domingo, 13 de janeiro de 2008

HISTÓRIA

A lembrança
é como um eco
que diz algo mais
que a voz.

Pois aquilo
que dentro de nós
sobrevive distante
vive da vida
de imaginações.

Contemplar o passado
é reiventá-lo...
realiza-lo em sonhos.

sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

ANIMA

Procuro nos ermos porões d’ alma
O secreto nome
De uma misteriosa mulher.

Mas nada lá existe
Além do ermo deserto
Da soma de todos os tempos.

Entre a perplexidade
E a necessidade,
Vislumbro a virgindade
De um sonho esquecido.
Quase esqueço
a face desconhecida
que me inspira
as margens do mundo.

INDIVIDUALIDADE

Utopias esmagam sonhos
No mundo aberto
A minha volta.

Volto ao centro
De mim mesmo
Sem a ilusão de respostas
Para viver sereno
Na ilha d’ alma.

Desfila sem rumo
O tudo das coisas
Em cacafônica festa
De fatos e noticias
Esquecidas.

Na orgia de rotinas
Sofro o esforço de ser
Em vida
Apenas eu mesmo,
Mas me perco
Na confusão dos outros
A cada passo de rosto.

A POETICA DO POS MODERNISMO

POÉTICA DO POS MODERNISMO: HISTÓRIA, TEORIA E FICÇÃO de Linda Hutcheon, professora de inglês da Universidade de Toronto, Canadá, é uma obra interessante para a avaliação do impacto e significado do pós modernismo enquanto teoria e prática cultural contemporânea.
Parafraseando a autora, pode-se dizer que uma poética pós moderna limita-se a sua própria autoconsciência para estabelecer, em relação a modernidade, a contradição metalingüística de estar dentro e fora, de ser cúmplice e distante, de registrar e contestar suas próprias formulações essencialmente provisórias. Seu objetivo é problematizar as implicações da arte e da teoria enquanto processos de produção de significados e sentidos. Trata-se assim tanto de uma poética quanto de uma problemática.
Tal poética pode, portanto, ser definida como a ultrapassagem das margens e fronteiras que definem as convenções sociais e artísticas através do paradoxo e do paródico. Neste sentido, a ficção centrada na subjetividade do autor, em sua originalidade, dão lugar a citação, a seleção e justaposição de imagens diversas e pré existentes, ou ainda a uma descentralização ilimitada do significado de toda representação.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

DEVIR

Pudesse hoje
Viver apenas
Dos melhores dias
Do meu passado,
Não teria da vida
Nada mais que o vento,
Que o impertinente sentimento
Da falta de realidade
Que decora todas as coisas e rostos.
Tudo é breve
No acontecer do mundo,
no quase existir
de nossas vividas verdades.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

ANT MUNDO

Sei apenas
O absoluto grito
Da tarde em migalhas.

Em meu coração
O mundo se desfaz
Na infantil memória
De antigos futuros.

Imerso em natureza
Descrevo,
Esqueço o mundo
Até o limite de viver
Livre e em sopro de embriaguez

quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

LITERATURA INGLESA XVIII


Thomas Stearns Eliot ( 1888-1965) nasceu em St. Louis, Missouri, E.U.A. Descendente de imigrantes ingleses vinculados a tradição da Igreja Unitária, adotou em 1927 a cidadania inglesa.
Não é nada fácil definir este dramaturgo, crítico e, acima de tudo, poeta, que traduz em seus versos a tradição viva da poesia universal e, ao mesmo tempo, permanece profundamente moderno.
Sua poética é definitivamente, ao mesmo tempo, metafísica, fragmentária, ambivalente e musical, combinando diversas matrizes composicionais, na síntese de um sentimento ontológico de isolamento e incomunicabilidade diante da fenomenologia do mundo. Nenhum poeta foi mais “clássico” do que ele em sua modernidade.
Para dizer a grandiosidade de sua poética, valho-me aqui muito limitadamente de um insuficiente fragmento da tradução de Ivan Junqueira:

OS HOMENS OCOS ( fragmento)

Nós somos os homens ocos
Os homens empalhados
Uns nos outros amparados
O elmo cheio de nada. Ai de nós!
Nossas vozes dessecadas,
Quando juntos sussurramos,
São quietas e inexpressas
Como oo vento na relva seca
Ou pés de ratos sobre cacos
Em nossa adega evaporada

Forma sem forma, sombra sem cor,
Força paralisada, gesto sem vigor;

Aqueles que atravessaram
De olhos retos, para o outro reino da morte
Nos recordam- se o fazem- não como violentas
Almas danadas, mas apenas
Como os homens ocos
Os homens espalhados

(T S Eliot. Poesia; tradução, introdução e notas de Ivan Junqueira. RJ: Nova Fronteira, 1981)

PÓS METAFÍSICA

From fairest creatures we desire increase...

Que diferença existe
entre a vida
e a morte
no movimento de ser?

A vida é em si
essencialmente
memória,
um quase acontecer
nas ilusões dos atos
e fatos.

quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

SHAKESPEARE E CHAUCER


Segundo o grande crítico literário Harold Bloom, existem em Shakespeare apenas três influências literárias significativas: Marlowe, Chaucer e a Bíblia Inglesa. Falando especificamente sobre a influência de Chaucer, talvez a mais decisiva, sirvo-me aqui de alguns apontamentos de Bloom:

“... Mais do que Marlowe ou mesmo do que a Bíblia Inglesa, Chaucer foi o principal precursor de Shakespeare por ter proporcionado ao dramaturgo a referência crucial que conduziu à sua maior originalidade: a representação da mudança ao mostrar os indivíduos ponderando sobre o próprio discurso e modificando-se mediante essa consideração. Julgamos banal, e até mesmo natural esse modo de representação, porém não é possível encontrá-lo em Homero ou na Bíblia, nem em Eurípides ou em Dante.”

(Harold Bloom. Abaixo as Verdades Sagradas: Poesia e crença desde a Bíblia até nossos dias. Tradução de Alpío Correa de França Neto e Heitor Ferreira da Costa. SP: Companhia das Letras, 1993, p. 68)

Desta originalidade de corre o seguinte:

“Shakespeare foi um deus mortal ( como Victor Hugo aspirou a ser), porque sua arte não era, de forma alguma, uma mimese. Um modo de representação que sempre está à frente de qualquer realidade que se desenvolva no plano histórico por força nos contem mais do que somos capazes de contê-la.” ( Idem p.81)

Shakespeare realmente vai além do princípio ficcional da narrativa literária, ele cria vida na complexidade cognitiva e originalidade de seus personagens. O realizar-se em linguagem que os faz singularmente “autônomos” e “inconscientes” na arquitetura de suas escolhas é a essência da genialidade única e atemporal do autor, aquilo que o torna tão familiar e essencial a nossa sensibilidade contemporanea.

META IDENTIDADE

Sou somente
Meu próprio esboço
No fato de cada ato,
Palavra e gesto.

Sou o imperfeito
E incompleto esforço
De buscar a mim mesmo
Na definição de um rosto
Cada vez mais
Distante.