sexta-feira, 28 de junho de 2024

O MUNDO COMO AUSÊNCIA

O mundo é tudo aquilo que dói, 
que nos fere a consciência e a existência.

É , simplesmente, 
tudo que nos define como experiência.

 É o que chamamos, 
além de nós, de realidade.

 O mundo é o que nos transborda, 
é o que a pele toca. 
Um lado de fora,
 um abismo,
 quase um enigma. 

 O mundo é, ao mesmo tempo,
 aquilo que falta,
é onde o tempo nos mata
e a vida é espera,
revolta e uma dor abstrata.



terça-feira, 18 de junho de 2024

OPINIÃO

Todo mundo tem opinião. 
Seja sobre  tudo
ou sobre quase tudo
que os outros andam
por aí dizendo.

Estamos, afinal,
na era da informação.
Todo mundo tem uma posição
 sobre qualquer coisa.
 
O que importa é ter razão, 
estar abrigado em um rebanho,
 ser mais um ninguém entre os outros,
discutindo os fatos e boatos
que decoram o senso comum.

É preciso,de todas as formas,
 evitar a solidão,
negar nossa impotência,
 nossa insignificância,
e achar que o que a gente pensa
faz alguma diferença
ou alimenta qualquer esperança vã. 

Para existir, todo mundo precisa desaparecer
 a sombra de uma posição.
Precisa ser previsível, 
seguir tendências,
defender um ponto de vista
com a falsa autoridade de um especialista.

É preciso julgar, condenar,
debater
até o limite da  banalização 
mais estúpida.

Tenha sempre uma opinião.
A realidade é uma invenção 
constantemente atualizada
para que alguém tenha razão
e ninguém saiba além 
da informação mais esteriotipada.


quarta-feira, 12 de junho de 2024

A PALAVRA ALÉM DO VERBO

Quando limitada a norma
a palavra se faz prisão.
É reduzida a ilusão 
do significante,
do significado,
e de um sujeito,
sempre incerto.

Assim, ela se torna um lugar,
um chão,
onde os pés escapam
e o mundo se insinua
como representação.

Reduzida a verbo
a palavra semeia silêncios,
se rende ao esquecimento
e se recusa como transgressão.

A palavra é sopro
e só tem vida
onde venta com violência  nossa mais profunda imaginação.

segunda-feira, 10 de junho de 2024

O CORPO E O OUTRO

O corpo é meu lugar no mundo,
e também o outro
que me esclarece.
É meu avesso
e meu segredo.

É o limite de todos os limites,
 o silêncio que antecipa a ausência
 esclarecendo o mundo.

O corpo é o  simulacro
que inventa a realidade
e alimenta o absurdo eu
que afirma todos os superlativos,
necessidades e limites.
O corpo é estar aqui
e ser no agora um outro.

sexta-feira, 7 de junho de 2024

QUASE MORTO

Não posso saber tudo que quero,
 nem ter tudo aquilo que acho que preciso.
A vida é uma queda cega em mil precipícios
onde tudo escapa.

 Estou permanentemente em esboço.
Nunca sou eu mesmo
ou idêntico a mim mesmo.
Sou múltiplo e desconjuntado.
Nada me basta.

 Minha essência é nada.
 Minha natureza o vazio 
e meu tempo é quando.

Sou no movimento descendente e urgente do equilíbrio do  meu corpo.
Sempre meio vivo, meio morto.

Só sei que respiro
e meu coração 
bate torto.

Sou  nas encruzilhadas,
pois, transitório entre as coisas,
quase existo
e persisto,
 onde desisto
ou quase 
já estou morto.






quinta-feira, 6 de junho de 2024

FILOSOFIA DA NATUREZA

Fúteis são os desejos, 
os sonhos e devaneios
 de uma vida quase perfeita. 

Tudo que acontece ou existe 
exibe defeitos. 
Pois a natureza é caos e mudança
 contra todo ideal de ordem e razão.

 Não acredite em religião ou ciência. Tudo é caos & transformação.

terça-feira, 4 de junho de 2024

A IMPORTÂNCIA DAS COISAS

A importância das coisas
não é parte das coisas 
mas algo que afeta
nosso saber das coisas.

Algo que não pertence a realidade,
que não tem pretensão de verdade,
mas define toda nossa consciência das coisas.

Coisas são ditas, pensadas
ou imaginadas
além da verdade das coisas.
Coisas só existem
quando percebidas como coisas.

Coisas não são coisas.
A importância das coisas
está além da certeza das coisas.
Porque coisas não existem .
O mundo não é feito de coisas.



segunda-feira, 3 de junho de 2024

EXISTO ONDE NÃO SOU

É quase impossível ser onde vivo, onde estou submetido ao cotidiano,
 a prisão dos fatos coletivos, 
 ao socialmente estabelecido.

 É quase impossível...
 Todos sabem disso. 
Por toda parte há tempo, 
espaço e limite.
Mesmo assim,
Insisto.
Tento ser contra o nada,
 contra os anos,
a memória e os fatos.

Mas não insisto.
Pois sei que existo para me perde em necessidades,
acontecer através de imediatismos e edonismos,
contra toda moralidade
e falsos ideais de espiritualidade e felicidade.

Existo onde não sou.
Isso me define vivo.