a morte e a temporalidade, nossa finitude e buscas de significados para a própria vida. Logo, ela nos conduz a memória de nossos entes queridos e mortos tanto quanto ao nosso próprio desaparecimento futuro e certo. Daí sua associação ao medo e ao terror no imaginário contemporâneo que, na verdade, não passa de um reducionismo e caricatura.
Mas há ainda na data vivida os ecos do antigo festival de Samhain ( fim do verão), celebrado entre 30 de outubro e 2 de novembro pelos antigos celtas.
Seja de que forma for, que cada um viva neste 31 de outubro sua hallow evening,..

CITY...

Futuros dançam em um céu azul
Contemplando terras desconhecidas
E almas desfalecidas
Em desejo aberto
Ao novo dos dias.

A cidade é um labirinto
De desejos,
Um impasse de vidas
Em busca...
Busca de que?

O cotidiano do caos de luzes,
Movimentos e cores vivas
Conduz a estética das ruas,
Ao movimento de coisas e pessoas
Sem qualquer real direção
Ou significado...

Sigo em silêncio
Em algum vento
Perfumes de outros mundos
Ignorando os mudos sinais das ruas.

CRÔNICA RELÂMPAGO XXXIX


Nossas expectativas de acontecimento futuro e domínio dos fatos hoje em dia foi reduzida aos sonhos de consumo. Comprar um novo aparelho de celular, uma TV, um computador de ultima geração ou um carro novo, é agora nosso modo de administrar minimamente o cotidiano.
O prazer de comprar vai alem do instinto de posse e do status social, é um modo de organizar a própria vida por aquilo que podemos ter contra a incômoda e indeterminada ansiedade de “um algo mais” que nos escapa e já não pode ser plenamente sanado por qualquer experiência religiosa. Afinal, a idéia de totalidade já não complementa o dia a dia de nossa finitude.
As cotidianas tarefas cotidianas do estar entre os outros em contextos diversos e maçantes de mecânicas obrigações tem como contra partida uma administração das exigências da vontade, não mais como capacidade de intervir no mundo ou como desejo mas como estranheza do próprio mundo e sentimento de inadaptação ontológica que nos leva a ansiedade de querer algo mais do que o admitido pelo nosso precário sentimento de realidade. É em função desse querer difuso que construímos nossas biografias.