"Vivemos em um mundo louco onde os contrários se convertem continuamente entre si, os pacifistas se descobrem adorando Hitler, os socialistas tornam-se nacionalistas, os patriotas colaboracionistas, os budistas oram pela vitória do exército japonês, e a Bolsa sobe se os russos preparam a ofensiva".
G. ORWELL, Horizonte, set.1943
Dentre os intelectuais de esquerda do séc XX, George Orwell, pseudônimo de Eric Arthur Blair, (1903-1950) encontra-se entre aqueles que pertencem ao seleto e singular grupo capaz de paradoxalmente despertar sinceras simpatias tanto em partidários da extrema esquerda quanto da extrema direita.
Isso acontece em função da plural repercussão de suas obras mais conhecidas: A Revolução dos Bichos, publicada muito significativamente em 1945 e Nineteen-Eighty-Four (1984), publicado em 1949.
Critico do socialismo real da antiga URSS, tanto quanto do capitalismo e, particularmente, do império britânico, Orwell foi, em radical sentido, um dissidente, um herege político, ou simplesmente, um critico das utopias nos obscuros e maniqueístas anos de laica religiosidade política da guerra fria.
Pessoalmente, creio que uma lúcida avaliação de sua obra transcende em muito a leitura dos dois livros aqui citados, pressupondo pelo menos algum conhecimento de textos como Dias Na Birmânia e A Flor Da Inglaterra...
Nada disso muda o fato de que sua obra, permanecerá em grande parte fatalmente associada a idéia de “distopia”, ou seja, a recusa das utópicas representações perfeitas de mundo inspiradas em algum ideal totalitário de perfeição ou satisfatória funcionalidade da sociedade.
Orwell foi antes de tudo um escritor outsiders em obscuros tempos de ideologias e medos... Um individuo, acima de todo caos da existência e hostilidades da vida em sociedade...
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