Perdi-me sem querer
ou perceber
em um dia incolor
no vazio deserto
das horas.
Esvazei-me de mim
bebendo o silêncio
dos mais densos esquecimentos
Como se nada fosse importante,
como se não houvesse realidade,
ou existisse qualquer possibilidade
de um amanhã seguinte.
A vida se desfez
em qualquer pensamento
de ideal distante,
de onde me acenavam
ilusões e cansaços
convidando a mentira
de uma migalha
de mera felicidade.
Este Blog é destinado ao exercicio ludico de construção da minima moralia da individualidade humana; é expressão da individuação como meta e finalidade ontológica que se faz no dialogo entre o complexo outro que é o mundo e a multiplicidade de eus que nos define no micro cosmos de cada individualidade. Em poucas palavras, ele é um esforço de consciência e alma em movimento...entre o virtual, o real, o simbolo e o sonho.
segunda-feira, 17 de setembro de 2007
CRÔNICA RELÂMPAGO VII
Liberdade é uma palavra relativa, quase vazia... E, por outro lado, um estado impreciso do espirito, uma inquietação ou silencioso grito, que nos ensina o gosto do ar e do céu diante de cada dificuldade que nos impõe a vida.
Liberdade talvez se confunda com a irracional necessidade de termos escolhas, mesmo quando não as enxergamos, quando elas não se confundem com o sabor de opções, e se impõem como o amargo possível imediato ao qual nos leva a vertigem dos dias.
Liberdade... é algo que nos habita, principalmente quando não nos sentimos livres.
Liberdade talvez se confunda com a irracional necessidade de termos escolhas, mesmo quando não as enxergamos, quando elas não se confundem com o sabor de opções, e se impõem como o amargo possível imediato ao qual nos leva a vertigem dos dias.
Liberdade... é algo que nos habita, principalmente quando não nos sentimos livres.
sexta-feira, 14 de setembro de 2007
AUSÊNCIA
Faz poucos dias
perdi-me
em luzes e fantasias
de sol pequeno,
fiquei esquecido
por mim mesmo
a margem de alguma estrada
onde os quatro ventos sopravam
todos os cantos do infinito.
Variações de nada
decoraram meu céu impuro
no impreciso vazio
das saudades que tive
de mim
no saber de todas as coisas.
perdi-me
em luzes e fantasias
de sol pequeno,
fiquei esquecido
por mim mesmo
a margem de alguma estrada
onde os quatro ventos sopravam
todos os cantos do infinito.
Variações de nada
decoraram meu céu impuro
no impreciso vazio
das saudades que tive
de mim
no saber de todas as coisas.
CHRÉTIEN DE TROYS E A MATÉRIA DA BRETÂNEA
O frances Chrétien de Troyes ( aprox. 1135 - ? ) me parece ser, dentre os autores que se ocuparam da matéria da Bretanea, aquele em que a problemática de sua cristianização não ocupa o primeiro plano d anarrativa, a exemplo de outros dos seus continuadores, como Robert de Boron. Em seu Percival ou o Romance do Graal, a imagem do miraculoso vaso associa-se mais significativamente ao tema pagão da terra enferma e morte ritualística do rei do que a de uma milagrosa relíquia a ser buscada e recuperada em nome de um projeto redentor de inspiração messiânica. Em sua obra, o que predomina é na verdade o tema do amor cortes e sua metafísica do amor e da dama inspirada pelas tradições celticas e armóricanas, além do lirismo provençal.
Pode-se dizer com segurança que Chrétien nasceu na região de Champagne e que esteve submetido a dois importantes patronatos: a corte de Champagne e a de Frandes. Sabe-se, inclusive que uma das filhas de Eleonor da Aquitânia, a grande patrona das letras, Marie de Champagne, foi quem lhe propôs o tema e o argumento de Lancelot ou o Cavaleiro da Charrete, obra através da qual a personagem foi introduzida no ciclo Arthuriano.
O leitor contemporâneo, não sem razão, pode intuir nas imaginativas imagens dos cavaleiros da Távola Redonda, em suas mil peripécias, errâncias e jogos amorosos, uma dissimulada ou inocente crítica a própria instituição medieval da cavalaria... Basta lembrar que o desenvolvimento do ciclo arthuriano deu-se paralelamente as Cruzadas, embora estas, até onde eu sei, nunca sejam significativamente mencionadas nestas obras. A própria incapacidade dos nobres cavaleiros da corte de Arthur mostrarem-se dignos do graal ou obtê-lo, dá o que pensar sobre o significado desse ideário cavaleiresco representado pela matéria da bretânha frente a realidade de seu próprio tempo... Há algo mais do que a mera construção de um modelo de perfeição cavalaleiresco como ensinam os manuais... Mas tal problematização vai muito além da obra deste autor, primeiro nome da literatura em França.
Pode-se dizer com segurança que Chrétien nasceu na região de Champagne e que esteve submetido a dois importantes patronatos: a corte de Champagne e a de Frandes. Sabe-se, inclusive que uma das filhas de Eleonor da Aquitânia, a grande patrona das letras, Marie de Champagne, foi quem lhe propôs o tema e o argumento de Lancelot ou o Cavaleiro da Charrete, obra através da qual a personagem foi introduzida no ciclo Arthuriano.
O leitor contemporâneo, não sem razão, pode intuir nas imaginativas imagens dos cavaleiros da Távola Redonda, em suas mil peripécias, errâncias e jogos amorosos, uma dissimulada ou inocente crítica a própria instituição medieval da cavalaria... Basta lembrar que o desenvolvimento do ciclo arthuriano deu-se paralelamente as Cruzadas, embora estas, até onde eu sei, nunca sejam significativamente mencionadas nestas obras. A própria incapacidade dos nobres cavaleiros da corte de Arthur mostrarem-se dignos do graal ou obtê-lo, dá o que pensar sobre o significado desse ideário cavaleiresco representado pela matéria da bretânha frente a realidade de seu próprio tempo... Há algo mais do que a mera construção de um modelo de perfeição cavalaleiresco como ensinam os manuais... Mas tal problematização vai muito além da obra deste autor, primeiro nome da literatura em França.
quinta-feira, 13 de setembro de 2007
DESAFIO AO DIA
Acorda dia.
Quero de ti
qualquer coisa além das horas,
da morte ou da janela aberta
em movimento de paisagem.
Quero o imediato
do gosto puro e selvagem
do corpo e da alma
espalhado em cada objeto
a minha volta.
Quero o tudo do nada
que me transforma e forma
discretamente
em cada segundo de insólitaexistência.
Quero de ti
qualquer coisa além das horas,
da morte ou da janela aberta
em movimento de paisagem.
Quero o imediato
do gosto puro e selvagem
do corpo e da alma
espalhado em cada objeto
a minha volta.
Quero o tudo do nada
que me transforma e forma
discretamente
em cada segundo de insólitaexistência.
CARNE E VERBO
Queria agora
gritar a vida
em todas as cores,
formas e odores
que a palavra transforma
em realidade
no perpassar dos sentidos;
Dar carne a palavra
que me diz e contradiz
no mágico exercício
do canto e do encontro
de mim mesmo
no vazio do verbo.
Mas como despir-me
do impreciso de Ser,
saber apenas a vida
na elementar e vadia
realidade da alma
que dentro do infinito
se faz finitude
no abstrato do mundo?
CRÔNICA RELÂMPAGO VI
No imaginário contemporâneo, os signos já não possuem necessáriamente correspondência verdadeiramente verificável com o mundo que por princípio deveriam representar; ultrapassaram a fronteira do símbolo no esboço de uma hiper realidade estabelecida pelo jogo entre sentido e não sentido em cujo hiato existimos.
A polifonia de gestos, imagens, palavras e artefatos culturais diversos, ou até mesmo, sentimentos e emoções, que alucinadamente desfilam, pior exemplo, na superfície da tela de um monitor de computador, alterou sem que nos déssemos inteiramente conta, nosso modo de lidar e viver com as linguagens e configurações anímicas em que existimos.
Inaugurou-se, assim, sob o sígno dos jogos de incertezas e performasses, a construção de uma imagem contemporânea e imprecisa de mundo que nos suga a existência na aventura desafiadora de descontrução permanente e manutenção do espectro plural que somos na descontrução de toda experiência e realidade vivida de Ser.
A polifonia de gestos, imagens, palavras e artefatos culturais diversos, ou até mesmo, sentimentos e emoções, que alucinadamente desfilam, pior exemplo, na superfície da tela de um monitor de computador, alterou sem que nos déssemos inteiramente conta, nosso modo de lidar e viver com as linguagens e configurações anímicas em que existimos.
Inaugurou-se, assim, sob o sígno dos jogos de incertezas e performasses, a construção de uma imagem contemporânea e imprecisa de mundo que nos suga a existência na aventura desafiadora de descontrução permanente e manutenção do espectro plural que somos na descontrução de toda experiência e realidade vivida de Ser.
quarta-feira, 12 de setembro de 2007
CICLO ARTHURIANO
O contexto sócio cultural que configurou a “matéria da bretanea” é particularmente interessante: A sociedade européia do séc. XII caracterizava-se por um significativo crescimento econômico, demográfico e territorial. O crescimento populacional e agrícola propiciava o crescimento das atividades comerciais e da vida urbana modificando sensivelmente a paisagem social e cultural da cristandade ocidental.
No plano religioso, a Igreja define de forma clara sua organização interna ( padres, bispos, arcebispos, cardeais e Papa), seus dogmas e crenças ( Trindade, virgindade de Maria, sacramentos, etc.). A Reforma Gregoriana ( 1073-1216), procurando libertar a Igreja da influência da nobreza feudal, passava a dividir a sociedade em dois grupos opostos: clérigos e leigos.
A nobreza, em contra partida, começava a construir uma cultura própria e relativamente independente da cultura clerical. A literatura inspirada na chamada “Matéria da Bretanha”( ciclo Arthusiano) é o mais significativo exemplo disso. A tradição oral e folclórica, preservada e difundida pelos trovadores, poetas e cancioneiros, transformou-se, então, em poesia escrita em língua vulgar destinada a educação e ao divertimento de um público refinado ( a nobreza feudal ).
Foi neste contexto que o “amor cortês” definiu-se como um fenômeno literário, contestador da cultura clerical, intimamente vinculado a nobreza e ao folclore celta. Através da literatura ele transportava para o plano das relações amorosas as relações de vassalagem que então se afirmavam no plano político e social. Além disso, embora adúltero, esta nova concepção de amor fundava-se no valor pessoal ou virtude (cortesia) dos amantes.
Cabe acrescentar que a expressão “amor cortês” é moderna. Nos textos do século XII ele é simplesmente definido como bone amor, fine amor ( bom amor, amor delicado ou verdadeiro) Tal expressão caracterizava os jogos amorosos e o ideário cavaleiresco difundidos inicialmente nas cortes da Inglaterra e do sul e do norte da França. Os romances de cavalaria de inspiração arthusiana e seus modelos ideais, destinavam-se antes de tudo a educação da aristocracia. O refinamento cultural, a cortesia, eram então vistos como mais importante do que a “nobreza de berço”.
O exemplo mais significativo de difusão deste elitista ideário de sociedade sugerido pelos modelos estabelecidos pela “Matéria da Bretanha” foi a corte de Eleanor da Aquitânia, neta do primeiro trovador conhecido; Guilherme de Paiters ( 1071-1127) e rainha sucessivamente da França e da Inglaterra. Sua corte era o meio cultural em que se educavam, a partir dos modelos corteses, os barões, cavaleiros duques, duquesas e príncipes, segundo regras de cortesia e virtude que exaltavam o feminino e seu papel nos jogos amorosos.
A figura central destes romances inspirados na “Matéria da Bretanha” é, sem sombra de dúvida, a figura do cavaleiro errante que corre o mundo em busca de aventuras e procura afirmar-se pelo seu valor e virtudes pessoais em uma sociedade onde os códigos simbólicos e culturais impõem a predominância do coletivo sobre o individual. Entre o século XI e XII a cavalaria não era objeto de qualquer normatização jurídica e ainda não havia se convertido em um vazio título de nobreza como ocorrerá a partir do séc. XIII. Os cavaleiros, especialistas na arte da guerra, compreendiam uma camada específica dos jovens de “baixa nobreza” que percorriam a Europa em busca de fama e de um bom casamento. Era cavaleiro todo aquele que havia sido sagrado por outro cavaleiro através da cerimônia da Investidura. Normalmente os cavaleiros eram vassalos de algum senhor feudal e tinham por obrigação, além da fidelidade ao seu senhor, a proteção dos pobres e da Igreja.
É difícil precisar o papel da lenda do Graal no contexto desta literatura profundamente imaginativa. Pode-se apenas constatar a tenção introduzida pelo tema do santo vaso, representando certa demanda religiosa que, diga-se de passagem, se relacionava tanto com o imaginário cristão quanto com o maravilhoso de origem pagã, frente o tema mundano do “amor cortês”. Foi neste universo literário atravessado por outras questões paralelas que a lenda de Merlim fez sua entrada na literatura universal de modo realmente desconcertante e surpreendente.
No plano religioso, a Igreja define de forma clara sua organização interna ( padres, bispos, arcebispos, cardeais e Papa), seus dogmas e crenças ( Trindade, virgindade de Maria, sacramentos, etc.). A Reforma Gregoriana ( 1073-1216), procurando libertar a Igreja da influência da nobreza feudal, passava a dividir a sociedade em dois grupos opostos: clérigos e leigos.
A nobreza, em contra partida, começava a construir uma cultura própria e relativamente independente da cultura clerical. A literatura inspirada na chamada “Matéria da Bretanha”( ciclo Arthusiano) é o mais significativo exemplo disso. A tradição oral e folclórica, preservada e difundida pelos trovadores, poetas e cancioneiros, transformou-se, então, em poesia escrita em língua vulgar destinada a educação e ao divertimento de um público refinado ( a nobreza feudal ).
Foi neste contexto que o “amor cortês” definiu-se como um fenômeno literário, contestador da cultura clerical, intimamente vinculado a nobreza e ao folclore celta. Através da literatura ele transportava para o plano das relações amorosas as relações de vassalagem que então se afirmavam no plano político e social. Além disso, embora adúltero, esta nova concepção de amor fundava-se no valor pessoal ou virtude (cortesia) dos amantes.
Cabe acrescentar que a expressão “amor cortês” é moderna. Nos textos do século XII ele é simplesmente definido como bone amor, fine amor ( bom amor, amor delicado ou verdadeiro) Tal expressão caracterizava os jogos amorosos e o ideário cavaleiresco difundidos inicialmente nas cortes da Inglaterra e do sul e do norte da França. Os romances de cavalaria de inspiração arthusiana e seus modelos ideais, destinavam-se antes de tudo a educação da aristocracia. O refinamento cultural, a cortesia, eram então vistos como mais importante do que a “nobreza de berço”.
O exemplo mais significativo de difusão deste elitista ideário de sociedade sugerido pelos modelos estabelecidos pela “Matéria da Bretanha” foi a corte de Eleanor da Aquitânia, neta do primeiro trovador conhecido; Guilherme de Paiters ( 1071-1127) e rainha sucessivamente da França e da Inglaterra. Sua corte era o meio cultural em que se educavam, a partir dos modelos corteses, os barões, cavaleiros duques, duquesas e príncipes, segundo regras de cortesia e virtude que exaltavam o feminino e seu papel nos jogos amorosos.
A figura central destes romances inspirados na “Matéria da Bretanha” é, sem sombra de dúvida, a figura do cavaleiro errante que corre o mundo em busca de aventuras e procura afirmar-se pelo seu valor e virtudes pessoais em uma sociedade onde os códigos simbólicos e culturais impõem a predominância do coletivo sobre o individual. Entre o século XI e XII a cavalaria não era objeto de qualquer normatização jurídica e ainda não havia se convertido em um vazio título de nobreza como ocorrerá a partir do séc. XIII. Os cavaleiros, especialistas na arte da guerra, compreendiam uma camada específica dos jovens de “baixa nobreza” que percorriam a Europa em busca de fama e de um bom casamento. Era cavaleiro todo aquele que havia sido sagrado por outro cavaleiro através da cerimônia da Investidura. Normalmente os cavaleiros eram vassalos de algum senhor feudal e tinham por obrigação, além da fidelidade ao seu senhor, a proteção dos pobres e da Igreja.
É difícil precisar o papel da lenda do Graal no contexto desta literatura profundamente imaginativa. Pode-se apenas constatar a tenção introduzida pelo tema do santo vaso, representando certa demanda religiosa que, diga-se de passagem, se relacionava tanto com o imaginário cristão quanto com o maravilhoso de origem pagã, frente o tema mundano do “amor cortês”. Foi neste universo literário atravessado por outras questões paralelas que a lenda de Merlim fez sua entrada na literatura universal de modo realmente desconcertante e surpreendente.
O MITO DE MERLIM SEGUNDO ROBERT DE BORON
A personagem de Merlim fez sua primeira aparição na literatura ocidental através da obra do clérigo galês GEOFFREY DE MONMOUTH (1100-1155). Por volta de 1135 surgem as PROPHETIA MERLINI, posteriormente incorporadas a HISTÓRIA REGUM BRITANNIAE (1136). Em 1148 aparece a VIDA MERLINI cuja a autoria, embora discutível, também é atribuída a GEOFREY. Foi por intermédio de sua obra que Arthur, até então um folclórico chefe guerreiro que se destacara no combate aos invasores saxões durante o século VI, converteu-se em um poderoso monarca comparável a personalidades como Alexandre, o Grande, e Carlos Magno. Uma das fontes das quais GEOFREY se valeu para a composição de sua obra foi certamente a HISTÓRIA BRITTONUM de NENNIUS DE MÉRCIA, mas muito pouco se pode falar sobre as referências literárias e folclóricas que inspiraram o autor. Curiosamente, a preocupação relativa e poética com dados históricos ou seculares de suas obras contradiz uma característica dos continuadores da dita “matéria da Bretânha”, ou seja, a intemporalidade dos personagens e seu universo vívido. Essa peculiaridade lhe distancia das canções de gesta ou de outras composições medievais como a anônima CANÇÃO DOS NIBELUNGEN ou a CANÇÃO DE ROLAND.
A HISTÓRIA REGUM BRITANNIAE é pouco depois do seu aparecimento na Inglaterra traduzida para o francês pelo normando WACE DE JERSEY sob o título de ROMANCE DE BRUTUS. A tradução apresenta alguns elementos inexistentes no original como, por exemplo, a primeira menção a mesa redonda de Arthur. Ao longo dos séculos XII e XIII, a partir da Inglaterra e especialmente da França, cria-se e divulga-se pelas cortes da Europa toda uma literatura que transforma e aperfeiçoa a crônica, recriando as lendas folclóricas da antiga Bretânha perpetuadas pela tradição oral.[1]
O mais significativo literato que, depois de GEOFREY DE MONMOUTH, ocupou-se da chamada “matéria da Bretânea” foi o francês CHRÉTIEN DE TROYES em cuja a obra, porém, a figura de Merlim aparece de modo velado na imagem de misteriosos eremitas que surgem significativamente no caminho dos cavaleiros de Arthur durante suas andanças e aventuras. A associação definitiva entre Merlim, a Távola Redonda e a lenda do Graal, pelo que se sabe até o momento, foi estabelecida por um outro francês chamado ROBERT DE BORON. Sua obra, ao contrário da de CHRÉTIEN, é de cunho claramente teológico, justapõe a imagem do profeta de origem misteriosa a imagem do santo Graal criando entre elas uma unidade enigmática. É justamente a partir do MERLIM de ROBERT DE BORON, escrito entre duas outras obras, JOSÉ DE ARIMATÉIA e PERCIVAL OU A QUESTÃO DO SANTO GRAAL , que pretendo tecer minhas considerações.
Em linhas gerais, estou inteiramente de acordo com a leitura de MARIE LOUISE VON FRANZ que vê na dualidade da origem de Merlim, filho do diabo e de uma virgem pura temente a Deus, a concidentia oppositorum que o faz portador do princípio da totalidade de modo muito similar ao mercúrio alquímico. Este fato torna-se mais compreensível quando associado ao drama do velho rei pescador. Na leitura da citada autora, o rei moribundo do Graal, representa a atitude cristã envelhecida. Sua ferida na coxa, na região genital, alude ao problema da natureza e da sexualidade não solucionado pelo cristianismo e ao estado de dissociação característico da consciência cristã frente a repressão dos conteúdos anímicos personificados pelo imaginário pagão. Merlim parece atuar no sentindo da superação da unilateralidade do ideal de espiritualide cristão mediante a imagem do Graal como personificação de uma nova totalidade que se insinua de modo contraditório e misterioso no imaginário medieval.
Na interpretação de EMMA JUNG [2], o obscuro profeta dos tempos de Arthur, é um ser luciferiano, semelhante a mefistófeles, um representante do “intelecto in statu nascendi”, uma personificação viva do logos e, simultaneamente, portador da numen naturae enquanto um deus de duas faces análogo a Hermes ou ao mercurius duplex da alquimia. O Merlim de ROBERT DE BORON realiza esta ambigüidade de modo realmente exemplar. Ele estabelece sobre o mito cristão uma interpretação distinta e complementar a dos evangelhos canônicos e da Igreja. Merlim usurpa assim, mesmo que veladamente, o lugar de cristo como mediador entre o homem e Deus. Coisa que ele mesmo confessa:
“...E farei tantas coisas e falarei tanto, que me tornarei o ser mais ouvido nesta terra, depois de Deus”[3]
Além disso, como esclarece ao eremita Blaise, que “mete por escrito” a lenda do Graal:
“...Entretanto este livro não estará revestido de autoridade, porque o senhor não tem autoridade, visto que não pode ser um apóstolo. Os apóstolos não meteram em escrito senão o que viram e ouviram de Nosso Senhor, ao passo que o senhor, o faz é meter no livro o que viu e ouviu por meio de mim. E assim como eu sou obscuro para as pessoas a quem não quero esclarecer, assim seu livro será cheio de segredos e poucos haverá que os desvendarão.”[4]
Este caráter obscuro e ambíguo de Merlim marca toda a narrativa. Filho de um incubo e de uma virgem, anunciado por um concílio de demônios, instrumento da vingança dos mesmos contra os profetas que anunciaram a vinda de Cristo, Merlim descarta, entretanto, a possibilidade de uma regressão ao paganismo e realiza, por intermédio da obra do Graal, um caminho alternativo de redenção que tem como centro a Távola Redonda. O segredo do Graal, nesta versão associado as palavras trocadas entre Jesus e José de Arimatéia, em momento algum é revelado.
[1]
[2] 2- Cf. JUNG, Emma. Anima e Animus. SP: Cultrix
[3] 3- BORON, Robert de. Merlim, p.70.
[4] 4- Ibidim,p.56.
A HISTÓRIA REGUM BRITANNIAE é pouco depois do seu aparecimento na Inglaterra traduzida para o francês pelo normando WACE DE JERSEY sob o título de ROMANCE DE BRUTUS. A tradução apresenta alguns elementos inexistentes no original como, por exemplo, a primeira menção a mesa redonda de Arthur. Ao longo dos séculos XII e XIII, a partir da Inglaterra e especialmente da França, cria-se e divulga-se pelas cortes da Europa toda uma literatura que transforma e aperfeiçoa a crônica, recriando as lendas folclóricas da antiga Bretânha perpetuadas pela tradição oral.[1]
O mais significativo literato que, depois de GEOFREY DE MONMOUTH, ocupou-se da chamada “matéria da Bretânea” foi o francês CHRÉTIEN DE TROYES em cuja a obra, porém, a figura de Merlim aparece de modo velado na imagem de misteriosos eremitas que surgem significativamente no caminho dos cavaleiros de Arthur durante suas andanças e aventuras. A associação definitiva entre Merlim, a Távola Redonda e a lenda do Graal, pelo que se sabe até o momento, foi estabelecida por um outro francês chamado ROBERT DE BORON. Sua obra, ao contrário da de CHRÉTIEN, é de cunho claramente teológico, justapõe a imagem do profeta de origem misteriosa a imagem do santo Graal criando entre elas uma unidade enigmática. É justamente a partir do MERLIM de ROBERT DE BORON, escrito entre duas outras obras, JOSÉ DE ARIMATÉIA e PERCIVAL OU A QUESTÃO DO SANTO GRAAL , que pretendo tecer minhas considerações.
Em linhas gerais, estou inteiramente de acordo com a leitura de MARIE LOUISE VON FRANZ que vê na dualidade da origem de Merlim, filho do diabo e de uma virgem pura temente a Deus, a concidentia oppositorum que o faz portador do princípio da totalidade de modo muito similar ao mercúrio alquímico. Este fato torna-se mais compreensível quando associado ao drama do velho rei pescador. Na leitura da citada autora, o rei moribundo do Graal, representa a atitude cristã envelhecida. Sua ferida na coxa, na região genital, alude ao problema da natureza e da sexualidade não solucionado pelo cristianismo e ao estado de dissociação característico da consciência cristã frente a repressão dos conteúdos anímicos personificados pelo imaginário pagão. Merlim parece atuar no sentindo da superação da unilateralidade do ideal de espiritualide cristão mediante a imagem do Graal como personificação de uma nova totalidade que se insinua de modo contraditório e misterioso no imaginário medieval.
Na interpretação de EMMA JUNG [2], o obscuro profeta dos tempos de Arthur, é um ser luciferiano, semelhante a mefistófeles, um representante do “intelecto in statu nascendi”, uma personificação viva do logos e, simultaneamente, portador da numen naturae enquanto um deus de duas faces análogo a Hermes ou ao mercurius duplex da alquimia. O Merlim de ROBERT DE BORON realiza esta ambigüidade de modo realmente exemplar. Ele estabelece sobre o mito cristão uma interpretação distinta e complementar a dos evangelhos canônicos e da Igreja. Merlim usurpa assim, mesmo que veladamente, o lugar de cristo como mediador entre o homem e Deus. Coisa que ele mesmo confessa:
“...E farei tantas coisas e falarei tanto, que me tornarei o ser mais ouvido nesta terra, depois de Deus”[3]
Além disso, como esclarece ao eremita Blaise, que “mete por escrito” a lenda do Graal:
“...Entretanto este livro não estará revestido de autoridade, porque o senhor não tem autoridade, visto que não pode ser um apóstolo. Os apóstolos não meteram em escrito senão o que viram e ouviram de Nosso Senhor, ao passo que o senhor, o faz é meter no livro o que viu e ouviu por meio de mim. E assim como eu sou obscuro para as pessoas a quem não quero esclarecer, assim seu livro será cheio de segredos e poucos haverá que os desvendarão.”[4]
Este caráter obscuro e ambíguo de Merlim marca toda a narrativa. Filho de um incubo e de uma virgem, anunciado por um concílio de demônios, instrumento da vingança dos mesmos contra os profetas que anunciaram a vinda de Cristo, Merlim descarta, entretanto, a possibilidade de uma regressão ao paganismo e realiza, por intermédio da obra do Graal, um caminho alternativo de redenção que tem como centro a Távola Redonda. O segredo do Graal, nesta versão associado as palavras trocadas entre Jesus e José de Arimatéia, em momento algum é revelado.
[1]
[2] 2- Cf. JUNG, Emma. Anima e Animus. SP: Cultrix
[3] 3- BORON, Robert de. Merlim, p.70.
[4] 4- Ibidim,p.56.
A DAMA DO CÉU FUTURO
A Dama do Céu Futuro
Me aguarda
Em algum jardim perdido
Em paisagens verdes de sonho,
No não lugar do desejo
Onde parte de mim vive
Em eterno exílio.
A Dama do Céu Futuro
Acalanta sono de estrelas
E faz companhia a lua,
É quase luz
No sol incolor da sombra.
A Dama do Céu Futuro
Semeia perfumes no vento
Na promessa de uma definitiva primavera,
Além do vazio
Passar sereno dos dias
Que me consomem
E conduzem
Ao nada do infinito.
Me aguarda
Em algum jardim perdido
Em paisagens verdes de sonho,
No não lugar do desejo
Onde parte de mim vive
Em eterno exílio.
A Dama do Céu Futuro
Acalanta sono de estrelas
E faz companhia a lua,
É quase luz
No sol incolor da sombra.
A Dama do Céu Futuro
Semeia perfumes no vento
Na promessa de uma definitiva primavera,
Além do vazio
Passar sereno dos dias
Que me consomem
E conduzem
Ao nada do infinito.
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