terça-feira, 8 de julho de 2008

THE BEATLES: THE BIOGRAPBY BY BOB SPITZ


The Beatles: The Biograpby de Bob Spitz, até onde sei, é atualmente a mais importante referência biografia para uma compreensão sóbria da vida e obra da maior banda de rock de todos os tempos. Não seria descabido afirmar tratar-se de sua biografia definitiva dado o raro e singular rigor empregado pelo autor em sua pesquisa. Afinal, os Beatles não são um universo fácil de reflexão quando consideramos o terreno mofetiço e ilusório representado pelo abundante conjunto de fontes disponíveis sobre sua carreira e biografias.
Escrever sobre os Beatles pode ser, não duvide, uma boa experiência para historiadores profissionais... Um exercício de desconstrução, desmistificações e incertezas sem paralelos...
Em suas NOTAS SOBRE AS FONTES, o autor nos ajuda a entender melhor o porque:

“Um dos empecilhos para a preparação de uma biografia definitiva dos Beatles é a impressionante falta de material de pesquisa confiável. A maior parte dos quinhentos volumes que formam o seu cânone carece de citações corretas, e, mesmo naqueles casos extraordinários em que as fontes são identificadas, a exatidão permanece duvidosa. Ou as lembranças eram vagas, as narrativas recicladas e os fatos não verificados ou as circunstâncias eram fabricadas ou obscuras- algumas vezes por testemunhas preconceituosas, outras vezes para proteger inocentes. Para o bem e para o mal, informações falsas sempre foram um elemento chave da lenda dos Beatles.
O âmbito dessas informações falsas deve bastante à frase de Napoleão que afirmava que “ a história é um conjunto de mentiras com as quais todos concordam.” Isso se tornou bem claro para mim logo no inicio das pesquisas para este livro. Durante uma entrevista com Paul McCartney, ele explicou como, à quase quarenta anos, os Beatles concordaram em ter uma “versão dos fatos” que lhes serviria de história, e eles se mantiveram fies a ela- além de enchê-la de detalhes- desde então. Paul me contou que “cerca de 65 por cento” da biografia oficial do grupo, intitulada The Beatles- escrita em 1967 pelo jornalista Hunter Davies-, é correta. ( referindo-se ao livro durante uma grande entrevista em 1970 com Jann Wenner, John Lennon disse: Era tudo conversa mole[...] minha tia [ Mimi] eliminou todos os detalhes verdadeiros da minha infância e sobre minha mãe. [...] Eu queria que o livro publicado fosse verdadeiro, mas todos nos tínhamos esposas e não queríamos magoar os sentimentos delas”.) Além do mais, todas essas histórias foram contadas e recontadas tantas vezes que nem mesmo Paul McCartney tem certeza de onde começa e onde termina a verdade- um dos motivos, sem dúvida, para que se refiram ao belo Antologia como “Mitologia”. Em todo caso, a “biografia oficial dos Beatles” não só esta lotada por testemunhos criados e adoráveis contos de fadas, mas também de incorreções: nomes escritos de forma errada, datas incertas, locais confusos- e grande vácuos.
Mesmo assim, confiei no livro de Davies como subsídio a minha própria pesquisa. As histórias verbalizadas nele pelos quatro Beatles-seus comentários informais, assim como suas versões imprevisíveis de eventos a tempos esquecidos- são, entretanto, intensas e fornecem os últimos relatos vividos ( e fascinantes) de certas travessuras. Apesar de eu ter incorporado algumas citações daquele livro nesta biografia, estejam certos de que elas foram analisadas detalhadamente para que houvesse certeza de estarem corretas, ou então escolhidas por conterem reflexões pessoais que são incontestáveis pela honestidade. Por último, seja dito que, quando tratamos de muitos dos participantes deste livro- os pais de George Harrison; a tia de John, Mimi, e seu pai Freddie; a mãe de Ringo; Millie Best; e outros personagens secundários-, o livro de Davies permanece como o único testemunho válido dessas pessoas nessa história marcante.”
( Bob Spitz. The Beatles: a biografia./ Vários tradutores. SP: Larousse do Brasil, 2007, p. 853-854.)

PREGUIÇA

Toco com os olhos
O mundo
No aprendizado
Do ilegível
Mastigando o imediato
Da vida.

Tento inutilmente
Saber o sabor
Da sombra da realidade.

Mas inerte sobre as horas
Aguardo o fim do dia
Na preguiça de existir
Com os sentidos entorpecidos
De tanto mundo...

RASCUNHO DE LEITURA: LED ZEPPELIN E OS ANOS 70


Paul Friedlander, em ROCH AND ROLL: UMA HISTÓRIA SOCIAL, obra já citada nesse blog, nos oferece inúmeros momentos de inspiradores insight sobre o significado simbólico/concreto da experiência deste tão singular e explosivo estilo musical que foi capaz de fomentar uma “cultura e identidade de juventude atemporal” e sustentar a maior e mais profunda “revolução” comportamental já ocorrida em toda a história da humanidade; processo que, diga-se de passagem, permanece ainda em curso e carente de uma reflexão sobre suas mais profundas implicações em nossos corações e mentes.
Neste momento parece-me interessante focar o pensar em sua leitura da transição do rock dos anos 60 para os anos 70 através de um de seus maiores emblemas: a banda Led Zeppelin:

“ O inicio da década de 1970 tornou-se uma época de contradições. Por um lado, houve a institucionalização da moda da contracultura, da aparência, da experiência com drogas e da linguagem. Por outro, havia esforços do governo e do showbusiness para reverter a recente abertura e expressividade política e cultural da época. Em meio a essa confusão, o bombástico hard rock explodiu na esteira da música popular. O Led Zeppelin estava na frente, seguido por uma legião de discípulos fieis. Juntos, eles formavam a terceira explosão do rock, que chamou a atenção dos adolescentes daquele tempo- solidificando uma vertente iniciada pelo por Who, Cream e Hendrix. “Sexo, drogas e rock’ n’ roll!”. Tornou-se o lema e a busca pelo prazer e dinheiro, o objetivo final. Neste momento o art- rock ( rock com pretensões artísticas) e vocalistas-letristas de pop-rock que se juntaram ao heavy metal ( como o rock mais pesado passou a ser chamado) e aos dinossauros do rock, em quanto os anos 70m seguiam em frente.”

(Paul Friedlander. Rock and Roll: Uma História Social. Tradução de A. Costa. 4º ed, RJ: Record, 2006, p.330)

segunda-feira, 7 de julho de 2008

DIA A DIA

Tudo o que busco
É o acontecer intenso
Do mero exercício da vida,
O espreguiçar sereno do dia
No banal e estranho movimento
De ser perene e incerto
Como o vento.
Pois meu tempo não cabe
Na ordem do calendário,
É como um mágico vento
A habitar mil caminhos.

Sou no brilho vivo
Das múltiplas liberdades
Que definem o gosto
de estar
No aqui e agora
Da existência
Sem grandes questões
E mistérios,
Como um esboço
Do meu próprio rosto.

A BUSSOLA DOURADA E O IMAGINARIO CONTEMPORÂNEO


O cinema, enquanto personificação do imaginário coletivo é uma rica fonte de reflexão em torno das inconscientes tendências das imaginações e realidades construídas em nosso cotidiano fazer do ordinário dos fatos e ritmos da vida.
Assim sendo, considero instigante e provocador aqui tecer um breve e superficial comentário sobre dois filmes, aparentemente ingênuos e simplistas.
Refiro-me as Crônicas de Narnya e a Bússola de Ouro que, de modos distintos, parecem atualizar a velha linguagem dos contos de fada em um simbolismo contemporâneo e surpreendentemente imaginativo.
Em ambos os casos, crianças são as protagonistas centrais da narrativa, cujo principal argumento é seu envolvimento com “outros mundos”, com um universo mágico pouco acessível à realidade dos adultos e definida por uma natureza encantada.
Se no imaginário ocidental, na construção de uma vivência e imagem da criança/infância, de muitos modos predominou a imagem da criança divina aprisionada pela mitologia cristã, atualmente vemos emergir representações variantes da infância associadas a um resgate e valorização do universo do fantástico e do “desconhecido” como componentes da própria maturidade psiquica.
Desta forma, as criticas e sanções da igreja de Roma contra o filme A Bússola Dourada lançado no ultimo natal, são compreensíveis, embora não justificáveis dentro da dinâmica de um mundo cada vez mais plural e interrogativo quanto à afirmação universal de qualquer verdade religiosa ou laica.
A bússola de Ouro, é um exercício único de imaginação... Afinal, a partir da realidade de um mundo imaginário onde qualquer versão xamânica de natureza humana nunca se perdeu e as almas humanas são personificadas por “daimons”, por formas animais que nos acompanham, dialogam e protegem, o desconhecido de uma pluralidade de outros mundos e realidades possíveis surge como um desafio aos conservadores guardiões da ordem estabelecida e suas verdades.
Tal fantasia, essencialmente inspirada em uma imagem pagã de natureza, conduz a muitas interrogações... Mas prefiro esperar a previsível continuação desta fascinante aventura cinematográfica para aprofundar minha leitura.

domingo, 6 de julho de 2008

LITERATURA INGLESA XXXI



"Vivemos em um mundo louco onde os contrários se convertem continuamente entre si, os pacifistas se descobrem adorando Hitler, os socialistas tornam-se nacionalistas, os patriotas colaboracionistas, os budistas oram pela vitória do exército japonês, e a Bolsa sobe se os russos preparam a ofensiva".

G. ORWELL, Horizonte, set.1943

Dentre os intelectuais de esquerda do séc XX, George Orwell, pseudônimo de Eric Arthur Blair, (1903-1950) encontra-se entre aqueles que pertencem ao seleto e singular grupo capaz de paradoxalmente despertar sinceras simpatias tanto em partidários da extrema esquerda quanto da extrema direita.
Isso acontece em função da plural repercussão de suas obras mais conhecidas: A Revolução dos Bichos, publicada muito significativamente em 1945 e Nineteen-Eighty-Four (1984), publicado em 1949.
Critico do socialismo real da antiga URSS, tanto quanto do capitalismo e, particularmente, do império britânico, Orwell foi, em radical sentido, um dissidente, um herege político, ou simplesmente, um critico das utopias nos obscuros e maniqueístas anos de laica religiosidade política da guerra fria.
Pessoalmente, creio que uma lúcida avaliação de sua obra transcende em muito a leitura dos dois livros aqui citados, pressupondo pelo menos algum conhecimento de textos como Dias Na Birmânia e A Flor Da Inglaterra...
Nada disso muda o fato de que sua obra, permanecerá em grande parte fatalmente associada a idéia de “distopia”, ou seja, a recusa das utópicas representações perfeitas de mundo inspiradas em algum ideal totalitário de perfeição ou satisfatória funcionalidade da sociedade.
Orwell foi antes de tudo um escritor outsiders em obscuros tempos de ideologias e medos... Um individuo, acima de todo caos da existência e hostilidades da vida em sociedade...

CONTEMPORÂNEIDADE E INDIVIDUALIDADE


A contemporaneidade confunde-se em parte com um trabalho de desconstrução de todas as certezas que nos foram legadas pela tradição ocidental. Religiosidade, verdade, sociedade, ciência ou moral são palavras, por exemplo, que já não guardam significados claros e muito menos confiáveis no exercício do pensamento e construção do mundo através da linguagem e dos atos.
Em outros termos, as formas de coletivização e subjetivização dos indivíduos pressupõe cada vez menos o ajustamento a uma “ordem social” totalizante. De muitas maneiras, os desvios tornaram-se a regra e o mundo já não passa de um lugar incerto e potencialmente perigoso onde a única possibilidade de vida autêntica encontra-se no individuo solitário fechado no esforço, na arte, de construção do seu próprio mundo pessoal e animico.

SENHA


Não sei
o ponto certo
De interseção
Entre o eu e o mundo,
Desconheço a senha
Das minhas realidades
Guardadas
Na fantasia de todo pensamento.

Existo em acaso
Tempo e espaço,
Fluido como a água
Em psicodélicos insights
E vislumbres de céus abertos.

No lento dissolver
De mim mesmo
No acontecer frenético
Do mundo
Tento apenas
Desvelar minha senha.

sexta-feira, 4 de julho de 2008

ENCONTRO URBANO


Guardei seu rosto
No anonimato
Daquele momento
Em que em silêncio
Nos desencontramos
Na via pública.

Nunca saberei seu nome,
Nunca a verei novamente,
Nada tenho a lhe dizer.

Apenas guardei seu rosto
Quase como um testemunho
De tudo aquilo que jamais vivi
Ou perfeita ilusão de sonhos
Jamais sonhados por mim.

FREE AS A BIRD


Liberdade é para mim
O perene exercício
De me desconstruir no mundo
No vago intuir
De tudo aquilo que sou.

Pois nada me prende a nada,
Tudo é fronteira,
Passagem,
No aventurar-me no tempo
Entre as ambigüidades do acaso
E as frágeis realidades
De cada mínimo dia.

Fly as a bird,
Across the time…

Tudo passa na mimese do vento
Que aleatoriamente me sopra
Vida a fora,
Noite a dentro.