Em sua Poética do Devaneio, ao invocar as “cânticos de ilusões”, que nos conduzem a mais profunda experiência da relação existente entre imaginação e memória, Gaston Bachelard nos sugere uma reflexão sobre a experiência poética como uma espécie de “não lugar do tempo vivido”, como um "não factual da memória" que define nossas leituras e sentimentos biográficos tão profundamente quanto os acontecimentos concretos.
O que está em jogo aqui, não é a objetividade de qualquer lembrança possível de um dado momento ou situação vivida, mais a impessoalidade de certas lembranças, uma espécie de sentimento virtual de mundo que nos transcende em um irracional apreensão passional das coisas; como se fosse possível contemplar a aura mágica que envolve as configurações mais autênticas de nossas imagens de realidade .
Uma das principais funções da imaginação, afinal, é constantemente nos reapresentar o próprio mundo como significado vivido, como uma invenção ontológica... constantemente renovada, recriada...
“ Quando mais mergulhamos no passado, mais aparece como indissolúvel o misto psicológico memória-imaginação. Se quisermos participar do existencialismo do poético, devemos reforçar a união da imaginação com a memória. Para isso é necessário desembaraçar-nos da memória historiadora, que impõe os seus privilégios ideativos. Não é uma memória viva aquela que corre pela escala de datas sem demorar-se o suficiente nos sítios da lembrança. A memória-imaginação faz-nos viver situações não factuais, num existencialismo do poético que se livra dos acidentes. Melhor dizendo, vivemos um essencialismo poético. No devaneio que imagina-se lembrando-se, nosso passado redescobre a substância. Para lá do pitoresco , os vínculos da alma humana e do mundo são fortes. Vive então em nós não uma memória de história, mas uma memória de cosmos.”
(Gaston Bachelard. A poética do Devaneio/ tradução de Antônio de Pádua Danesi. SP: Martins Fontes, 1996, p.114)
O que está em jogo aqui, não é a objetividade de qualquer lembrança possível de um dado momento ou situação vivida, mais a impessoalidade de certas lembranças, uma espécie de sentimento virtual de mundo que nos transcende em um irracional apreensão passional das coisas; como se fosse possível contemplar a aura mágica que envolve as configurações mais autênticas de nossas imagens de realidade .
Uma das principais funções da imaginação, afinal, é constantemente nos reapresentar o próprio mundo como significado vivido, como uma invenção ontológica... constantemente renovada, recriada...
“ Quando mais mergulhamos no passado, mais aparece como indissolúvel o misto psicológico memória-imaginação. Se quisermos participar do existencialismo do poético, devemos reforçar a união da imaginação com a memória. Para isso é necessário desembaraçar-nos da memória historiadora, que impõe os seus privilégios ideativos. Não é uma memória viva aquela que corre pela escala de datas sem demorar-se o suficiente nos sítios da lembrança. A memória-imaginação faz-nos viver situações não factuais, num existencialismo do poético que se livra dos acidentes. Melhor dizendo, vivemos um essencialismo poético. No devaneio que imagina-se lembrando-se, nosso passado redescobre a substância. Para lá do pitoresco , os vínculos da alma humana e do mundo são fortes. Vive então em nós não uma memória de história, mas uma memória de cosmos.”
(Gaston Bachelard. A poética do Devaneio/ tradução de Antônio de Pádua Danesi. SP: Martins Fontes, 1996, p.114)