terça-feira, 12 de agosto de 2008

RADIOHEAD: NO SURPRISES...



Formada no ano de 1988, em Oxford, por Thom Yorke (vocais, guitarra, piano), Jonny Greenwood (guitarra), Ed O'Brien (guitarra), Colin Greenwood (baixo, sintetizador) e Phil Selway (bateria, percussão), o Radiohead tornou-se uma das mais originais bandas inglesas de rock alternativo.
OK Computer, seu terceiro álbum, lançado em 1997, uma alegoria cinzenta para o mundo moderno, pode ser considerado um dos grandes ícones dos anos 90 do século passado. Considero uma das canções deste álbum, NO SURPRISES, singularmente interessante, uma espécie de anti utopia pós moderna que nos faz pensar sobre a condição do individuo singular envolto em um mundo de incertezas e ausências de significados...

SURPRISES
Compositor: Tom Yorke
A heart that's full up like a landfill

A job that slowly kills you

Bruises that won't heal

You look so tired and unhappy

Bring down the government

They don't, they don't speak for us

I'll take a quiet life

A handshake of carbon monoxide


No alarms and no surprises

No alarms and no surprises

No alarms and no surprises

Silent

silent


This is my final fit, my final bellyache with


No alarms and no surprises

No alarms and no surprises

No alarms and no surprises

please


Such a pretty house, such a pretty garden


No alarms and no surprises (let me out of here)

No alarms and no surprises (let me out of here)

No alarms and no surprises please (let me out of here)


Tradução:


Um coração que se encheu como um aterro
um trabalho que te mata lentamente,
feridas que não cicatrizam.

Você aparenta estar tão cansado-infeliz,


Derrube o governo,
eles não, eles não falam por nós.
Eu vou levar uma vida tranqüila,
Um aperto de mão de monóxido de carbono,


Sem nenhum susto e nenhuma surpresa,
sem sustos e sem surpresas,
sem sustos e sem surpresas.
Silêncio, silêncio.


Este é meu ajuste final
minha dor de barriga final.


Sem nenhum susto e nenhuma surpresa,
sem sustos e sem surpresas,
sem sustos e sem surpresas,

por favor.


Uma casa tão bonita
e um jardim tão bonito.


Sem nenhum susto e nenhuma surpresa,
sem sustos e sem surpresas,
sem sustos e sem surpresas

, por favor.

FANTASY

Soube o doce bailado
De uma fantasia
Sob a suave musica
De um outono em chuva.

Naquele instante
Não sofria o tempo,
Não sabia as agonias
Das rotinas e dos dias.

Abraçado a uma fantasia
Percorria jardins antigos,
Sentia o sumo
Do gosto do mundo
Saboreando a verdade viva
Da simplicidade
De todas as coisas vivas.

sábado, 9 de agosto de 2008

C G JUNG E O PROBLEMA PSICOLOGICO DA IMAGEM DO MAL



Comentei a poucos dias a obra de William Golding “O Senhor das Moscas” e me pareceu adequado agora aprofundar a imagem das dimensões sombrias da condição humana, sugeridas pela literatura do autor, através de um fragmento do ensaio Presente e Futuro de C G Jung, originalmente publicado em março de 1057 em Zurique. Se o grande tema aqui é o arquetipico da sombra, cabe lembrar que um dos desafios que conduzem a saúde psíquica e a um desenvolvimento da consciência não é a sua recusa moral, mas sua integração positiva a pluralidade de eus que nos compõe... Na reflexão de Jung, aqui exposta há ainda o espectro da então relativamente recente experiência da Segunda Guerra Mundial e das polêmicas surgidas em torno de especulações sobre sua posição frente ao nacional socialismo. O que importa, porém, é a critica do autor a idéia de que o mal corresponde a uma realidade metafísica da qual somos vitimas em lugar de algo humano, demasiadamente humano...
“Na opinião generalizada de que o homem é aquilo que sua consciência conhece de si mesmo, diz-se sub-repticiamente que o homem é inocente, o que na verdade, só acrescenta uma dose de ignorância a maldade dele presente. Não se pode negar que coisas terríveis aconteceram e ainda acontecem. Contudo, achamos que são sempre os outros, os responsáveis, e como esses acontecimentos pertencem sempre a um passado, seja mais próximo ou mais distante, eles rapidamente acabam mergulhando no mar do esquecimento, num estado de espírito completamente ausente e crônico que chamamos de “estado normal”. Na realidade, porém, nada desaparece definitivamente e nada pode ser reposto. O mal, a culpa, o medo profundo da consciência moral e as instituições sinistras estão ai para quem quiser ver. Forma homens que cometeram esses atos: eu sou um homem e, enquanto natureza humana, compartilho dessa culpa como também trago a em minha própria essência a capacidade e a tendência de fazer, a cada momento, algo semelhante. Do ponto de vista jurídico, mesmo não estando presentes no momento do ato, nós somos, enquanto seres humanos, criminosos em potencial. Na realidade só nos faltou a oportunidade adequada para nos lançarmos ao turbilhão infernal. Ninguém esta fora da negra sombra negra sombra coletiva da humanidade. Se o crime foi cometido por muitas gerações ou se é apenas hoje que se realiza, isso não altera o fato de que o crime é o sintoma de uma disposição preexistente em toda parte, de que realmente possuímos uma “imaginação para o mal”. Apenas o imbecil pode desconsiderar durante todo tempo as condições de sua própria natureza. Mas é justamente essa negligência que se revela o melhor meio para torná-lo um instrumento do mal. A inocuidade e a ingenuidade são atitudes tão inúteis quanto seria para um doente de cólera e s eus vizinhos permanecer inconscientes a respeito da natureza contagiosa da doença. Ao contrário, estas acabam levando a projeção do mal não percebido nos “outros”. Isso só fortalece enormemente a posição contrária, pois, com a projeção do mal, não percebido nos “outros”. Isso só fortalece enormemente a posição contrária, pois, com a projeção do mal, nós deslocamos o medo e a irritação que sem timos em relação ao nosso próprio mal para o opositor, aumentando ainda mais o peso da sua ameaça. Além disso, a perda da possibilidade de compreensão também nos retira a capacidade de lidarmos com o mal. Aqui nos vemos diante de um dos preconceitos básicos da tradição cristã e um grande obstáculo a nossa política. Segundo esse principio, é preciso evitar o mal a todo custo e, se possível, jamais falar dele nem mencioná-lo. O mal é também o “desfavorável”, o tabu e a instância de temor. O comportamento apotropético na relação com o mal e na forma de se lidar com ele ( mesmo que aparente) vem ao encontro da tendência característica do homem primitivo de evitar o mal, de não querer percebe-lo e de, se possível, afastá-lo para outras fronteiras, tal como o pode expiatório, no Na tigo Testamento, usado para afastar o mal para o deserto.
Se entendermos então que o mal habita a natureza humana independentemente da nossa vontade e que ele não pode ser evitado, o mal entra na cena psicológica como o lado oposto e inevitável do bem. Essa compreensão nos leva de imediato ao dualismo que, de maneira inconsciente, se encontra prefigurado na cisão política do mundo e na dissociação do homem moderno. O dualismo não advém da compreensão. Nós é que nos encontramos diante de um estado de dissociação. Todavia, seria extremamente difícil pensar que teríamos de assumir pessoalmente essa culpa. Assim, preferimos localizar o mal em alguns criminosos isolados ou em um grupo, lavando as próprias mãos e ignorando a propensão geral para o mal. A inocência, porém, a longo prazo, não será capaz de se manter porque, como nos mostra a experiência, a origem do mal está no próprio homem e não constitui um principio metafísico como supõe a visão cristã.”
( C G Jung. Presente e Futuro, in Obras Completas de C G Jung. Vol. X/1/ tradução: Márcia de Sá Cavalcante. Petrópolis: Vozes, 2ºed. 1989, p.44)

POEMA DO NADA

Nada que somos
E vivemos
É límpido e claro
Como uma certeza
Ingênua de pensamento.

Nada é pré desterminado,
Atávico,
Em nossas vidas
Explodindo no correr do tempo.

Nada é tudo que importa,
Nada é definitivo,
Como um grito perdido
Em uma paisagem morta...

A liberdade é um nada
Que nos faz buscar o impossível
E construir o possível
De nossas possibilidades
Entre casas e jardins
Fora do mundo.

quinta-feira, 7 de agosto de 2008



“AND NOW FOR SOMETHING COMPLETERY DIFERENT!”

IT’S....


O ultimo esquete do episódio 8 da primeira temporada do Flying Circus do Monty Python, exibido originalmente pela BBC em 25 de novembro de 1969, intitulado Full Frontal Nudity, é filosoficamente hilariante ao construir, em fins dos conturbados anos 60, um jogo mágico de espelho cultural através do seu ultimo esquete. Refiro-me, obviamente, a Hell’s Grannies... Esse imperdivel clássico do humor britânico. Que ninguém morra sem o ver...
Enfim, em Notlob, um bairro da cidade de Bolton, surge uma inusitada e crucial questão: A cidade encontra-se, então, sitiada e acuada por uma nova e inédita modalidade de violência: surgem, não se sabe de onde, sombrias gangues de velhas que atacam gratuitamente homens jovens, rebeldes e indefesos. Estes já não mais possuem segurança para saírem de casa, freqüentar a academia de boxe e etc...; entregues ao medo dessas cruéis delinqüentes de vestido e cabelos brancos que também elegem como alvo privilegiadamente inofensivas cabines telefônicas eles se encolhem em seu fazer-se no mundo. Elas também se divertem deproravelmente pichando no silêncio dos muros frases subversivas do tipo Make tea not love, etc...
Mas o pior de tudo acontece no dia do pagamento das aposentadorias, quando essas deploráveis senhoras torram todo o seu dinheiro em leite, pão, chá, comida para gato, e transformam as matinês de cinema em verdadeiros espetáculos dantescos rasgando poltronas e quebrando aparelhos auditivos.
Mas o grande problema dessas delinqüentes senis ancora-se, no fundo, na completa rejeição dos valores que hoje norteiam a sociedade contemporânea. Não é por acaso que muitos jovens se sentem culpados diante dessa absurda ameaça na qual se converteram nossas velhas de estimação. Eles são hoje bem sucedidos corretores, empresários e até sociólogos e historiadores, mas são obrigados a conviver com essas viciadas em crochê, potencialmente instáveis quando lhes falta lã...
Mas essas Hell’s Grannies não são a única ameaça contra a sociedade contemporânea. Esse novo tipo de violência também ganha forma através da dos bebes ladrões que fazem adultos indefesos e diversas coisas desaparecerem e a gangue de pracas de Keep Left ( Mantenha-se a esquerda) que constrangem e impedem o direito de ir e vir de muitos indefesos jovens.

BLACK SABBATH



1968 foi o ano de formação de uma das maiores bandas de rock de todos tempos, o Black sabbath. Surgida em Birmingham, Inglaterra e composta originalmente por Ozzy Osbourne (vocalista), Tony Iommi (guitarrista), Geezer Butler (baixista) e Bill Ward (baterista), chegou a se chamar Polka Tulk e mais tarde Earth antes de adotar seu nome definitivo em 1969. O Black Sabbath surgiu no cenário do rock dos anos 70 como uma novidade esmagadora. Podemos atribuir-lhe a ruptura com a musicalidade dos anos 60, o fim do clima de paz, amor e psicodelismo e a criação de uma nova linguagem musical que daria origem ao heavy metal.
Seu LP de estréia Black Sabbath (1970) com seus temas sombrios e místicos rendeu-lhe uma legião de fãs e uma excelente colocação no top 10 das paradas britânicas. Mas foi, definitivamente seu segundo álbum Paranoid ( 1970) com clássicos como War Pigs,Iron Man e Fairies Wear Boots, que lhe assegurou definitivamente um lugar privilegiado no cenário musical de então.
A rebeldia dos anos 70, já não se identificava apenas com questões políticas e filosóficas, compreendia o desregramento dos sentidos, a desmedida, e incorporava o culto ao diabo como uma forma radical de contestação dos valores culturais impostos pela tradição. Pode-se dizer que imperava ainda um certo otimismo ingênuo na cultura da juventude herdado dos anos 60, mas muitas coisas começavam a mudar...

AVENUES

O mundo cabe
Em uma lágrima
E escapa a um pensamento.

È tão pequeno
Que não o percebo...

For we are on
The brink of
Re-relembrance.
I suppose...
In vistas,
Down dark avenues,
Down the avenues...

INVERNO VIRTUAL

Em dias de puro verão
Fico pensando
Se as flores
Não gostariam de um pouco de chuva,

Se minhas dores não sonham
Com um pouco de fuga...

Talvez surja na neve
Presente em alguma parte
Do mundo e do norte
Qualquer sombra de sorte
E primavera
Em absoluto branco e frio
De mil destinos.

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

LITERATURA INGLESA XXXIV




Sir William Golding (1911-1993) foi um dos mais fascinantes escritores britânicos do pós guerra. Novelista e poeta graduado em literatura inglesa em Oxford nos anos 30, em 1940 entrou para a Marinha Britânica servindo na Segunda Guerra Mundial. Participou inclusive do histórico desembarque dos aliados na Normandia, em 1944.
Com o fim da guerra passou a lecionar e em 1954 publicou seu primeiro e mais impactante romance: O Senhor das Moscas. Até então só havia publicado uma coletânea de poemas em 1934. Seguiram-se, então, Os Herdeiros (1955) e Queda Livre (1959), dentre outros títulos.
O título de o Senhor das Moscas é uma referência a Belzebu (do nome hebraico Ba’al Zebub, בעל זבו), um sinônimo para o Diabo. Trata-se de uma obra profundamente alegórica e pessimista que nos defronta com o pior e mais elementar da condição humana. Uma das passagens que considero mais significativa desta singular narrativa é o momento em que Simon, um dos meninos perdidos na ilha, imagina uma voz em uma cabeça de porco coberta de moscas. Acreditando que a mesma pertence ao imaginário monstro que habita a ilha, a escuta dizer que jamais escapará dele, pois ele existe no interior de todos os homens. O personagem é pouco depois morto pelos seus próprios companheiros que ao verem saindo de uma floresta o tomam por engano pelo monstro imaginário.
O argumento para essa interessante obra pode ter sido sugerida pela experiência de Golding na Bishop Wordsworths School, uma escola católica para meninos, em Salisbury, na Inglaterra, onde ensinou língua inglesa a partir de 1945. O fato é que O Senhor das Moscas pode ser interpretado como uma critica a teoria do "bom selvagem" formulada por rousseau. Trata-se de um dos livros mais fascinantes que já li ...


" -És um menino tonto! -diz o Deus das Moscas. -Um menino tonto e ignorante!
Simão move a língua inchada, mas não profere palavra.
-Não estás de acordo? -pergunta o Deus das Moscas. Não és um menino
pateta?
Simão replica-lhe na mesma voz silenciosa.
-Ora bem -continua o Deus das Moscas. É melhor saíres daqui
para ires brincar com os outros. Pensam que tu és maluco. Tu não
queres que Rafael pense que és maluco, pois não? Gostas muito do Rafael,
não é verdade? E do Bucha e do Jack?
A cabeça de Simão levanta-se ligeiramente. Os seus olhos não podem
desfitar o Deus das Moscas, ali cravado naquele espaço diante de si.
-Que fazes tu aqui sozinho? Não tens medo de mim? Simão estremece.
-Não há ninguém que te ajude. Só eu. E eu sou a Fera. A boca de Simão
esforça-se, exprime palavras audíveis:
-Cabeça de porco num pau!
-Imagina tu! Pensar que a Fera era alguma coisa que se poderia caçar
e matar! -exclama a cabeça. Durante uns segundos, a mata e todos os
outros recantos indefinidamente entrevistos
ecoam com a paródia do riso. - Tu sabias, não é verdade? Eu sou
parte de ti próprio. Aproxima-te, aproxima-te ainda mais! Sou eu

o motivo por que não se pode ir mais além? Porque é que as coisas são
o que são?
O riso torna a arrepiá-lo.
-Ora vamos! -volve o Deus das Moscas. -Vais ter com os outros e esqueçamos
tudo isto.
A cabeça de Simão vacila. Os seus olhos estão semicerrados como se imitasse
aquela coisa obscena espetada num pau. Pressente que se avizinha
um dos seus momentos. O Deus das Moscas expande-se como um balão.
-É uma parvoíce. Sabes perfeitamente bem que só nos encontraremos lá
em baixo, de maneira que não tentes fugir!
O corpo de Simão arqueia-se, rígido. O Deus das Moscas fala-lhe com a
voz de um professor.
-Esta brincadeira já durou mais do que devia. Meu pobre menino desencaminhado,
tu pensas que sabes mais do que eu?
Uma pausa.
-Aviso-te. Vou zangar-me. Vês? Não precisam de ti. Entendes? Vamos
ter uma grande reinação nesta ilha. Entendes? Vamos
ter uma grande reinação nesta ilha! De modo que não tentes fazer de
esperto comigo, meu pobre menino desencaminhado, ou então...
Simão dá-se conta de que olha para uma bocarra imensa. Lá dentro há
negrume, um negrume que se expande.
-Ou então -prossegue o Deus das Moscas -acabamos contigo. Vês? O
Jack, o Maurício, o Roberto, o BilI, o Bucha e o Rafael. Vês?
Simão era tragado pela bocarra. Cai e perde os sentidos.
Uma visão da morte."

NAUFRAGO

Naufrago de mim mesmo
Abandonei-me
Em ilhas imaginárias
Perdidas no fundo d’alma.

Esqueci rosto
E palavra
Despido de sonho
E vontade.

Cai em minha sombra
Como quem cai em abismos
Mutilado pelos silêncios
Do meu passado entreaberto.

Vislumbro esquecimentos
Em minhas ausências
Degredando futuros
E sonhos selvagens de felicidade.