sexta-feira, 14 de setembro de 2007

CHRÉTIEN DE TROYS E A MATÉRIA DA BRETÂNEA


O frances Chrétien de Troyes ( aprox. 1135 - ? ) me parece ser, dentre os autores que se ocuparam da matéria da Bretanea, aquele em que a problemática de sua cristianização não ocupa o primeiro plano d anarrativa, a exemplo de outros dos seus continuadores, como Robert de Boron. Em seu Percival ou o Romance do Graal, a imagem do miraculoso vaso associa-se mais significativamente ao tema pagão da terra enferma e morte ritualística do rei do que a de uma milagrosa relíquia a ser buscada e recuperada em nome de um projeto redentor de inspiração messiânica. Em sua obra, o que predomina é na verdade o tema do amor cortes e sua metafísica do amor e da dama inspirada pelas tradições celticas e armóricanas, além do lirismo provençal.
Pode-se dizer com segurança que Chrétien nasceu na região de Champagne e que esteve submetido a dois importantes patronatos: a corte de Champagne e a de Frandes. Sabe-se, inclusive que uma das filhas de Eleonor da Aquitânia, a grande patrona das letras, Marie de Champagne, foi quem lhe propôs o tema e o argumento de Lancelot ou o Cavaleiro da Charrete, obra através da qual a personagem foi introduzida no ciclo Arthuriano.
O leitor contemporâneo, não sem razão, pode intuir nas imaginativas imagens dos cavaleiros da Távola Redonda, em suas mil peripécias, errâncias e jogos amorosos, uma dissimulada ou inocente crítica a própria instituição medieval da cavalaria... Basta lembrar que o desenvolvimento do ciclo arthuriano deu-se paralelamente as Cruzadas, embora estas, até onde eu sei, nunca sejam significativamente mencionadas nestas obras. A própria incapacidade dos nobres cavaleiros da corte de Arthur mostrarem-se dignos do graal ou obtê-lo, dá o que pensar sobre o significado desse ideário cavaleiresco representado pela matéria da bretânha frente a realidade de seu próprio tempo... Há algo mais do que a mera construção de um modelo de perfeição cavalaleiresco como ensinam os manuais... Mas tal problematização vai muito além da obra deste autor, primeiro nome da literatura em França.

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