quinta-feira, 24 de abril de 2008

KERNUNNUS


Vislumbro, às vezes,
No sem pensar de momento,
O senhor dos animais
Em imagem e vento.

Kernunnus se faz presente
Em natureza e aventura
De imaginações perdidas
E acalantos de sonhos.

Deus possível de mim mesmo
Que me sonha e é sonhado
Em alguma floresta
Ou bosque
Em quer me faço vento
E tempo sem nome
In nemeton...

ROAD

Não sei a origem do caminho
Ou a porta do meu destino
Que justifica os passos
Que pela vida derramo.

Perdi-me do ato
De me buscar
Para encontrar
No vento aberto a magia
De ser e escapar.

Não tenho posses,
Nem mesmo um rosto.
A estrada é meu lar,
Meu lugar labirinto
Entre ausências e vontades
Sem nome.

Sou no grito de cada momento
Chama e velocidade
Que se perde e realiza...
Light my fire....

ABSTRAÇÃO DE EROS


Amo meus silêncios vividos,
Meus gritos estendidos
Sob ou sobre
A urbana noturna paisagem
Indiferente de agora.

Amo os sonhos
Que me sondam
A alma animal
Em infinitos de raios
E cores,
Que correm
Pelo pensamento
Até o riso do abismo
De não pensar.

O mundo, afinal,
É uma porta
Entre aberta em sonhos
De realidades herdadas.

terça-feira, 22 de abril de 2008

SHE'S LEAVING HOME

Ela abandonou suas paisagens vividas
como a personagem triste
de um qadro antigo.
Não deixou palavras ou saudades,
saiu de cena
como quem se ausenta
de um apartamento vazio.

Se quer lembro seu rosto
ou os passados que a inventaram
em meus dias.

Talvez nunca tenha existido
no saber de um sonho vivo
em noites de perdidas realidades.

IMANENCIA, INDIVIDUALIDADE E EXISTÊNCIA

A imanência, quando tomada como premissa básica para experiência do mundo vivido, conduz a uma espécie de “desrealização da realidade” ou desconstrução daquele informal principio de veracidade e certeza que sustenta nossas construções imaginais do real.
Nesta perspectiva, a vida humana torna-se um jogo simbólico, um fluir de significados e significações entre nossa consciência pessoal das coisas e as infinitas alternativas de configurações da consciência representadas pelos milhares de indivíduos com os quais direta e indiretamente interagimos na fantasia ilimitada do social.
Mas se tal fantasia tende para a afirmação de imagens totalizantes e de ordem, a intersubjetividade e reconhecimento do mundo humano como pluralidade caótica e complexa de individualidades, afirma a indeterminação e fluir como princípio da existência.

segunda-feira, 21 de abril de 2008

ALONE ON A HILL


Entre o desaparecimento do sol
E o nascer da noite
Existe um hiato,
um lugar
sem tempo e espaço
onde se perdem
imagens e sentimentos.

Pode-se sabê-lo
Como uma colina distante
Onde solidões afagam
Ilusões de mundo
E abandonadas infâncias.

Entre o dia e a noite
Um ponto mágico grita
Dentro do corpo do vento
Tudo aquilo que perdemos
Em sonhos que não nos queriam.

O TEMPO E O DIA

Esqueço-me
No fundo do dia
Explorando as paisagens
De incompletos pensamentos.

Quase vontades visitam-me
Sem ânimo
Em metafísica preguiça
Ditando a paz de inércias.

Percorro-me de um ponto ao outro
Do limitado espaço etéreo
Em que sou existência.

Mas não encontro
Em qualquer parte
Algo além da marca
Do dia presente.

O futuro é agora
Uma ilusão distante
Que me esconde
O infinito do rosto
Fechado no tempo.

domingo, 20 de abril de 2008

CINEMA E MITOLOGIA CONTEMPORÂNEA NA PRIMEIRA MEDADE DO SEC. XX


A importância e significado adquirido pelo cinema na primeira metade do séc. XX, as novas sensibilidades e imaginações originárias desta nova linguagem artística, diretamente relacionada ao impacto e transformações ocasionadas na vida cotidiana pelo processo de industrialização, é um dos mais vivos exemplos daquilo que podemos aqui denominar como mitologia moderna.
É bem verdade que nos dias de hoje não é com muita facilidade que apreendemos o significado do cinema para os homens da primeira metade do séc. XX, a mítica que envolvia os atores e atrizes da época.
Se hoje um ídolo do cinema não passa de uma mera celebridade mundana, até os anos 60 do último século, através do gramour ele era investido de uma aura sagrada, cultuado pelos seus milhões de admiradores como um verdadeiro deus entre os homens.
O próprio cinema de então, inspirado no old money, apostava deliberadamente em uma estética aristocrática e elitista emprestando a linguagem cinematográfica algo de onírico e mágico.
Basta pensar no verdadeiro culto e veneração ilimitada dedicado a atores como Betty Davis, Rodolfo Valentino, Greta Garbo, Hedy Lamar ou Marlene Dietrich para se ter uma idéia desta verdadeira religião laica que foi um dia a indústria de mitos e icones wollywoodianos.
Pode-se mais precisamente falar de uma religiosidade do desejo, do sex appeal, do luxo, da elegância, do poder e do romance projetados a uma grandeza infinita capaz de sensibilizar a imaginação de multidões em imagens de cinematógrafo.

A CONTEMPORANEIDADE DA POETICA DE LORD BYRON


LI

“Ah! Tivesse eu pena leve e profusa
Para subir até o cume do Parnasso
Lá, onde ficam a escrevinhar as Musas
Esses versinhos de sucesso fácil,
Eu haveria de compor às dúzias
Relatos sírios, assírios ou trácios,
Poemas do mais fino orientalismo,
Com ocidentalissimo pieguismo.

LII

Mas eu não tenho nome- sou um dândi
Falido, a viajar daqui para ali, mas
Levo comigo, onde quer que eu ande,
Meu dicionário, onde colho rimas
Boas ou más, e me divirto à grande,
Sem cultivar dos críticos a estima;
Às vezes cogito cair na prosa,
Porem a poesia é mais rendosa.”


(Beppo: Uma História Veneziana./ tradução de Paulo Henriques Britto. RJ : Nova Fronteira, 2° ed, 2003, p. 99)


Existiria nas letras do rebelde aristocrata inglês Lord Byron uma contemporaneidade a ser resgatada? Ele que, objeto de culto ao longo do séc. XIX, com o advento do modernismo, declinou em influência passando a ocupar um lugar menor na história das letras inglesas?
Podemos considerar Don Juan, The vision of Judgament e Beppo: a venetian story, suas obras de maturidade e mais expressivas realizações do seu talento. Mas mesmo nelas nos defrontamos com uma linguagem poética de muitos modos estranha a nossa sensibilidade pós modernista.
Como bem avalia, entretanto, Paulo Henriques Britto no ensaio O Romance Neoclássico que serve de introdução a segunda edição revista de sua tradução de Beppo:

“...Byron situa-se entre duas eras e duas mentalidades, e em sua essência pertencente mais ao mundo do ancien régime do que do que ao século das revoluções; deste fato decorrem as contradições que ele jamais conseguiu resolver de modo satisfatório em sua obra. E é justamente por isso que relutamos em ver mesmo em seus poemas mais bem realizados aquela grandeza genuína que não hesitamos em atribuir a um artista como Wordsworth, muito embora boa parte da obra de Wordsworth hoje também nos pareça datada e enfadonha. A poesia madura de Byron, com todo o seu brilho, sua espontaneidade, seu rigor, que a tornam tão próxima de nós e nos levam a sentir pelo autor uma atração irreprimível, ressente-se desta incoerência, desta presença de elementos antagônicos que jamais chegam a combinar-se de forma harmoniosa. Porem , no momento em que nos entregamos ao prazer da leitura, as contradições tornam-se quase irrelevantes, chegam até a constituir mais um atrativo, como os defeitos de certas pessoas fascinantes que, quando estamos em sua presença, só fazem aumentar o fascínio que nos inspiram.
E há mais um motivo para reler Byron agora: os defeitos de sua poesia decorrem de uma exuberância que é muito difícil de encontrar nos melhores poetas da modernidade. Onde Byron peca por excesso é justamente onde o poeta moderno, na maioria das vezes, peca pela escarcez. Numa era em que alguns dos poetas mais representativos cultivam uma depuração formal que tende ao silêncio, tratando a palavra como significante quase vazio, é salutar nos depararmos com esta abundãncia de opiniões, atitudes, posturas, com freqüência contraditória, num poeta que nunca colocou o amor a literatura acima da paixão pela vida, para quem escrever sempre foi, acima de tudo, dizer algo a respeito de si próprio e do mundo.”

(Paulo Henriques Britto. O Romântico Neoclássico, in Beppo: Uma História Veneziana. RJ : Nova Fronteira, 2° ed, 2003, p. 44 e 45)

sexta-feira, 18 de abril de 2008

TEMPO INTIMO

Por vezes
Tudo se resume
Na imprecisa aventura
De desvelar um rosto
No segredo do dia.

Carrego o passado
Nas costas
Sofrendo o peso
De muitos futuros,
Temendo o fluir
Do tempo
A me privar de caminhos.

Muitos hojes
já se perderam de mim
no degredo de sonhos antigos.
Hoje
quase não sei de mim.