Edgar Alan Poe (1809-1849) é considerado até os dias de hoje um dos maiores escritores dos Estados Unidos e um grande nome das letras inglesas. Embora tenha escrito inúmeros poemas e novelas, Poe é mais intensamente lembrado pelos seus contos góticos e policiais. Influenciou significativamente autores como Baudelaire e Maupassant mesmo não gozando em sua época de merecida reputação dado o escândalo provocado pela recepção de sua obra entre seus contemporâneos.
Não é absolutamente meu objetivo aqui rabiscar qualquer resenha do tipo vida e obra do autor, mas sim definir seu lugar em minha imagem pessoal da rica e fecunda paisagem da literatura inglesa.
Neste sentido, gostaria de chamar atenção para a magistral habilidade de Poe para proporcionar uma profundidade psicológica extrema a seus personagens em excitantes situações de mistério articuladas por um abstrato e mágico principal personagem: O Medo... Poe é por excelência um escritor do medo, de sua psicologia. Basta passear os olhos sobre contos como a Carta Roubada, O gato preto, Coração denunciador, A queda da casa de Usher, O poço e o pêndulo ou Berenice para se saber o quanto. Também figuram ao lado desta eterna temática do medo, a solidão e a morte.
Se o século XIX é o momento de consolidação de um dado modelo de racionalidade e modernidade de inspiração iluminista cristalizado pela sociedade industrial, Poe nos oferece de certa maneira, um vislumbre de sua sombra, as permanências dos aspectos irracionais e mais obscuros da condição humana, contrariando assim os otimismos e certezas de sua época.
Para ilustrar sua obra, ou enfeitar essa postagem, selecionei aqui apenas um fragmento daquele que é certamente seu poema mais conhecido: O Corvo, originalmente publicado em 1845, ocasião em que despertou grandes oposições no meio literário americano.
“Once upon a midnight dreary, while I pondered, weak and weary, Over many a quaint and curious volume of forgotten lore, While I nodded, nearly napping, suddenly there came a tapping, As of some one gently rapping, rapping at my chamber door. "'Tis some visitor," I muttered, "tapping at my chamber door- Only this, and nothing more."
Ah, distinctly I remember it was in the bleak December, And each separate dying ember wrought its ghost upon the floor. Eagerly I wished the morrow;- vainly I had sought to borrow From my books surcease of sorrow- sorrow for the lost Lenore- For the rare and radiant maiden whom the angels name Lenore-
Nameless here for evermore.”
“Numa sombria madrugada, enquanto eu meditava, fraco e cansado, sobre um estranho e curioso volume de folclore esquecido; enquanto cochilava, já quase dormindo, de repente ouvi um ruído. O som de alguém levemente batendo, batendo na porta do meu quarto. "Uma visita," disse a mim mesmo, "está batendo na porta do meu quarto -
É só isto e nada mais."
Ah, que eu bem disso me lembro, foi no triste mês de dezembro, e que cada distinta brasa ao morrer, lançava sua alma sobre o chão. Eu ansiava pela manhã. Buscava encontrar nos livros, em vão, o fim da minha dor - dor pela ausente Leonor - pela donzela radiante e rara que chamam os anjos de Leonor - cujo nome aqui não se ouvirá nunca mais.”