quinta-feira, 20 de setembro de 2007

O ARQUETIPICO DA GRANDE MÃE E A EXPERIÊNCIA ARCAICA DA FÓRMULA VASO-CORPO

Em Psicologia analítica o arquétipo do grande feminino, da Grande Mãe, confunde-se em suas variadas manifestações com o simbolo central da própria representação do inconsciente...
Durante o sono o ego retora diariamente ao seio materno do inconsciente do qual se originou e não é difícil adivinhar sua permanência diurna em nossas íntimas nostalgias e fantasias de infância ou no fundo dos mais criativos e profundos devaneios e ansiedades que nos acompanham pela vida a fora.
Como introdução ao tema gostaria de sugerir aqui uma reflexão em torno do simbolo central do feminino, a equação arquetípica corpo-vaso, valendo-me de um fragmento da obra mais conhecida sobre o assunto, ou seja, A Grande Mãe: Um estudo fenomenológico da constituição feminina do inconsciente de Erich Neuman.

“ O núcleo simbólico do Feminino é o vaso. Desde os primórdios da evolução até seus estágios mais recentes, encontramos esse símbolo arquétipo como a essência do feminino. A equação simbólica básica MULHER=CORPO=VASO corresponde, talvez, a experiência básica mais elementar da humanidade com relação ao Feminino, em que este além de vivenciar a si próprio, será vivenciado pelo Masculino.
Todas as funções vitais básicas, principalmente o “metabolismo”, ocorrem neste esquema corpo vaso, cujo o “interior” é desconhecido. Suas zonas de entrada e saída tem um significado muito especial, pois da mesma forma que o alimento e a comida são colocados para dentro desse vaso desconhecido, dele mesmo “nascerão” coisas de todas as funções criadoras, desde as excreções e o sêmen, até a respiração e a palavra.
Todos os orifícios corporais- olhos, ouvidos, nariz, boca, (umbigo), reto, área genital-, assim como a pele, enquanto considerados locais onde ocorrem as trocas entre o interior e o exterior, tinham um aspecto numinoso para o homem primitivo. Por esse motivo, eles também são destacados como áreas de “ornamentação” e proteção e, nas auto-representações artísticas, tem um papel especial enquanto ídolos.
A concretude física do corpo vaso, cujo interior permanece sempre obscuro e desconhecido é a realidade do indivíduo, o local onde vivencia todo o mundo instintivo do inconsciente. Tal processo se inicia com as experiências básicas do recém nascido de fome e sede, que o incomodam de dentro para fora- a partir da escuridão do corpo-vaso- como todo tipo de ânsia, dor e pulsão. Ao mesmo tempo, tanto o ego como a a consciência ocupam tipicamente os seus lugares na mente, onde serão apercebidas, por essas instâncias, reações estranhas, oriundas do interior do corpo-vaso.
A equação arquetípica corpo-vaso é de importância fundamental para a compreensão do mito e da simbologia e, além disso, para compreensão da imagem de mundo do homem primitivo.
(...)
O simbolismo do corpo como vaso ainda está vivo para o homem moderno, na medida em que acredita na existência de uma alma contida no corpo. Também falamos de nossa “interioridade” como o mundo interno, nossos valores mais íntimos etc., quando desejamos nos referir a conteúdos da alma ou do espírito, como se eles existissem “dentro” de nós, em nosso corpo vaso, e como se pudessem 'sair' dele.” (Erich Neumman. A Grande Mãe: Um estudo fenomenológico da constituição feminina do inconsciente. SP: Cultrix, 9º ed, 1999; p. 46)

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