sábado, 3 de maio de 2008

LITERATURA INGLESA XXVII


Embora tenha se consagrado como autor de romances de aventura, Joseph Conrad, ou Jozef Teodor Korzeniowski (1857-1924) foi também autor de peças teatrais e ensiaos.Sua obra mais conhecida é Lord Jim, romance de aventura originalmente publicada em capítulos por volta de 1900.
A matéria prima para esta, assim como para outras de suas obras, pode ser encontrada na própria biografia do autor que foi, antes de tudo um aventureiro, um homem do mar. Nascido em Padolia, uma pequena província da Ucrânia, aos 17 anos, já órfão e exilado no norte da Rússia por conta das atividades político patrióticas do falecido pai, ingressa como aprendiz da marinha mercante em uma viagem para Marselha. Após inúmeras incursões marítimas, já com o titulo de capitão, naturaliza-se em 1886 cidadão britânico.
Não deixa de ser surpreendente que tenha feito nome como escritor dado que de inicio pouco domínio apresentava da língua inglesa, o que pode ter condicionado a singularidade de sua técnica narrativa que, tanto quanto o seu ceticismo com relação a natureza humana, influenciou autores como Henry James e Scott Fitzgerald.
Se na ultima década do séc. XIX o romance de aventura estimulava o imaginário vitoriano, profundamente marcado pelo impacto da diversidade e pluralidade cultural proporcionada pela experiência imperial britânica, tal contextualização não é suficiente para torná-lo datado ou ultrapassado.
De outras formas ainda hoje somos tocados pelo imaginário de viagens e aventuras. O diferente, o inteiramente outro, ainda exerce em nosso imaginário um papel importante que não saberia precisar aqui. Talvez, seja inerente a condição humana a busca do alem do imediatamente vivido, vislumbrar a pluralidade e diversidade que tornam o mundo possível e quase inapreensível. Talvez, ainda, seja um deslocamento da rigidez de nossas próprias identidades e realidades o que buscamos...
A apresentação que Conrad faz do seu Lord Jim, logo nas primeiras paginas do aqui já citado romance. é peculiarmente interessante para tentar dizer o fascínio que a personagem ainda pode exercer sobre nós:


"... Para os brancos dos portos e para os capitães de navios, ele era Jim e nada mais. Tinha outro nome, está visto, mas não queria ouvi-lo nunca pronunciar. Seu incógnito não visava a esconder uma personalidade, mas um fato. Quando o fato transparecia através do incógnito, Jim deixava subitamente o porto em que estava empregado e alcançava um outro, em geral mais afastado para o Oriente. Preferia os portos de mar, porque era um marinheiro exilado do mar, e porque possuía a teoria da Abordagem, que não pode servir outro oficio senão ao do vendedor marítimo. Em boa ordem, partia em retirada para o sol levante e, como por acaso, mas inexoravelmente, o fato o perseguia. Assim, tinham-no visto sucessivamente, no decorrer de anos, em Bombaim, Calcutá, Penang, Batávia, e, em cada um desses portos, ele era simplesmente Jim, o vendedor marítimo. Mais tarde, quando seu agudo sentimento do Intolerável o escorraçou para sempre dos portos e da sociedade dos brancos, até a floresta virgem, os malaios da aldeia que escolhera em jângal para ai esconder sua deplorável sensibilidade acrescentaram uma palavra ao monossílabo de seu incógnito. Eles o chamaram Tuan Jim- Lord Jim, como se diria entre nós."
( Joseph Conrad. Lord Jim. RJ: Editora Glogo S/A,, 1987, p. 10. 11)

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