Critico e escritor britânico, Peter Ackroyd ( 1949- ...) é um dos mais notáveis autores contemporâneos da literatura inglesa. Dentre seus trabalhos merecem destaque O grande incêndio de Londres (1982), O último testamento de Oscar Wilde (1983) e Hawskmoor (1985), bem como suas biografias sobre Ezra Pound (1984), T.S. Eliot (1984) e Dickens (1990).
Pode-se dizer que a obra de Ackroyd, em seus melhores momentos, é um exemplo muito bem sucedido de meta-ficção, no sentido pós moderno do termo, isto é, uma apropriação/re-criação do passado onde arte e ciência se misturam de modo a produzir uma leitura da História sem as amarras e rigores dos protocolos da historiografia oficial mas nem por isso menos rigorosa.
Como observa LINDA HUTCHEON em seu clássico A Poetica da Pós Modernidade,
“ O romance nos lembra, conforme o faz Roland Barthes muito antes ( 1967), que é possível considerar que o século XX deu origem ao romance realista e à história narrativa, dois gêneros que tem em comum o desejo de selecionar, construir e proporcionar auto-suficiência e fechamento a um mundo narrativo que seria representacional, mas ainda distinto da experiência mutável e do processo histórico. Atualmente, a história e a ficção compartilham uma necessidade de contestar esses mesmos pressupostos.”
( Linda Hutcheon. Poetica do Poós Modenismo: História, Teoria, Ficção/ tradução de Ricardo Cruz.RJ Imago Editora, s/d, p.146)
Em outras palavras, a aproximação e diálogo, cada vez maior, em curso entre a narrativa historiografica e a narrativa literária, assenta-se sobre a premissa de que ambas adotam em diferentes contextos uma estrategia represencional da realidade e do mundo. Na medida em que ocorre uma redefinição dos sentidos e significados de aplicabilidade dos seus protocolos e estrategias narrativas transcende-se o dilema existente entre o verdadeiro ( cientifico) e o falso ( ficcional) através na nada simples constatação de que aquilo que conhecemos como processo ou realidade histórica é um universo mutável, plastico ou condicionado a uma pluralidade quase infinita de interpretações e infoques que, no final das contas, reduz-se a uma construção ou invenção de historiadores.
A partir de tal ponto de vista, fica mais fácil apreender em profundidade o TESTAMENTO DE OSCAR WILDE de Ockroyd, ficção historico/biográfica sobre os ultimos anos do dramaturgo e romancista irlandes em seu derradeiro exilio parisiense. Mesmo sabendo que se trata de uma reconstrução ficcional do ultimo ano de vida do celebre autor, não podemos ignorar o quanto sua narrativa nos permite uma cognição/apropriação biografica do autor e de sua obra que, embora não passe de uma leitura possivel, é incontestavelmente pertinente como “conhecimento” de Wilde.
Seria para mim impossivel falar sobre Ockroyd sem abordar tema tão relativamente polêmico. Mas concentrando-me no sabor de seu aqui citado romance, compartilho um pequeno e interessante fragmentodeste livro realmente singular:
“... Minha primeira obra realmente significativa foi O retrato de Dorian Gray, não se trata de um début, mas foi quase tão bom: um escândalo. Nem poderia ser de outra forma: eu queria esfregar os rostos de de minha geração em seu próprio século, ao mesmo tempo que queria criar um romance que disafiasse os cânones da ficção inglesa convencional. O livro poderia ter sido escrito em francês, pois tenho a impreção de que seu encanto está no fato de que é absolutamente desprovido de qualquer tidpo de sentido, assim como não se caracteriza por nehuma moral em voga. É um livro estranho, cheio de vivacidade e da estranha alegria com que foi escrito. Escrevi-o depressa e sem nenhumna preparação séria e, como resultado, minha personalidade inteira está em algum ponto dele: mas acho que não sei onde, exatamente. Existo em todas as personagens, embora não possa pretender compreender as forças que as impulsionam. A única coisa que percebi perfeitamente, enquanto ia escrevendo, foi a necessidade de que acabasse em desastre: eu não podia revelar um mundo daqueles sem assistir a seu colápso em meio a vergonha e ao desastre.
No inicio fiquei surpreso com a reação hostil provocada por Doriam Gray, e foi só depois de ter concluido essas primeiras obras que percebi o que havia feito: tinha efetivamente desafiado a sociedade convencional em todas as frentes possíveis. Tinha ridicularizado susas pretenções artisticas e escarnecido de seu moralismo social; mostrara os casebres dos pobres e as casas dos depravados, mas tambem mostrara que em seus próprios lares tambem se abrigavam a história e a presunção. É nessa época que situo minha derrocada- foi o momento em que as portas da prisão se abriram para mim e ficaram esperando que eu chegasse.”
Pode-se dizer que a obra de Ackroyd, em seus melhores momentos, é um exemplo muito bem sucedido de meta-ficção, no sentido pós moderno do termo, isto é, uma apropriação/re-criação do passado onde arte e ciência se misturam de modo a produzir uma leitura da História sem as amarras e rigores dos protocolos da historiografia oficial mas nem por isso menos rigorosa.
Como observa LINDA HUTCHEON em seu clássico A Poetica da Pós Modernidade,
“ O romance nos lembra, conforme o faz Roland Barthes muito antes ( 1967), que é possível considerar que o século XX deu origem ao romance realista e à história narrativa, dois gêneros que tem em comum o desejo de selecionar, construir e proporcionar auto-suficiência e fechamento a um mundo narrativo que seria representacional, mas ainda distinto da experiência mutável e do processo histórico. Atualmente, a história e a ficção compartilham uma necessidade de contestar esses mesmos pressupostos.”
( Linda Hutcheon. Poetica do Poós Modenismo: História, Teoria, Ficção/ tradução de Ricardo Cruz.RJ Imago Editora, s/d, p.146)
Em outras palavras, a aproximação e diálogo, cada vez maior, em curso entre a narrativa historiografica e a narrativa literária, assenta-se sobre a premissa de que ambas adotam em diferentes contextos uma estrategia represencional da realidade e do mundo. Na medida em que ocorre uma redefinição dos sentidos e significados de aplicabilidade dos seus protocolos e estrategias narrativas transcende-se o dilema existente entre o verdadeiro ( cientifico) e o falso ( ficcional) através na nada simples constatação de que aquilo que conhecemos como processo ou realidade histórica é um universo mutável, plastico ou condicionado a uma pluralidade quase infinita de interpretações e infoques que, no final das contas, reduz-se a uma construção ou invenção de historiadores.
A partir de tal ponto de vista, fica mais fácil apreender em profundidade o TESTAMENTO DE OSCAR WILDE de Ockroyd, ficção historico/biográfica sobre os ultimos anos do dramaturgo e romancista irlandes em seu derradeiro exilio parisiense. Mesmo sabendo que se trata de uma reconstrução ficcional do ultimo ano de vida do celebre autor, não podemos ignorar o quanto sua narrativa nos permite uma cognição/apropriação biografica do autor e de sua obra que, embora não passe de uma leitura possivel, é incontestavelmente pertinente como “conhecimento” de Wilde.
Seria para mim impossivel falar sobre Ockroyd sem abordar tema tão relativamente polêmico. Mas concentrando-me no sabor de seu aqui citado romance, compartilho um pequeno e interessante fragmentodeste livro realmente singular:
“... Minha primeira obra realmente significativa foi O retrato de Dorian Gray, não se trata de um début, mas foi quase tão bom: um escândalo. Nem poderia ser de outra forma: eu queria esfregar os rostos de de minha geração em seu próprio século, ao mesmo tempo que queria criar um romance que disafiasse os cânones da ficção inglesa convencional. O livro poderia ter sido escrito em francês, pois tenho a impreção de que seu encanto está no fato de que é absolutamente desprovido de qualquer tidpo de sentido, assim como não se caracteriza por nehuma moral em voga. É um livro estranho, cheio de vivacidade e da estranha alegria com que foi escrito. Escrevi-o depressa e sem nenhumna preparação séria e, como resultado, minha personalidade inteira está em algum ponto dele: mas acho que não sei onde, exatamente. Existo em todas as personagens, embora não possa pretender compreender as forças que as impulsionam. A única coisa que percebi perfeitamente, enquanto ia escrevendo, foi a necessidade de que acabasse em desastre: eu não podia revelar um mundo daqueles sem assistir a seu colápso em meio a vergonha e ao desastre.
No inicio fiquei surpreso com a reação hostil provocada por Doriam Gray, e foi só depois de ter concluido essas primeiras obras que percebi o que havia feito: tinha efetivamente desafiado a sociedade convencional em todas as frentes possíveis. Tinha ridicularizado susas pretenções artisticas e escarnecido de seu moralismo social; mostrara os casebres dos pobres e as casas dos depravados, mas tambem mostrara que em seus próprios lares tambem se abrigavam a história e a presunção. É nessa época que situo minha derrocada- foi o momento em que as portas da prisão se abriram para mim e ficaram esperando que eu chegasse.”
(Peter Ackroyd. O tyestamento de Oscar Wilde/ tradução de Heloisa Juhn.RJ: Editora Globo, 1987, p.153 ).
Um comentário:
Bom dia.
Eu comprei recentemente Os Cadernos de Platão, que é um livro delicioso. Foi ainda o único livro que li do Peter Ackroyd. Contudo, e face à minha paixão por Oscar Wilde e sobretudo pelo livro dele Dorian Gray, parcece-me que tenho que comprar quanto antes Testamento de Oscar Wilde.
Obrigada pela dica.
:)
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