Somos todos patéticos prisioneiros de nossas próprias codificações da realidade, do mundo que inventamos ou se inventa através de nossos pensamentos e certezas de existência diária... Somos como inventores que pensam ser a própria invenção... fugindo a elementar imanência que define cruamente todas as coisas em seu constante aparecer como nada e mundo do qual nos apropriamos e humanizamos...
Retirado arbitrariamente de seu contexto original, um fragmento do escritor Gore Vidal parece fazer todo sentido aqui:
“ ...Mas como fazer para ser leal ao fato real das coisas se elas precisam ser reinventadas? Ou bem elas estão aqui ou bem não estão. Seja como for, se as filtramos através da imaginação ( da reinvenção), perdemos a verdadeira objetividade, como o próprio Robbe- Grillet admite num desdobramento posterior de seu pensamento: “A objetividade, no sentido tradicional da pallavra- toda impessoalidade da observação-, não passa, é claro de uma ilusão. Mas deveria ser possível existir liberdade de observação, e mesmo assim não existe”- porque um “envoltório constante de cultura ( psicologia, ética,metafísica, etc.) é acrescentado às coisas, conferindo-lhes um aspecto menos desconhecido”. Mas ele acredita que a “humanização” pode ser reduzida a um mínimo, se tentarmos “construir um mundo que seja ao mesmo tempo mais sólido e mais imediato. Que os objetos e os gestos se estabeleçam, antes de mais nada, por sua presença., e que sua presença continue prevalecendo sobre o subjetivo”.”
Gore Vidal LETRAS FRANCESAS: TEORIAS DO NOVO ROMANCE in DE FATO E DE FICÇÃO: Ensaios Contra a Corrente. SP: Companhia das Letras: 1987, p. 177
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