quarta-feira, 30 de março de 2011

VIRTUAL FUTURE


Há muitos futuros
No meu passado,
No ingrato desafiar o tempo
Que arbitrariamente passa...

Há muitas  perdas,
Ganhos e letras;
Pouca existência...
Bem sei.

Mas há também coisas
Que os anos todos não dizem somados,
No perdido de cada gesto
De mera e paradoxal
 Imaginação...

BLACK FUTURE



Não posso saber
O tamanho
Do meu futuro...
Apenas vivo o agora
Como perpétuo esforço
Inspirado pelo incerto
Ato contínuo
De minha mera sobrevivência...

terça-feira, 29 de março de 2011

LITTLE GIRL BLUE

A alegria de uma pequena menina



Quebrou-se gratuitamente


Em uma inútil manhã chuvosa.


Apagou-se assim


Todo seu sentimento


De futuro e mundo.


Toda certeza de rosto


Dentro da multidão.


Nada mais importava


Para ela


Além da alegria quebrada


E agora vazia


Entre suas mãos,


Revelando a fragilidade


Dos significados guardados


Em todas as coisas vividas...

 



domingo, 27 de março de 2011

O ENIGMA DA CONTEMPORÂNEIDADE



O grande desafio da contemporaneidade é a invenção de uma realidade onde os grandes e últimos significados da existência humana já não sejam necessários para sustentar qualquer padrão de sociabilidade, onde possamos reinventar nossas vidas através da administração pragmática e utilitária do mero e simples acontecer cotidiano...

sábado, 26 de março de 2011

NOTA SOBRE A INVENÇÃO DA REALIDADE


Somos todos patéticos  prisioneiros de nossas próprias codificações da realidade, do mundo que inventamos ou se inventa através de nossos pensamentos e certezas de existência  diária... Somos como inventores que pensam ser a própria invenção... fugindo a elementar imanência que define cruamente todas as coisas em seu constante aparecer como nada e  mundo do qual nos apropriamos e humanizamos...
Retirado arbitrariamente  de seu contexto original, um fragmento do escritor  Gore Vidal parece fazer todo sentido aqui:
   
“ ...Mas como fazer para ser leal ao fato real das coisas se elas precisam ser reinventadas? Ou bem elas  estão aqui ou bem não estão. Seja como for, se as filtramos através da imaginação ( da reinvenção), perdemos a verdadeira objetividade, como o próprio Robbe- Grillet admite num desdobramento posterior de seu pensamento: “A objetividade, no sentido tradicional da pallavra- toda impessoalidade da observação-, não passa, é claro de uma ilusão. Mas deveria ser possível existir liberdade de observação,  e mesmo assim não existe”- porque um “envoltório constante de cultura ( psicologia, ética,metafísica, etc.) é acrescentado às coisas, conferindo-lhes um aspecto menos desconhecido”. Mas ele acredita que a “humanização” pode ser reduzida a um mínimo, se tentarmos “construir um mundo que seja ao mesmo tempo mais sólido e mais imediato. Que os objetos e os gestos se estabeleçam, antes de mais nada, por sua presença., e que sua presença continue prevalecendo sobre o subjetivo”.”

Gore Vidal LETRAS FRANCESAS: TEORIAS DO NOVO ROMANCE in DE FATO E DE FICÇÃO: Ensaios Contra a Corrente. SP: Companhia das Letras: 1987, p. 177  

FUNDAMENTOS DE UM NOVÍSSIMO NIILISMO


O MUNDO CONTEMPORÂNEO NÃO NOS INDUZ A QUALQUER BUSCA DE CONHECIMENTO, MAS A MERA ESTUPEFAÇÃO DIANTE DA CONSTRUÇÃO DOS  FATOS, A NÃO CONFIANÇA EM QUALQUER VIRTUDE DE TODA REPRESENTAÇÃO POSSIVEL DO REAL... APENAS APRENDEMOS A JOGAR O JOGO DOS SIGNIFICADOS DESPIDOS DE QUALQUER AUTÊNTICO SENTIMENTO DE “VERDADE”...

sexta-feira, 25 de março de 2011

DELIRANDO O TEMPO


O TEMPO QUE ME ESCAPA
 E COMIGO ACABA,
O TEMPO DO QUAL ME LEMBRO,
NO LAMENTO DOS ANOS...

O TEMPO QUE ME INVADE
EM IMANÊNCIAS 
E EM UM SUSTO,

E DESAPARECE
NO DEFINITIVO OLHAR
DO QUE JÁ
SE PERDEU...

( DAQUI A POUCO...)


terça-feira, 22 de março de 2011

SOBRE O DESAPARECIMENTO DO AUTOR NA CONTEMPORANEIDADE


O autor é cada vez mais uma espécie em extinção no cenário cultural contemporâneo, onde qualquer noção de “autenticidade” e clichê de “ buscar a si mesmo” revela-se uma rua sem saída apesar de todo o lixo de “alto ajuda” exposto nas estantes das livrarias .
A contemporaneidade é hedonista e cada vez mais voltada para o superficial e o efêmero de um mundo que já não precisa mais fazer sentido e em   que nossas trajetórias pessoais  não vão alem da imaginação do dia seguinte...
A arte hoje, em tempos de digitalidade e virtualidade,  despiu-se de sua ilusão de significado emprestada da falácia religiosa...
Aproprio-me aqui , para arrematar  a prosa, de um fragmento do poeta e ensaísta alemão Hans Magnus Enzensberger, mesmo descordando de suas conclusões pseudo“coletivistas” e demasiadamente “modernas” e pouco pós... :

“...Para o “artista” do passado-vamos chamá-lo  de autor-, decorre dessas considerações que ele deva ver como o objetivo tornar-se, ele próprio, supérfluo como especialista, mais ou menos como o pérfluo como especialista, mais ou menos como o caso do alfabetizador, que só tem sua tarefa acabada quando já não é necessário. Assim, como todo processo de aprendizado, também este é recíproco:  o especialista deverá aprender tanto  ou mais do que o não especialista, e vice versa-apenas desse modo pode funcionar sua eliminação.
Agora, sua utilidade social pode ser mais bem  equacionada com base em sua capacidade de aproveitar os momentos de emancipação das mídias e amadurecê-los. As contradições táticas em que ele se envolverá nesse contexto não podem ser negadas nem reveladas aleatoriamente. Não obstante, do ponto de vista estratégico, o seu papel é claro. O trabalho do autor de vê ser o de agente das massas. Somente poderá acontecer de o autor desaparecer  inteiramente  em meio as massas quando elas próprias se tornarem autoras, autoras da história.”

Hans Magnus Enzensberger. Elementos para a teoria dos meios de comunicação, tradução de Claudia S. Doornbusch; SP: Conrard Editora do Brasil, 2003; pg.111-112.
   
  

PARADOXO DAS SOCIABILIDADES


Ás vezes acho
Que sou muitas
E diferentes pessoas
No obvio sem direção
E ululante
Da multidão inquieta
Que se procura
Na concretude da superfície
De cada indivíduo
Que sou eu e os outros
No nada mais que ninguém...

segunda-feira, 21 de março de 2011

BARACK OBAMA E INCONSCIENTE COLETIVO



O que torna Barack Obama uma personalidade impar  no cenário político/ cultural contemporâneo é sua surpreendente  capacidade para na simplicidade latente de sua singularidade humana,  personificar  o  self, o arquetípico de ordem, metamorfosiando no inconsciente coletivo, tornando-se um símbolo personificado para as projeções das melhores representações e idealizações da cultura ocidental e seu ideal racionalista de civilização. Isso, em uma conjuntura ontológico/lingüística em que seus próprios fundamentos históricos/representacionais se desfazem no ar, mediante a falência do conceito moderno de identidade, que não passa de uma secularização do coletivista e totalitário ideário de disciplinização das sociabilidades  e dos corpos  de inspiração judaico cristã.
Em poucas palavras, Barack Obama é muito mais do que presidente dos USA ou mais um ídolo vazio construído pelo poder econômico e político/midiático, ele  veste com elegância e serenidade a mítica laico/religiosa de um rei...