segunda-feira, 21 de julho de 2008

CRONICA RELÂMPAGO XXXI


Uma das coisas que mais me chamam atenção na condição humana é a capacidade de cada individuo para justificar seus atos mais tresloucados. Geralmente temos respostas e justificativas para os nossos maiores erros.
Não creio que interiorizamos a sociedade dentro de nós como uma instância impessoal de repressão em constante conflito com nossas mais profundas vocações pessoais. Creio, ao contrario, que em nossa cristalina, porem finita e limitada, consciência das coisas raramente nos abrimos para experiência da duvida radical, para descentralização “positiva” de nosso próprio rosto nessa infinidade de coisas concretas e abstratas estabelecida pela pluralidade viva que é o mundo.
Em cada cotidiana e extraordinária situação que a existência nos impõe, somos desafiados a fazer escolhas, a lidar com o absoluto outro de nós mesmos no interagir com o mundo ou a convencional realidade coletiva.
Na ausência de qualquer segurança, nos apegamos instintivamente aquilo que no plano do imediato melhor nos define, nossa própria consciência das coisas. Não consideramos, entretanto, suas imprecisões ou seu caráter fluido e instável. Afinal, o que nos parece certo hoje pode não nos parecer daqui a um ano e podemos perder boas experiências potenciais por não enxergarmos a complexidade de um determinado momento avaliando optando pelo mínimo que percebemos.
Voltando ao inicio desta divagação, é realmente curiosa nossa infantil necessidade de viver significados, inventar significantes, em um delirante jogo de verdades que, hipoteticamente, realiza apenas a miopia de nossas certezas de momento. Sejam elas admitidas ou não como tais...

META ALMA GEMEA



Pelo segredo do teu rosto
Deixaria escapar a alma
Em coloridas imagens
De espelhos e pensamentos.

Afogar-me-ia em teu corpo
Até esquecer meus lamentos
E metas

Buscaria algum outro de mim
Em teu retrato
Recriando o tempo
No gentil da primavera.

Pelo segredo do teu rosto
Talvez eu me perdesse
Entre enganos e sentimentos
das mais sagradas falhas certezas.

quinta-feira, 17 de julho de 2008

MONARQIA BRITÂNICA E MULTICULTURALISMO



Uma das grandes peculiaridades da Grã Bretanha nesse inicio de século em um mundo cada vez mais globalizado, é a presença expressiva de várias comunidades imigrantes, seja de origem africana, caribenha ou asiática, a ponto de torná-la, muito provavelmente, o maior centro multicultural da Europa.
Mesmo após os atentados de julho de 2005 em Londres, a tolerância britânica com as diversas culturas que hoje transformam suas paisagens vividas, permanece muito maior do que a observada em outros centros culturais europeus como Paris e Berlim.
Pessoalmente acredito que tal integração de outras culturas a sua identidade territorial sem significativa resistência xenofóbica explica-se pela segurança identidária e cultural proporcionada pela instituição da monarquia enquanto símbolo e sustentáculo da soberania.
Embora assentada sobre valores em alguma medida arcaicos, como a teoria do direito divino, não há como negar certa contemporaneidade da Realeza enquanto personificação do self e da totalidade na cultura britânica.
Apesar das restrições da família real, é inegável o fato que a conversão de Lady Di em uma espécie de santa laica venerada por milhões de súditos provou a vitalidade da monarquia de um modo novo e contemporâneo. O fato é que em uma sociedade cada vez mais complexa e plural a monarquia tende a tornar-se um símbolo de integridade e alteridade.

LITERATURA INGLESA XXXIII



Edgar Alan Poe (1809-1849) é considerado até os dias de hoje um dos maiores escritores dos Estados Unidos e um grande nome das letras inglesas. Embora tenha escrito inúmeros poemas e novelas, Poe é mais intensamente lembrado pelos seus contos góticos e policiais. Influenciou significativamente autores como Baudelaire e Maupassant mesmo não gozando em sua época de merecida reputação dado o escândalo provocado pela recepção de sua obra entre seus contemporâneos.
Não é absolutamente meu objetivo aqui rabiscar qualquer resenha do tipo vida e obra do autor, mas sim definir seu lugar em minha imagem pessoal da rica e fecunda paisagem da literatura inglesa.
Neste sentido, gostaria de chamar atenção para a magistral habilidade de Poe para proporcionar uma profundidade psicológica extrema a seus personagens em excitantes situações de mistério articuladas por um abstrato e mágico principal personagem: O Medo... Poe é por excelência um escritor do medo, de sua psicologia. Basta passear os olhos sobre contos como a Carta Roubada, O gato preto, Coração denunciador, A queda da casa de Usher, O poço e o pêndulo ou Berenice para se saber o quanto. Também figuram ao lado desta eterna temática do medo, a solidão e a morte.
Se o século XIX é o momento de consolidação de um dado modelo de racionalidade e modernidade de inspiração iluminista cristalizado pela sociedade industrial, Poe nos oferece de certa maneira, um vislumbre de sua sombra, as permanências dos aspectos irracionais e mais obscuros da condição humana, contrariando assim os otimismos e certezas de sua época.
Para ilustrar sua obra, ou enfeitar essa postagem, selecionei aqui apenas um fragmento daquele que é certamente seu poema mais conhecido: O Corvo, originalmente publicado em 1845, ocasião em que despertou grandes oposições no meio literário americano.


“Once upon a midnight dreary, while I pondered, weak and weary, Over many a quaint and curious volume of forgotten lore, While I nodded, nearly napping, suddenly there came a tapping, As of some one gently rapping, rapping at my chamber door. "'Tis some visitor," I muttered, "tapping at my chamber door- Only this, and nothing more."


Ah, distinctly I remember it was in the bleak December, And each separate dying ember wrought its ghost upon the floor. Eagerly I wished the morrow;- vainly I had sought to borrow From my books surcease of sorrow- sorrow for the lost Lenore- For the rare and radiant maiden whom the angels name Lenore-

Nameless here for evermore.”



“Numa sombria madrugada, enquanto eu meditava, fraco e cansado, sobre um estranho e curioso volume de folclore esquecido; enquanto cochilava, já quase dormindo, de repente ouvi um ruído. O som de alguém levemente batendo, batendo na porta do meu quarto. "Uma visita," disse a mim mesmo, "está batendo na porta do meu quarto -

É só isto e nada mais."


Ah, que eu bem disso me lembro, foi no triste mês de dezembro, e que cada distinta brasa ao morrer, lançava sua alma sobre o chão. Eu ansiava pela manhã. Buscava encontrar nos livros, em vão, o fim da minha dor - dor pela ausente Leonor - pela donzela radiante e rara que chamam os anjos de Leonor - cujo nome aqui não se ouvirá nunca mais.”

NEMETON: Um ano depois...



Na presente data o Nemeton completa um ano de existência. Tempo suficiente para um balanço provisório da experiência do seu fazer-se em palavra enquanto blog.
Creio que a melhor forma de defini-lo é como um eterno esboço de reflexão, um entrelaçar-se infinito de fragmentos cuja soma não se reduz a qualquer sentido ou significado. O Nemeton é apenas a construção abstrata de um não lugar de mim mesmo e, nesse sentido, é uma imagem virtual e desarticulada das minhas auto representações e invenções de mundo. Sinceramente, nunca pensei que tal exercício perpetuar-se-ia por um ano...

ONLY THIS...



Desvelar infinitos
No gratuito
De uma mesa de bar
É um exercício de esquecimento,
Um aprendizado
Do perene valor
De cada momento.


A vida não vai além
Do pouco acontecer
De todos os dias;

Não transcende a física
Dos nossos pequenos atos cotidianos.


Mas dentro de cada segundo,
Quantos infinitos?!
Há mais mundos fechados
No intervalo de uma garrafa
Entre amigos
Do que palavras trocadas
Entre deuses e homens.

MIDNIGHT



Reinvento no fechar dos olhos
A criança que fui um dia
Apagando em mim
Todo o peso futuro,
Toda duvida presente
E cicatrizes passada.


Escapo ao espaço
E ao tempo...
Em algum lugar distante,
Destes que apenas sabemos
Em sombras de imaginações,
Aguarda-me um desejo,
Uma ilimitada vontade
De cruzar espaços,
Revolver a vida
Até respirar
Todo perfume azul do céu,

todo vento enterrado

No fundo d’ alma.

domingo, 13 de julho de 2008

MORTE BARDICA

Quando eu morrer
Quero minhas cinzas
Guardadas
Por um antigo carvalho
Em alguma floresta bretã,
Quero esquecer-me
Em meio ao verde
E ao sabor do vento
Em um ultimo jesto
De acaso e silêncio.

13 DE JULHO: DIA MUNDIAL DO ROCK


O rock and roll é veneno posto no som”

Pablo Casais, violoncelista

“O melhor rock and roll armazena uma alta doze de energia-uma certa raiva-tanto no estúdio quanto ao vivo. É isso, o rock and roll só é rock and roll se não for seguro.”

Mick Jagger, citado na Rolling Stone, 1988

Hoje é dia mundial do Rock... Dia de lembrar que, mais do que um estilo musical, o rock and roll tornou-se ao longo de sua evolução e história uma matriz cultural, um fenômeno sócio-comportamental sem precedentes. Definitivamente podemos defini-lo como uma das mais radicais expressões da liberdade, da individualidade e espontaneidade humana contra o convencional de todos os dias.
Rock and roll é, em poucas palavras, mais do que musica, é um ritmo de existência em cores vivas e psicodélicas.

sábado, 12 de julho de 2008

MONTY PHYTON: THE MEANING OF LIVE



A linguagem que define o humor do sexteto britânico Monty Phyton é construída por um amalgama de humor negro, sátira social, besteirol, niilismo e colagens surrealistas ou psicodélicas que resultam em seu singular e corrosivo no sense.
Tendo a considerar seu trabalho uma das mais significativas e relevantes amostras da sem sensibilidade cultural de fins dos anos 60 e inicio dos anos 70 do ultimo século.
Mas falando especificamente sobre um de seus longas para o cinema, ou mais especificamente, sobre The Meaning of Live ( O sentido da Vida), cabe dizer, antes de mais nada, que o considero um dos mais cínicos e sarcásticos registros sobre as dinâmicas da existência humana.
Mediante uma surreal coletânea de enquetes sobre temas como nascimento, trabalho, casamento, envelhecimento morte e religião, somos levados pela fragmentária narrativa cinematográfica a conclusão obvia do quanto é ridículo buscar na vida algum sentido e que, no final das contas, a grande piada é a necessidade humana de atribuir significados a coisas que absolutamente não possuem em si mesmas significado algum.
The Meaning of Life nos oferece um riso muito especial, o riso da caveira contra todas as nossas pueris certezas e crenças sobre a vida.