Enxergo o colorido
De um dia distante,
Perdido,
Quando tudo parece
Preso em um instante
No qual o mundo se faz
Roda gigante.
É como o depois
E o antes
De uma surpresa em fogos
De abstratos fatos,
Algo que surge como sonho
Quando estamos acordados
E fechados em alma
Como meros estranhos
Que adivinham o
Surpreendente do próprio rosto
Em abertura de céu.
É manhã...
Morning Glory....
Este Blog é destinado ao exercicio ludico de construção da minima moralia da individualidade humana; é expressão da individuação como meta e finalidade ontológica que se faz no dialogo entre o complexo outro que é o mundo e a multiplicidade de eus que nos define no micro cosmos de cada individualidade. Em poucas palavras, ele é um esforço de consciência e alma em movimento...entre o virtual, o real, o simbolo e o sonho.
quarta-feira, 14 de maio de 2008
INDIVIDUALIDADE E CONTEMPORANEIDADE
No múltiplo cenário de nossas contemporaneidades sentidas e vividas em indecisões de reflexões e pensamentos, uma das questões, ou tensões, mais intensas que se apresentam, é aquela existente entre os fundamentalismos identidarios, ou sectarismos étnicos, nacionais e religiosos, frente à novidade do múltiplo, do hibrido e do singular que emerge, com uma força cada vez maior, através das globalizações européias e norte americanas.
Estes primeiros instantes do novo milênio são definidos, entre muitas outras coisas, por uma desconstrução radical de tudo aquilo que ainda hoje representa, de alguma maneira, “a tradição” ou o funcional medíocre das imagens do socialmente estabelecido centrado em alguma arcaica representação de coletividade.
Quando vivemos profundamente a caoticidade do tempo presente, nos reaprendemos no aprendizado da aridez coletiva, nos refazemos como pequenos e mínimos fragmentos que em sua singularidade transformam cada ato de existência em uma afirmação única do que somos multiplicamente no movimento de pensamentos, sentimentos, intuições e sensações singulares em contraposição ao opaco dos lugares comuns do dia a dia, estes terríveis desertos íntimos que nos conduzem a realidade social.
Estes primeiros instantes do novo milênio são definidos, entre muitas outras coisas, por uma desconstrução radical de tudo aquilo que ainda hoje representa, de alguma maneira, “a tradição” ou o funcional medíocre das imagens do socialmente estabelecido centrado em alguma arcaica representação de coletividade.
Quando vivemos profundamente a caoticidade do tempo presente, nos reaprendemos no aprendizado da aridez coletiva, nos refazemos como pequenos e mínimos fragmentos que em sua singularidade transformam cada ato de existência em uma afirmação única do que somos multiplicamente no movimento de pensamentos, sentimentos, intuições e sensações singulares em contraposição ao opaco dos lugares comuns do dia a dia, estes terríveis desertos íntimos que nos conduzem a realidade social.
terça-feira, 13 de maio de 2008
CRÔNICA RELÂMPAGO XXVII
Normalmente, em nossas orgulhosas afirmações vazias de igualdade, republicanismos e nacionalismos cotidiana e massificamente sustentados, não nos damos conta das permanências do antigo regime em nosso dia a dia.
Foucault, em sua Micro-física do poder, já nos chamava atenção para o fato, deste absurdo lógico chamado poder, ser essencialmente realizado através de modalidades de relações estabelecidas, antes de tudo, no campo do micro-universo de nossos relacionamentos pessoais e impessoais. Em poucas palavras, o poder não é uma “coisa-em–si” mas algo que se faz real em nossas modalidades diversas e espontâneas de sociabilidades.
Independente de alertas como o aqui citado, raramente nos damos conta do quanto nosso existir em sociedade e interagir com os outros pressupõe performances e códigos de valor/não valor que não estão condicionados a racionalidade objetiva dos jogos sociais de linguagem e trans-linguagem tão somente.
Artificialismos, artifícios e silêncios ainda definem nossos relacionamentos de todos os dias no âmbito profissional e pessoal, Somos, antes de tudo, o exercício de personas maior ou em maior realidade bem ou mal sucedidas em nossas diversas sociabilidades. Somos, porem, também, diferentemente dos nobres do antigo regime, obrigados a lidar mais profunda e livremente com nossas multiplicidades interiores, com nossos medos, conflitos e desafios, ao ponto de nos sentimos radicalmente como indivíduos; e algo a menos do que isso...
Foucault, em sua Micro-física do poder, já nos chamava atenção para o fato, deste absurdo lógico chamado poder, ser essencialmente realizado através de modalidades de relações estabelecidas, antes de tudo, no campo do micro-universo de nossos relacionamentos pessoais e impessoais. Em poucas palavras, o poder não é uma “coisa-em–si” mas algo que se faz real em nossas modalidades diversas e espontâneas de sociabilidades.
Independente de alertas como o aqui citado, raramente nos damos conta do quanto nosso existir em sociedade e interagir com os outros pressupõe performances e códigos de valor/não valor que não estão condicionados a racionalidade objetiva dos jogos sociais de linguagem e trans-linguagem tão somente.
Artificialismos, artifícios e silêncios ainda definem nossos relacionamentos de todos os dias no âmbito profissional e pessoal, Somos, antes de tudo, o exercício de personas maior ou em maior realidade bem ou mal sucedidas em nossas diversas sociabilidades. Somos, porem, também, diferentemente dos nobres do antigo regime, obrigados a lidar mais profunda e livremente com nossas multiplicidades interiores, com nossos medos, conflitos e desafios, ao ponto de nos sentimos radicalmente como indivíduos; e algo a menos do que isso...
RAIN AND THE CITY
Acredito em tão pouco,
Mas em tão fundo de mim mesmo,
Que não tenho linguagem
Ou mensagem,
Para dizer
Porcamente ao mundo
O que acho que sou.
Sei menos
Que a certeza de uma gota de chuva
Ou do largo desafio de transpor
Uma poça d’agua
A meio ao caminho
Do todo que me impõe silenciosamente
Limites e vontades infinitas...
Sou pura chuva
A calar ruas e pessoas
No grande esforço
De ser
apenas uma gota
De mim mesmo
A sonhar reflexos
Em espelhos d’agua.
Mas em tão fundo de mim mesmo,
Que não tenho linguagem
Ou mensagem,
Para dizer
Porcamente ao mundo
O que acho que sou.
Sei menos
Que a certeza de uma gota de chuva
Ou do largo desafio de transpor
Uma poça d’agua
A meio ao caminho
Do todo que me impõe silenciosamente
Limites e vontades infinitas...
Sou pura chuva
A calar ruas e pessoas
No grande esforço
De ser
apenas uma gota
De mim mesmo
A sonhar reflexos
Em espelhos d’agua.
segunda-feira, 12 de maio de 2008
MINIMA ANGUSTIA
Procuro suportar
O desencontro
Entre o tempo
E os fatos,
Sobreviver ao vazio
Que me faz um outro
De mim mesmo
No desafio e risco
De cada único instante.
Minhas opções
Perdem-se
Nos atos que espalho
Pela vida.
Pouco sei sobre o que sou
No rasto apagado
Dos meus passos a ermo.
Espero-me futuro
Em algum horizonte
Ao crepúsculo
Para redimir o passado
E saber, definitivamente,
Meu presente.
O desencontro
Entre o tempo
E os fatos,
Sobreviver ao vazio
Que me faz um outro
De mim mesmo
No desafio e risco
De cada único instante.
Minhas opções
Perdem-se
Nos atos que espalho
Pela vida.
Pouco sei sobre o que sou
No rasto apagado
Dos meus passos a ermo.
Espero-me futuro
Em algum horizonte
Ao crepúsculo
Para redimir o passado
E saber, definitivamente,
Meu presente.
domingo, 11 de maio de 2008
THE WHO E A SENSIBILDADE NOVECENTISTA
No último século, na segunda metade dos anos 60, o The Who consolidou-se definitivamente no cenário do Rock como uma das mais populares e emblemáticas bandas britânicas. Consolidou na ocasião sua identidade através de uma musicalidade cada vez mais complexa, psicodélica e meta-psicodélica, assim como letras de significado profundo no discutir os dilemas e desafios da própria condição humana e sua inadaptação estrutural a si mesma... Transcendia, assim, a imagem de uma banda adolescente cunhada pelo clássico My Generation e pelo furor dionisíaco de suas performances ao vivo.
Sobre o lugar do The Who na história e experiência viva do Rock, o especialista em história do Rock, Paul Friedlander, assim resume a relevância da banda:
“Tendo ficado a sombra de outros grupos da invasão inglesa em meados dos anos 60, o Who começou a obter o reconhecimento que merecia na época de Woodstock. Musicalmente, e no seu estilo de se apresentar ao vivo, eles foram os pioneiros do hard rock. Devido a sua capacidade musical, talento e inclinações sociais, eles redefiníramos papeis e funções dos instrumentalistas, criando um rock mais ousado e sofisticado.A bateria se transformou em algo mais que um marcador de tempos, o baixo, mais que uma base rítmica e harmônica, e a guitarra se transformou tanto em solo quanto em rítmica.
Como compositor de rock, Townshend é um dos melhores. Ele compunha sozinho, não como parte de uma equipe como Lennon- McCartney ou Jagger-Richards. E ele compunha sobre o mais amplo espectro de temas, seja sobre o rock and roll puro e simples ou para fazer um comentário reflexivo, filosófico e sofisticado sobre a condição humana. E mais, tudo isto se realizava enquanto o público e os críticos se concentravam no alto volume, na alta energia e na destruição bombástica de seus shows ao vivo. Raramente uma banda combina com sucesso tantos elementos essenciais do rock com tantos componentes musicais e líricos complexos e sofisticados.”
Mas, definitivamente, a imagem mais viva que temos hoje do The Who é a da sua singular performance em palco, a força dionisíaca de sua musicalidade e identidade, a nos dizer o elementar e saudável desajustamento relativo que marca a construção de cada individualidade humana na cultura ocidental.
Recorrendo novamente a Fridlander:
Recorrendo novamente a Fridlander:
“Imagine o cantor Roger Daltrey, feito uma maquina de moto-continuo, comandando o palco durante duas horas de agitação frenética. O guitarrista Pete Townshend mexe seu braço direito num movimento que lembra um gigantesco moinho de vento, golpeando sua guitarra para produzir barulho, tocando poderosos acordes que saturam a sala de espetáculo. Às vezes essas rajadas sonoras são acompanhadas por pulos ágeis quando Townshend saltita pelo palco. O baterista Keith Moon bate freneticamente em sua bateria, arremessando ocasionalmente uma de suas baquetas por cima da bateria e em direção ao público. Este furacão envolve o baixista John Entwistle, que fica de pé como se estivesse ancorado no palco, sem se mexer,exceto com os dedos que deslizam sobre as trastes do braço do seu baixo.
Este show hipotético chega ao clímax com a canção My Generation. Após um longo solo, Townshend ergue sua guitarra acima da cabeça e quebra-a em pedaços contra o palco, esmagando o esqueleto restante na grade de proteção e no seu amplificador. A microfonia angustiada que saltava das caixas de som soava como o momento de agonia do instrumento. Daltrey gira seu microfone pelo fio em um crescente arco até ele se chocar com o palco. O bumbo de Moon foi armado com uma pequena carga explosiva esfumaçante e estoura quando ele chuta a bateria que desmorona do pódio para o palco. Parado atrás do seu instrumento, Moon ri como um piromaniaco. Finalmente Entweistle pára de tocar seu baixo e o Who sai de cena, somente um dia como outro qualquer.”
( idem, p. 176)
CIGARRETTES & ALCCOHOL
Gosto do claro/escuro
Da aventura de sombra
Que faz cada noite.
É divertido perder-se
Em pessoas e bares
Em buscas de transcendências
E infinitos laicos.
Pois sei brincar com
O acaso da fumaça
Do meu cigarro
Entre goles de coloridos drinks
E surrealidades de momento.
Tudo no fundo
Se encanta,
Se encontra,
No acordar de imaginações profundas
em puro expontâneismo vazio
de inventivas realidades
ao sabor de íntimos ventos.
Da aventura de sombra
Que faz cada noite.
É divertido perder-se
Em pessoas e bares
Em buscas de transcendências
E infinitos laicos.
Pois sei brincar com
O acaso da fumaça
Do meu cigarro
Entre goles de coloridos drinks
E surrealidades de momento.
Tudo no fundo
Se encanta,
Se encontra,
No acordar de imaginações profundas
em puro expontâneismo vazio
de inventivas realidades
ao sabor de íntimos ventos.
PARAISOS ARTIFICIAIS
Meus únicos possíveis paraísos
São os artificiais,
São os artifícios
Que nos ensinam
Em passeio d’alma
Que a vida é
Um delicado trabalho
De pensamento e forma.
No sabor do outono
Releio em jardins abertos
O aventurar de Alice no espelho
Adentrando o jogo de fantasias
Ao qual me leva cada devaneio.
Assim invento um dia
No além do calendário
Para refazer meus caminhos
E sonhar inatingíveis horizontes
No traçado mágico e onírico
Da embriagues de imaginações
E encantos.
São os artificiais,
São os artifícios
Que nos ensinam
Em passeio d’alma
Que a vida é
Um delicado trabalho
De pensamento e forma.
No sabor do outono
Releio em jardins abertos
O aventurar de Alice no espelho
Adentrando o jogo de fantasias
Ao qual me leva cada devaneio.
Assim invento um dia
No além do calendário
Para refazer meus caminhos
E sonhar inatingíveis horizontes
No traçado mágico e onírico
Da embriagues de imaginações
E encantos.
sexta-feira, 9 de maio de 2008
THE BEATLES: Legado...
Uma das mais ricas e precisas manifestações da atualidade da Beatlemania e pertinência de sua linguagem na contemporâneidade pode ser encontrada na apresentação brasileira para a tradução do livro, que já considero clássico; uma indispensável referencia para qualquer pessoa que tenha pelo menos alguma curiosidade pelas peripécias do fabuloso quarteto de liverpool: The Beatles: Uma biografia de Bob Spitz. Refiro-me obviamente a apresentação de Sergio Dias dos Mutantes.
Definitivamente os Beatles são uma das mais radicas personificações da imagem-força da liberdade no século XX, da estranha e exótica busca de identidade e expressão da infindável criatividade que, no mais singular da existência humana, faz de cada indivíduo uma realidade profunda...
O pequeno texto aqui referido se constrói a partir da imagem do caleidoscópio de number nine, musica singularmente psicodélica presente no fantástico Álbum Branco dos Beatles...
Deixo aqui alguns fragmentos do comentado texto para justificar o fato desta banda ser até hoje considerada a maior expressão do rock do seculo XX:
“... Assim como a (re)composição que tem o numero 9 no titulo, em cada música eles forneciam sempre, a cada pergunta e anseio que nós crianças tínhamos , a resposta imediata. A sabedoria o som certo e o sentimento que faltava para nos refletir no espelho do toca discos da vida, que rodava implacável enquanto os grãos os grãos de areia do tempo solidificavam nossa juventude e maneira de pensar...
Fomos sendo forjados, um a um,em uma única e consistente idéia : a de que ser livre era uma possibilidade e não mais precisávamos nos trancar como Eleanor e nos isolar internamente como um Fool on the Hill ou nos transformar em um simples Nowhere Man...
Agora era possível ser e se expressar livremente: muito- e dizer muito é pouco- dessa liberdade que foi conquistada graças a bravura e à tenacidade de um bandinho de gente do povo das docas de uma cidade incógnita como Liverpool.”
Definitivamente os Beatles são uma das mais radicas personificações da imagem-força da liberdade no século XX, da estranha e exótica busca de identidade e expressão da infindável criatividade que, no mais singular da existência humana, faz de cada indivíduo uma realidade profunda...
O pequeno texto aqui referido se constrói a partir da imagem do caleidoscópio de number nine, musica singularmente psicodélica presente no fantástico Álbum Branco dos Beatles...
Deixo aqui alguns fragmentos do comentado texto para justificar o fato desta banda ser até hoje considerada a maior expressão do rock do seculo XX:
“... Assim como a (re)composição que tem o numero 9 no titulo, em cada música eles forneciam sempre, a cada pergunta e anseio que nós crianças tínhamos , a resposta imediata. A sabedoria o som certo e o sentimento que faltava para nos refletir no espelho do toca discos da vida, que rodava implacável enquanto os grãos os grãos de areia do tempo solidificavam nossa juventude e maneira de pensar...
Fomos sendo forjados, um a um,em uma única e consistente idéia : a de que ser livre era uma possibilidade e não mais precisávamos nos trancar como Eleanor e nos isolar internamente como um Fool on the Hill ou nos transformar em um simples Nowhere Man...
Agora era possível ser e se expressar livremente: muito- e dizer muito é pouco- dessa liberdade que foi conquistada graças a bravura e à tenacidade de um bandinho de gente do povo das docas de uma cidade incógnita como Liverpool.”
(Sergio Dias, Apresentação ( e eles precisam?) in Bob Spitz. The Beatles: Uma biografia SP: Larousse do Brasil, 2007, p. s/d.)
8 DE MAIO DE 1945: O DIA DA VITÓRIA.
O oito de maio é uma data profundamente simbólica para o mundo ocidental, uma lembrança do trágico vislumbre da tênue fronteira entre as imagens contrapostas de civilização e barbárie. Afinal, trata-se do Dia da vitória, data símbolo do fim da Segunda Grande Guerra.
Não me parece aqui cabível fazer uma critica moralista ao nazismo e uma apologia da liberdade para celebrar a vitória do ocidente contra o próprio ocidente... Longe de reproduzir clichês, prefiro chamar atenção para a dinâmica ainda hoje atual que faz do fenômeno do nazismo uma verdade viva em cada estado nacional ainda existente.
Se as origens do nacional socialismo podem ser buscadas, entre outras fontes, no complicado arranjo estabelecido pelo tratado de Versalhes; corroborando certa leitura de Jung, acredito que o mais importante é buscar uma interpretação deste singular fenômeno na própria peculiaridade da dinâmica humana, nos mais profundos abismos do imaginário ocidental, na “patologia da normalidade” com a qual nos defrontamos todos os dias e diante da qual não basta não sermos “alemãs” para escapar.
Segundo Jung:
“ Já bem antes de 1933 havia um cheiro impreciso de incêndio e um interesse apaixonado por descobrir o foco do incêndio e encontrar o incendiário. Quando espessas nuvens de fumaça cobriram a Alemanha e o incêndio do Reichstag deu o sinal, descobriu-se onde estava o incendiário, o mal em pessoa. Por mais terrível que essa descoberta possa ter sido, ela, no entanto, propiciou uma espécie de alívio. Pois agora já se sabia precisamente o lugar da injustiça e ao mesmo tempo que estávamos do outro lado, ou seja, entre as pessoas decentes cuja indignação moral deveria aumentar nem sempre na razão direta do crescimento da culpa do outro lado. Até os gritos clamando a execução em massa não mais ofendiam os ouvidos dos justos e se considerava uma justiça divina o incêndio das cidades alemães. O ódio encontrou assim motivos respeitáveis, ultrapassando o estado de indiossincrasia pessoal e secreta, tudo isso sem que o respeitável público percebesse a presença vizinha do mal..”
( C.G. Jung. Obras Completas Vol. X/2, Aspectos do Drama Contemporâneo. Petrópolis: Vozes, 1990, 2º ed., p.21.)
Não me parece aqui cabível fazer uma critica moralista ao nazismo e uma apologia da liberdade para celebrar a vitória do ocidente contra o próprio ocidente... Longe de reproduzir clichês, prefiro chamar atenção para a dinâmica ainda hoje atual que faz do fenômeno do nazismo uma verdade viva em cada estado nacional ainda existente.
Se as origens do nacional socialismo podem ser buscadas, entre outras fontes, no complicado arranjo estabelecido pelo tratado de Versalhes; corroborando certa leitura de Jung, acredito que o mais importante é buscar uma interpretação deste singular fenômeno na própria peculiaridade da dinâmica humana, nos mais profundos abismos do imaginário ocidental, na “patologia da normalidade” com a qual nos defrontamos todos os dias e diante da qual não basta não sermos “alemãs” para escapar.
Segundo Jung:
“ Já bem antes de 1933 havia um cheiro impreciso de incêndio e um interesse apaixonado por descobrir o foco do incêndio e encontrar o incendiário. Quando espessas nuvens de fumaça cobriram a Alemanha e o incêndio do Reichstag deu o sinal, descobriu-se onde estava o incendiário, o mal em pessoa. Por mais terrível que essa descoberta possa ter sido, ela, no entanto, propiciou uma espécie de alívio. Pois agora já se sabia precisamente o lugar da injustiça e ao mesmo tempo que estávamos do outro lado, ou seja, entre as pessoas decentes cuja indignação moral deveria aumentar nem sempre na razão direta do crescimento da culpa do outro lado. Até os gritos clamando a execução em massa não mais ofendiam os ouvidos dos justos e se considerava uma justiça divina o incêndio das cidades alemães. O ódio encontrou assim motivos respeitáveis, ultrapassando o estado de indiossincrasia pessoal e secreta, tudo isso sem que o respeitável público percebesse a presença vizinha do mal..”
( C.G. Jung. Obras Completas Vol. X/2, Aspectos do Drama Contemporâneo. Petrópolis: Vozes, 1990, 2º ed., p.21.)
"Atentem para a crueldade inaudita de nosso mundo dito civilizado; tudo provem do ser humano e de seu estado mental! Observem os meios diabólicos de destruição, descobertos por inofensivos gentlemen, po cidadões sensatos e respeitados que, em princípio, representam tudo que almejamos. No entanto, quando tudo voa pelos ares, provocando o inferno da destruição, ninguem se apresentará como responsável. Embora tudo provenha do homem, parece que as coisas acontecem por si sós. Todavia, como todos estão cegamente convencidos de que nada mais são do que o retrato de sua humilde consciência, que cumpre fielmente seus deveres e luta pelo pão de cada dia, ninguém percebe que essa massa racionalmente organizada, a que se dá o nome de Estado ou nação, é movida por um poder aparentemente impessoal e invisível mas terrível, que nada nem ninguem controla. Esse poder aterrador é, em geral, atribuido ao medo da nação vizinha que todos supõem possuida por um demônio ou força do mal. Como ninguem é capaz de reconhecer o grau de possessão demoniaca e de inconsciência em que vive, projeta-se o próprio estado interior para os seus semelhantes, legitimando, desta forma, o gás mais venenoso e os maiores canhões. O pior de tudo é que as pessoas têm toda razão. Pois todos os que estão à volta, e nós mesmos, somos dominados por uma angustia incontrolada e incontrolavel. Como se sabe, nos hospícios os pacientes amedrontados e ansiosos são bem mais perigosos do que os dominados pela ira ou pelo ódio."
( idem, p. 54)
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