quinta-feira, 30 de outubro de 2008

O SENTIDO DA BRISA

Colhi da brisa
Alguns sentidos
E significados
Do nada fazer.

Basta-me
Neste instante
Não pensar em nada
E deixar-me vagar
Nas horas
Do sem tempo dos devaneios
E pequenos prazeres.

O sentimento da brisa
Que me afaga o rosto
É todo o significado
De que preciso
Nessa preguiça de agora
E esquecimento das horas tortas
Do mundo lá fora.

terça-feira, 28 de outubro de 2008

SIMBOLO, REALIDADE E COINCIDÊNCIA DOS OPOSTOS


O que mais define o símbolo em sua apropriação contemporânea como meta- significado em imagens, e meta linguagem, é a capacidade de dizer os opostos na transcendência de qualquer possibilidade de dualismo Nessa particularidade o pensar em símbolos se distancia nitidamente da lógica que define o mito cristão e seu peculiar simbolismo.
Nesse sentido julgo muito interessante reproduzir aqui um fragmento de Mircea Eliade:

“Tentamos explicar a origem dos “símbolos” através da impressão sensível, exercida diretamente sobre o córtex cerebral, pelos grandes ritmos cósmicos ( o curso do sol, por exemplo). Não nos cabe discutir essa hipótese. Mas o problema da própria “origem” parece-nos ser um problema mal colocado ( ver “Simbolismo e História”). O símbolo não pode ser o reflexo dos ritmos cósmicos enquanto fenômenos culturais, porque um símbolo sempre revela alguma coisa a mais, além do aspecto da vida cósmica que deve representar. Os simbolismos e os mitos solares, por exemplo, revelam-nos também um lado “noturno”, “mau” e “fúnebre” do sol, o que não é evidente à primeira vista no fenômeno solar como tal. Este lado de um certo modo negativo, não percebido no Sol enquanto fenômeno cósmico, é constitutivo do simbolismo solar; o que prova que, desde o começo, o símbolo aparece como uma criação da psique. Isto se torna ainda mais evidente quando lembramos que a função de um símbolo é justamente revelar a uma realidade total, inacessível aos outros meios de conhecimento: a coincidência dos opostos, por exemplo, tão abundantemente e simplesmente expressada pelos símbolos, não é visível em nenhum lugar do Cosmos e não é acessível à experiência imediata do homem, nem ao pensamento discursivo. Entretanto, evitemos acreditar que o simbolismo se refere apenas às realidades “espirituais”. Para o pensamento arcaico, uma tal separação entre o “espiritual” e o “material” não tem sentido: os dois planos são complementares. Pelo fato de supostamente encontrar-se no Centro do Mundo, uma habitação não deixa de ser um instrumento que responde às necessidades precisas e è condicionada pelo clima, pela estrutura econômica da sociedade e pela tradição arquitetural. Ainda recentemente, a velha discussão entre os “simbolistas” e “realistas” manifestou-se novamente a propósito da arquitetura religiosa do antigo Egito. As duas posições são apenas em aparência irreconciliáveis: no horizonte da mentalidade arcaica, levar em conta as “realidades imediatas” não significa de modo algum ignorar ou menosprezar suas implicações simbólicas, e vive-versa. Não se deve crer que a implicação simbólica anule o valor concreto e especifico de um objeto ou de uma operação: quando a enxergada e denominada phalos ( como acontece em certas línguas austro-asiáticas), e a semeadura é assimilada ao ato sexual ( como aconteceu em quase todos os lugares do mundo), isto não significa que o agricultor “primitivo” ignora a função específica de seu trabalho e valor concreto, imediato, de seu instrumento. O simbolismo acrescenta um novo valor ao objeto ou a uma ação, sem por isso prejudicar seus valores próprios e imediatos. Apli8cado a um objeto ou a uma ação, o simbolismo se torna “abertos”. O pensamento simbólico faz “explodir” a realidade imediata, mas sem diminui-la ou desvaloriza-la; na sua perspectiva, o universo não é fechado, nenhum objeto é isolado em sua própria existencialidade: tudo permanece junto, através de um sistema preciso de correspondências e assimilações. O homem das sociedades arcaicas tomou consciência de si mesmo em um “mundo aberto” e rico de significados. Resta saber se essas “aberturas” são meios de fuga ou se, ao contrário, constituem a única possibilidade de alcançar a verdadeira realidade do mundo.”

(Mercea Eliade. Capitulo V: Simbolismo e História in Imagens e Símbolos: Ensaios sobre o Simbolismo Mágico-Religioso./ tradução de Sônia Cristina Tamer. SP: Martins Fontes, 1996, p. 177-8)

TIME ONE

Procuro saber
o mais particular acontecer
de um segundo
que se perde de mim
e do pensamento,

Procuro saber
O particular sentimento
Instantâneo do AGORA
Em estado bruto,
Como se não existisse
Em mim um rosto
A dizer tempos,
Permanências e buscas.

Apenas o agora
Sujo, trivial
E passageiro
Que fica ou se refaz
No seu igual em
momento seguinte.

NOW

Não sei dizer
Para que parte da vida
Agora acordo.

Sei apenas
Meus passados quebrados
Sobre o chão do tempo
E alguns rotos futuros
Guardados em rasgados bolsos.

Viverei apenas
Mais um dia,
Mudo e discreto,
Na caótica paisagem
Do século.

sábado, 25 de outubro de 2008

ALQUIMIA, SECULARIZAÇÃO E MODERNIDADE




Parafraseando CLAUDE KAPPER em MONSTROS, DEMÔNIOS E ENCANTAMENTOS NO FIM DA IDADE MÉDIA , pode-se dizer que o imaginário medieval é extremamente “estruturalista”, nele a forma é o significante, todo o universo se ordena numa geometria simbólica e segundo uma escala de valores que atribui um lugar a cada elemento, tanto espiritual quanto material. Impõe-se assim o postulado, segundo o qual, a natureza, enquanto parte da criação, é perfeita e, por definição, imperturbável. A alquimia pressupõe uma recusa não muito consciente desta harmonia e perfeição da obra divina. Mais do que isso, ela pressupõe a intervenção humana como fator decisivo para o destino do próprio cosmos. MIRCEA ELIADE tem, portanto, plena razão ao vislumbrar certa continuidade entre a sacralidade da matéria que define a simbólica alquímica e a secularização da matéria através do mito do saber científico que define a época moderna.
Assim como JUNG atribui a alquimia uma antecipação de certas descobertas da psicologia profunda, ELIADE percebe na alquimia certas disposições mentais e referenciais simbólicos que configurariam, em sua versão secularizada, o imaginário moderno. A opus alchemicum, ao admitir a possibilidade de que a ação e o trabalho humano pode intervir no vir-a-ser da natureza, aperfeiçoa-la, transforma-la e, assim, permitir o controle do próprio tempo, esboça uma “filosofia do progresso” realmente surpreendente no contexto do imaginário pré- moderno.

MONTY PHYTHON: MINISTRY OF SILLY WALKS II




Estilos de caminhada devem merecer subsídios governamentais?

Afinal não é dizendo como andas que te direi que és?

Quem aqui ousaria dizer que uma boa e original caminhada não é indispensável a qualidade de vida de cada indivíduo e, portanto, uma questão pública?

COMO VOCÊ CAMINHA ? ....

(Esse ministério existe em algum lugar bem pertinho de você... Tudo é uma questão de idiotice...)

MONTY PYTHON: MINISTRY OF SILLY WALKS


"And now, for Something Completely Different..."

Um dos esquetes mais conhecidos do Flying Circus do Monty Python, encontra-se em sua segunda temporada. Refiro-me, naturalmente, ao Ministry of Silly Walks ( Ministério das Caminhadas Idiotas), onde Jonh Cleese, como dedicado funcionário de tal absurdo ministério, tem uma de suas mais sarcásticas e criativas performances.
Em linhas gerais, pode-se dizer, tratar-se de uma critica, diga-se de passagem, ainda muito atual, a burocracia estatal e sua obscuridade. Poder-se-ia falar de uma alegoria para irracionalidade estrutural que fundamenta o funcionamento de qualquer maquina estatal e da qual, na função de contribuintes, somos todos em alguma medida vítimas.
Mas isso seria perder o fino e corrosivo humor deste saboroso esquete que nos faz rir do cotidiano circo/mundo no qual nos perdemos todos os dias, talvez levando certas “respeitáveis coisas” de governo e Estado mais a sério do que deveríamos... Afinal, como os governos “andam” por ai? ...
Tudo em politica é uma questão de ser idiota meu caro cidadão...

CRÔNICA RELÂMPAGO XXXVIII

Uma madrugada definida por horas de insônia pode ser um verdadeiro celeiro de pensamentos e experiências. Afinal, no silêncio demarcados pelas quatro paredes de um quarto ou de uma sala, pode surpreender-nos a abstrata presença de um dia que se recusa a terminar, permanece ali, ignorando os imperativos do relógio como se nos desafiando...
As horas de uma madrugada de insônia são horas em aberto, suspensas no caos dos fatos e preocupações inerentes ao nosso contextos biográficos e regidas pelo símbolo de uma grande interrogação sem nome.
Por outro lado, elas também são horas em que a temporalidade,que nos é inerente como mortais, apresenta-se como puro e gratuito lúdico no quase não acontecer de nos mesmos na ausência do sono.
Há definitivamente algo de enigmático e desafiador nas claras madrugadas de insônia; algo que foge ao controle e desafia nossas diurnas certezas de rosto no mundo.

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

SEINFELD E O DISCURSO SOBRE O NADA


Considerada uma das mais populares e inteligentes séries da Tv norte americana nos anos 90, SEINFELD ainda expressa com precisão nosso caótico imaginário contemporâneo. Afinal, trata-se de uma comédia sobre o nada e ao mesmo tempo sobre o confuso “tudo” de nossos risonhos cotidianos, certezas, incertezas buscas.
Seinfeld é a pedagogia perfeita do aprendizado do riso, do ridículo do dia a dia e alguma coisa além disso...
Por tudo isso, deixo aqui um fragmento do “Melhor Livro sobre o Nada” do comediante Jerry Senfeld:


SAIR E VOLTAR

“Você pode dividir toda a sua vida em duas categorias básicas. Ou você sai ou fica em casa. O resto todo é detalhe irrelevante. A vontade de sair e depois voltar é muito forte. Olha o que acontece com gente que não quer ficar em casa, mas tem que ficar. Ficam deprimidos . Ou então, alguém que saiu, está sem a chave e não pode voltar. Fica doido. Temos que sair. Temos que voltar. Quando você sai, tudo fica um pouco fora do controle e excitante. Algo pode acontecer. Você pode ver alguma coisa. Você pode achar alguma coisa. Você pode até ser parte de alguma coisa. Temos que sair! Quando estamos de volta em casa, ficamos como o maestro de uma orquestra: a gente sabe que onde está qualquer coisa e como fazer funcionar qualquer coisa. Podemos ir de uma parte da casa para outra. Sabemos exatamente onde estamos indo e o que vai acontecer quando a gente chegar ali. Somos um maestro vestido de cueca e meias. E é exatamente porque sabemos tudo que temos de sair.”


(Jerry Seinfeld. O Melhor Livro sobre o nada. RJ: Frente, 2000.)

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

TRANS-INFÂNCIA

Devoro o passado
Digerindo o presente
Em fomes de futuros.

Mas tudo passa...
E minha alma não cabe
em qualquer lugar
de tempo.

Sou ainda uma criança
a sonhar seguranças
ao sabor do vento.

Mas tudo passa...
Como passam
todas as infâncias.