terça-feira, 19 de agosto de 2008

MOVIMENTO

A vida pressupõe
O desconhecido
Como provisório sentido
Do acaso que nos leva
A algum destino.

Sei que avanço
Na medida em que me desconheço,
Em que me esqueço
E surpreendo outros no espelho...

Escravo dos meus atos
Vislumbro liberdades
Em algum outro lado
Do tempo futuro.

CRÔNICA RELÃMPAGO XXXIV




É conhecida a frase segundo a qual fazemos nosso próprio destino. Segundo essa máxima, nossas opções pessoais determinam aquilo que somos. Mas cabe questionar se tudo o que nos tornamos na vida pressupõe uma cristalina consciência de nossos fatos e contextos vividos; o quanto nossas representações de nós mesmos e do mundo efetivamente correspondem a alguma teleológico significado objetivo de todas as coisas. Paradoxalmente, não somos senhores de nossas próprias opções. Em grande parte elas dependem também daquilo que os outros projetam sobre nós e que em contra partida projetamos no mundo. Sei que hoje não sou a mesma pessoa que em algum passado relativamente distante optou por isso ou aquilo.
Definitivamente não fazemos nosso próprio destino. Participamos dele tanto quanto participamos de tudo aquilo que somos. Não questiono o livre arbítrio que rege a biografia de cada individuo, o que de fato não me parece fazer sentido é a idéia de que uma identidade fixa e cristalina nos orienta o agir e o escolher. As decisões mais importantes de nossas vidas não passam de escolhas de momento guiadas por um misto de intuição e acaso no mais que profundo da superfície de um momento.

domingo, 17 de agosto de 2008

EU E O TEMPO

Vazios
Insinuam infinitos
Em tardes de puro tédio.

Procuro no corpo das nuvens
Que decoram o azul profundo
Retratos de sonhos de infância.

Guardo até hoje pedaços
Da criança que fui um dia
No absoletismo de meus sentimentos
Frente ao absolutismo das razões de ser.

Maior do que eu
É o mundo
No gosto de aos poucos
Perecer....

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Invasão britânica ( Brithsh Invasion)



A expressão Invasão Britânica ( Brithsh Invasion) associado ao surpreendente e estrondoso sucesso de bandas britânicas, encabeçadas pelos Beatles, nos E U A entre os anos de 1964 e 1966 costuma ser também utilizado para as sucessivas ondas posteriores de bandas de origem britânica que conseguiram transcender as fronteiras da Grã-Bretanha e conquistar amplamente o público americano. Se ainda nos anos 60 bandas como Rolling Stones, The Who, The Animals, The Kinks, The Dave Clark Five, Gerry & The Pacemakers beneficiaram-se do impacto da “invasão clássica” e da Beatlemania, nos anos 70 assistimos uma onda de invasão de grandes proporções comportamentais e culturais assolarem o território americano. Se por um lado tínhamos o had rock inovador do Led Zeppelin e Black sabbath, do outro tinhamos o verdadeiro furacão punk dos Sex Pistols e The Clash. Isso para não falar da reminiscência psicodélica personificada pelo estilo único do Pink Floyd e pelo pós punk de bandas como Siouxsie & the Banshees e Joy Division.
Nos anos 80 seria a vez da new have através da explosão de bandas como The Police, Soft Cell, The Pretenders, The Wham ou os alternativos The Smiths, The Stone Roses, The Cure e Echo & the Bunnymen) aos quais se contrapunham em termos estilísticos bandas como Iron Maidem, Def Leppard, Saxon e Motörhead.
Chegando finalmente aos anos 90, somos surpreendidos pelo Britpop representado por bandas como Oasis, Blur e Radiohead. Por sua vez contrapostos ao cumulo da pop music das Spice Girls.
Bom, ficando nos anos 90, mas sem querer desmerecer bandas como o Coldplay, Amy Winehouse, Arctic Monkeys, Lily Allen ou Klaxons, cabe observar que ao longo dessas “invasões britânicas”, através de estilos e contextos diversos podemos vislumbrar uma musicalidade ou sensibilidade peculiar dos músicos britânicos que a diferencia significativamente do rock americano. Tal especificidade cultural, mesmo que não muito bem definida, é reveladora de algo que, no alem da lógica da industria fonográfica, podemos explicar pelos traços peculiares da própria cultura britânica e seu caráter ao mesmo tempo insular e cosmopolita. Universalista por excelência em decorrência da herança imperialista, o rock em solo britânico pressupôs sincretismos culturais diversos e únicos como, por exemplo, com a musica indiana, através dos Beatles e do the Who nos anos 60, com a musica folk através do Led Zeppelin ou um misto de folk e erudito como no caso do Deep Purble em seu álbum singular The Book of Taliesyn (1968). Evidentemente existem outros exemplos. O panorama atual da musica no reino unido, dada a massiva presença de imigrantes, é ainda mais rico em ritmos, tons e diferentes estilos até a fusão máxima e desconcertante de tudo através do mágico delírio da musica eletrônica. Certamente, podemos esperar ainda por muitas invasões britânicas...

Emily Dickinson e o lirismo popular da nova Inglaterra...



Já comentei escrevi anteriormente aqui sobre a poética de Emily Dickinson. Mas é inevitável voltar ao assunto após uma descompromissada visita ao encantador universo de sua poesia. Talvez, o que mais me atraia nela seja seu peculiar lirismo definido por um misto de ingenuidade infantil, subjetividade feminina, magoa de mulher e profundidade de poetisa que traduz como ninguém a simplicidade do canto popular da Nova Inglaterra em palavras aladas a correr ao vento de nossas próprias e contemporâneas almas.


Compartilho aqui alguns de seus versos:


I’ll tell you how the Sun rose-
A Ribbon at a time-
The Steeples swam in Amethyst-
The news, like Squirrels, ran-
The Hills unidet their Bonnets-
The Bobolinks- begun-
Then I said softly to myself-
“That must have been the Sun”!
But how he set- I know not-
There seemed a purple stile
That litlle Yellow boys and girls
Were climbing all the while-
Till when they reached the other side,
A Dominie in Gray-
Put gently up the evering Bars-
And led the flock away-


Tradução de Aila de Oliveira Gomes:


Vou-te contar como é que o sol nasceu:
De repente uma fita apareceu,
Campanários nadaram em ametista
E noticias correram como esquilos;
Colinas desataram seus toucados,
Os passarinhos romperam em trinados.
Então disse baixinho p’ra mim mesma,
‘Deve sido o sol’!
Mas como foi que ele se pôs, não sei dizer.
No céu, um torniquete avermelhado-
Meninos e meninas de amarelo
Pulavam por ali em atropelo,
Na pressa de alcançar o outro lado-
Quando um clérigo de hábito cinzento
Fez o gradil da noite subir manso-
E dispersou o bando.
Love-is anterior to Life-
Posterior- to Death-
Initial of Creation, and
The Exponent of Earth-
Tradução de Aila de Oliveira Gomes:
O amor é à vida anterior,
À morte posterior,
Da criação o nascente, e
Do respirar, expoente.
The Rat is the concisest Tenant.
He pays no Rent.
Repudiates the Obligation-
On schemes intent
Balking our Wit
To sound or circumvent
Hate cannot harm
A foe so reticent-
Neither Decree prohibit him-
Lawfut as Equilibrium.
Tradução de Aila de Oliveira Gomes:
O rato é o inquilino mais conciso.
Não paga aluguel-
Repudia o compromisso;
Atento e ardil.
Frustra nossa astúcia
De alarme ou laço rente-
Nem ódio traz prejuízo
A inimigo tão reticente.
Love-is anterior to Life-
Posterior- to Death-
Initial of Creation, and
The Exponent of Earth-

Tradução de Aila de Oliveira Gomes:


O amor é à vida anterior,
À morte posterior,
Da criação o nascente, e
Do respirar, expoente.


The Rat is the concisest Tenant.
He pays no Rent.
Repudiates the Obligation-
On schemes intent
Balking our Wit
To sound or circumvent
Hate cannot harm
A foe so reticent-
Neither Decree prohibit him-
Lawfut as Equilibrium.


Tradução de Aila de Oliveira Gomes:


O rato é o inquilino mais conciso.
Não paga aluguel-
Repudia o compromisso;
Atento e ardil.
Frustra nossa astúcia
De alarme ou laço rente-
Nem ódio traz prejuízo
A inimigo tão reticente.
Nenhum decreto
Inibe-o-
Legal como
O equilíbrio.

Nenhum decreto
Inibe-o-
Legal como
O equilíbrio.



MEDOS



Guardo muitos medos em silêncio
No desenho dos atos
E apostas tolas de pensamento.


Cada passo de mundo
É como um pisar de abismos
Sobre hiatos que rasgam vontades
Construindo fronteiras
Entre sonhos e realidades.


Entre o real e o fantástico
Afinal
O medo é tudo que existe.
No jogo da existência
a regra é aprender limites...

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

NOSTALGIA

Desbotados passados
Pendurados nas paredes
D’alma
Ainda me dizem
Algum amanhã possível
Enquanto sombras passeiam pelo vazio
Do provisório de cada dia.

Guardo a nostalgia
Dos coloridos jardins
De quintais de infância.

Aguardo-me na porta dos fundos
Da memória
Para reinventar o futuro
Em resgates de sonhos perdidos.

NOSTALGIA DE FUTURO

Procuro
No fundo das horas
Um pedaço aberto de céu
Para guardar medos e sonhos,
Esquecê-los em degredos
E descobrir em meus passos
Toda liberdade de ser.

Quero caminhar
Sobre um chão transparente
E incerto
Que me conduza a paisagem
De um feminino rosto escrito
Na alma dos meus sentidos.

Talvez, então,
Eu finalmente me veja
Do outro lado do pensamento,
Na realidade do outro,
buscando um delírio de acaso
que conduza a vida
A própria Vida
Até o infinito dos sentimentos...

Procuro
No fundo do tempo futuro
A perdida metade do meu ser
Sofrendo sonhos e nostalgias
De amanhãs quase perdidos.

A ARTE DE NAOTTO HATTORI: Um exemplo de "pos cultura"








As “psicodélicas” ou "surreralistas" imagens de Naotto Hattori ( 1975- ...) , ilustrador e artista gráfico japonês contemporâneo, nos conduzem a aventura de subversão das representações tradicionais da vida e do mundo através da fantasia como linguagem, como forma de des-leitura do real que nos leva ao avesso de uma narrativa do mundo. É articulada a tal orientação que sua obra personifica a desconstrução da própria idéia de arte e estética tradicionalmente estabelecidas. Podemos considerá-lo demasiadamente “pop”... demasiadamente distante de nossas sensibilidades a ponto de representar algo como uma "pos cultura". Mas o que poderia ser mais contemporâneo no plano das artes do que esse deslocamento absoluto de nossas sensibilidades compostas por retalhos de “classicismos” e “modernismos”?


terça-feira, 12 de agosto de 2008

CRONICA RELÂMPAGO XXXIII


Há dias que merecem apenas a saudação de um bocejo; dias previsíveis e definidos pela fatalidade serena do acontecer das rotinas; dias que nada nos dizem e contra os quais nos debatemos evadindo em devaneios para algum passado distante, alguma alegria inteiramente perdida, mas que nos habita intensamente como o fantasma de possibilidades felizes em sonhos de futuro. De muitas maneiras somos moldados por essas ingênuas fantasias enquanto percorremos a contra gosto nossos desertos cotidiano.
Todo ato de pensamento é uma manifestação do porvir, do infinito movimento ou mutação permanente que nos faz de algum modo existir contra a inércia dos fatos.