sábado, 25 de outubro de 2008

ALQUIMIA, SECULARIZAÇÃO E MODERNIDADE




Parafraseando CLAUDE KAPPER em MONSTROS, DEMÔNIOS E ENCANTAMENTOS NO FIM DA IDADE MÉDIA , pode-se dizer que o imaginário medieval é extremamente “estruturalista”, nele a forma é o significante, todo o universo se ordena numa geometria simbólica e segundo uma escala de valores que atribui um lugar a cada elemento, tanto espiritual quanto material. Impõe-se assim o postulado, segundo o qual, a natureza, enquanto parte da criação, é perfeita e, por definição, imperturbável. A alquimia pressupõe uma recusa não muito consciente desta harmonia e perfeição da obra divina. Mais do que isso, ela pressupõe a intervenção humana como fator decisivo para o destino do próprio cosmos. MIRCEA ELIADE tem, portanto, plena razão ao vislumbrar certa continuidade entre a sacralidade da matéria que define a simbólica alquímica e a secularização da matéria através do mito do saber científico que define a época moderna.
Assim como JUNG atribui a alquimia uma antecipação de certas descobertas da psicologia profunda, ELIADE percebe na alquimia certas disposições mentais e referenciais simbólicos que configurariam, em sua versão secularizada, o imaginário moderno. A opus alchemicum, ao admitir a possibilidade de que a ação e o trabalho humano pode intervir no vir-a-ser da natureza, aperfeiçoa-la, transforma-la e, assim, permitir o controle do próprio tempo, esboça uma “filosofia do progresso” realmente surpreendente no contexto do imaginário pré- moderno.

MONTY PHYTHON: MINISTRY OF SILLY WALKS II




Estilos de caminhada devem merecer subsídios governamentais?

Afinal não é dizendo como andas que te direi que és?

Quem aqui ousaria dizer que uma boa e original caminhada não é indispensável a qualidade de vida de cada indivíduo e, portanto, uma questão pública?

COMO VOCÊ CAMINHA ? ....

(Esse ministério existe em algum lugar bem pertinho de você... Tudo é uma questão de idiotice...)

MONTY PYTHON: MINISTRY OF SILLY WALKS


"And now, for Something Completely Different..."

Um dos esquetes mais conhecidos do Flying Circus do Monty Python, encontra-se em sua segunda temporada. Refiro-me, naturalmente, ao Ministry of Silly Walks ( Ministério das Caminhadas Idiotas), onde Jonh Cleese, como dedicado funcionário de tal absurdo ministério, tem uma de suas mais sarcásticas e criativas performances.
Em linhas gerais, pode-se dizer, tratar-se de uma critica, diga-se de passagem, ainda muito atual, a burocracia estatal e sua obscuridade. Poder-se-ia falar de uma alegoria para irracionalidade estrutural que fundamenta o funcionamento de qualquer maquina estatal e da qual, na função de contribuintes, somos todos em alguma medida vítimas.
Mas isso seria perder o fino e corrosivo humor deste saboroso esquete que nos faz rir do cotidiano circo/mundo no qual nos perdemos todos os dias, talvez levando certas “respeitáveis coisas” de governo e Estado mais a sério do que deveríamos... Afinal, como os governos “andam” por ai? ...
Tudo em politica é uma questão de ser idiota meu caro cidadão...

CRÔNICA RELÂMPAGO XXXVIII

Uma madrugada definida por horas de insônia pode ser um verdadeiro celeiro de pensamentos e experiências. Afinal, no silêncio demarcados pelas quatro paredes de um quarto ou de uma sala, pode surpreender-nos a abstrata presença de um dia que se recusa a terminar, permanece ali, ignorando os imperativos do relógio como se nos desafiando...
As horas de uma madrugada de insônia são horas em aberto, suspensas no caos dos fatos e preocupações inerentes ao nosso contextos biográficos e regidas pelo símbolo de uma grande interrogação sem nome.
Por outro lado, elas também são horas em que a temporalidade,que nos é inerente como mortais, apresenta-se como puro e gratuito lúdico no quase não acontecer de nos mesmos na ausência do sono.
Há definitivamente algo de enigmático e desafiador nas claras madrugadas de insônia; algo que foge ao controle e desafia nossas diurnas certezas de rosto no mundo.

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

SEINFELD E O DISCURSO SOBRE O NADA


Considerada uma das mais populares e inteligentes séries da Tv norte americana nos anos 90, SEINFELD ainda expressa com precisão nosso caótico imaginário contemporâneo. Afinal, trata-se de uma comédia sobre o nada e ao mesmo tempo sobre o confuso “tudo” de nossos risonhos cotidianos, certezas, incertezas buscas.
Seinfeld é a pedagogia perfeita do aprendizado do riso, do ridículo do dia a dia e alguma coisa além disso...
Por tudo isso, deixo aqui um fragmento do “Melhor Livro sobre o Nada” do comediante Jerry Senfeld:


SAIR E VOLTAR

“Você pode dividir toda a sua vida em duas categorias básicas. Ou você sai ou fica em casa. O resto todo é detalhe irrelevante. A vontade de sair e depois voltar é muito forte. Olha o que acontece com gente que não quer ficar em casa, mas tem que ficar. Ficam deprimidos . Ou então, alguém que saiu, está sem a chave e não pode voltar. Fica doido. Temos que sair. Temos que voltar. Quando você sai, tudo fica um pouco fora do controle e excitante. Algo pode acontecer. Você pode ver alguma coisa. Você pode achar alguma coisa. Você pode até ser parte de alguma coisa. Temos que sair! Quando estamos de volta em casa, ficamos como o maestro de uma orquestra: a gente sabe que onde está qualquer coisa e como fazer funcionar qualquer coisa. Podemos ir de uma parte da casa para outra. Sabemos exatamente onde estamos indo e o que vai acontecer quando a gente chegar ali. Somos um maestro vestido de cueca e meias. E é exatamente porque sabemos tudo que temos de sair.”


(Jerry Seinfeld. O Melhor Livro sobre o nada. RJ: Frente, 2000.)

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

TRANS-INFÂNCIA

Devoro o passado
Digerindo o presente
Em fomes de futuros.

Mas tudo passa...
E minha alma não cabe
em qualquer lugar
de tempo.

Sou ainda uma criança
a sonhar seguranças
ao sabor do vento.

Mas tudo passa...
Como passam
todas as infâncias.

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

BARUCH ESPINOSA E A RADICALIDADE DA RAZÃO


“Os supersticiosos, que sabem mais censurar os vícios que ensinar as virtudes e que não procuram conduzir os homens pela Razão mas contê-los pelo medo de tal maneira que evitem mais o mal que amem as virtudes, não pretendem outra coisas que tornar os outros tão infelizes como eles; e, por conseguinte, não é de admirar que eles sejam, a maior parte das vezes, insuportáveis e odiosos aos homens.”


Baruch Espinosa in Ética- Parte IV- Da servidão Humana ou Das forças das afecções
Excomungado em 1656 pela comunidade judaica de Amsterdan, Baruch Espinosa está entre as grandes referências filosóficas da modernidade.
Combatendo o “irracionalismo” e o “obscurantismo” de seus contemporâneos produziu obras originais como o Tratado da correção do Intelecto, o Tratado Teológico Político e uma Ética cujo conteúdo constitui um radical questionamento as representações do Estado e a Religião hegemônicas no século XVII.
Sua filosofia pode ser muito sumariamente definida como uma critica a escolástica então decadente, tanto quanto a filosofia de Decartes, assentada na formulação e aplicação de dois métodos: O histórico/critico, que destinou a uma leitura racional e secular da Bíblia, e o genético, segundo o qual, o conhecimento de determinada coisa é o conhecimento de suas causas, premissa por exemplo de seu Tratado da Correção do Intelecto.
Espinosa em seu racionalismo radical acreditava que a verdade é imanente ao próprio conhecimento, não condicionando-se a qualquer adequação entre a idéia e a coisa dado que uma coisa só pode ser conhecida através da causa que a produz e não pelos seus efeitos.
É esse primado do intelecto e da razão, a ênfase na “auto-produção” do real que desafia a tese em sua época em voga da criação das coisas por Deus que constitui um dos mais interessantes legados da sua filosofia.

Reproduzo em seguida uma pequena e significativa epistola do autor escrita erm Rijnsburg em março de 1663:

Ao jovem mui sábio Simon de Vries
“Caro amigo,

Tu me perguntas se precisamos da experiência para saber se a definição de um atributo é verdadeira. Respondo que nunca precisamos da experiência, a não ser para aquilo que não podemos concluir da definição da coisa. Como, por exemplo, a existência dos modos, pois esta não podemos concluir da definição da coisa.Mas nunca precisamos da experiência para aquelas coisas cuja existência não se distingue da essência e que, portanto, se conclui de sua definição. Mais ainda, nenhuma experiência pode ensinar-nos isto, pois a experiência nunca nos ensina a essência das coisas- o máximo que pode fazer é determinar nossa mente a pensar apenas acerca de certas essências das coisas. E assim como a existência dos atributos não difere de sua essência, nenhuma experiência poderá fazer com que a aprendamos.
Perguntas, ainda, se as coisas reais e suas afecções são verdades eternas. Digo que o são sob todos os aspectos. Se retrucares: por que, então, não as chamas de verdades eternas? Respondo: para distingui-las, como todos costumam fazê-lo, daquelas que não explicam coisas e afecções das coisas, como por exemplo, “nada vem do nada”. Tais proposições, e outras semelhantes, são chamadas verdades eternas num sentido absoluto, e com isto o que se quer dizer é que só tem morada no intelecto.”
Baruch de Espinosa

(Benedictus de Espinosa. Os Pensadores/ seleção de textos de Marilena de Souza Chauí; tradução de Marilena de Souza Chauí... (et al.). SP: Editora Abril Cultural, 1983, p. 372)

TEMPO PSICODELICO


Todos os dias somados
Explodem em um segundo
De presente
Revelando imaginações ébrias
Sem tempo e espaço.
Indiferente
Colho ânsias e desejos
Em um jardim pintado
Sobre um mar aberto
Em céu.

Pois entre o vagar de nuvens
Surpreendo-me deitado no vento
Em busca de mim mesmo
No difuso de todas as coisas.

terça-feira, 21 de outubro de 2008

THE BEATLES, YELLOW SUBMARINE E O PSICODELISMO


1968 não foi apenas o ano de Stg. Pepper’s Lonely Hearts Club Band, mas também do lançamento da animação em longa metragem Yellow Submarine com seus diálogos mordazes, referências artísticas e estéticas, brilhante trilha sonora e uma imagética, paisagem visual sem paralelos trans- lúcidos. O fato é que essas duas referências Beatles para uma não marco da história do século XX são muito significativas para exemplificar a singularidade daquela que foi até hoje a maior banda de rock de todos os tempos.
No que diz respeito à adoção de uma linguagem psicodélica de musica e arte, o fab four distancia-se muito de seus contemporâneos, desde Rolling Stones, The Who, Crean, Leon Butterfly, etc...
No caso dos Beatles, o psicodelismo era um estado de espírito, uma sensibilidade nova que transcendia os lugares comuns da rebeldia e identidade juvenil então em voga, afirmava-se tão somente como o lúdico exercício artístico e anímico de quatro jovens que faziam e vivam sua musica enquanto o mundo a sua volta simplesmente enlouquecia e inventava “o novo”...
Se os Beatles se tornaram a mais profunda expressão da transmutação de valores dos anos 60 do séc. XX; deve-se atribuir o fato a sua absoluta espontaneidade e naturalidade.
A originalidade e atemporalidade de seu psicodelismo reside justamente nessa espontaneidade descompromissada, em sua introspecção como banda, sem a qual o psicodélico jamais seria uma genuína forma de expressão radicalmente indivuada, uma estratégia de recosntrução da vida através da arte mediante o afrouxamento de um real convencionalmente estabelecido ou a apoteose do devaneio como modalidade lírica do pensamento dirigido e singular.
Em poucas palavras, os Beatles transmutaram o psicodelismo em SIMBOLO e MITO na mais profunda expressão de contemporaneidade... Fizeram dele muito mais do que um modismo de época.

SOBRE FELICIDADE...

Há coisas que permanecem Eternamente por fazer. Pois uma vida inteira não é suficiente Para realizá-las. Não falo de grandes sonhos ou projetos, mas do devaneio da mais perfeita existência, do mais simples sentir-se bem em atualizações de paraíso e infâncias. 
 
Trata-se aqui da felicidade impossível, da realização de todas as vontades na absoluta perfeição dos dias meta impossíveis que nos consomem no sem nome de desejos e fantasias. 
 
O que chamamos felicidade é apenas o que ficou por fazer, o que abandonamos, ou nos abandonou no precipício e sombra do doce pesadelo do mundo real... 
 
NADA É MAIS PERFEITO DO QUE A PRÓPRIA IMPERFEIÇÃO.