O autor é cada vez mais uma espécie em extinção no cenário cultural contemporâneo, onde qualquer noção de “autenticidade” e clichê de “ buscar a si mesmo” revela-se uma rua sem saída apesar de todo o lixo de “alto ajuda” exposto nas estantes das livrarias .
A contemporaneidade é hedonista e cada vez mais voltada para o superficial e o efêmero de um mundo que já não precisa mais fazer sentido e em que nossas trajetórias pessoais não vão alem da imaginação do dia seguinte...
A arte hoje, em tempos de digitalidade e virtualidade, despiu-se de sua ilusão de significado emprestada da falácia religiosa...
Aproprio-me aqui , para arrematar a prosa, de um fragmento do poeta e ensaísta alemão Hans Magnus Enzensberger, mesmo descordando de suas conclusões pseudo“coletivistas” e demasiadamente “modernas” e pouco pós... :
“...Para o “artista” do passado-vamos chamá-lo de autor-, decorre dessas considerações que ele deva ver como o objetivo tornar-se, ele próprio, supérfluo como especialista, mais ou menos como o pérfluo como especialista, mais ou menos como o caso do alfabetizador, que só tem sua tarefa acabada quando já não é necessário. Assim, como todo processo de aprendizado, também este é recíproco: o especialista deverá aprender tanto ou mais do que o não especialista, e vice versa-apenas desse modo pode funcionar sua eliminação.
Agora, sua utilidade social pode ser mais bem equacionada com base em sua capacidade de aproveitar os momentos de emancipação das mídias e amadurecê-los. As contradições táticas em que ele se envolverá nesse contexto não podem ser negadas nem reveladas aleatoriamente. Não obstante, do ponto de vista estratégico, o seu papel é claro. O trabalho do autor de vê ser o de agente das massas. Somente poderá acontecer de o autor desaparecer inteiramente em meio as massas quando elas próprias se tornarem autoras, autoras da história.”
Hans Magnus Enzensberger. Elementos para a teoria dos meios de comunicação, tradução de Claudia S. Doornbusch; SP: Conrard Editora do Brasil, 2003; pg.111-112.