quarta-feira, 3 de janeiro de 2018

A ÉTICA DO CUIDADO DE SI E DOS OUTROS

“em nossas sociedades, a partir de um certo momento – e é muito difícil saber quando isso aconteceu –, o cuidado de si se tornou alguma coisa um tanto suspeita. Ocupar-se de si foi, a partir de um certo momento, denunciado de boa vontade como uma forma de amor a si mesmo, uma forma de egoísmo ou de interesse individual em contradição com o interesse que é necessário ter em relação aos outros ou com o necessário sacrifício de si mesmo. Tudo isso ocorreu durante o cristianismo, mas não diria que foi pura e simplesmente fruto do cristianismo. A questão é muito mais complexa, pois no cristianismo buscar sua salvação é também uma maneira de cuidar de si. Mas a salvação no cristianismo é realizada através da renúncia a si mesmo. Há um paradoxo no cuidado de si no cristianismo...”
Michel Foucault in Ética, Sexualidade, Política. Org. e seleção de textos Manoel B. da Motta. Trad. Elisa Monteiro, Inês Autran D. Barbosa. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2004. (Ditos & Escritos; V)


Porque pensamos como pensamos? Eis a pergunta mais elementar de uma hermenêutica de si mesmo, de um exame de nossos “jogos de verdade” e formatação do real que define os limites cotidianos de nossa linguagem.

É em torno daquilo sobre o que nos calamos que se esboça o provisório de qualquer resposta.

O exame de quem somos é a exploração das fronteiras de nossas certezas e valores, dos nossos condicionamentos mais insuspeitos, como construções perenes de sentido. Pois a única questão que permanece em nosso horizonte é aquela pertinente ao que podemos ainda ser além daquele ponto no qual nos encontramos.

Inspira-se tal horizonte ético naquele recuo a antiguidade do ultimo Foucault, que articula a questão da verdade, sujeito e poder a partir das técnicas do cuidado de si e dos outros nos primórdios da hermenêutica do sujeito na cultura ocidental. Busca-se tal referencia como ferramenta de estratégias contemporâneas de individuação, de redefinição da esfera pública como devir do eu e dos outros através de praticas discursivas que apontam para construção da existência como obra de arte.



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