domingo, 7 de janeiro de 2024

A INVENÇÃO DO PASSADO

Inventamos um passado
para nos abrigar do tempo,
para lidar com as perdas,
mudanças e mortes
que definem a vida.

Inventamos a doce prisão
de nossa nostalgia,
de nossa ilusão de uma origem tranquila,
de uma juventude idílica,
ou de uma duvidosa inocência irremediávelmente perdida.

Inventamos identidades,
padrões e origens paradisíacas,
porque não suportamos o efêmero
e todo a insignificância que desde sempre nos define.

Contra o próprio tempo
inventamos passados
e nos tornamos trágicos,
demasiadamente humanos
e assustados.

Fugimos do esquecimento
produzindo memórias,
histórias e mitos,
contra tudo que nos preenche
como um grande e inumano vazio.

Inventamos em nós árvores e pedras
para permanecer sobre a terra
enraizados e duros,
quase felizes.

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