sábado, 24 de maio de 2008

D H LAWRENCE: POESIA



D H Lawrence é mais conhecido pela sua obra em prosa, como bem exemplifica a popularidade, que goza até os dias de hoje, seu polêmico romance O Amante de Lady Chatterley . Mas não conheceríamos profundamente seu gênio criativo sem um contato, mesmo que superficial, com sua obra poética que, contrariando o desdenho do próprio autor por ela, constitui uma das mais belas páginas da moderna literatura britânica.
Se seus poemas de mocidade ainda encontram-se relativamente presos a métrica e a tradição formal, a fase iniciada pela coletânea Birds, Beasts and Flowers (1923), quando o autor já havia trocado a Inglaterra pelo Novo México, representa a sua maturidade como poeta através de uma linguagem ao mesmo tempo coloquial e profunda, flexível e fluida, alicerçada no verso livre, no ritmo e musicalidade das palavras, de uma forma absolutamente peculiar.
Quanto às imagens da poesia de Lawrence, ela transita desoncertadamente pela experiência do imediato e banal da existência humana e os mais profundos e metafísicos abismos da contemplação do mundo e da natureza física. Também não se deve ignorar a constante referência a morte, muito embora, mesmo ao abordá-la, o poeta revela intensamente seu interesse pela vida e sua celebração em um perfeito paradoxo onde finitude e eternidade entrelaçam-se em sua religiosidade.


PHOENIX


Are you willing to be sponged out, erased,cancelled,
made nothing?
Are you willing to be made nothing?
Dipped into oblivion?


If not, you will never really change.


The phoenix renews her youth
Only when she is burnt, burnt alive, burnt down
To hot and flocculent ash.


Then the small stirring of a new small bub in the nest
With strands of down like floating ash
Shows that she is renewing her youth like the eagle
Imortal bird.


Tradução de Aila de Oliveira Gomes:


A FENIX


Você está querendo ser extinto, apagado, excluído,
Feito nada?
Você esta querendo ser feito nada?
Mergulhado em oblivio?


Se não quer, você nunca mudará de verdade?


A fênix renova sua juventude
Somente quando é queimada viva, queimada até ser
Feita


Em flóculos de cálida cinza.

Então o leve agitar-se , no ninho, de um mínimo rebento
Recoberto de fina penugem, como cinza flutuando,
Revela que a fênix começa a renovar a sua juventude, como
A águia-
Pássaro imortal.


COMING AWAKE


When I woke, the lake-lights were quivering on the wall,
The sunshine swam in a shoal across and across,
And a hairy, big bee hung over the prímulas
In the window, his body black fur, and the sound of him cross.


There was something I ought to remember; and yet
I did not remember. Why should I ? The running lights
And the airy prímulas, oblivious
Of the impeding bee- they were fair enough sights.


Tradução de Aila de Oliveira Gomes:


DESPERTANDO


Quando acordei as luzes do lago tremiam na parede,
A luz do sol, num cardume, nadava de lado a lado,
E uma abelha graúda se pendurava em umas prímulas
Na janela, o corpo negro, peludo, e um zumbido zangado.


Eu tinha de lembrar-me de uma coisa, eu tinha, contudo
Não lembrava; mas para que? As luzes que deslizavam
E as prímulas aéreas, deslumbradas
Da ameaça da abelha, eram belezas que me bastavam.

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